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144 DIARIO DA CAMARA

Isto não quer dizer que a Praça de Lisboa não venha ainda a aproveitar-se das boas relações em que hoje se acha o seu mercado de vinhos para com os Etados Unidos; mas são considerações, a meu ver, opportunas para provar que os resultados que se podem esperar de medidas desta natureza são sempre morosos e subjeitos a serem influidos por qualquer acção estranha, em uma palavra, insufficientes para acudir a um mal tão grave, a um risco tão imminente como o que ameaça o Douro.

O que será alli um proprietario em pouco tempo, se as couzas continuam deste modo? Não fallo do limitado numero dos que possuem as adegas verdadeiramente superiores; mas e certo que aquelle districto todo produz vinho que com a necessaria feitoria é proprio para o mercado inglez. E o que acha o geral dos proprietarios por aquelle vinho? Nada, Sr. Presidente: são - proprietarios honorarios - por que interesse não lhes vem nenhum desde alguns annos a esta parte, são - menos honorarios - ainda perdem, as suas baixellas, as sus-, equipagens, as suas mobilias, tudo tem perdido para acudir aos grangeios. Não ha nisto exaggeração: o amanho das terras começa a fazer-se por estrangeiross, quasi tudo Gallegos, cujo trabalho se paga todo á dinheiro: segue-se a venda nas adegas para a exportação; são os Inglezes quem compra a maior parte, e quem tira todo o partido desse commercio: grangeio e lucros tudo hoje é dos estrangeiros: o proprietario é mero espectador. Dizia-me um [...] ha bem pouco tempo, quando eu para o animar lhe notava os preços do mercado Inglez que em importa a mim que em Inglaterra uma pipa de vinho valha trinta ou cincoenta Libras, se a minha terra não me dão por ella seis Libras. = O mal até hoje vae no seu ascedente, e se o deposito fôr augmentado um anno sobre outros, os proprietarios hão de ver-se na necessidade de abandonar o terreno: eu estou convencido, e perdôe-me a Camara por que já renunciei ao effeito desta convicção, mas a minha opinião era por uma queima de certo vinho, com a distribuição da agua-ardente resultante por todos os armazens de vinhos em uma proporção razoavel que não tolhesse o commercio. Disse alguem que disto não resultava beneficio ao lavrador, mas eu intendo que sim, por que se gastava o excedente util que ha naquelle commercio; eu poderia provar que deste modo havia de vir grande beneficio ás outras Provincias, podia provalo com os mesmos mappas que apresentou o meu nobre amigo, o Sr. Silva Carvalho. - Sabemos bem que o Minho produz muita agua-ardente; sabemos que as Provincias da Beira e da Extremadura a produzem igualmente; mas sabemos tambem que uma novidade regular de vinhos do Douro de setenta mil pipas carece para o seu preparo de seis mil pipas de agua-ardente: ora quem reservasse o supprimento de duas mil pipas para ser feito pelo proprio paiz productor, e deixasse quatro mil pipas, isto é, os dous terços da quantidade necessaria, para ser fornecido por aquellas Provincias, não queria por certo estabelecer monopolio: quem obriga só a terça parte não exclue ninguem: eu intendo que das vinte mil pipas, que se calcula haver de differença annualmente entre a producção e o consumo, dez mil pipas vem a accumular o deposiio, e as outras dez mil são reduzidas a agua-ardente, o que produz quasi a somma deste liquido cujo fornecimento se reservava para o Douro. A vantagem que se procurava era o contar-se com certeza em cada anno com a manufactura de duas mil pipas de agua-ardente naquelle districto; mas a differença que podia ir affectar as outras Provincias era insgnificante, considerando a destillacção que já existe. O Douro ganharia muito por que aquella certeza do consumo augmentaria os preços dos vinhos mais inferiores, o que influiria sobre todos os vinhos em geral, e o prejuizo bem pequeno que d'ahi proviria ás outras Provincias, restinguindo a esphera das suas exportações para o Douro, seria mais que compensado nos outros artigos de primeira necessidade que o Douro xtrahe dessas Provincias.

Mal se póde pois dizer que houvesse monopolio quando se deixassem duas terças partes livres ao commercio geral. O vocabulo monopolio, diz o Diccionario, é composto de duas palavras Gregas, que significam render só: ora quem vende apenas uma terça parte não vende só: e de resto quesstões de palavras são muito mesquinhas quando se tracta de melhorar a sorte de um paiz que situado em circumstancias especiaes pede tambem medidas especiaes.

Fallei nesta idéa, posto que abandonada, por que a ella se alludiu. Voltando porém á medida que esta em discussão, direi, Sr. Presidente, que eu tambem não sei o que se ha de fazer dos 150 contos: entretanto é certo que nem as Camaras nem o Governo hão de sei tão imprevidentes que entreguem aquella quantia sem ter na sua mão o programma, quero dizer, o modo por que hão de ser empregados em beneficio da lavoura, que é o principio da concessão que se pretende fazer, e que tem intima ligação com a importantissima providencia do approve que é uma das partes capitaes deste plano.

A questão tem chegado, creio eu, ao seu termo, e não deveria abusar mais da paciencia da Dcamara, mas ainda peço attenção para apresentar dous mappas por onde se verá a exportação de quatro mil contos de réis para cima, e que hoje se acha reduzida a dous, mil e quatrocentos contos: (Leu.) A causa disto merece uma investigação muito seria, quando por outro lado vemos que o deposito em Villa Nova tem crescido a um ponto horroroso, e quando tudo clama que se não houver alguma medida energica e prompta, muito diversa dos palliativos que o meu nobre amigo nos aconselha, aquelle paiz ficará reduzido á miseria, e não tiraremos partido algum do mais ricco dos nossos productos agricolas.

Longe de mim a idéa de querer fazer o vinho caro; essa idéa, cerebrina sempre, seria agora a mais imprudente, quando nos estâmos empenhando em conseguir um Tractado que tem por fim o tornalo barato, reduzindo os direitos de consumo: eu não estou pela opinião de muitos que dizem que o vinho do Douro é tão particular, tão sui generis, que podêmos tirar delle o partido que quizermos, e pôr-lhe o preço que intendeimos; não sou destas ideas, e até acho imprudente que isto se diga em um Parlamento: quero porêm que o preço seja um preço razoavel, que cubra as indispensaveis despezas da cultura e que deixe algum lucro ao proprietario.

Se aqui se visse como um lavrador vende o seu vinho nestes ultimos tempos, a opinião de muitos Dignos Pares havia de mudar completamente: é o mesmo que pedir esmola; não se pede, é verdade, com as mãos postas, mas pede-se como em Inglater-