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344 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

de Portugal com a Hespanha lhe ha de trazer muito dinheiro.

Não quero, repulso com todas as minhas forças essas idéas de iberismo. Ha muito tempo que o digo, e fui talvez o primeiro que tive a honra de levantar um brado do alto desta tribuna, contra essas nefandas idéas ainda quando ellas pouco se manifestavam, por parte desses degenerados portuguezes.

Mas, sr. presidente, para sustentar a honra, a dignidade é a independencia da nação é preciso governar bem, é preciso dizer sempre a verdade e não praticar actos como o actual governo tem praticado; é necessario que elle não mande publicar nos seus jornaes telegrammas falsos; dando como realisado um emprestimo que se não verificou, e tudo para armar á popularidade! Mas o povo já deve estar desenganado: o povo já deve conhecer o que são os srs. ministros e o que valem; mas se ainda não os conhece em breve se desenganará. Hoje o povo, só poderá esperar do governo o enorme augmento dos tributos, a miseria publica em toda a parte, a falta de trabalho para os artistas e a fome geral em todas as classes da sociedade. O que eu não comprehendo é como havia homens que clamaram constantemente contra as medidas do sr. Fontes Pereira de Mello, quando s. exa. geria a pasta dos negocios da fazenda, dando-lhe o nome de esbanjador e contratador de emprestimos ruinosos, que condemnavam a reforma da secretaria dos negocios estrangeiros; que taxavam de inimigo da patria o sr. Martens Ferrão e votavam ao ostracismo o sr. Joaquim Antonio de Aguiar; não comprehendo, repito, como esses homens não clamam hoje igualmente contra os desperdicios do actual ministerio! Não sei como não se revoltam contra os emprestimos ruinosos que se teem feito, ou se teem querido fazer actualmente! Não clamam contra os emprestimos ruinosos, porque nem esses mesmos o governo póde fazer, por isso que não merece confiança alguma aos banqueiros estrangeiros. Esta é a verdade que todos reconhecem.

Estamos constantemente á espera de um emprestimo que os jornaes republicanos do governo nos annunciam como realisado, e todos os dias apparece o desengano de que se não poderá verificar! E os esforços para que se realise não são pequenos, porque elle e os supprimentos são convenientes para corretagens e luvas que enriquecem muita gente.

Eu, sr. presidente, imponho ao governo toda a responsabilidade pelo descredito do paiz e pelo estado em que se acham os negocios publicos, e peço a Deus que illumine quem possa salvar-nos do abysmo em que nos achamos prestes a cair, e que esse escolhido possa, pelo prestigio do seu nome, pelos seus precedentes, pela sua integridade e reputação, conduzir a porto seguro a nau do estado, e nos livre destes continuos vae-vens da sorte, deste estado incerto de cousas que tudo faz trepidar, e estremecer o commercio e a fortuna geral e particular. Este systema de expedientes não é possivel que possa continuar, e faço votos ardentes e sinceros para que os partidos, pondo de parte qualquer melindre, prestem a sua coadjuvação aos homens competentes que emprehendam com cordura a regeneração politica desta terra.

Tenho concluido.

O sr. Vaz Preto: - Peço a palavra.

O sr. Presidente: - Tem o sr. Rebello da Silva a palavra.

O sr. Rebello da Silva:- Cedo da palavra, e usarei della depois do sr. Vaz Preto, que ainda não fallou nesta questão.

O sr. Presidente: - Tem o sr. Vaz Preto a palavra.

O sr. Vaz Preto: - Sr. presidente, ouvi as explicações que acabou de dar o nobre presidente do conselho, e confesso ingenuamente que nem eu, e supponho que nem a camara, nos podemos dar por satisfeitos, porque ellas estão completamente em contradicção com outras que o governo tem dado categoricamente.

Sr. presidente, o sr. marquez de Sá acabou de dar parte a esta camara que dois ministros tinham saido do ministerio. Surprehendeu-me na verdade a declaração que s. exa. fez? porque julgava o ministerio completamente solidário, como s. exa. e o sr. bispo de Vizeu tinham declarado por varias vezes!

O declarar-se que não houve votação alguma nas duas casas do parlamento, pela qual o gabinete se visse na necessidade de pedir a sua demissão, e bem assim que nenhum projecto singular de qualquer ministro fora rejeitado, e que por isso não existe o caso de se poder invocar o principio de solidariedade, é um perfeito sophisma. Pois quem ignora o que se tem passado nas duas casas do parlamento e no seio das commissões?! Sr. presidente, poderá o sr. presidente do conselho de ministros, ou qualquer dos seus collegas, negar que tem havido desaccordo entre a commissão de fazenda, o respectivo ministro e o governo, que tem tomado, como devia, o partido do seu collega? Poderá o governo desconhecer, e mesmo contestar, a veracidade de terem os projectos do sr. conde de Samodães soffrido alterações essenciaes? Estará o actual gabinete tão desmemoriado que se não recorde que a auctorisação que aqui passou para o emprestimo de 18.000:000$000 réis foi vencido por um simples voto?!

Não se recorda o sr. presidente do conselho de ministros que para obter o gabinete aquella votação teve de vencer immensas difficuldades, teve sobre si compromissos, e por ultimo vir o sr. ministro do reino declarar á camara que aquelle era o unico modo de se evitar a multa pelo contrato Goschen? Desconhece porventura o sr. presidente do conselho de ministros os factos que se teem dado com o fim de serenar a tempestade que se levantou no seio da maioria? Ignora tambem s. exa. qual tem sido o procedimento do seu collega do reino para impedir a erupção das rajadas de mau humor, que a maioria tem contido muito a custo, e que para esse fim foi mister que o sr. bispo declarasse que elle é que era o responsavel pelos actos ultimamente praticados pelo sr. conde de Samodães?

Portanto é claro que todas estas peripécias são usuaes no systema representativo, e que attentas as declarações do sr. ministro do reino, o governo era solidário neste caso pela forma e modo por que se tem conduzido; comtudo de repente, quando menos se imaginava, vemos por esta declaração que fez o nobre presidente do conselho que o sr. ministro da fazenda pediu a sua demissão, e que o sr. ministro da justiça tambem foi obrigado a pedir a sua? porque a imprensa ministerial o intimou.

Eu pergunto pois ao sr. presidente do conselho aonde está a solidariedade do governo, e qual o motivo por que saiu o sr. ministro? Pois quando o sr. ministro da fazenda tinha quasi concluido um negocio importantissimo, como era o do emprestimo, para o qual as côrtes lhe dera auctorisação, cujas condições altamente onerosas revelam o melindre e gravidade do assumpto; é nesta occasião, digo, em que s. exa. tem entre mãos este gravissimo assumpto, que carece ainda da ratificação da camara, porque não se conteve nas forças da auctorisação, cue elle desapparece do seio do gabinete!

E nesta occasião pois que o governo devia fazer todos os seus esforços para o seu collega se conservar, que o sr. ministro da fazenda deixa de ser ministro da coroa! Sobre este ponto é que eu desejo que o sr. presidente do conselho de explicações claras, precisas e categoricas á camara para que o paiz saiba quaes foram as circumstancias que se deram e que obrigaram o sr. ministro da fazenda a pedir a sua demissão, e a corôa a conceder-lha em circumstancias tão difficeis. No systema representativo estes acontecimentos devem ter uma explicação racional e plausivel, e essa é que eu desejo, e espero que o nobre presidente do conselho de á camara, pois s. exa. conhece muito bem que o systema representativo é todo de publicidade.

Sr. presidente, note v. exa. e a camara que só não foi-