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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 493

a, sua phrase com a maior brevidade é que não está bem definida, e parceia-me conveniente, para evitar duvidas, explical-a.

O sr. ministro disse, que era possivel que os novos eleitos não viessem tomar assento na camara por ser muito curto o praso que falta para se encerrar o parlamento.

De accordo: assim acontecerá se as côrtes não forem prorogadas; mas como eu creio que não podem deixar de o ser, porque o governo precisa, para viver, que lhe sejam votadas medidas essenciaes, entendo que a prorogação ha de fazer-se do novo, e que, portanto, o sr. presidente do conselho tem necessidade absoluta de mandar com urgencia publicar o decreto para que se proceda ás novas eleições, o os novos eleitos venham ainda occupar este anno os seus legares, dada a hypothese a que me refiro.

D’esta fórma interpreto eu a expressão com a maior brevidade; e, repito, não tenho duvida alguma em acreditar na palavra de s. exa.

O sr. Andrade Corvo: — Ha algumas sessões tive occasião de dirigir uma pergunta ao sr. presidente do conselho e ministro dos negocios estrangeiros, sobre um assumpto que traz preoccupada a opinião publica.

S. exa. teve a condescendencia de me responder com palavras que n’essa occasião pareceram indicar não existir no seu espirito duvida alguma de que o negocio era simples, e não tinham fundamento as noticias que corriam ácerca de Macau; e; conseguintemente, nada havia a receiar.

Vejo, porém, agora que um telegramma, cuja procedencia é bem longiqua, um telegramma de S. Petersburgo, falla de um negocio grave, de um negocio para mim inexplicavel, e que provavelmente não é aquillo que o telegrarama diz.

Refere-se o telegramma a uma alliança defensiva e offensiva de Portugal com uma grande potencia que tem interesses directos na China, alliança que só refere á questão que se diz levantada entre o governo de Macau e o governo da China.

Essa noticia, diz tambem a agencia que a deu primeiro, tem sido depois desmentida. De maneira que ha informações e desmentimentos sobre este ponto a que alludo, e tudo nos vem de logares afastados.

N’estes termos pareceu-me conveniente dar occasião ao sr. presidente do conselho e ministro dos negocios estrangeiros a explicar ao parlamento e ao paiz o que ha de verdade em tudo que só tem espalhado ácerca d’este assumpto, a fim de que os receios e duvidas que se levantam na opinião possam acalmar-se, no caso de não haver gravidade nos factos que, porventura, se hão dado, ou para que de uma vez se defina do uma maneira clara para todos o estado d’este negocio, se effectivamente elle é o que parece deduzir-se das noticias desencontradas que têem vagado.

Alem d’isso, o que hoje me obrigou mais ainda a pedir a palavra, e a solicitar da camara o favor de me ouvir sobre este assumpto, e do sr. presidente do conselho que haja de dar esclarecimentos sobre os negocios de Macau, é o ter lido nos jornaes de hoje que haviam partido navios de guerra de Lisboa para Macau, e já partira outro navio de Moçambique para Macau.

Ora, todos estes movimentos maritimos têem uma causa, e essa causa não sei se póde attribuir-se ás noticias vagas a que me referi, ou a outro motivo. Em todo o caso creio ser de conveniencia do paiz que o governo de explicações sobre o facto, e é isso que ouso esperar do sr. presidente do conselho.

O sr. Presidente do Conselho de Ministros e Ministro dos Negocios Estrangeiros (Anselmo Braamcamp): — Agradeço ao meu illustre amigo, o sr. Andrade Corvo, dar-mo esta occasião de apresentar á camara algumas informações a respeito dos boatos de que tão repetidas vezes se têem occupado ultimamente os periodicos, tanto portuguezes como estrangeiros.

Sr. presidente, as explicações que tenho a dar sobre este assumpto, limitam-se a repetir as informações que já em outra occasião dei n’esta casa.

Não sei qual possa ser a origem de todas as noticias que se têem espalhado, a que s. exa. se referiu.

Ha um telegramma annunciando que o embaixador de Portugal na Russia tinha encetado negociações com o governo d’aquelle imperio em vista de uma provavel aggressão da China com a nossa colonia de Macau. Hoje recebo outro telegramma que não tem maior fundamento do que o outro, e em que se dá noticia de que em S. Petersburgo esperam um enviado portuguez para tratar com o governo imperial os assumptos referentes a Macau.

Repito, tanto o primeiro telegramma como este, que ha de ser publicado amanhã, não têem fundamento de qualidade alguma. Procurei por todos os meios ao meu alcance conhecer se havia algum fundo de verdade nas noticias que se tinham espalhado com tal insistencia, e todas as informações que pude colher me deixaram convencer de que não ha motivo que justifique taes boatos.

Ainda hoje recebeu o meu illustre collega, o sr. ministro da marinha, um telegramma do governador de Macau a respeito de outros assumptos, e como nelle o governador geral em nada se refere a tal boato, nem indica ter a menor apprehensão, eu devo crer que não ha fundamento algum para receiar qualquer conflicto que possa ameaçar a segurança da nossa colonia.

Já referi em outra occasião, n’esta camara, que, na presente conjunctura, e por uma casualidade feliz, tendo sido mandado para Macau o contingente que deve render o que está servindo naquella cidade, resulta estar ali reunida maior força do que é costume. No entanto, o governo tenciona mandar mais um vaso de guerra, mas unicamente como medida de prevenção contra qualquer occorrencia imprevista, e para que a nossa bandeira possa ser representada em qualquer porto da China onde, porventura, seja necessaria alguma demonstração, no caso de se verificar o boato, que se tem espalhado, de guerra entre o imperio da China e o da Russia.

Torno, pois, a repetir á camara que, por emquanto, não vejo motivo algum que justifique quaesquer apprehensões.

Parece-me que o digno par se referiu tambem á noticia dada por alguns periodicos, de que o mandarim que ultimamente fôra a Macau levara, no navio em que ia, uma bandeira, na qual estava escripto que elle tinha ido ali a receber preito e homenagem do governador.

S. exa. sabe, melhor do que eu, que esses factos se teem repetido mais de uma vez, e que, com algumas dasembaixadas que antigamente mandámos á China, suecederam factos d’esta ordem.

Mas nem foi só comnosco, e ainda ha pouco um vaso de guerra inglez, que conduzia um embaixador d’aquella nação, julgando levar a bandeira china, levava uma em que estava escripto que ia pagar tributos.

Ainda quando seja verdadeira tal noticia, não creio que se lhe deva ligar maior importancia: e o que eu posso certirficar á camara é que, sendo o governador de Macau quem nos póde prestar informações mais seguras, esse funccionario por emquanto não julga que haja motivo para temer-se qualquer aggressão, e que tendo procurado obter informações por outros canaes, todas ellas me convencem de que não ha indicio, que possa causar receio; no entanto s. exa. sabe, que tratando-se do imperio da China é difficil certificar cousa alguma com segurança; mas, torno a repetir, por emquanto o governo não tem apprehensões, nem julgo que haja rasão alguma para receiar qualquer aggressão do imperio da China contra a nossa colonia.

É só o que tenho a dizer ao meu illustre amigo, e á camara.

O sr. Andrade Corvo: — Sr. presidente, começo por