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320 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

que só serviria para annullar os homens que o acceitassem, sacrificio inutil e por isso bom foi que se não fizesse.

Com os chefes teria a conciliação outro caracter, e nós ficariamos sabendo, uma vez por todas, o que valeria um ministerio de homens experimentados, em que não faltasse nenhum elemento politico.

Sendo impossivel a conciliação entre os inexperientes, appareceu finalmente um ministerio regenerador presidido paio sr. Sampaio, o qual tambem não resolve a difficuldade por maiores que sejam os merecimentos dos seus membros, a amizade e confiança, que individualmente lhes tributarios.

Esta situação, sr. presidente, não póde deixar de considerar-se tambem transitoria, e para que o não duvide-nos, basta ouvir que não tem programma, e que não quer reformas politicas.

É um governo, que marchará ora á direita ora á esquerda, que muito desejaria se podasse marchar por dois caminhos ao mesmo tempo; quer indo e não quer nada, que não póde abertamente exprimir a sua opinião sobre qualquer assumpto; que promette estudar o que já condemnou e talvez approval-o, como não tem programma, depois do estudo. Se algum principio proclama é a idéa velha. Emfim, ha de ser o que Deus quizer!

E a isto se reduz o verdadeiro opportunismo da nossa terra!

Se o ter programma é arriscado, porque o programma póde converter-se em lençol mortuario para descer á valla sem epitaphio, o não ter programma, quando o paiz no [...] impõe, é tambem o caminho para a sepultura.

Acabemos na politica com a theoria do celebre SpanFanzani, que no corpo do homem, dizia elle, tudo se transforma em sete annos, e não a exageremos ainda em uma applicando-a ao pensamento.

Acabemos cem o triste exemplo de mudar de idéas em vinte e quatro horas, quando d'este logar em que estou, se passa para aquellas cadeiras onde os ministros se sentam.

Desprendido de toda a politica partidaria, e sem intenção de ferir nenhum dos meus adversarios politicos, vejamos, sr. presidente, a largos traços, qual deveria ser o programma do governo que confessa não ter programma, e vejamos qual é realmente o partido a que pertence o programma que tentarei esboçar.

O sr. presidente do conselho declarou igualmente que não sabe bem o que se póde entender por idéa nova, sem se lembrar que elle foi já uai dos principaes defensores da idéa nova do seu tempo, quando nos recordou tanto haver padecido pela liberdade!

A idéa nova para mim não são as utopias dos visionarios nem as exagerações dos agitadores que pretendem arrastar as sociedades modernas á confusão e á desordem; mas é a aspiração justa do povo a todas as conquistas do progresso.

A idéa nova é a applicação da justiça sem sophisma. É para a classe rude e desvalida a distribuição equitativa da instrucção, é a educação mora: e intellectual dos cidadãos até o mais humilde. É a monagem definitiva da grande machina que se dia humanidade, de modo que possa funccionar sem attritos.

Não é a revolução na praça publica. É a revolução intellectual, que se não póde conseguir quando os governos se deixam arrastar por antigos preconceitos; em vez de guiarem os povos pelo methodo scientifico. A idéa nova é o methodo scientifico introduzido na politica. É [...] de todos os cerebros para a [...] utilisação de todos os braços para o trabalho. É pôr a luz onde haja trevas. E a guerra á ignorancia e ás importancias. É o Estado considerando o homem - cidadão, o tratando d'elle como pae e pae extremoso, em vez de o julgar unicamente um instrumento material dos seus caprichos!

Os homens mais eminentes da actualidade, com quem tive occasião de avistar-me na Europa, todos comprehendem o alcance da idéa nova e todos sabem definil-a.

Deixando, porém, de parte esta questão, que me poderia desviam do meu caminho, consideremos n'outro campo o estado ao nosso paiz, e começamos pelas finanças. Ha quantos annos ouvimos fallar da questão de fazenda? Quantos governos têem promettido o equilibrio orçamental? Qual tem sido o resultado d'essas promessas? Sabemol-o todos.

Os factos são simples. Nenhum partido tem conseguido os seus fins, porque todos se preoccupam principalmente de politica partidaria, e quando se discutem assumptos a que ella deveria ser estranha, levantam-se opposições sem fundamento, que não deixam os governos alcançar o que desejam.

Tudo se põe de parte para se viver de expedientes. Os emprestimos continuam sem interrupção. Contam-se quasi pela folhinha. Anno novo, novo emprestimo, ou pelo menos fazem-se regularmente de dois em dois annos. O deficit é permanente.

Da divida fluctuante não fallemos, já todos sabem que ella é de geração espontanea! Acabou o governo transacto de fazer um avultado emprestimo para exterminar a divida fluctuante, e apesar d'isto ficaram 2.600:000$000 réis d'esta divida na caixa de depositos. Paga a ultima, letra, recomeça no mesmo caminho; isto é, caminha-se para um novo emprestimo.

Temos necessidade, alem d'isto, de capitaes, e de capitaes avultados, para desenvolver as, colonias, porque não podemos prescindir d'ellas para progredir, e como estão, só servem para vexar o nosso amor proprio.

Ao mesmo tempo que o capital nos escasseia, e se antevê a impossibilidade de novos emprestimos, descobre-se que não é possivel dar um passo sem muito e muito dinheiro.

Outr'ora os nossos credores residiam em Londres, hoje estão dispersos por todas as cidades do mundo. Temos feito correrias em todas as praças, com o que muito folgam certos espiritos que se esquecem dos exemplos do Egypto e da Turquia!

Com uma agencia financial em Londres, que poderia poupar, na minha opinião, os intermediarios, lançâmo-nos, talvez menos avisadamente, na mão dos syndicatos, que não costumam trabalhar de graça.

Os corretores de Londres, pelo pouco lucro que os nossos emprestimos lhes podem dar, recusam-se s, recommea-dal-os aos seus clientes. Em junho carecemos de 500:000 libras, e em dezembro de igual quantia para os encargos da ultima operação financeira, Pagâmos com emprestimo todos os dividendos, e a possibilidade da bancarota é até apregoada nos documentos officiaes. Mais tarde admirâmo-nos que a imprensa ingleza copie o que está escripto n'esses mesmos documentos, e foi traduzido para o Livro azul, apenas attenuado pela phrase que temos a, mania de pagar!

Passae algumas semanas na agencia financial, como eu passei, e vereis que a questão de falida não póde ser adiada.

Visto que se trata agora de fazer estudos, ou convidaria o sr. ministro da fazenda a que mudasse temporariamente a sua residencia para Londres, a fim de ver de perto se eu falto á verdade.

Poucos dias antes da minha partida de Inglaterra, foi visitar-me um dos principaes banqueiros que fez comnosco transacção ha muitos annos [...] vossos compatriotas que as nações são como os individuos, e que é necessario mudar de caminho. Fazei pagar os proprietarios ricos, que se esquivam ao imposto, e alliviae os pobres. Se todos pagarem o que devem , talvez não seja difficil restabelecer o equilibrio; mas sobretudo é preciso que vos obstenhaes de novos emprestimos. Não vos illudaes