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DOS PARES. 129

gado os nossos vinhos, vae tornando todos os dias mais escaço este mercado. E não será obvio a todos que o meio de obstar a esta causa, ou, ao menos, de a minorar consideravelmente, seria abrir novos mercados, e tractar de remover os obstaculos que impedem os que existem? Não nos offerecem as nossas Provincias Ultramarinas vantagens immensas? Não poderemos na Costa d'Africa consumir nossos vinhos e aguas-ardentes? Com o Brazil não se conseguiria alguma couza que vantajosa fôsse? Não poderiamos contractar com as Potencias do Norte? E já que temos um Tractado com Inglaterra, não nos dará elle algum proveito? Este proveito, porém, não poderá vir senão da reciprocidade; e muito estimarei que o Governo a tome como base das suas estipulações: ella não consiste em abater uma porção igual de direitos que actualmente pagam os objectos importados em ambas as Nações, mas sim na igualdade destes direitos; eu me explico não devem nossos vinhos ser mais onerados em Inglaterra do que são cá os seus pannos, ou, ao menos, couza que se assimelhe a isto. Mas parece-me que já ouço responder que a Inglaterra não o póde fazer, por que desta maneira iria atacar o seu monopolio: então não contractemos, por que um Tractado mau é uma calamidade maior do que uma má Lei, por que esta revoga-se, e o Tractado havemos de soffrêlo.

Julgo ter demonstrado quaes são as causas da decadencia da agricultura dos vinhos do Douro, e quaes eram, no meu parecer, os meios mais adequados para a melhorar; elles são fundados em regras geraes, em principios certos de Economia-politica; a sua execução e vagarosa, por que os remedios não curam repentinamente, e exigem mais que tudo constancia, firmeza, e zêlo patriotico naquelles que tem as redeas do governo. - Vâmos ver, porêm, se o remedio apresentado, o da Companhia, que e uma excepção a todas estas regras, preencherá o seu fim.

A Companhia, com o exclusivo, com os privilegios, ou com a dotação que lhe querem dar, terá sempre todas as preferencias, todas as vantagens em concurrencia com os mais commerciantes, nenhum poderá competir com ella neste ramo de negocio: então de necessidade aquelles devem desistir, e esta ficará só no campo; e que resultará d'aqui? Que as vinte mil pipas excedentes, a que se pretende dar extracção, continuarão a não têla, e talvez mesmo que este numero se augmente com a falta das compras, que os ditos negociantes deixarão de fazer, e o mal se aggravará, por que a Companhia ficará no mercado desassombrada, e se tornará um verdadeiro monopolio. Mas, quero accreditar que os commerciantes continuem com suas compras, e com a sua extracção; então mesmo, como o consumo externo não augmenta, teremos que na Companhia irá crescendo o deposito dos vindos pela falta de extracção, e que em breve não poderá cumprir com os encargos que tomou. Mas com o exclusivo haverá mais consumo. Ahi temos a questão do exclusivo; e irei eu repizar os argumentos com que se tem debatido este objecto na outra e nesta Camara?.. Torno a repetir, as convicções estão feitas, não são os meus raciocinios que as desarraigarão; entretanto sempre farei esta consideração: jámais me poderão persuadir de que o genero, por se tornar mais caro, ha de ter maior consumo no exterior: que a Companhia, tendo aguas-ardentes mais baratas, ha de queimar oa vinhos do Dou-

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ro quando elles lhe derem prejuizo. Isto é não conhecerem os homens, principalmente os da nossa terra: o que ha de acontecer e a Companhia ter o monopolio dos vinhos; ella poderá ganhar, mas todos os mais hão de perder. Quanto a haver mais consumo no exterior, que a Companhia promoverá, nego, e passo a demonstralo.

Nós tivemos uma Companhia; vejâmos se a sua historia nos póde illustrar. Ella principiou mal, como todas as couzas que vão atacar industrias adquiridas, interesses já feitos; custou a vida a uns poucos de homens por serem demasiado hardidos em os quererem defender: continuou fraca, enfezada, não augmentando nada a exportação por que aquelle não era o remedio appropriado: para a reanimar lhe foram dando exclusivos, com que foi medrando com ruina e oppressão do Povo, até que a final teve um incremento extraordinario pela guerra que devastou toda a Europa; achando-nos só no mercado, ella ganhou avultadas sommas, todos ganharam; cessou a guerra, desceram os lucros: uma nova fórma de governo lhe tirou os exclusivos, como incompativeis com ella; a Companhia definhou; morreria de facto, se não se apressassem a fazêlo de direito. D'aqui se vê que a Companhia enriquece quando o commercio prospera, soffre, perde, como qualquer negociante, quando elle esmorece, que é effeito e não causa.

Mas, não obstante todos estes argumentos, todas estas razões, eu tenho uma para mim, que não é de menos monta, mas que receio expender, por que não julguem que é um ataque, quando o meu desejo e não offender ninguem: eu não offendo alguem,... não digo bem, pessoa alguma tem direito a pedir-me satisfacções quando eu exponho franca e lealmente o meu pensamento, quando apresento, tal qual sinto, o estado, a situação da minha alma; quando se annuncia um facto verdadeiro, mas em geral, quando se estigmatisa esse facto, não ha direito a queixar-se, por que, os que se não acham comprehendidos, não é com elles que se falla, aos outros não lhes convêm pedir explicações, ha mesmo casos em que se designa certa e determinada pessoa, que mesmo assim não se offende; ainda ha poucos dias (em uma das Sessões passadas) um Digno Par, redarguindo a uma expressão minha, disse que eu não era sincero; não respondi, nem mesmo me offendi, por que estava segurissimo de mim, por que estava persuadido de que a Camara não partilhava suas idéas, e por que mesmo duvidava muito que o Digno Par as possuisse: o nosso Paiz e muito pequeno, já nos conhecemos a todos; a minha conducta passada abona a presente e não será desmentida pela futura. Por tanto direi que, quando vejo as phases que tem tomado este negocio, a azafama, os manejos que tem precedido, um certo rumor vago, que muitas vezes é precursor do porvir, tudo isto me dá a intender que aqui não ha interesse publico; não e com este afinco que tenho visto defender os interesses nacionaes.

Sr. Presidente, na minha imaginação se me affigura ver na Companhia outro cavallo de Troia; para a introduzirmos no Douro, nós vamos derrubar todos os principios e regras, até aqui tidos como certos, nós lhe sacrificâmos parte de nossas Provincias, não temos duvida mesmo de lhe cedermos uma parte dos tributos e impostos; assim ella entrará ovante no Douro: mas quem me affiançará que em breve não

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