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614 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

ahi que se poderiam tirar as melhores vantagens e a verba mais importante para a reorganisação das reservas.

Vou apresentar á camara um exemplo para ella ver que da administração militar podem advir grandes economias applicaveis com grande proveito ás reservas.

Era ministro da guerra o sr. general Couceiro, caracter distincto, probo, em que não deslisava a menor sombra de suspeita, mas que, sendo illudido, assignara uma portaria, em que, com o pretexto de que o prego dos cereaes tinha subido, indemnisava os fornecedores de forragens para o exercito, com mais tantos réis por cada ração.

Já n'essa occasião os syndicatos andavam affrontando o paiz, porque os fornecedores constituiram-se em syndicato.

Comprehende-se a importancia d'esta indemnisação, embora fossem 7, 8 ou 10 réis por cada ração, sendo as rações 8:000 ou 10:000 por dia!

Pedi na camara que me fosse eaviada a portaria, veiu, e aununciei a interpellação, mas o negocio era de tal ordem que até me quizeram subornar.

No emtanto, levei a interpelação avante, para mostrar á camara que da administração militar podiam resultar grandes economias.

Não sei se estou enfadando a camara, mas desejo fundamentar bem a minha opinião e elucidar a camara e o sr. ministro da guerra, que tem muito que fazer, a respeito da necessidade de se attender a este assumpto.

Vozes: - Falle, fale.

O Orador: - Sabem o que succedeu?

Realisou-se a interpellação, o &r. Barrou e Sá até tomou parte n'ella; o sr. marquez de Sá levantou-se para responder, disse duas palavras e sentou-se.

Ora eu provára que, ainda mesmo que o governo quizesse pagar aos fornecedores pelo mesmo preço do mercado, os fornecedores recebiam a mais 35 ou 36 réis em cada ração!

Pois, sentando-se o sr. marque de Sá, levantou-se um deputado e apresentou a seguinte moção:

"A camara, satisfeita com as explicações do governo, pasta á ordem do dia!"

Ora o governo não tinha explicado nada, nem o podia fazer.

O facto de a camara approvar esta moção fez uma tal impressão, que o meu particular amigo sr. Thomás de Carvalho declarou logo que passava para a opposição.

No dia seguinte, porém, o sr. marques de Sá, que era um caracter seriissimo, mandou-me chamar e disse-me:

- Parece-me que aqui anda cousa, portanto vou mandar fazer uma nova arrematação.

- Mas v. exa. agora não podo fazer isso, respondi eu.

- Não importa.

Assim o disse, assim o fez. Sabem o que aconteceu?

A arrematação fez-se por um preço inferior áquelle por que estava!

Assim, a minha interpellação poupou ao estado mais de 300 e tantos contos.

Já v. exa. vê que, n'uma auctorisação tão ampla, em que se trata da lei do recrutamento, de artilhar as fortalezas de Lisboa, de adquirir couraçados que importam em mais de 4000:000$000 réis, de blindar a torre do Bugio que, segundo a opinião auctorisada de uma commissão nomeada para estudar este assumpto, quando muito póde servir de monumento historico e para ter um pharol, já vê v. exa. dizia eu, que tanto a questão do contingente como a da administração militar e outras, são todas questões muito importantes.

Aquella commissão, sr. presidente, foi da opinião que era inutilirem gastar-se 2.000:000$000 ou 3.000:000$000 réis n'aquella fortaleza e que era muito mais fluctuante que aquelle ponto fosse defendido por uma bateria fluctuante.

Ainda hontem o illustre presidente do conselho declarou sinceramente que não concordava em que se inserisse na acta declaração alguma que não fosse no sentido das bases d'esta questão e que o governo não podia fazer nenhuam alteração no orçamento. N'este proposito, sr. presidente, tambem de passagem direi que a nova lei do recrutamento se consubstancia n'um principio altamente vantajoso para o exercito, que é serviço obrigatorio. Pois como v. exa. sabe, o serviço obrigatorio confunde a nação com o exercito, ao qual dá um caracter de nacionalidade; e n'este ponto a lei do sr. José Luciano de Castro é muito acceitavel.

Das portas que a lei tem, sr. presidente, é que tenho medo. Se s. exa., o sr. ministro da guerra as quizer fechar, entendo que faz muito bem porque temo que se abram de par em par quando se tratar de eleições e que por ellas saiam muitos recenseados.

A auctorisação que a camara vae dar é amplissima e por isso é que me parece justificavel a moção que acabo de mandar para a mesa, e que talvez o sr. ministro acceite, dando depois o governo conta á camara do uso que fizer de tão grande auctorisação.

Não quero entrar era mais largas considerações pois que, não desejo protelar o debate e tenho ainda de me referir a um ponto importante ao qual a camara sabe que ligo a maxima importancia. E a um additamento que está na mesa, e que era o parecer da minoria de uma commissão de que foi relator o sr. Hintze Ribeiro. O additamento é do governo e eu por lealdade devo dizer á camara, que na redacção apenas substitui a palavra funcção por emprego ou encargo.

Os srs. ministros declararam aqui na camara que não renegavam esses principios, e que os deixavam á apreciação do parlamento. Mas isto não é bastante, porque, comquanto julgue sinceros as declarações dos srs. ministros, sabemos todos como as cousas se fazem, e como se dirigem as maiorias.

Tenho medo das altas influencias politicas, que não deixem s. exas. levar avante estas idéas. Isto é que eu receio.

Supponho, e tenho esperança de que o nobre presidente do conselho de ministros vá declarar que acceita a minha moção, porque de nenhum outro modo se explica, que s. exa. tendo sido convidado ha quinze dias para comparecer na commissão, ainda lá não fosse. Creia o nobre presidente do conselho, que presta um grande serviço, acceitando o meu additamento.

Mas, sr. presidente, julgai á v. exa. que esta opinião é só do sr. presidente do conselho de ministros e do sr. Hintze Ribeiro, a respeito das incompatibilidades politicas e parlamentares?

É tambem opinião do sr. Franco Castello Branco e do sr. Arroyo; é por consequencia n'uma questão ministerial.

O sr. Franco Castello Branco, todos sabemos, começou logo a ser muito elogiado pelos seus discursos na outra camara. S. exa. disse por esta occasião que era muito a favor das incompatibilidades politicas e era-o pela rasão de que ninguem se lembrou d'elle, emquanto delegado, mas começando, logo que veiu para a camara, a ter varios convites para director de differentes companhias ou emprezas.

Aqui tem v. exa. uma opinião auctorisadissima.

O sr. Arroyo. então, foi muito alem. S. exa. dirigiu se ao or. José Luciano de Castro de um modo desabrido.

Vou ler á camara o que s. exa. dizia no parlamento, acompanhado de muitos apoiados de alguns srs. deputados que hoje são ministros, como por exemplo o sr. Julio de Vilhena.

Pedi a palavra n'este artigo, dizia s. exa. que diz apenas "fica revogada a legislação em contrario" para expor o mais nitidamente que eu poder quaes os motivos de moralidade politica, pelos quaes devia ficar "revogado" o ministerio.

" Poucas vezes se farão dentro d'esta casa accusações tão graves, tão severas e tão fundamentaes como as que compozeram o discurso do sr. José Castello Branco. (Apoia-