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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 393

28.0OO:000$000, não de receita, mas de despeza, sem que a minima perturbação a viesse embaraçar!.. . (Riso.)

Disse o sr. presidente do conselho, n'um relatorio notavel "o déficit em Portugal, ou acaba de uma vez, ou nunca acabará".

Ora, como elle ainda não acabou de uma vez, já sei que não terei a alegria de assistir a tão satisfactorio espectaculo, de receber um bilhete de enterro do nosso déficit. (Riso.)
Trata-se de um melhoramento incontestavel.

Ora, os melhoramentos entre nós, são grandes melhoramentos quando se gasta bastante dinheiro, e para se adoptarem immediatamente votam-se logo grandes verbas! Uma- vez votadas e gastas, está reconhecido que foi melhoramento!

Lá fora para se fazer um melhoramento requer-se primeiramente um vagaroso andamento, quando mais ou menos deva influir na riqueza publica; para nós não ha embaraços, como não ha a proporção entre o capital fixo e o circulante, porque tudo é fixo.

Sr. presidente, eu não desejo prolongar estas divagações que, comquanto pareçam estar fora da materia, não estão, têem relação bem intima; mas, repito, como não tenho desejos de prolongar o debate não seguirei mais neste caminho.

Ha poucos dias o governo, tratando de uma questão que tem relação com esta, sustentava que o estado deveria tomar a seu cargo a construcção e exploração de caminhos de ferro.

Eu não combato essa idéa, que está sendo adoptada em diversos paizes, e com que sympathiso; e esta idéa está ligada com a da defeza do paiz.

Ora, eu supponho que é sempre bem gasto tudo que se gasta com a defeza do paiz, e creio que não ha ninguem que sustente que os caminhos de ferro não concorre, ou podem concorrer para a defeza do paiz.

Entre nós deu-se um facto notavel: deu-se o facto de alargarmos a via de um caminho de ferro que estava em construcção, dando-se-lhe largura igual á da via que se lhe seguia na nação vizinha; e neste facto não seguimos o exemplo da vizinha Hespanha a respeito dos caminhos de ferro francezes, que attendeu mais aos resultados militares sem deixar de attender aos resultados economicos.

Entre nós a unica precaução que se toma é adoptar uma construcção que importa o maior custo.

Eu notarei a opinião de um militar distincto, que escreveu que se os caminhos de forro francezes não tivessem a mesma largura dos caminhos allemães, o cerco de Paris teria sido impossivel.

O que repetirei, pois, sr. presidente, é que nós, que em tudo buscámos imitar os paizes mais adiantados, deviamos já ter seguido o exemplo que nos teem dado outras nações, que no-los podem dar, porque nos precederam neste ramo de administração.

Todas teem estabelecido commissões centraes para regular a rede dos caminhos de ferro; mas aqui faz se com relação a este importante assumpto o mesmo que fazemos a respeito de todas as outras nossas cousas, isto é, olha-se primeiro que tudo para os empenhes a favor de suppostos interesses locaes.

Eu lembro-mo perfeitamente de um relatorio, elaborado por uma commissão de trinta e tantas pessoas na nação vizinha, sobre a rede dos caminhos de ferro; e ultimamente creou-se ali uma outra commissão com o mesmo fim, commissão onde estão representados financeiros, capitalistas, militares, etc.

Nós podemos avaliar todos os factos sem querermos offender o amor proprio de uns ou de outros. E não é só este governo que não tem olhado verdadeiramente para este assumpto. - Tenho ouvido fali ar muito em aprendizagem, e que por causa della é que os nossos caminhos de ferro não foram o que deveriam ser.

Mas creio que ainda não passamos de aprendizes, não porque os nossos engenheiros não sejam capazes, ou não tenham a competencia necessaria para executar obras de primeira ordem, mas porque esses engenheiros estão debaixo da pressão exercida por influencias individuaes da nossa terra.

Eu estou com muito medo de abusar da paciencia da camara.

Vozes: - Não abusa.

O Orador: - Quando vejo um tão grande numero de projectos de maxima importancia, para serem discutidos e votados por esta camara n'um pequeno espaço de tempo, realmente estou receioso de me occupar do projecto que discutimos, e dos outros que lhe hão de succeder no debate.

O nosso collega, o sr. Vaz Preto, propoz que as sessões fossem de seis horas, depois houve outra proposta para que fossem do cinco horas, e depois propoz-se ainda que fossem de quatro.

A camara não approvou nenhuma destas propostas.

Eu pela minha parte acho que nem o espaço de dois mezes seria sufficiente para a discussão dos projectos que têem vindo para esta camara, se fossemos a tratar delles devidamente em relação á sua importancia.

Todavia a necessidade da votação será superior a todas as outras necessidades, e neste caso será mais que bastante o tempo que nós consagrámos ordinariamente aos nossos trabalhos.

Não serei eu, pois, quem ha de reincidir no erro que estou praticando. Nem mesmo a minha saude permitte acompanhar a actividade da camara, que ha do custar um dispêndio de forças, que não está em harmonia com as posses da minha situação de saude.

Nesta questão trata-se mais particularmente de remediar os inconvenientes de se não concluir um caminho de ferro importante, como é o do Algarve, e de continuar as linhas do Alem tojo, a respeito das quaes se tem levado a effeito trabalhos de importancia.

Nesta occasião seja-me licito chamar a attenção da camara para um facto notavel.

No momento em que se propõe a formação de uma companhia para a continuação das vias ferreas ao sul do Tejo, não é para estranhar que eu toque neste ponto.

Não houve inconveniente nenhum em a construcção e exploração do caminho de ferro do Alemtejo sair da administração do estado para a administração de uma companhia.

Disse se aqui isto, e insistiu-se nesta parte, para mostrar que não havia perigo em de novo passar a exploração e construcção dessas linhas das mãos do estado para as de uma companhia.

Efectivamente, se se consultarem os documentos officiaes, vê-se que esta opinião e exacta, tomando-se em conta os kilometros construidos pelo estado.

As vias ferroas, a que me estou referindo, na verdade custaram baratissimas ao estado, nos termos em que elle póde obter a propriedade daquelle caminho.

Mas, como entrou o estado na posse deste caminho? Como? . .

Porque teve a fortuna de fallir uma companhia.

Poderá o governo contar sempre com esta fortuna, se é fortuna, da desgraça alheia?

Não sei.

Um sr. director dos caminhos de ferro do sul e sueste, cavalheiro que infelizmente já não existe, num excellente relatorio, que apresentou a respeito da administração distas linhas, diz que se por acaso a companhia do 1864 tivesse podido continuar na administração dos mesmos caminhos, não se teria dado o facto importante delles se