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156 DIARIO DA CAMARA

tuguez-Latino de Fonseca, achei explicado aquelle termo, que vem a ser, uma padreira, a que em Latim corresponde o vocabulo [...]: por tanto já se vê que as pedreiras de uma e outra margem do rio Douro eram optimos terrenos para dar pão e legumes? Quanto á Ribeira de Jugueiros, é ella um pedaço de terra plana, mas não tem agua de rega sufficiente senão de inverno: então como seria possivel cultivar pão no paiz vinhateiro do Douro, se os gados alli eram prohibidos, e não havia estrumes nem prados, aonde pastassem os bois, da lavoura? Cada alqueire de pão que lá se colhesse ficaria por mais de um quartinho de despeza, e por consequencia mais facil seria deixar encher do silvas aquelles terrenos do que cultivalos de pão. Outro tanto digo a respeito dos bardos e latadas: é verdade que elles são umas tiras de terra plana e humosa, abstrahindo a idéa das videiras que tem, mas não é possivel cultivar alli os legumes em razão de faltar a agua e o estrume. Mas tem sido mama de alguns dos nossos antigos Ministros, quererem determinar aos lavradores aquillo que hão de semear em suas terras, sem repararem que o terreno proprio para um producto não o é igualmente para outro. Entretanto é certo que pela Lei do Marquez de Pombal não se arrancaram as vinhas de todo o districto do Porto, e que isso teve logar sómente em uma pequena parte delle.

Agora tractarei de responder a alguns dos argumentos apresentados por um Digno Par que se assenta deste lado.

O Sr. Tavares de Almeida fez em discurso poetico (ao qual ou dei muita attenção) por que andou pela Asia, Africa e America, em fim, por toda a parte, mas de tudo quanto lhe ouvi, o que me admirou mas foi que um tão illustre Orador comparasse uma vinha com uma salina, uma vinha, que custa tantos annos a plantar, e que, depois de cançada, por muitas diligencias que se façam não produz mais! - Disse tambem o Digno Par que, em phrase de Companhia, no Douro havia tres qualidades de vinho: o fino; aquelle que se mistura com o fino para embarque; e outro a que chamou frouxo: S. Exa. confessou que as duas primeiras qualidades eram uma verdadeira, riqueza nacional, mas que estava informado de que taes vinhos não careciam de protecção, e que os da terceira não mereciam favor nenhum; accrescentou depois que se aquelles davam interesse não precisavam de intervenção de Companhias, e que se este o não dava, tambem não era necessario nem conveniente proporcionar-lhe auxilio: não direi que são as suas proprias palavras, mas o argumento do Digno Par reduz-se a este dilemma. Peço licença para dizer a S. Exa. que está mal informado a respeito dos vinhos do Douro, e tanto que até se serviu de certa palavra que não expressa verdadeiramente a qualidade de uma parte delles; esse vinho que denominou frouxo é aquelle a que lá chamam de côr, ou colorante, o qual tem muito bom cheiro e muito espirito, e é assim que se quer que seja para podêr entrar no commercio; mas nada se fará com elle se, não prometter algum proveito: ora todo o que entra em Inglaterra paga os excessivos direitos que se sabe, e por consequencia, a não haver algum favor, o comprador preferirá ir buscalo á Catalunha, fazendo com elle uma mistura, e dizendo que é do Porto, por que este nosso vinho tem alli grande estimação, e deste modo fraudulento o venderá, resultando d'aqui a perda e o descredito do producto do Douro. Tambem devo observar ao Digno Par que nos primeiros annos do estabelecimento da Companhia, não havia senão estes vinhos, que agora se diz que não prestam para nada, mas depois viram que não chegavam os de feitoria, e então foi feita uma segunda demarcação, a que se chamou subsidiaria. Durante este tempo, tendo apparecido um Escocez chamado. ...(*), fez elle um serviço importante ao paiz do Douro, porque mandou vir de fóra certas castas de vinhas muito boas, as quaes fóram plantadas na sua quinta, e d'alli se espalharam para muito outros terrenos que estavam virgens; então appareceram esses vinhos superlativos, que tanto agradam ao commercio, e que chamam superfluos: fôram elles que por muito tempo fizeram a riqueza do Douro, por que, não obstante serem pouco cubertos, tem muito espirito, muita fragancia, e bom sabor. Agora, pergunto eu, será util, ou justo encaminhar as couzas para anniquilar pela producção, e fazer com que aquelle paiz acabe, continuando os proprietarios desgraça em que estão, para que cheguem a pedir esmola? Eu digo que não. Elles são Portuguezes, e por isso devem merecer a mesma attenção que os habitantes da ilha da Madeira, do Riba-Tejo, e de outras partes, que tem sidos occorridos pelas Côrtes e pelo Governo; sejâmos justos. Por tanto, se o gigante (o exclusivo) mette medo aos Dignos Pares, e por isso não querem votar por elle, votem ao menos por esse pequeno auxilio dos 150 contos, pela mesma razão porque outros similhantes se tem dado aos lavradores do Riba-Tejo; os de vinho não devem mrecer menos attenção que os de trigo. Pela minna parte, declaro que hei de votar pelo parcial exclusivo, por que estou intimamente persuadido que é elle o que póde salvar o Douro; entretanto, se se não vencer, votarei pela base proposta no Projecto originario.

Os Dignos Pares meus antagonistas tem procurado as fallas que fiz nas Côrtes de 1821, e o que depois escrevi nas minhas Memorias, para me colherem em contradicção; mas eu respondo, primeiro, que não póde haver paridade (como já disse neste debate) entre o monopolio antigo, que era geral e não tinha encargo algum, e aquelle que propôem a maioria da Commissão, por que a par do favor vem a obrigação imposta á Companhia. Entretanto, os argumentos que se querem tirar dessa minha supposta contradicção são muito fracos, por duas razoes, uma dellas é por que quem se funda em similhantes argumentos mostra que não tem outros melhores, e a segunda por que só agora me contradizem, passados vinte annos. Frequentemente me terei enganado, não o duvido; terei mesmo mudado de opinião, mas isto não me está mal, e é melhor proceder assim do que insistir no erro quando se esta convencido delle. Porêm eu tinha então muita razão para atacar aquelle antigo exclusivo, assim como estou persuadido que tambem a tenho agora para defender este: sei que não posso vencer, mas como para mim existe convicção, e não contradicção, hei de sustentar o Parecer que assignei, e se ceder votando pelos 150 contos, e por que desejo que alguma couza se faça, já que não posso obter o melhor.

Resta-me agora fallar sobre o discurso do Digno

(*) O Tachygrapho não percebeu.