O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 353

não foi feito com esta promessa, o adiamento, sr. presidente, poderá dar durante algum tempo popularidade ao governo. Mais tarde, porém, se reconhecerá que foi uma grande desgraça.

Eu não estou discutindo o tratado de Lourenço Marques, e por isso limitar-me hei a estas singelissimas considerações.

Agora, antes de concluir a minha exposição, desejo significar á camara o que penso ácerca das allianças que nós podemos contrahir com os paizes estrangeiros, ponto que prende intimamente com o que fica dito.

E Portugal uma nação pobre e pequena, mas que ainda_ tem grande importancia no mundo. Merece-a pelo seu brilhante passado, e no futuro esta importancia não póde diminuir pelas colonias que por emquanto possue.

Depois da separação do Brazil, deixou Portugal de ser uma nação colonial de primeira ordem, mas com as colonias que ainda hoje lhe restam, Portugal poderá em futuro proximo, que seja presenceado pela actual geração, tornar-se uma. nação respeitada e prospera.

Pelos processos empregados até aqui — escusamos de declamações — está provado que não conseguem os portuguezes acompanhar os outros povos na civilisacão e desenvolvimento rapido das colonias. Se não possuimos capitães sufficientes para os emprehendimentos da metropole, como quereis obtel-os para as colonias, isolando-vos das nações ricas e poderosas?

E mais que sabido. É-nos indispensavel procurar nas. allianças com as nações estrangeiras os meios de auxilio que nos faltam, de modo que não comprometiamos o nosso futuro. Mas para isto é mister escolher bem as allianças, com o maior sangue frio, sem pensamento reservado nem desconfiança, e effectual-as com a maxima lealdade. As allianças não podem ser um assumpto de moda. E moda hoje dizer mal de tal povo, alliemo-nos com outro. Assim arriscamos tudo.

Os espiritos, que estudarem sem paixão e com conhecimento do passado esta questão importante para os portuguezes, hão de forçosamente concluir que a melhor alliança para nós é até hoje a da Inglaterra. É a Inglaterra onde a liberdade floresce como em parte alguma. Quem visitou uma vez na sua vida aquelle povo, volta depois ao seu paiz, qualquer que elle seja, completamente maravilhado.

N’aquella nação, incomparavel debaixo d’este ponto de vista, nascem todas ás idéas como nas campinas mais ferteis brotam todas as plantas; mas, a opinião publica não aproveita senão as idéas sensatas, como o bom cultivador não tira da terra senão os fructos aproveitaveis.

A liberdade ingleza não teme nem o jesuita nem o communista. É igual para todos. Todos pregam as suas doutrinas dentro da lei, á qual tudo obedece em honra da liberdade.

Nos momentos mais solemnes da nossa historia temos sempre recorrido á Inglaterra com bom exito. Se consultamos a historia com frieza, ahi acharemos em muitas paginas d’ella os bons serviços que nos tem prestado. Precisamos desculpar á Inglaterra de vez em quando algumas pequenas ingratidões, é verdade, ou antes o seu frio raciocinio, que lhe não permitte empenhar-se senão nas luctas em que mais anda interessada, porque se ligam a um grande principio humanitario ou politico. Aquelles que clamam constantemente que ella se costuma fazer pagar com usura ^los seus serviços, não reflectem por que preço ficariam esses mesmos serviços se outras nações nol-os viessem prestar. Os inglezes não têem unicamente trazido a este paiz os capitães com que realisamos as obras de maior alcance, tambem têem deixado correr aqui ao lado dos nossos soldados o seu sangue generoso.

Ha cinco seculos já o Mestre de Aviz se honrava de pedir soccorros militares á Inglaterra. O marquez de Pombal, que por tanto tempo esteve em Londres, antes do seu nome passar á historia, sabe-se o que, pensava da Inglaterra, e aprendeu talvez com ella as cousas boas que nos fez. Conhecia o marquez de Pombal perfeitamente os inglezes, tinha vivido e estudado as suas instituições, e nunca esqueceu quanto valo o auxilio d’este povo. Todos os povos têem defeitos, mas poucos possuem as boas qualidades do povo inglez. O que outrora perdemos nas colonias, sem fallar de Tanger nem de Bombaim, que foram doação espontanea dos portuguezes, devemol-o aos hespanhoes. Foi da mão dos hollandezes que houveram os inglezes o que de melhor talvez nos pertencia n’esse vasto territorio, cuja estrada maritima sulcámos os primeiros, nas grandes epochas da nossa epopea nacional.

A nossa historia politica e economica, quando se faça pelo methodo scientifico em relação á Inglaterra, não nos deixa unicamente damnos e perdas. A intervenção da Inglaterra poz termo á guerra chamada dos vinte e sete annos. No pacto de familia celebrado quasi um seculo depois fornos obrigados, por não querermos acceitar um dono só para a peninsula, a preparar nos para a guerra com a Hespanha. Chegaram ainda a tempo as tropas inglezas, e todos os territorios que haviamos perdido na Europa e nas colonias, nos foram restituidos.

Os soldados portuguezes na batalha do Bussaco brilham tanto na historia da Inglaterra, como as hostes inglezas resplandecem pelo seu valor na historia de Portugal.

Nenhum ministro portuguez de cunho, em momentos de afflicção, se tem esquecido de recorrer á Inglaterra para nos apoiar. Tem havido inglezes, que, em instantes de orgulho e de vaidade, vexaram Portugal; mas a injustiça de alguns não basta para que sejam esquecidos os grandes beneficios. Como quereis condemnar os outros povos pelas faltas que vós mesmos praticastes? Um povo forte é sempre orgulhoso e muitas vezes cruel. Tambem nós fomos crueis, quando dispunhamos da força.

O imperio africano está hoje nas mãos dos portuguezes e dos inglezes. É preciso que não passe a outras mãos. Só a alliança com a Inglaterra leal e sincera o poderá conseguir. Façamos aos inglezes todas as concessões compativeis com a dignidade nacional, para podermos caminhar no desenvolvimento das colonias sem receio de ninguem.

A alliança ingleza para o meu paiz é como a fogueira que o viajante accendeno sertão, quando quer dormir tranquillo. Até onde chega o clarão do fogo contem o viajante os inimigos em respeito. Não apaguemos a fogueira que nos póde dar a nós — a paz e a felicidade.

Não confundaes o procedimento de alguns funccionarios ambiciosos da Gran-Bretanha com o procedimento sempre digno do povo inglez; assim como não quereremos de certo .que elle confunda a seriedade de Portugal com o procedimento de alguns dos nossos funccionarios coloniaes. Sempre que eu tenha do meu lado a rasão e o direito, estou prompto a combater com a Inglaterra.

E, quantas nações, sr. presidente, ha na actualidade de que possamos dizer, que se curvem a estas ultimas armas que os fracos possuem? A Grecia, a Roumania, a Turquia e até as. grandes potencias, todos os povos do globo se julgam felizes quando dispõem da alliança ingleza. Porque havemos nós desprezal-a, indicando nol-a as circumstancias? Cimentemol-a quanto caiba em nossas forças, para cumprir na historia o papel que nos está reservado.

Eu não desprezo as allianças de quaesquer outros paizes. Se me fallardes da França, dirvos-hei, que respeito por tal modo os francezes, que desejaria associar-mo com elles na heróica solução dos problemas modernos da humanidade. Tenho sido tratado pelos francezes com a mesma amisade que sempre encontrei entre os meus compatriotas. Tenho sido applaudido por elles com benevolencia igual á que vós tendes por mim.

No tempo de Richelieu foi a nação que melhor contribuiu para a independencia de Portugal. E quando os conjurados de 1640 encontraram difficuldade em o duque de