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366 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

da união iberica, dos nossos vizinhos d'alem do Guadiana, escriptos e idéas contrarios á monarchia e ao decoro nacional.

Sr. presidente, depois das guerras intestinas que nós tivemos em tempos mais calamitosos, deu-se um facto que faz honra ao illustre cavalheiro a quem me vou referir: acabadas as guerras civis que affligiram o paiz por largos annos, foi o sr. duque de Loulé, escolhido pelo seu partido e apontado por uma parte da imprensa periodica, para formar parte do ministerio do sr. duque de Saldanha. E sabe v. exa. o que disse o s. duque de Loulé ao seu partido e aos cavalheiros seus amigos que escreviam na imprensa? "Aceito; mas desde o momento em que na imprensa que apoia a situação e com quem estou ligado se escreva cousa contraria ou em desacato ás prerogativas da corôa saírei immediatamente do gabinete para mostrar que protesto contra similhante acto, e que não sou complice nem connivente com os auctores d'aquellas doutrinas". Eis-aqui como pensava e praticava o sr. duque de Loulé. Mas nós não vemos fazer isto agora: vemos antes que um ministro que se senta n'aquellas cadeiras, e que é convidado a vir dar explicações pelo seu procedimento inteiramente contrario ao que acabei de relatar, não apparece aqui, tendo eu prevenido que apresentava esta questão na camara! Provavelmente mandou participar que se achava doente!!!

Ora, sr. presidente, de que servem os ministros, quando elles não dão sobre cousas tão serias as explicações mais categoricas e as não justificam com os seus actos?!

Perdoe-me a camara o calor com que fallo, mas elle é justificavel, quando se trata da autonomia, da independencia de um paiz, cujas tradicções gloriosas ainda repetem os echos longinquos, cujos padrões de gloria existem ainda em regiões extensissimas da Africa e da Asia, cujos feitos de armas assombraram os habitantes de um mundo até ali desconhecido, e fizeram-nos respeitados e temidos dentro e fóra da Europa, emfim de um paiz que levou a fé e o imperio ás terras viciosas da Africa e Asia, como diz o nosso insigne poeta. Portanto, sr. presidente, eu não posso deixar de instar vigorosamente com o governo para que se explique e convença a camara da pouca rasão com que são levantadas aquellas suspeitas, e socegue o espirito publico convencendo-o que um portuguez, que se preza, não póde jamais ser traidor á sua patria. Estas explicações da parte do governo devem ser categoricas, e tanto mais categoricas quanto é sabido de toda a gente, e a imprensa fez publico que ainda ha pouco os republicanos de Hespanha mandaram um telegramma a certo jornal d'esta capital felicitando os seus correligionarios politicos de Portugal. Sem duvida, com bem magua o digo, provavelmente no numero d'estes entrava o sr. Latino Coelho, não porque o seu nome se declarasse expressamente n'aquella felicitação, mas pelo que s. exa. tem escripto e que é conhecido lá fóra, e que faz acreditar que s. exa. partilha ainda as mesmas idéas. Diz-se até que o sr. Latino Coelho está em harmonia com o que tem publicado aquelle jornal, pois é o orgão de s. exa. Não sei se isto é assim; mas a verdade é que se diz, sr. presidente, que as apprehensões que havia no publico, originadas pelos factos que tenho apontado, augmentaram com as declarações do novo ministro da fazenda na outra casa do parlamento, das quaes se deprehende que s. exa. sympathisa tanto com as cousas de Hespanha que até pretende reformar as pautas das nossas alfandegas, em harmonia e segundo a forma e methodo seguidos no reino vizinho para a reforma aduaneira. Pois nós temos alguma cousa com o systema, methodo e fórma seguidos em Hespanha para tal reforma? Nada temos com isso. Que o sr. ministro quizesse reformar as nossas pautas segundo os principios economicos, attendendo ás doutrinas da sciencia que mais se coadunam com o nosso systema, com as nossas circumstancias e com os nossos interesses, comprehendia-se; mas querer imitar o que se faz no reino vizinho, só pela rasão de que devemos marchar de accordo e harmonia, dá a entender que s. exa. tem certas idéas favoraveis ás antigas do seu collega da marinha, que eu estimaria muito que o sr. ministro declarasse que não tem.

Tudo isto é motivo para ter serias apprehensões, e tanto mais serias quanto esta questão foi aqui levantada por um membro da maioria, cuja dignidade, rigidez e brio são conhecidas por todos, assim como são o seu amor pela patria e dedicação pelos interesses do paiz (apoiados); cavalheiro que foi auctoridade de confiança d'este governo, que o tem apoiado constantemente, que tem vivido em intimidade com os srs. ministros, que sabe melhor o que se tem passado, e melhor sabe avaliar a sua politica e as suas intenções; e por tudo isto não podia o publico deixar de impressionar-se profundamente com o passo dado pelo referido cavalheiro numa das ultimas sessões d'esta camara.

Por consequencia, sr. presidente, são estas apenas as simples perguntas pura e exclusivamente politicas que tenho a honra de dirigir ao governo, assim como tenho de perguntar aos novos ministros quaes as reformas economicas e as medidas que s. exas. têem para apresentar ao parlamento a fim de resolver a difficilima crise em que nos achâmos, porquanto não é crivei que os homens que aceitam nesta occasião e circumstancias o encargo pesadissimo, a missão difficultosissima de resolver esta crise, não tenham o seu programma feito e o seu systema preparado; porquanto não póde haver mais delongas, sem grave risco para o paiz, na solução de um problema que a todos preoccupa instantemente, como é a questão de fazenda. Não é de crer pois que os novos ministros aceitassem as pastas sem terem idéas determinadas sobre os meios de saírmos das difficeis circumstancias em que nos achamos. S. exas. hão de ter elaborado projectos importantes, hão de ter medidas bem trabalhadas e muito circumspectas, que devem ter sido examinadas por pessoas suas intimas e entendidas na administração dos negocios publicos, e que devem ser promptamente apresentadas ao parlamento para que não haja demora na resolução da questão fazendaria. Sobre este ponto chamo a attenção dos novos ministros, e espero que compenetrem a camara do que valem e do que podem.

Alem das perguntas que são pura e exclusivamente politicas tenho a fazer outras que são pura e exclusivamente sobre negocios de administração e fazenda, mas sobre pontos certos e determinados. Mas para não complicar o debate não as faço agora. Hei de faze-las em outra occasião para não prejudicar a questão politica.

As perguntas pura e exclusivamente politicas que fiz são tão importantes e indispensaveis que o governo não se póde eximir a responder promptamente a ellas, e muito principalmente para demonstrar que o ministerio é formado de elementos homogeneos. Eu creio pelo contrario que está composto de elementos heterogeneos, e se assim não fosse, nemo sr. conde de Samodães estava ali sentado hoje na sua cadeira de par, nem estavam ali sentados nas cadeiras de ministros os inimigos politicos mais pertinazes que s. exa. teve; ora, se o sr. conde de Samodães está assentado na sua cadeira, e nos bancos dos ministros os seus inimigos politicos, é claro que o ministerio hoje significa outra cousa, que o seu systema é outro, que são outras as suas idéas, e que é outro o seu programma; portanto o sr. presidente do conselho não deve estranhar nem admirar-se que lhe perguntemos hoje qual é esse novo systema, quaes são essas novas idéas, e qual é esse novo programma; e não se diga que isto são perguntas velhas, e que velhos são os programmas, e que isto corresponde a interrogar o governo, perguntando-lhe de onde veio, e para onde vae. Estas perguntas são necessarias e indispensaveis, assim como é necessario e indispensavel que o governo apresente o seu plano, systema e programma, porque o estado em que nos achâmos é critico e difficil, e a questão de fazenda palpitante assoberba-nos. É pois sobre estes pontos que se deve interrogar o governo, para conhecer a sua politica; é sobre estes pontos que eu desejo ouvir os srs. ministros, e é sobre elles que desejo que