440 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO
continuar a trabalhar, a irem procurar allivio ao bondoso clima de Mossamedes.
Quando o governo não póde obrigar ninguem a ir fazer estes serviços, que tenho fé hão de utilisar a nossa Africa, a qual, parece-me se a benificiaremos devidamente, ha de ser um dia um grande recurso para a metropole, talvez em tempo muito proximo. Com que fundamento pois se accusa o governo pelos contratos que tem feito para mandar bons funccionarios para as nossas possessões? Note a camara que não me estou defendendo, mas expondo a rasão e a verdade. Os meus antecessores lutaram com grandes dificuldades para encontrarem gente nas condições precisas ao serviço que se tem de fazer nas colonias.
Assim mesmo na minha opinião, contrataram relativamente barato em vista dos pedidos que primeiramente tinham sido feitos.
A camara póde fazer o que quizer, mas acredite que é mais facil criticar do que executar.
Não conheço nada tão difficil como executar. Ha leis que á primeira vista nos parecem perfeitamente correntes, mas quando chegamos á pratica achamos o nosso caminho tão eriçado de dificuldades, que temos muita vez de retroceder e muitissimas de parar.
Temos ainda muito que fazer; se bem que estejamos bastante adiantados, é necessario caminhar mais e com persistência; para isso é preciso que empreguemos tanto quanto possivel os esforços de que póde dispor cada qual dentro da sua capacidade intellectual e material. Este é o dever do governo, é o dever de todos nós.
O governo póde não satisfazer a vontade dos mais escrupulosos no rigoroso cumprimento do dever que lhe impõe a sua grande responsabilidade, mas BC alguma vez es juizes fossem chamados aos bancos dos réus, haviam de confessar que não teriam feito melhor, sobretudo se não tivessem aprendido com os primeiros que antes, á forca de trabalho, encontraram a resolução de muitos problemas.
Desejava responder uma por uma ás reflexões apresentadas pelo digno par. Vi que o meu illustre amigo o sr. Costa Lobo, á falta de documentos que infelizmente não posso fornecer, comquanto tenha a melhor vontade de o fazer, se referiu ao que dizem os jornaes.
Não serei eu quem negue a auctoridade ao jornalismo.
É uma fonte perenne de muito conhecimento util, informador avido, embora ás vezes imprudente; mas tambem, quantas vezes victima na sua sinceridade de correspondentes sem consciencia, principalmente quando escrevem de paizes longínquos.
Vou dar-lhe uma prova bem recente.
O governador geral de Moçambique, que é um cavalheiro digno de todos os respeitos, pois acaba de ser victima de uma noticia menos exacta, que a respeito delle se publicou em alguns jornaes do Lisboa.
Aquelle digno magistrado visitou, não ha muitos mezes, os diversos districtos da sua provincia. N'esta visita foi, como devia ser, comprimentado por autoridades e particulares em toda a parte onde chegou.
Pois de lá veiu para os jornaes uma noticia que elle immediatamente se apressou em desmentir num officio que tenho presente.
E eu folgo de ter esta occasião de perante o parlamento fazer justiça áquelle nobre caracter, noticiando o seu desmentido.
A noticia e, pouco mais ou menos, que aquelle digno funcionário, na visita que fizera aos seus districtos provinciaes, tinha sido recebido pelos régulos, z que delles recebera valiosos presentes.
Este funccionario que viu o desfavor da noticia, apressou-se a declarar positivamente ao governo, que não tinha recebido nenhum dos presentes que lhe quizeram fazer, que elle acintemente não quiz acceitar, para que se não disse-se que o fim da sua visita fora no intuito de receber presentes fosse de quem fosse.
Eu poço sempre aos dignos pares que, pela sua posição e suas pessoas, dão auctoridade ás palavras que proferem, que tenham sempre o maior cuidado com as noticias que vem das colonias. Eu declaro que tenho chegado a pasmar de ver muitas vezes o que dizem os jornaes, perfeitamente em desaccordo com o que dizem os governadores nas suas informações officiaes.
O digno par o sr. Costa Lobo disse ha pouco, que se tivéssemos de consultar o paiz sobre se deseja conservar as suas colonias, s. exa. tinha a certeza de que o paiz inteiro seria desfavoravel a essa idéa, ou, pelo menos, indifferente.
Se s. exa. consultasse apenas a opinião dos que desconhecem completamente o que são as nossas colonias, qual a sua importancia passada, presente e futura, de certo que a sua opinião lhes seria indiferente, ou antes, não teriam opinião; mas se s. exa. consultasse os que têem conhecimento dellas, mais ou menos immediato, ou mais ou menos perfeito, a opinião seria muito favoravel.
Eu conheço um pouco o digno par, e creio que s. exa. é dos que teem opinião favoravel á conservação das nossas colonias; se não tem, eu desejaria que s. exa. tivesse a coragem de vir ao parlamento propor a questão previa: deve ou não Portugal conservar as suas colonias intactas?
Não desejo continuar, para não cansar a camara. Creio que terei dito o que é preciso sobre este projecto, que eu tive a honra de adoptar, e a camara de certo conhece as dificuldades com que luta o governo na metropole para administrar dignamente as colonias.
Um dos meus maiores empenhes, e certamente do pagamento ao votar esta auctorisação está na construcção do caminho de ferro de Ambaca. É um melhoramento que, quando chegar a conseguir-se...
O sr. Costa Lobo: - E quando chegará a conseguir-se?
O sr. Ministro da Marinha: - Eu respondo ao digno par, e tanto mais facilmente quanto é certo que s. exa. aconselhou o governo a concentrar todos os seus recursos em Angola.
Se o sr. Costa Lobo quizer ter a bondade de ir aturar-me por alguns momentos ao ministerio da marinha, lá poderá ver que tambem desejo cuidar das obras publicas de primeira necessidade.
E quando o digno par me fazia esta recommendação, perguntava eu a mira mesmo o meio pratico de obter esse resultado. Perguntei-o já na secretaria ao engenheiro que do ultramar regressou a Lisboa por doença; e, apesar de ser domingo, lá estivemos hontem com os mappas diante de nós, estudando o assumpto.
Sabe v. exa. o que me espantou? Foi que em Loanda, quando áquelle engenheiro chegou, tivesse procurado trabalhadores, e, depois de fazer os possiveis esforços, apenas encontrasse oitenta carregadores; quando depois se internou para os trabalhos que foi fazendo, a muito custo em quatro concelhos do interior não chegou a obter quinhentos obreiros.
Por consequencia, a primeira cousa que o governo tem a estuda: para poder dar ás obras daquella provincia o desenvolvimento que o digno par aconselha, é a maneira de encontrar trabalhadores.
Convem conhecermos as circumstancias especiaes das nossas possessões. Nós não temos possessão alguma onde desde já possamos dar grande desenvolvimento aos trabalhos que tão necessario é levar a eifeito; a unica, onde se nos offerece maior facilidade, é a Africa orientai.
E sabe s. exa. por que? Porque temos ali o recurso cos trabalhadores da Índia e...
(Aparte do sr. Costa Lobo.)
Creio que o digno par não quererá que desprezemos, a provincia de África oriental, que, na minha opinião, é muito