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N.º 46

SESSÃO DE 22 DE ABRIL DE 1882

Presidencia do exmo. sr. João Baptista da Silva Ferrão de Carvalho Martens

Secretarios - os dignos pares, Eduardo Montufar Barreiros, Visconde de Soares Franco

SUMMARIO

Approvação da acta da sessão antecedente. - Correspondencia. - Ordem do dia. - Continuação da discussão do parecer n.° 26, sobre o projecto relativo ao caminho de ferro de Torres Vedras. - Usam da palavra os srs. Vaz Preto, presidente do conselho e ministro da guerra, Pereira Dias, H. de Macedo, ministro das obras publicas, marquez de Sabugosa, Gusmão, visconde de S. Januario, Côrtez, Pereira de Miranda, visconde de Chancelleiros, e tendo sido prorogada a sessão, foi o projecto approvado na sua generalidade e especialidade, tendo sido retiradas algumas das moções mandadas para a mesa e outras rejeitadas.

Ás duas horas e um quarto, sendo presentes 19 dignos pares, o sr. presidente declarou, aberta a sessão.

Lida a acta da sessão precedente, julgou-se approvada, na conformidade do regimento, por não haver reclamação em, contrario.

Mencionou-se a seguinte:

Correspondencia

Um officio do ministerio da guerra, enviando 60 exemplares da estatistica, geral do serviço de saude do exercito, relativa, aos annos economicos de 1877-1878 e 1878-1879, para ser em distribuidos pelos dignos pares.

Mandaram-se distribuir.

Outro da alfandega de Lisboa, remettendo 100 exemplares da estatistica, da mesma alfandega, relativa ao anno findo de 1881, para serem distribuidos pelos dignos pares:

Mandaram-se distribuir.

O sr. Vaz Preto: - Sr. presidente, cabe-me, agora a palavra sobre a materia, porque eu tinha desistido della, a fim de entrar só- nesta discussão quando, podesse aqui comparecer o sr. presidente do conselho.

Esperava por esse ensejo, que a final chegou.

Eu sabia que o nobre ministro se achava preso na outra casa por uma discussão importante, e como s. exa. tivesse tido a delicadeza de me prevenir do motivo por que não podia comparecer naquella occasião nesta camara, eu quiz corresponder com igual delicadeza, e por isso quando me coube a palavra n'outra sessão desisti della.

Agradecendo ao sr. presidente do conselho a sua cortezia para comigo, passarei a fazer algumas considerações sobre o assumpto.

Sr. presidente, não obstante esta questão ter sido muito debatida e discutida largamente; já debaixo dó ponto de vista militar, já considerando a pelo lado estratégico e táctico, já sob o aspecto economico, não posso deixar tambem de fazer algumas reflexões e de exigir do governo declarações que julgo, necessarias, e que é mister que elle faça antes de se votar este projecto.

Eu vou tratar o assumpto debaixo do ponto de vista, da moralidade e da falta de coherencia do governo, debaixo de um ponto de vista em que elle não tem sido tratado, e sustentar ao mesmo tempo a proposta que mandei para a mesa, que é uma substituição ao projecto; mas antes de- o fazer careço de responder a algumas objecções apresentadas pelo sr. ministro das obras publicas á minha substituição, objecções que me parece não são bem cabidas, nem destroem o pensamento daquella minha proposta, O sr. ministro das obras publicas declarou que não podia acceitar a proposta para que o caminho de ferro que parte de Lisboa a Torres cortasse a linha do norte e se dirigisse a Castello Branco e á Guarda, a entroncar no caminho de ferro da Beira Alta, porque não encontrava este traçado em nenhum dos planos dos engenheiros portuguezes.

O que se vê é que o sr. ministro das obras publicas, por isso que é muito novo, ignora e não sabe a historia dos caminhos de ferro portuguezes, porque se a conhecesse, devia de saber que este traçado não é meu, mas sim de um engenheiro muito distincto e notavel, do engenheiro francez o sr. Watier.

Quando sé pretendeu fazer o primeiro caminho de ferro em Portugal, mandou-se vir de Paris um engenheiro francez chamado Watier, por ser dos mais competentes sobre esta especialidade. Este engenheiro entendia, e creio que entendia muito bem, que sendo Portugal uma pequena lingua de terra banhada pelo oceano, cortada de rios, o caminho de ferro que se devia principalmente fazer era uma linha internacional que cortasse o paiz no maior numero possivel de pontos, e esse engenheiro queria que esse caminho de ferro, saindo de Lisboa, cortasse a zona comprehendida entre o Tejo e o mar, zona que está hoje bem ou mal servida pelo caminho de ferro do norte.

Elle não queria um caminho de ferro á beiramar, nem tão pouco á beira do Tejo; julgava isso um grande erro e desperdicio de capitães.

Elle julgava sufficiente um caminho de ferro para servir esta zona, e agora julgam-se necessarios dois!

O pensamento delle era o caminho de ferro que q governo propõe de Lisboa até Leiria, e que seguisse pelas immediações de Thomar, Castello Branco, Covilhã e Guarda, a entrar nas proximidades de Almeida com a linha que ali viesse de Salamanca.

O pensamento deste distincto engenheira era que a zona comprehendida entre o Tejo e o mar devia ser servida por uma linha ferrea que, cortando-a pelo centro, se dirigisse a Castello Branco, á Covilhã, a entroncar no reino vizinho, proximo de Almeida.

Eis o que elle queria, eis o que elle pretendia, eis o que o futuro veiu demonstrar ser o mais acertado e racional.

Daqui deve s. exa. concluir que este caminho de ferro não é uma invenção minha; e que se errei, errei com uma auctoridade muito respeitavel, e se fallo agora nesta linha, é por não ter obtido melhor, é por não ter obtido aquella que de direito e de justiça é devida á Beira Baixa.

O caminho de ferro que eu preferia, porque era a verdadeira linha internacional, era o que, seguindo a margem esquerda do Tejo, por Monfortinho, ia a Malpartida; esse fui eu que o inventei, pelo menos fui o primeiro que lembrei essa linha, e que a defendi em Portugal: mas estoutro não foi invenção, minha, foi invenção daquelle distincto engenheiro, que comprehendeu bem que a Portugal o que convinha, sobretudo, era um caminho de ferro que, cortando-o no maior numero de pontos importantes, podesse ser ao mesmo tempo linha internacional.

Não o fizeram, porque entenderam que deviam fazer esse caminho de ferro á beira do Tejo, que se bifurcasse proximo de Torres Novas, seguindo para Badajoz e para o Porto.

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