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326 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

Enganam-se se julgam que as suas agitações podem contribuir para a queda d'este governo, condemnado pelo seu systema administrativo e financeiro, assim como pelo seu proceder politico, que é o da intolerancia; ao contrario, estas manifestações vão-lhe dar força, pois tendem a impedir a opposição de obrar livremente, para que se não diga que ella faz causa commum cem um elemento antagonista das actuaes instituições, elemento com que ella não póde capitular, porque é monarchica. (Apoiados.}

Identificando a causa do governo com a do principio monarchico, os republicanos põem n'este ponto a opinião geral do paiz do lado da conservação do actual ministerio, para que ninguem possa attribuir a queda d'elle á preponderancia do partido republicano, o que, não obstante ser uma completa illusão, teria uma, apparencia de realidade.

Ha porém, ainda um mal maior, que deve ser maduramente ponderado.

Se a agitação republicana, por quaesquer circumstancias de occasião, como é principalmente a exploração do sentimento nacional a proposito do tratado de Lourenço Marques, conseguisse assumir proporções assustadoras, e tomar um caracter revolucionario, isso poderia fazer acreditar aos governos dos estados da Europa, na sua grande maioria monarchicos, que entre nós tinham um foco de adversarios perigosos, e podia chamar sobre nós a má vontade desses governos e a indisposição das nações que elles dirigem.

Bem sei que cada nacionalidade é independente no seu modo de viver, não ha ninguem que negue este principio; mas tambem não se póde negar o facto de cada nacionalidade ter de subordinar esse principio á sua força e á sua grandeza, porque ainda não se estabeleceu o direito das gentes por fórma tal que se respeitem em todas as nações iguaes direitos. O que se têem visto até agora, em todo o periodo historico, é prevalecer o direito da força sobre a força do direito.

portanto, se todas as nações devera ter juizo, as nações pequenas têem amola mais necessidade de o ter e de procederem cone muita prudencia. (Apoiados.) A sua existencia, posto que garantida pelos tratados e peie direito internacional, é mais arriscada do que a das nações grandes, que têem força bastante em se para se conservarem a despeito de todas as luctas.

Supponhamos que a doutrina republicana conseguia ter tantos proselytos; entre nós, que chegava prematuramente a triumphar. Qual era a consequencia d'isso? Era correr risco a nossa independencia e a nossa liberdade, ou chamar sobre nós uma intervenção estranha. Esta é a verdade, é necessario que o povo saiba isto; nós não podemos ser a pretensão de querer impor á Europa, cuja grande maioria é monarchica, o systema republicano, o isco quando temos ao pé de nós a Hespanha, que lucra em todo o caso com a nossa disolução politica, e onde existe, a par da latente aspiração iberica, um governo monarchico que trata de se consolidar, e que está agora mais forte do que nunca.

Portanto, eu direi ao partido republicano que as suas manifestações não servem actualmente senão para sustentar este governo, contra o qual a nação se manifesta, e não servirão n'um futuro, mais ou menos proximo, senão para comprometter e pôr um risco a nossa nacionalidade e chamar sobre nós grandes calamidades. (Apoiados.) Todas as idéas têem e seu tempo, e todas as doutrinas a sua occasião .

A evolução da sociedade segue uma ordem natural, não se póde forçar. Quando na sociedade europêa essa evolução movimento social chegar ao seu completo desenvolvimento, e tiver como resultante uma determinada fórma de governo, ella ha de vir espontaneamente, sem revoluções violentas, porque então é a ordem natural das cousas, que lhe dará o ser.

Mas emquanto essa evolução natural das sociedades humanas não chegar a esse ponto, é prematuro querer estabelecer essa fórma de governo, que compromette não só o socego da sociedade, onde se promove o advento de uma idéa que ainda não está amadurecida, mas que sacrifica a propria idéa.

Já Lamartine proferiu um grande axioma, quando afrmou que uma verdade colhida antes de tempo é uma decepção.

Isto digo eu tambem ao partido republicano, e direi mais, que das fórmas politicas não é boa na realidade senão aquella que for mais adaptada ás condições de uma determinada sociedade.

O sr. Visconde da Chancelleiros: - A que der governo sobretudo.

O Orador: - Quando digo adaptada, entende-se como condição primordial a de dar bom governo.

A primeira necessidade de uma sociedade é ser governada, é ter ordem e liberdade, sem o que não póde viver. (Apoiados.)

No systema que nos rege ha tolerancia para todas as opiniões, e permitte-se a propaganda pacifica. Á imprensa se de alguma cousa padece, não é de certo por estar amordaçada. (Apoiados.)

Pelo contrario: a imprensa escreve todo que quer, e ás vezes era melhor que não escrevesse certas cousas; (Apoiads.) mas, essa imprensa póde considerar-se tambem como uma manifestação da opinião publica, comquanto seja principalmente orgão dos seus redactores ou dos que os inspiram, porque quando são muitos os jornaes escrevendo no mesmo sentido, é evidente que, entre os seus numerosos leitores, estabelecem uma certa corrente de idéas, que exerce uma poderosa influencia no espirito publico e o identifica cada vez mais com esse modo de ver, sobretudo quando a inconveniencia dos actos do governo coopera para, o mesmo fim, justificando a critica de que são alvo.

Ora, a imprensa do paiz na sua grande maioria á centra o governo, e por consequencia tambem por este lado lhe não é muito favoravel a opinião.

Sem applaudir certas demasias da imprensa, que seria para desejar se evitassem, não se póde deixai de reconhecer que & actual situação politica não tem grande direito de as estranhar, porque as provocou, iniciando e prateando, para derrubar os seus adversarios e subir ao poder, o systema de injuriar e calumniar, (Apoiados.) de medo que, se nós fossemos lidos lá fóra, nos deviamos envergonhar, não do que toda a imprensa escreve, mas uma parte d'ella.

Não se póde, porém, negar que quem auctorisou isto, e é digno de maior censura, foram os que começaram a trilhar este caminho. (Apoiados.)

Uma VOZ: - Houve outros exemplos mais antigos.

O Orador: - Eu bem sei que ha precedentes; não na factos, nem absurdos alguns que não tenham infelizmente o seu precedente na historia, (Apoiados.) mas tambem sei que não se devem invocar senão os bons precedentes, e muito bem o disse o nosso distincto publicista o sr. Silvestre Pinheiro "que uma nação não se governa pelos exemplos, mas sim pelas regras e principios"

Ha na nossa historia politica precedentes de estylo violento na imprensa, é verdade; mas é necessario corrigirmos-nos em vez de aggravar o mal, sem deixar de attender as nossas apreciações á diversidade das circumstancias.

Quando hoje abro o Espectro, de que se fez agora uma nova edicão, esse pamphleto acrimonioso, escripto no meio, dos ardores da guerra civil pelo nosso primeiro jornalista vejo ali a par da violencia e irritação do momento, a elevação e a grandeza da verrina politica; a grandiloquencia do estylo e o levantado das idéas, a par das expansões da paixão. E hoje que vemos nós?! Hoje, no regaço da paz, sem luctas civis, sem embate de principios, no meio de indifferentismo publico, vemos a philipica descabellada e a