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510 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

o curso de engenharia naval. N'este numero entrava o sr. Gregorio Nazianzeno Rego, cuja perda todos que o conheceram ainda lamentam, e o sr. conde de Linhares, nosso illustre collega.

Apesar de haver um curso de construcção naval, sentiu-se, a necessidade de ir beber instrucção a escolas aonde o ensino era mais completo, e que estivessem ao pardas transformações por que tinha passado aquella architectura.

Foram, pois, varios individuos habilitados estudar fóra do reino o curso de constructores navaes; mas resolveu-se ao mesmo tempo não descurar completamente aquelle ensino no paiz.

Mais tarde o meu amigo, o sr. Latino Coelho; quando era ministro da marinha, propoz uma reforma da escola naval, na qual se alterou em parte o ensino, conservando, comtudo, para a parte, das construcções o mesmo que já existia, se me não engano.

Quando a escola polytechnica se organisou, o ensino das mathematicas, tomou algum incremento, mas faltava-lhe ainda o ensino desenvolvido e completo de geometrica descriptiva.

A camara sabe que não póde haver engenheiro perfeito sem saber geometria descriptiva; e é impossivel que, por mais habilidade que tenha,, possa conhecer os methodos utilissimos que a geometria descriptiva presta ás construcções sem que a tenha estudado; por consequencia, o ensino da geometria descriptiva na escola porytechnica vinha principalmente em auxilio dos engenheiros quer navaes, quer de construcções terrestres.

Esse ensino, para ser completo e dar na pratica resultados proveitosos, era necessario que não se fizesse em um só anno, mas sim em dois; porque os vastissimos problemas que ha a resolver não se podem estudar em um só anno.

ensino de geometria descriptiva na escola polytechnica está dividido em dois annos; é todos sabem que o engenheiro para fazer uso d'esta sciencia carece de certos conhecimentos praticos e theoricos que, não se podem adquirir em um só anno.

inguem de certo deixa de reconhecer quanto é importante e indispensavel esta habilitação para os engenheiras constructores navaes. E aqui está presente o sr. conde de Linhares, que avalia perfeitamente a falta que faz a geometria descriptiva nas construcções navaes. É o mesmo que querer um homem habilitar-se a ser pintor sem saber desenhar.

Quando se organisou o curso de geometria descriptiva na escola porytechnica, teve-se em vista, sobretudo, elevar o ensino preparatorio dos nossos engenheiros á altura a que, devia chegar.

Esse curso foi incumbido a um professor distinctissimo, não só pelo seu talento, como pelo zêlo que tem em dar desenvolvimento, ao ensino que tinha em vista, aperfeiçoar, segundo as condições em que nos encontravamos, a fim de habilitar os individuos que recebessem esse ensino na escola polytechnica, considerando-se ao mesmo tempo esse curso como uma necessaria habilitação para entrar na escola naval, na classe de constructores navaes.

Hoje, o ensino da geometria descriptiva é differente do que era ha quarenta annos. Todos os cursos têem mudado successivamente melhorando-se.

Foi a reforma que se fez em 1861, creio eu, na instrucção secundaria, que obrigou os alumnos, para poderem entrar nas escolas superiores, a terem como habilitação a mathematica elementar e a introducção á historia natural. Ora, como a mathematica elementar e a introducção á historia natural formavam o primeiro anno do curso das escolas e da universidade, resultou passar a ser primeiro o segundo anno, ficando tres ou quatro, para completar o ensino. Foi . o que resultou d'esta reforma, cuja utilidade está confirmada pela experiencia.

Os alumnos da escola polytechnica de Lisboa e da academia polytechnica do Porto, e tambem os da universidade de Coimbra, entraram e entram; para estes institutos de instrucção superior, com o que d'antes se chamava o primeiro anno mathematico, podendo depois em quatro annos estudar o calculo, a mechanica e suas applicações, a astronomia, etc.

O quarto, curso, que serve na escola polytechnica de habilitação aos constructores navaes, cresceu por assim dizer mais um anno, e póde n'elle ter maior desenvolvimento a geometria descriptiva. O sr. conde de Samodães, relator da commissão, póde confirmar o que acabo de dizer.

Quando eu tive a honra de ser membro do conselho superior de instrucção publica, tive occasião de estudar as difficuldades que se levantaram quando a mathematica elementar e a introducção passaram a ser habilitação. Houve mesmo conflictos entre os professores. Todos queriam ser muito competentes. Foi até necessario acalmar os animos, e socegar competencias entre os professores.

Dado isto, o que vemos nós agora? No projecto trata-se effectivamente, como disse o sr. ministro da marinha, de igualar o curso de habilitação, de engenheiros navaes na escola polytechnica de Lisboa, na academia polytechnica do Porto e ha universidade de Coimbra. Igualou-se o tempo, mas não se igualou a sciencia.

Na instrucção publicado preciso igualar para cima, fazer subir o nivel dos: estudos, em vez de o baixar: convem que, os alumnos se convençam do que o saber não é uma futilidade, e que, se quizerem prestar serviços ao estado, devem saber devêras.

Eu desejaria, pois, que o ensino da geometria descriptiva fosse completo n'aquelles tres estabelecimentos. Esta sciencia não é só necessaria para os engenheiros, mas para toda a gente que se occupa de sciencias mathematicas de applicação.

Este projecto não fomenta nos alumnos a obrigação do trabalho, mas incita-os á mandriice. Ora, eu reputo um dos maiores inconvenientes para o paiz, que todos aquelles mancebos que estão recebendo: educação, em logar de se fazerem verdadeiros homens de sciencia e de se tornarem habilitados nas praticas para que são chamados, se acoitem atrás da lei para saber menos.

Terminando aqui as minhas considerações, appello para o bom senso da camara e para o amor que o sr. ministro da marinha, tem pelas cousas publicas.

O sr. Conde de Linhares: - Sr. presidente, eu esperava não ter necessidade de fallar durante esta sessão legislativa. A perda cruel que acabo de soffrer pela morte de um querido filho preoccupa o meu espirito, tornando-me pouco em estado de entrar em debates parlamentares. Entretanto, na minha qualidade de engenheiro inspector e de director das construcções navaes, não podia eximir-me a ser o relator d'este parecer, em que se trata de reformar o curso preparatorio para engenheria naval.

omo v. exa. acaba de ouvir, o projecto em discussão não foi apresentado pelo sr. ministro da marinha: é elle da iniciativa de um sr. deputado, creio eu que lente da escola polytechnica de Lisboa; mas tambem v. exa. acaba de ouvir que o sr. ministro da marinha acceitou este projecto.

Confesso que fiquei não pouco surprehendido quando ha tempo vi no extracto da sessão da camara dos senhores deputados que fôra ali approvada uma reforma e um novo programma de curso preparatorio para engenheria naval, era minha surpreza não deixava de ser bastante natural, porque não me constava que houvesse sido consultada nenhuma das estações competentes para similhante reforma. Entendo por estações competentes a este respeito os conselhos das escolas polytechnica e naval, o lente do curso de applicação para engenheiros navaes, e mesmo os directores das mencionadas escolas, porque é bem evidente que do programma mais ou menos desenvolvido do curso de