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8 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

existem de facto na minha opinião, porém, o que se denomina verdadeiramente partido, não o vejo.

Esta é a verdade.

Á frente do partido historico está, creio, o sr. duque de Loulé; á frente do partido regenerador, não sei se está o sr. Aguiar, ou o sr. Fontes? Creio que o sr. Aguiar é o presidente ad honorem e o sr. Fontes o effectivo.

Não vejo pois como disse nem governo, nem algum partido politico, porque o governo ora se acolhe aos historicos, ora aos regeneradores... Aceita todas as imposições a beneficio do estado, comtanto que o deixem estar no poder!... O ar. presidente do conselho não pertence a nenhum partido, por isso póde estar bem com todos, se bem que já houve um jornal, o Partido constituinte, se me não engano, que accusou a existencia de um outro partido, do partido de s. exa. = o dos Avilistas.

O partido constituinte é tambem um dos muitos partidos d'esta terra, mas dos que não estão cotados no stok exchange.

Tambem ha os penicheiros...

O sr. Vaz Preto: - E os saldanhistas?!

O Orador: - Tambem; mas todos esses deixam de ser cotados, não têem sempre valor; é só ás vezes: e occasiões ha em que os seus chefes têem um grande valor, até mesmo quando se deseja que não estejam presentes.

O sr. presidente do conselho é que não pertence a partido nenhum; está habilitado a servir com todos, e mesmo com todos os homens, quer sejam ou não as suas idéas... as suas idéas!?... Não digo bem; porque s. exa. não tem partido e então não tem idéas suas e proprias, e portanto todos lhe servem - historicos, regeneradores, seja quem for, comtanto que s. exa. se conserve no ministerio (riso).

As fusões actualmente não são nada difficeis. Podem fazer-se fusões de inimigos encarniçados!... Os chefes insultam-se mutuamente hoje, e ámanhã abraçam se! Dirigir-se podem toda a especie de injurias que ninguem lhes obsta. Presumo, e talvez affirmo, que assim é que pensam os chefes d'esses intitulados partidos; mas o facto é que actualmente não ha fusões. Estão os grupos separados; porque assim convem ao que se apresenta em maior força.

O sr. presidente do conselho, ou antes o sr. ministro da fazenda, apresentou um projecto de lei... - eu dirigia-me ao sr. presidente do conselho, porque tenho o habito de me dirigir a s. exa., como director politico espiritual e universal da situação: mas, como ia dizendo, o governo apresentou um projecto de lei com largas auctorisações para a cobrança dos impostos; mas o projecto foi para os historicos, cujos chefes são hoje os amigos do governo; e de lá veiu, é verdade, mas trazendo já grandes restricções. Eis-aqui o apoio com que o ministerio póde contar!

E porque trouxe o projecto aquellas restricções? O sr. duque de Loulé e o sr. Fontes, como chefes de partido devem sabe-lo perfeitamente. É porque os partidos já não vão, como acontecia antigamente, atrás do nome de uns certos homens, que lhes são impostos com certa auctoridade; o systema hoje é muito diverso; quando os partidos vêem que os geus chefes querem fazer quaesquer transacções, sem o seu concurso, não se prestam a apoia-los indistinctamente: hoje, os chefes são uns réis eonstitucionaes, reinam, mas não governam, sobretudo nos partidos mais democraticos em que é preciso attender ao pó vinho. Hoje, ninguem se deixa levar pelos chefes: ha vontade propria.

O caso é que o projecto veiu, como já disse, e os historicos que apoiam o governo, para lhe dar prova da, sua muita confiança, põem-lhe restricções! Ora, eu por mim, estimo que assim aconteça ao sr. marquez d'Avila, porque s. exa. é um estadista diante de quem o homem, qual eu, com uma carreira publica mais moderna não póde fallar; s. exa. julga-se acima de tudo e de todos!

Declaro qne previ muito e muito, os actuaes acontecimentos. Não digo que os estimo, só farei a reflexão de que ninguem póde prevenir a s. exa., porque s. exa. tudo prevê.

Levou pois o sr. marquez d'Avila, dos historicos; um voto decensura, e no entanto continua a governar com elles e a abraça-los!

Daclaro que já estou esperando ve-los sentados n'aquellas cadeiras, (apontando para as do ministerio), com o sr. duque de Loulé á frente; e eu, do meu logar, dirigindo perguatas ao nobre duque e pedindo-lhe explicações, ás quaes s. exa. de certo responderá com muita parcimonia, e eu continuarei insistindo, porque, n'essa parte, sou de certo mais feliz que o sr. visconde de Chancelieiros. S. exa. por mais que insistisse com o sr. duque de Loulé, para lhe responder, nunca obteve resposta e eu obtive-a algumas vezes.

O sr. marquez d'Avila está pois, em resumo, confiado nos historicos, pela grande sensatez com que um dos chefes tratou com s. exa., é no entanto vae soffrendo os revezes que elles, apesar de amigos, lhe vão dando, com as apertadissimas restricções que lhe têem feito. Esta phrase, sensatez, é muito propria dos partidos serios; ali só ha uns certos homens que são os taes dotados de sensatez e gravidade, que, no dizer d'elles, não existe nos demais partidos.

O governo recebeu ha pouco uma boa lição do sr. José Luciano de Castro, que lhe dá o seu apoio rasgado, e ao mesmo tempo lhe vae restringindo, o mais que póde, as suas concessões e creando-lhe difficuldades; pois apesar d'isso, o sr. marquez d'Avila entende que com taes apoios é que ha de augmentar, medrar e robustecer a sua popularidade.

O sr. bispo de Vizeu tambem foi já um grande apoio do ministerio; mas agora retirou-se para a sua diocese, e lá está no seu bispado entregue aos cuidados de apascentar o rebanho que tem a seu cargo, sem se importar de vir em auxilio do governo.

Ora veja v. exa., sr. presidente, como do apoio universal que o governo tinha, nos surgiu agora uma desconfiança tambem universal, que até chega aos proprios homens serios!... Se esta desconfiança estivesse só da parte dos constituintes, dos penicheiros ou dos saldanhistas, isso era outra cousa; mas, hão acontece assim. Já se manifesta tambem nos proprios historicos!... E na parte pensante do paiz!... Creio que esta phrase, parte pensante do paiz, e do sr. Mártens Ferrão (que tambem é homem serio) e foi proferida a proposito de uma questão com a cidade do Porto.

Ora temos igualmente os regeneradores; mas d'esses, a fallar verdade, não tem rasão de queixa o sr. marquez d'Avila, pois têem sido mais condescendentes. Não tenho a honra de ser regenerador, não estou cotado no stock exchange do sr. Fontes...

O sr. Vaz Preto: - Em que partido está?

O Orador: - Estou no partido que quer as grandes reformas, que tem idéas grandes, que quer a regeneração d'este povo, mas que a deseja, e quer com verdade, e não com palavras fingidas ou promessas fallazes. Estou no grande e verdadeiro partido popular, estou no partido que não quer nem os pequenos opprimidos, nem os grandes, pela sua posição, isentos dos sacrificios que devem ser e são, de todos. N'uma palavra, estou no grande partido europeu que aspira ás grandes reformas em beneficio dos povos. Este é o meu partido. Não desejo ser admittido n'outro; e não quero me contem noutro, porque nunca me filiarei n'esses que só teem idéas pequenas, sem aspiração á grandeza dos povos.

(Interrupção do sr. Vaz Preto que se não ouviu.)

Honrar-me-ía muito em estar ao lado d'esses cavalheiro a que o digno par se refere; mas, todavia, devo declarar que prefiro ás pessoas as idéas ou principios que representam.

Não estou resolvido a votar tributos para sustentar sinecuras, ou manter a desigualdade. Bem conheço que não tenho certo o triumpho, n'esta luta em que me empenhei; mas honro-me em sustentar estas idéas, por estar convencido de que presto serviço ao povo, sendo franco na minha linguagem, e não o illudindo.