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680 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

sempre fiz referencia no decurso das negociações, lembrarei que a commissão de cartographia do ministerio da marinha e ultramar publicou ainda ha pouco uma carta grande do Zambeze, na escala de 1/200:000, intitulada Esboço do curso do Zambeze; carta que foi distribuida por todos os membros desta camara, e na qual vem mencionados e descriptos alguns destes prazos existentes já para oeste de Tete, e entre elles, ao sul do Zambeze, o prazo Boroma, onde está estabelecida desde muito a missão catholica de S. José, ha pouco reconhecida oficialmente, por um decreto referendado pelo sr. Ressano Garcia, como missão do padroado, largamente dotada pelo estado, e para a qual se dirigiram grande numero de ecclesiasticos, a maior parte dos quaes portuguezes. Como admittir o pensamento de que nestas condições possa sequer entrar em litigio a posse para Portugal do praso Boroma? Nem por hypothese o quero suppor.

Todos estes factos e documentos são importantissimos, são uma prova incontestavel do nosso dominio naquella região e da occupação effectiva, por nós ali mantida hoje e diariamente affirmada com mais vigor.

Mas se tudo isto, que nenhuma outra nação póde allegar, não constitue ainda um titulo sufficiente de soberania e de occupação effectiva, pergunto então em que circumstancias baseia a Gran-Bretanha a prova do dominio, ella que o firmou para si e o reconhece na Allemanha, no estado do Congo, na Itália e na propria Franca, em regiões onde a todas estas nações escasseiam não um, mas todos 03 titulos, que nós podemos allegar por nossa parte com respeito á Zambezia. .

A carta da provincia de Moçambique, publicada tambem ha pouco pela commissão cartographica, marca ao lado das duas margens do Zambeze e até ao Sanhate, o local das residencias, dos estabelecimentos commerciaes e dos prazos de Mendonças, Andrade, Araujo Lobo e de tantos outros portuguezes que possuem, ou estão senhores, por arrendamento, dos prazos da coroa, existentes por- todas aquellas vastas e riquissimas regiões.

Mas abandonemos as cartas geographicas e consultemos agora um livro que anda nas mãos de todo o mundo, escripto pelos srs. Capello e Ivens, e que descreve a viagem que elles effectuaram de Angola á contra costa, livro que, diga-se de passagem, tem uma fama europea.

O que lemos nós ahi?

"A villa de Zumbo, dizem os srs. Capello e Ivens, está assente na margem esquerda do Zambeze, exactamente a jusante da confluencia do Aruangua com este rio.

"Se houvéssemos de fazer uma resenha debaixo do ponto de vista da salubridade, do pittoresco e do attrahento, de quantos pontos pelo interior vimos, diriamos que o Zumbe, depois do plateau da Iluilla, é o ponto que mais sympathias nos inspirou.

"Os grandes rios que junto a elle deslisam, as serranias que o circundam, as brisas frescas que o varrem, fazem deste logar, sobretudo quando se attenta que se tbrilhantes compatriotas escrevem:

"Por entre os vultos tisnados dos indigenas destacavam-se as caras brancas dos nossos compatriotas, os uniformes militares, as casas de paredes caiadas, o aspecto, emfim, de alguma cousa differente daquillo a que vinhamos affeitos.

"Convenientemente installados numa casa construida ao feitio dos tembés arabes, e collocada á beira do rio, ahi passámos dezenove dias, cercados dos nossos, em ociosa indifferença e embebidos na leitura."

Os srs. Capello e Ivens foram assim recebidos e obsequiados no Zumbo por portuguezes e o mesmo sucedeu ao longo do rio e nas suas immediações entre Zumbo e Tete, per quantos dos nossos compatriotas ali exerciam a auctoridade em nome de Portugal.

Aquelles illustres viajantes testemunham de vista até que ponto são nossos os terrenos comprehendidos entre Zumbo e Tete, que é a região de que estamos tratando.

Não lerei, para não fatigar a camara, o trecho completo que descreve a viagem entre aquellas duas villas, mas lerei uma parte delle que é muito importante e significativa:

"Chegou alfim o dia 23 de maio, escrevem os srs. Capello e Ivens, dia por nós indicado para a partida rio abaixo, e logo que amanheceu, promptas as canoas que deviam transportar a expedição, nos embarcámos em companhia do commandante militar e do alguns negociantes ali residentes, como Manteigas, Goerinho e outros em direcção á embocadura do Panhame."

Note a camara que se diz aqui a embocadura do Panha mo e que esta se encontra a leste de Zumbo e entre Zumbo e Tete:

o Ahi se acha estabelecido o capitão mór Araujo Lobo, em bella e bem construida vivenda, onde nos recebeu principescamente, proporcionando-nos um dia de distracção bem agradavel; e tambem tivemos ensejo de ver gentes do N., muizes e outros, que vinham trazer a noticia do fallecimento de um regulo do Nyassa, e perante nós executaram danças e meneios, á feição daquelles que têem logar no Kasembe."

Na foz do Panhame, que é situada, repito, entre Tete e o Zumbo, e proximo deste ultimo ponto, existe assim a casa de um portuguez que vive nas circumstancias que, são aqui relatadas.

Mais adiante, rio abaixo, encontrámos o seguinte:

"Dormindo uma noite na ilha de Macota-cota, a meio do rio, passámos até ao dia 25 na residencia de duas novas auctoridades, Sebastião de Moraes, sargento mór do Macomo, prazo que pela sua posição geographica merece toda a attenção, pois nos pareceu ser a chave da região aurifera do Mazôé e serra Macomo (serra esta que carecia de uma seria exploração, pois della derivam todos esses rios de leitos auriferos, que tributam o Sena e Aroenha) e Miguel Lobo a juzante.

"Para o N. do rio e longe estirava-se a serra Mussendaruze, afamada pela sua riqueza em cobre.

"A 26, deslisando entre montanhas, pois tão accidentada e pittoresca é a Chedima como a Senga, viemos topar com o Caxombe, fronteiro á aringa de Xaquaniquire, regulo dos pimbis, desembarcando ahi, para por terra fazer caminho até Tete."

Vê se, pois., claramente, que nesta região entro Tete e Zumbo estiveram os srs. Capello e Ivens constantemente hospedados em casa de portuguezes, taes como Araujo Lobo, Sebastião de Moraes e Miguel Lobo, entre outros.

"O melhor que decidimos, proseguem os dois viajantes, foi dirigir-nos ao quartel general das operações, Diu, residencia do capitão mór Firmino, e ahi aproveitar o ensejo da partida de alguma força, para com ella ir em companhia, abrindo o caminho.

"A 29 estavamos ali em meio de um brouhaha immenso, de quasi 1:000 sipaes, que para o dia seguinte muito felizmente preparavam o assalto á libata do regulo já falindo, topando cabeças de sobetas vencidos por todos os cantos por onde nos viravamos, e despojos das ultimas luctas travadas ao NO.

"O paiz é falto de agua. No leito do rio Daqui, afluente do Zambeze, encontrámos a hulha, de que ha nesta região um grande jazigo, que vae até Tete e alem talvez.

"Numa serra proxima a Diu existe uma plantação de chinchonas (quina amarella) de cuja proveniencia não vos podemos dar conta.

"Os traços geraes do paiz são extremamente pittorescos,