O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

532 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

que vae da importante villa das Caldas ! da Rainha á povoação de Santa Catharina, extremo do concelho, que começou ha quinze annos e ainda está por concluir, causando immenso prejuizo aos povos d'aquella importante região agricola.

Os aterros, que tanto dinheiro custaram e não foram empedrados, estão deteriorados, sendo da mais absoluta necessidade acudir-lhe, para não se perder totalmente o dinheiro gasto.

Agora, Sr. Presidente, volto á eterna questão da regulamentação do jogo.

Eu, Sr. Presidente, sou muito teimoso e persistente, quando estou convencido das excellencias das causas que advogo.

Declaro a V. Exa. que não me agradou a resposta que o Sr. Presidente do Conselho deu ao Digno Par o Sr. Hintze Ribeiro, a respeito do jogo.

S. Exa. declarou que, se algum membro do Parlamento apresentasse uma proposta n'esse sentido, S. Exa. não só a rejeitava, mas havia de a combater a todo o tranze.

Portanto, tendo o Sr. Presidente do Conselho maioria em ambas as casas do Parlamento, é claro que o jogo ha de continuar sem ser regulamentado e sem ter a solução que tantos desejavam para bem do paiz.

Mas, francamente, eu não comprehendo o Sr. Presidente do Conselho.

Então S. Exa. apresenta um projecto para tolerar o jogo na Ilha da Madeira, e não consente a mesma doutrina para o continente?

Só se S. Exa. já não considera a Ilha da Madeira territorio portuguez.

Estou informado que em muitas das nossas colonias se joga desaforadamente, principalmente em Angola.

Não considerará o Sr.. Presidente do Conselho a provincia de Angola terra portugueza?

Como se tolera o jogo em Macau e não se permitte nas nossas praias e nas muitas termas que temos no continente ?

São modos de ver, que não comprehendo e com que não me posso conformar.

Posso affirmar que o Sr. Presidente do Conselho, não regulamentando o jogo, presta um mau serviço ao seu paiz.

Eu peço licença á Camara para ler uma carta que hoje recebi, que vem assignada por Um estori ense.

Esta carta é muito curiosa e eu desejo que a Camara tenha conhecimento d'ella, porque traduz o meu modo de pensar.

Até amigos do Sr. Presidente do Conselho vão jogar ao Estoril e S. Exa. a dizer que com as recommendações que fez nas suas circulares tem a certeza de que não se joga.

Como é que S. Exa. ha de ter força para reprimir o jogo, quando es seus proprios amigos não deixam de se entregar a este divertimento e nem sequer cedem ás suas instancias?

Vae a Camara ouvir o que se diz na carta a que me estou a referir:

Exmo. Sr. F. J. Machado. - Não posso deixar de louvar V. Exa. pela attitude correcta, sympathica e moderna que tem tomado com respeito á questão do jogo. Lembro-lhe que não fraqueje e que teime, pois é um bem para o paiz.

Aqui está acontecendo o seguinte: devido aos annuncios e reclames nos jornaes portuguezes e estrangeiros, como no Times, New-York Herald. Daily Telegraph, etc., o Monte Estoril está cheio de estrangeiros, que estão encantados com o clima e promettem voltar e fazer no seu paiz larga propaganda.

Comtudo, dizem que nada farão se não houver á noite um ponto de reunião. Esse ponto de reunião, segundo experiencias já feitas, não se poderá manter sem jogo. Que ha então a fazer?

Regulamentar o jogo, pois todos os economistas garantem que a comparencia de estrangeiros em qualquer paiz , é uma fonte de riqueza.

Nice, Biarritz, San Sebastian, Os tende, Baden, etc., são verdadeiras ' glorias e um annuncio de progresso dos paizes a que pertencem. Aqui no Monte-Estoril, alem do Casino que já ha, o primeiro do paiz, sem duvida - e , immensamente frequentada pelos maio rés vultos regeneradores, regeneradores-liberaes e progressistas, não faltando algum republicano em evidencia á mistura- está agora projectado e vae principiar a construir-se um novo e colossal Casino, um primor de arte, como os melhores lá de fóra e não será um crime de lesa bom gosto e de lesa patria tolhel-o?

Se houvesse uma liga universal contra o jogo muito bem, mas não a havendo, é forte tolice e inepcia de administração dar ainda mais garantias de exito e ganhos a favor do estrangeiro, escangalhar uma corrente lucrativa de touristes, que nos principiam a procurar e querendo-nos manter num principio falso de moralidade.

Que prohibam o jogo, tenazmente,, nas cidades, muito bem; mas, que livrem d'estes rigores as florescentes estações de inverno portuguezas e nas praias no verão, lembrando-se que sem jogo não pode haver cercles e sem cercies não pode haver estrangeiros. Não se pode mandar inglezes, allemães e francezes á noite para a botica jogar o gamão com o pharmaceutico, como no tempo dos nossos avós. Terem de ficar nos hoteis, abrindo a bocca com somno, afugenta os, fazendo-os fugir para paizes. .. onde se jogue e haja divertimentos. E ahi se vae por agua abaixo a população fluctuante ha tanto tempo ambicionada para Portugal!. . . E isto o que a experiencia agora, devido ao moderno Monte-Estoril, vae demonstrando. = Estorilense. - Abril, 1907.

Sr. Presidente: por esta carta se vê que nem o Sr. Presidente do Conselho nem ninguem pode por absoluto e por completo reprimir o jogo.

O Sr. Presidente do Conselho nem ao menos consegue isso dos seus amigos.

O Sr. Hintze Ribeiro fez essa tentativa, empregando todos os meios de reprimir o jogo, mas mallograram todos os seus esforços, porque o jogo é um vicio de tal maneira arraigado que ia de sempre continuar a exercer-se. Não ha repressão possivel.

É, pois, absurdo nós pretendermos dar lições de moralidade a paizes civilizados como a França, a Belgica, a Allemanha. Portugal, este pequeno povo, querer dar lições de moralidade áquelles povoa, que teem o seu jogo regulamentado, é irrisorio.

O Sr. Presidente do Conselho ha de ser o primeiro que se ha de convencer 1 de que a opinião que hoje tem não é boa, e estou certo de que, convencido, do contrario, virá propor a regulamentação do jogo, porque não fica mal a ninguem mudar de opinião, tanto mais sendo para melhor e em proveito publico.

O Sr. Presidente do Conselho é d'isto um exemplo e oxalá nunca mude de opinião a não ser em beneficio do paiz.

Eu ainda não o fiz, não tive occasião para isso, mas se alguma vez o fizer não me ficará mal e nem por isso deixo de ser coherente, uma vez que possa provar que a mudança, que se operou no meu modo de pensar, não é em meu proveito proprio, mas sim do paiz para o qual todos devemos trabalhar.

Uma grande parte das pessoas que jogam são estrangeiros, que veem gozar, divertir-se, e que querem passar o seu tempo como melhor lhes agrade.

O auctor da carta diz bem: não hão de ir como os nossos avós para as boticas jogar o gamão ou ficarem no seu quarto de hotel sem distracção nenhuma, sem saberem onde passar o tempo. N'este caso retiram e aconselham, a toda a gente a que não venha cá, porque se morre de aborrecimento. É isso o que quer o Sr. Presidente do Conselho ?

Quem tem dinheiro e quer jogar que jogue.

O que o jogo deve é ser regulamentado e fiscalizado. Sendo assim, não