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Ligado de toda a idéa de confiança. Voto, deplorando que, por mais uma vez, fique preterida uma das formulas mais sacramentaes do systema representativo, tal é a discussão e maduro exame do orçamento do estado. E deploro por esta occasião que se tenha gasto o primeiro anno de uma sessão legislativa, sem que uma unica medida de interesse publico tenha enobrecido os fastos parlamentares.

Deploro que os odios politicos, as desconfianças partidarias, as recriminações de toda a especie, tenham substituido a discussão dos grandes principios da governação publica e das reformas radicaes de que tanto carecemos. Deploro, finalmente, que na occasião em que parecia tudo disposto para acalmar os odios, cicatrisar as feridas, e para entrar n'um caminho de fraternidade e de paz, n'essa occasião appareça de novo uma luta inglória, o paiz entregue á excitação das paixões, e chamado ao exercicio de um direito, aliàs muito sagrado, mas que, por culpas que não são do povo, começa a tornar-se-lhe indifferente e pesado.

Sr. presidente, eu ouvi da bôca de um dos srs. ministros, alma e principal agente da situação, que o programma do gabinete seria a conciliação e o progresso. Conciliação e progresso é uma santa e nobre divisa, mas as divisas não valem só pelo que se escreve nas bandeiras, valem pelo que esta no coração, valem pelo que se manifesta nas obras (apoiados).

Sr. presidente, seja-me permittido dizer n'esta occasião com aquella rude mas leal franqueza com que exponho sempre as minhas opiniões no parlamento, e sem offensa dos caracteres respeitaveis que se sentam naquellas cadeiras (apontando para as cadeiras do governo), e aos quaes tributo todo o respeito e consideração; seja-me pois permittido dizer que á vista das circumstancias, que rodeiam a situação, não posso deixar de ficar numa receiosa espectativa emquanto á realisação d'este programma.

Uma voz: — Isto não é o projecto.

O sr. Presidente: — Eu não quero interromper o digno par, mas não posso deixar de dizer que me parece que nos vamos desviando alguma cousa da ordem, porque se vae entrar outra vez na questão politica.

O sr. Visconde de Gouveia (continuando): — Eu não canso mais a camara com as minhas explicações, porque o meu fim foi unicamente fazer uma declaração de voto. Não levarei pois mais tempo com estas observações, que estão inteiramente ligadas com a materia de que se trata; e concluo declarando que o desejo mais ardente do meu coração é que, quando em julho voltar a sentar-me n'esta cadeira, não me veja forçado a pedir estreitas contas aos srs. ministros pela execução do seu mote e divisa de honra.

Conciliação e progresso, é tambem o meu mote e divisa, mote e divisa de todo o bom portuguez. Cumpram os srs. ministros as suas promessas, realisem o seu programma, e estejam' certos que eu serei o seu mais strenuo defensor e admirador.

O sr. Conde de Thomar (sobre a ordem): — Sr. presidente, pedi a palavra sobre a ordem, porque depois da resolução tomada pela camara de discutir o projecto da lei de meios, não me parecia que se devesse entrar na discussão politica, como o fez o digno par, porque n'esse caso devia dar-se a palavra pela ordem da inscripção.

O sr. Ministro da Fazenda: — Eu, sr. presidente, não tenho nada a dizer, porque nem o digno par, nem pessoa alguma impugnou o projecto; como porém me acho inscripto para explicações, mostrarei então cabalmente quem foi que não quiz a paz nem a conciliação; o que me parecia desnecessario em vista das explicações, que já dei a"este respeito na outra casa do parlamento.

O sr. Presidente: — O sr. conde de Castro pediu a palavra sobre o projecto?

O sr. Conde de Castro: — Pedi a palavra para explicações.

Não havendo mais ninguem inscripto, o sr. presidente poz o projecto á votação, sendo approvado tanto na generalidade como na especialidade.

O sr. Ministro da Fazenda: — Sr. presidente, eu pedi a palavra para participar a V. ex.ª e á camara, que Sua Magestade recebe a deputação que for nomeada para lhe apresentar este projecto, na' proxima segunda feira á uma hora da tarde..

O sr. Presidente: — Estão inscriptos para explicações os dignos pares os srs. visconde de Gouveia, ministro da fazenda, conde de Castro, conde de Thomar; S. J. de Carvalho; Vaz Preto, ministro das obras publicas, e outra vez o sr. Ministro da fazenda. Não sei se o digno par, o sr. visconde do Gouveia...

O sr. Visconde de Gouveia: — Eu, sr. presidente, já usei da palavra.

O sr. Ministro da Fazenda: — Sr. presidente, eu serei muito breve, e começarei por agradecer á camara o ter votado esta medida, e considero a adhesão da camara como uma apreciação justa da gravidade dás nossas circumstancias e por consequencia não hei-de abusar da sua paciencia, mas direi sempre ao sr. visconde de Gouveia que sinto muito não o ter ouvido em uma das ultimas sessões em que s. ex.ª affirmou que o ministerio não tinha maioria n'esta camara que d’este facto se poderia deprehender o contrario.

Pediu a palavra o sr. visconde de Gouveia

O sr. Ferrer: — Teve até a unanimidade.

O Orado: — Se a questão tivesse tomado um caracter politico, ainda creio que esta camara havia auxiliar o governo com a sua coadjuvação.

(Susurro:)

Tenho esta convicção, não m'a queiram destruir sem provas.

Sr. Presidente, eu não posso entrar no campo para que me chama o meu collega e antigo amigo o sr. Conde de Castro. Quando s. ex.ª disse que se haviam commettido inconveniencias na outra camara, e creio mesmo que' disse que essas inconveniencias foram commettidas por parte do governo, a phrase trahiu o desejo de s. ex.ª, não era esse por certo o seu pensamento. S. ex.ª disse, sem duvida, o que não queria dizer; mas disse-o, e eu respeito muito o pensamento do digno par! Lançarei pois um véu sobre a phrase, porque depois de todos saberem a resolução adoptada a respeito da camara dos senhores deputados, não parece conveniente que nós estejamos n'este momento a discutir os actos d'ella.

Repellirei comtudo a idéa de que houve inconveniencia da parte do governo no seu comportamento na camara dos senhores deputados; mas o que eu não posso deixar de notar, sr. presidente, é que os cavalheiros que estão tão contentes com a fusão rejeitem a dissolução.

Disse-se: «O paiz esta comnosco; a fusão é um acto conveniente»; pois bem; consulte-se o paiz por meio de uma eleição. Sr. presidente, nós tomámos toda a responsabilidade do acto da dissolução, e eu pela minha parte estou prompto para dar depois todas as contas ao digno par o sr. visconde de Gouveia. E começo já dizendo-lhe, que quem primeiro tentou dar esse abraço fraternal fui eu; e sabe o sr. visconde de Gouveia o que me responderam os seus amigos? Responderam-me que era impossivel com o sr. marquez de Sá; que • representava todas as responsabilidades de umas certas administrações. Por parte da antiga maioria fizeram-se-me graves censuras por ter querido a fusão entre homens que se tinham constantemente guerreado, e, que partilhavam opiniões diametralmente oppostas. Depois d'estes factos, sr; presidente, esses homens abraçaram-se; os que se não podiam abraçar com o sr. marquez de Sá abraçaram-se com os que tinham mais responsabilidade do que s. ex.ª nas administrações a que se referiam; abraçaram-se com a opposição os membros da maioria que na vespera tinham o maior horror por esse abraço. Foi o bem publico que inspirou essa approximação? O paiz o dirá. Mas todas as vezes que se fallar d'essa fusão diante de mim, tenho direito de levantar a minha voz, e hei de levanta-la emquanto houver uma casa do parlamento em que me sente, para fazer ver a verdade ao paiz; porque a verdade não esta muitas vezes no que lhe apresentam os partidos.

Fallou-se em questão de pastas; não entro em explicações a este respeito, não tenho direito já de dar essas explicações; porque não posso vir aqui discutir o que se passou na outra camara.

O sr. visconde de Gouveia disse que eu era a alma do ministerio, permitta-me s. ex.ª que lhe diga que a alma do ministerio é o sr. presidente do conselho; para que pois dizer-se que o sou eu? É para me entregar ás feras pelos actos que o governo tem praticado? Eu já disse na outra camara que tomo a responsabilidade de todos os actos dos meus collegas, que não precisam que eu tome a responsabilidade dos actos d'elles, mas tomo-a; o que na verdade me parece pouco conveniente é vir dizer-se que a alma do ministerio sou eu, fazendo-se quem o diz echo de um certo corrilho para me fazer guerra? Que quer isto dizer? Aqui esta um ministerio, não esta um homem, sr. presidente; e se alguem representa o pensamento do ministerio, é o presidente do conselho.

Declarou-se tambem aqui que para as futuras eleições iriam todos os partidarios da fusão, unidos, á uma, e até se declarou qual ha de ser o resultado da eleição; é muito saber! Pois, sr. presidente, os ministros hão de manter toda a liberdade da uma, para que o paiz pronuncie o seu verdadeiro pensamento. E porque -é que os homens que se mostram mais ardentes partidarios da fusão queriam que se sacrificasse o sr. marquez de Sá? Valia a pena que se explicassem a este respeito diante do paiz.

Uma voz: — Mas V. ex.ª tambem queria a fusão. O Orador: — Peço perdão, não era esta a fusão que eu desejava, e atrevo-me a acrescentar que não é esta a fusão que o paiz quer; e se o paiz a quer esta no seu direito, manifeste-o agora pelo seu voto, e a corôa saberá tambem onde ha de> ir buscar ministros.

Disse-se: «Se os srs. ministros deram a sua demissão pura e simples, fizeram o seu dever, mas se aconselharam a corôa pintando-lhe a situação de uma maneira inexacta, deram um mau passo.» Não reconheço em ninguem aqui o direito de nos perguntar quaes foram os conselhos que demos á corôa...

O sr. Conde Castro: — Mas ninguem fez tal pergunta.

O Orador: — Mas disse-se que tomámos uma grande responsabilidade em aconselhar a dissolução, nós tomámos toda a responsabilidade d'essa medida, e repetimos que havemos empregar todos os meios para que a liberdade da uma seja mantida.

O sr: Conde de Castro: — Mas a proposição é verdadeira?

O Orador: — De que tomámos a responsabilidade é.

O sr. Conde de Castro: — Mas se não houve tal pergunta.

O Orador: — Então para que veiu o dilemma? Era melhor que não viesse... Podiamos tentar um meio mais suave. Pois se a camara nos negava... Diz-me o meu collega que eu não posso discutir aqui o que se passou na outra camara e então peço que me não provoquem, porque realmente é um tormento que haja toda a liberdade no ataque e que a não possa haver na defeza.

A paz é a primeira necessidade d'este paiz; sr. Presidente, todos nós a queremos; v. ex.ª sabe que nenhum de nós se senta aqui pela primeira vez, todos nós temos já uma longa carreira politica (infelizmente para nós porque menos annos temos a viver), e o nosso unico desejo é fazermos algum serviço ao nosso paiz; e não estamos aqui por o gosto amargo de ter uma pasta, para ouvir as amabilidades que nós temos ouvido e parece-me que ninguem pode desejar tal senão algum inexperiente.

Sr. presidente, eu acabo repetindo duas declarações que fiz já. A primeira é, que nós assumimos toda a responsabilidade dos conselhos dados á corôa foi por conselho nosso que se decidiu a dissolução; a segunda é, que havemos de empregar todos os esforços para que o paiz possa exprimir livremente a sua opinião, na urna; para que se conheça bem o voto nacional.

O sr. Presidente: — Antes de dar a palavra aos outros dignos pares que estão inscriptos, vou ler á camara os nomes dos dignos pares que estão nomeados para a deputação que ha de levar á real sancção o projecto que acaba de ser approvado (leu).

O sr. Conde de Thomar: — Como poderia pensar que as poucas palavras que julguei muito a proposito proferir no principio d'esta discussão, haviam de dar em resultado que o actual presidente d'esta camara julgasse necessario descer da sua cadeira para vir explicar factos, sobre os quaes nada lhe havia sido perguntado; e nenhuma provocação podia com fundamento entender que lhe houvesse sido feita?! A camara não póde deixar de ter ainda bem presentes as suas phrases; disse apenas que na sua posição especial não podia deixar de aproveitar a occasião para declarar que não era ministerial d'este ministerio, nem de outro qualquer, mas que se porventura o actual quizesse governar convenientemente, lhe prestaria a sua coadjuvação (apoiados). Disse mais: que não podia deixar de ver no actual gabinete bem representado o principio progressista, pois que sendo presidido pelo nobre marquez de Sá, e tendo por collega o sr. Julio Gomes da Silva Sanches, era fóra de toda a duvida que ali estavam homens constantemente dedicados a esse partido (apoiados repetidos), e que comquanto estivessem tambem no mesmo gabinete dois cavalheiros que haviam militado nas fileiras do partido cartista; comtudo não era menos certo que esses dois caracteres eminentes sempre se haviam mostrado muito liberaes, e até mesmo progressistas haviam já conseguido chegar a ser considerados pelo partido progressista, deixando por consequencia de haver assim motivo para o governo ser atacado como anti-progressista (apoiados. — O sr. Visconde de Seabra: — Muito bem). Aproveitaria a occasião de dizer que se porventura o sr. duque de Loulé tivesse organisado por esta fórma uma administração, ter-lhe-ía prestado o seu apoio.

Disse ainda que achava muito notavel que se estivesse constantemente stygmatisando os homens mais conhecidos, do antigo partido cartista, ao passo que por factos repetidos e constantes se provava que sempre se recorria a algum homem eminente d'esse mesmo partido para organisar administração, ou pelo menos para lhe dar força e importancia (apoiados). Finalmente que, mesmo agora, tratando-se de fazer uma fusão para formar partido que podesse bem governar, constava que logo se fôra procurar um eminente caracter do antigo partido cartista para ser esse o que viesse a tomar o logar de chefe da administração. Crê que repete com, lealdade e bastante exactidão aquillo que disse (Vozes: — E verdade, é verdade). Pois o resultado d'isto foi que o nosso digno presidente julgou dever descer da sua cadeira para tomar a palavra, dando-nos assim o gosto de o ouvirmos com a mesma eloquencia com que sempre fallou, mas permitta-se dizer que fallou n'esta occasião com muita infelicidade, por isso mesmo que combateu aquillo que se não disse.

Quem ouviu pronunciar o nome de s. ex.ª? Ninguem póde tal dizer, porque effectivamente se não fallou no sr. conde de Castro. (Vozes: — Não fallou, é verdade.) Foi s. ex.ª que se denunciou! De maneira que ficámos agora sabendo officialmente que de facto alguma cousa se tratou com s. ex.ª sobre a fusão, e que inclusivamente pelo seu proprio dizer já havia alguma combinação a respeito de pastas (riso). Pois não foi s. ex.ª franco em dizer que effectivamente se tinha formado a fusão, e que não havia que admirar que o homem encarregado da direcção considerasse desde logo que pela juncção dos dois partidos pertenciam tres pastas a um e as outras tres a outro? Como porém combinar isto com o dizer s. ex.ª que não se tratou de cousa alguma sobre' pastas? Censura s. ex.ª que se fallasse d'essa fusão, como se ella fôra um attentado? Pois porventura tambem se poderá dizer que se ouviu aqui até agora alguma phrase que significasse censura a esse facto da colligação ou fusão? O que realmente parece concluir-se de tudo isto que se esta aqui passando, e que todos presenciamos, é que o digno par, e nosso presidente, o sr. conde de Castro, quiz aproveitar o insejo para, sem perda de tempo, fazer patente a grande importancia que entende dever ligar-se ao facto da fusão, e por isso nos disse: «São dois grandes partidos; é direita e esquerda reunida uma á outra, ninguem lhe póde disputar as eleições». E muito: direita e esquerda reunidas e constituidas em opposição! Mas então o que é que fica sendo partido do governo? Se esta reunida a direita com a esquerda; como é que o ministerio poderá governar? Com que é que conta o nobre marquez de Sá?

Declara que respeita muito os homens que segundo consta, acabaram de fazer essa fusão, não tem contra elles cousa alguma; assim elles, para fazerem triumphar as suas idéas; não julgassem a proposito e conveniente uma continuada insistencia em estar sempre ferindo homens que bem demonstram ha muito tempo não terem ambição de ir novamente ao poder! E comtudo diz-se que ao actual ministerio falta só o conde de Thomar! Isto para que, sr. presidente? Para se ver se os actuaes ministros da corôa se desligam de alguma maneira, e para que se continue sempre a lançar desfavor e um certo odioso sobre o partido cartista ou conservador, em cujas fileiras tanto e tão bem militou por largos annos o nobre conde de Castro (apoiados). Hoje porém é s. ex.ª mesmo que nos diz que pertenceu a esse partido emquanto elle foi poder, emquanto durou essa situação, mas depois que tem acontecido? S: ex.ª é que o declarou,