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eis-aqui as suas proprias palavras, ainda ha poucos minutos escutadas por todos nós: «Deixou o partido a que pertencia para se ligar ao sr. duque de Loulé, entendendo que deve sempre ser partidario das situações fortes»; e forte considerou a administração do sr. duque de Loulé, que durou por nove annos; forte considerou a administração cartista que não durou menos, e por isso a ella pertenceu ou a apoiou! Acha realmente que taes cousas não se devem dizer na camara, e por similhante fórma, para não parecer que ha tanta facilidade em deixar os amigos decahidos do poder, passando logo a trata-los com desfavor, mudando-se todas as sympathias para aquelles que succedem, dando esperanças de se conservarem! Não é assim que se podem justificar as mudanças de posição politica (apoiados).

Aqui, como disse, ninguem censurou a fusão, estão no seu direito, reunam-se, empreguem todos os meios legaes, dêem-lhe, n'este sentido, todo o desenvolvimento possivel, e depois de consultado o paiz, veremos a quem é que elle dá rasão. Não se temam de um partido, que dizem que esta decaído e morto; realmente admira como possa a grande fusão receiar-se de similhantes espectros, daquelles mesmos individuos que reputam com pouca ou nenhuma vida! Pois os homens que têem a grande popularidade, que são a direita e esquerda do paiz, precisam estar sempre gritando, que é preciso cautela, porque póde vir o conde de Thomar e os seus amigos (riso). Isto é realmente darem ao orador importancia demais; elle mesmo o reconhece! Pois se esta morto, se os seus amigos nada valem, se perderam toda a importancia no paiz, de que é que têem medo? (Apoiados.) Parece que não deviam receiar cousa alguma do apoio do partido conservador ao governo, devem mostrar se satisfeitos, porque essa circumstancia já lhe serviu para o sr. marquez de Sá ser apoiado e deposto do titulo de progressista. (Vozes: — Muito bem.) Já o nobre marquez de Sá não dá garantias sufficientes ao partido liberal (riso prolongado). Até o nobre conde de Castro não quer apoiar o governo, porque este lhe não dá sufficientes garantias de duração e estabilidade! Não pensa o orador assim, entende que tanto o sr. duque de Loulé como o sr. marquez de Sá, qualquer dos dois, acompanhados de homens intelligentes e activos, podem dar essas garantias (apoiados); entende porém que era impossivel continuar, por mais tempo, a situação em que se encontrava o sr. duque de Loulé, com uma camara popular, eleita debaixo da sua influencia, considerado chefe da situação, chefe de partido, e até como dogma politico, ainda assim viu-se obrigado a largar o poder! Encarregado depois o nobre marquez de Sá, nada póde conseguir da primeira vez, e realisando da segunda o intento da mesma commissão, o resultado foi o conflicto, que todos presenciaram! Com sinceridade, e mui deveras, diz o orador, que respeita todos os membros da outra camara, cada um de per si, e collectivamente, mas não póde deixar de reconhecer, como quasi toda a gente reconhece, que uma tal situação era impossivel, por isso mesmo que não havia governo, que na presença de tal camara podesse marchar (apoiados); de maneira que ò nobre conde de Castro esta completamente enganado, se duvida de que lhe aconteceria o mesmo; pois a respeito de s. ex.ª ainda se dizia mais, porque necessariamente fariam reviver todos esses precedentes cartistas, procurando, com elles, produzir um certo effeito, para enfraquecer e derribar a administração (apoiados).

Confessa que acha triste o deter a camara, ainda mesmo que seja por poucos momentos, com taes explicações; mas depois do que todos ouviram com surpreza, e de uma maneira tão extraordinaria, como incrivel, não havia remedio senão entrar no mesmo campo, lastimando sentidamente que o collega antigo e amigo que sempre nos apoiou emquanto fomos poder, nos explicasse hoje por tal fórma a rasão da sua separação. (O sr. Pinto Basto: — Apoiado.) De maneira que se deprehende pelas proprias palavras e pensamento do digno par, que se fôra possivel hoje constituirmos novamente poder, novamente poderiamos contar com o apoio de muita gente que nos tem abandonado e que tem por systema apoiar os fortes! (Apoiados.) (O sr. Pinto Basto: — De certo, de certo.)

Agora vae concluir dizendo unicamente que lhe parece que o fim principal por que s. ex.ª saíu da cadeira da presidencia foi para elogiar a fusão que acaba de formar-se, e para mostrar a grande força que ella tem, quiz mostrar ao paiz que acabava de reunir-se a direita com a esquerda, e que quando acabava de se reunir assim todo o paiz, quem lhe poderia resistir? Se este foi o fim principal do digno par, ha de permittir que lhe diga, que lhe parece que esta enganado, e sem ser propheta appella para o futuro, porque esta convencido de que muitas d'estas notabilidades que s. ex.ª considera terem uma grande influencia no paiz não a têem, e a prova esta em que tendo querido ser deputados nunca o têem conseguido no primeiro escrutinio, e só depois de abaterem bandeiras na presença de muitos homens que os coadjuvaram, é que poderam obter uma cadeira de deputado.

O sr. Presidente: — Antes de dar a palavra aos dignos pares que a pediram, vão ler-se alguns officios que vieram agora da outra camara. (Lêram-se.)

O sr. Presidente: — O primeiro officio acompanha um projecto de lei da camara' dos senhores deputados para serem augmentados os soldos dos officiaes do exercito, e vae remettido com urgencia ás commissões de guerra e de fazenda.

O sr. Conde da Ponte de Santa Maria: — Sr. presidente, faltam alguns membros da commissão de guerra, e apenas estamos presentes tres. Portanto peço a V. ex.ª que proponha á camara que sejam reunidos actualmente á commissão de guerra os dignos pares, conde de Torres Novas, marquez de Fronteira, e viscondes de Ribamar e de Soares Franco, para se tratar o negocio proposto (apoiados).

O sr. Presidente: — A camara acabou de ouvir a proposta do digno par para serem aggregados á commissão de guerra os srs. conde de Torres Novas, marquez de Fronteira, e viscondes de Ribamar e de Soares Franco, e portanto vou consultar a camara se approva esta proposta. Foi approvada.

O sr. Presidente: — O segundo officio que se acabou de ler tambem é remettido com o respectivo projecto de lei ás commissões de guerra e de fazenda, para darem o seu parecer com urgencia (apoiados).

As commissões de guerra e de fazenda retiraram-se immediatamente da sala.

O sr. S. J. de Carvalho: — Folga de ver que se levantasse n'esta sessão uma discussão que lhe dá logar a dizer algumas palavras n'esta camara, significando a sua opinião e apresentando algumas breves observações sobre a crise porque se acabava de passar.

Declara o orador que apoia o governo actual. Não vê signaes de manifesta surpreza n'esta camara ao ouvir-lhe tal declaração. Posto que novo, tem elle orador uma carreira politica de sete annos de vida parlamentar; e é esta a primeira vez que diz dar seu apoio a um governo. Suppunha que attendendo a estes seus precedentes alguem se surprehenderia com similhante declaração; vê porém que ninguem se suprehendeu com isso. A rasão conhece-se bem; é porque se sabe e interpreta o facto que determina a elle orador mudar de posição.

Sustentou, não diz com coragem nem com intrepidez, mas com lealdade e tenacidade a situação politica em que se collocou, e fez opposição constante a um governo de longos annos, governo que preterindo todas as formulas constitucionaes, tratou por mil modos de se sustentar, soccorrendo-se por mais de uma occasião aos remedios heroicos.

Admira-se de que os factos que originaram a incompatibilidade do governo que desappareceu se varressem agora da memoria de muitos; mas é certo"que se elle, orador, fosse obrigado hoje a acompanhar a opposição, em cujas fileiras militou muitos annos, havia de curvar o colo e passar por baixo das forcas caudinas para dar rasão aos homens a quem combateu constantemente, e que vinham n'este momento offerecer-lhe um abraço fraternal, em cuja lealdade não póde acreditar, porque via um intuito politico que o faria suspeitar d'ella. Esta a rasão porque a camara se não surprehende de o ver ao lado do governo, e de lhe ouvir declarar que lhe dá o seu apoio...

O sr. Vaz Preto: — Eu surprehendo-me e muito... O Orador: — Espera que o digno par dará a rasão da j sua surpreza, porque já tem a palavra.

Todos sabem o que se passou ha pouco tempo na scena da nossa vida politica quando saíu do governo o sr. duque de Loulé (que elle orador sente não ver presente), apoiado pelo prestigio de uma maioria que lhe offerecia setenta votos de apoio, na opinião do sr. conde de Castro.

Em virtude désse facto principalmente confirmado e preparado para a crise que teve logar, sem indisposição alguma individual, mas sem a idéa de que o partido a que se havia ligado na opposição compartilhasse os seus principios e as suas idéas n'este ponto, obrigado a appellar para a opinião de alguns dos seus collegas quando se reuniram os membros da opposição, em casa do seu nobre amigo e collega o sr. marquez de Niza, e sendo encarregado n'essa conjunctura do formar o ministerio o sr. marquez de Sá da Bandeira, elle orador declarou poucos dias depois n'esta camara que se visse que a solução da crise era a formação de um governo composto de homens que dessem garantias de ordem, embora senão fossem buscar ás fileiras do partido em que o orador militava, que não lhe recusaria o seu apoio politico, porque reconhecia a rasão do scisma que reinava na camara dos senhores deputados, e porque sabia tambem o que se tinha passado nos bastidores d'essa scena politica; e sobretudo porque receiava que a solução da crise fosse tal que se considerasse um attentado contra a verdade do systema constitucional, e permitta-se-lhe a expressão, uma offensa feita ao bom senso politico de todos os homens publicos d'este paiz.

Desgraçadamente foi o que succedeu ao ministerio, que o sr. duque de Loulé formou; foi uma afronta dirigida a todos os homens publicos d'esta terra, porque não era possivel que elles aceitassem um ministerio em que estavam encarregados das primeiras pastas da governação homens sem precedentes de vida politica, e que não davam ao partido que ía representar a garantia de que estavam habilitados para o exercicio das funcções de que eram encarregados.

Desceu, e nunca viu descer tão baixo o nivel do governo, e quando esse governo caiu, ou morreu da morte que lhes estava imminente, porque não era constitucional, como queria o sr. conde de Castro que esse governo morresse constitucionalmente? O governo morreu porque não podia logicamente viver.

Não havia remedio com que se lhe podesse acudir, porque se o houvesse, tornar-se-ia um governo sem condições nenhumas de longa vida, nem mesmo lh'as podia ministrar o espirito sincero e leal de ambas as casas do parlamento. Esse ministerio morreu; mas tinhamos a repetição da crise, e elle orador que via então os acontecimentos politicos que se davam na nossa terra, como se costuma a dizer (e pedia licença á camara para usar d'esta phrase), a vol d'oiseau, porque não estava na capital, não conhecia n'estas circumstancias a intriga politica que então existia, e só tinha noticia do que se passava apenas pelas informações, mui suspeitas, de alguns jornaes de differente procedencia, nada podia comprehender bem; no entanto, no ponto em que se achava, alimentava o desejo que tinha nutrido n'esta camara, e dizia: oxalá que não tenhamos segunda edição do ministerio que ha pouco caiu! O nivel do governo desceu e desceu muito; era necessario primeiro do que tudo eleva-lo, porque se o não elevassem, todo o homem que estivesse em circumstancias de prestar ao seu paiz o grande serviço de ministro, havia de eximir-se a isso, porque seria para elle uma humilhação. Foi então que soube que se tinha formado o governo com os dignos pares Sá da Bandeira, Julio Gemes da Silva Sanches, conde d'Avila e o sr. Carlos Bento da Silva; cavalheiros estes a quem o orador tem feito leal opposição, excepto ao digno par Julio Gomes da Silva Sanches, porque a sua vida politica activa era anterior á entrada d'elle orador no parlamento.

Pelo que respeita aos outros cavalheiros, repetia, ter-lhes feito em differentes conjuncturas uma opposição leal e franca, em que respeitava sempre a dignidade do poder representado nas pessoas de ss. ex.ªs; e não era a estes homens que devia receber, como foi recebido o ministerio que vieram substituir. Tinha-se n'estes termos ganho muito; já o nivel do governo tinha sido elevado, e elle orador dava os parabens ao seu paiz por este facto. Foi por esta epocha que se começou a fallar em fusão entre a fracção regeneradora que representava parte da opposição liberal de ambas as casas do parlamento, e a fracção ou partido politico representado pelo sr. duque de Loulé. Não sympathisou com a idéa da fusão feita nas condições que se tinham apontado, porque lhe parece que se o desideratum dos politicos que a queriam fazer era aquelle a que se referiu o sr. conde de Castro, nada se poderia conseguir, porque se o fim da fusão era constituir um governo forte, o seu resultado seria inteiramente contrario, e appareceria um governo fraco. Não era possivel saír um governo forte de entre dois campos que se tinham gladeado constantemente e com interesses differentes. A fusão não seria senão uma banca rota de responsabilidades, e se ella se fizesse, como o orador esperava, havia apresentar-se na camara para propor um artigo addicional ao regimento desta casa, pelo qual fossem prohibidas quaesquer allusões com referencia a factos politicos incriminados por qualquer partido, porque sendo a fusão uma banca rota de responsabilidades, logo que em qualquer debate se levantasse a menor recriminação, ella não podia existir, porque com a fusão estavam todos os partidos intimamente ligados. Esperava que a fusão vingasse, e esperava-o, porque a suppoz uma machinação do sr. duque de Loulé, machinação que elle não tentaria se não julgasse então impossivel a dissolução da camara electiva.

A seu ver, a solução da crise, a solução que podia ser esperada, era a fusão perante a uma, não perante a uma como ella naturalmente se vae tentar; a fusão — como disse o digno par o sr. conde de Castro — dos elementos heterogéneos e dos interesses individuaes dos dois partidos, mas a fusão perante a uma de maneira que a opposição se collocasse no logar que devia occupar, não saíndo fóra dos limites que lhe devem ser marcados, não saíndo fóra da orbita em que se tem conservado ha tantos annos, e não obrigando constantemente o governo, a demittir-se ou a dissolver a camara. Se a fusão se podesse conseguir d'este modo, então se poderia constituir um governo forte, segundo a imagem da nova camara.

Principiou o sr. conde de Castro dizendo que a fusão era uma cousa justa, porque o fim era formar uma colligação perante a uma para constituir um governo forte. Ora, que não era tão simples a fusão como pareceu ao digno par, a prova é que a despeito dos bons desejos dos cavalheiros illustrados que dirigiram esta negociação, não se póde conseguir o principal dos fins que era ter o apoio sincero de todos os homens comprehendidos n'aquelle pensamento; portanto não era cousa tão facil e simples que não houvesse grande difficuldade em se tentar, e que a não haja hoje ainda, porque effectivamente ha grandes difficuldades, e a prova esta mesmo no que s. ex.ª expoz relativamente aos fins d'essa fusão; exposição que para elle, orador, foi nova, e o é de certo para muitos que aliàs deviam estar ao facto de tudo como correligionarios politicos, dos homens que se entenderam para esse fim (apoiados). S. ex.ª diz que appella para o resultado da uma. Para isso appellam todos; appella o governo e appella o paiz.

O orador, fazendo algumas considerações sobre as maiorias e opposições, absteve-se comtudo de referencias mais especiaes á camara dos senhores deputados, por não poder esta levantar a replica na sua sala, dedicando-lhe unicamente as considerações de respeito que exige o concurso do poder, e proseguindo na analyse do discurso do ex.mo sr. conde de Castro, acrescentou que o mesmo digno par dissera e insistira sobre o ponto de que s. ex.ª não havia tido a idéa de que se fizesse crer que a fusão tivesse tratado da distribuição das pastas. Elle, orador, não sabe se tal se fez, porque esses trabalhos não tiveram a publicidade que muita gente tinha rasão de esperar, e alguns até de exigir (muitos apoiados). Emquanto pois ao que o digno par disse sobre esse ponto, já foi bem aproveitado pelo sr. conde de Thomar tudo o que havia a responder-lhe, notando que s. ex.ª não podia deixar comtudo de convir em que expozera que o cavalheiro de qualquer dos dois grupos que fosse encarregado de apresentar um gabinete, iria buscar tres ministros a um d'esses grupos, e tres ao outro. Se isto não é combinação de pastas, então o orador não sabe o que tal cousa seja.

O digno par o sr. conde de Castro concluirá o seu discurso, dizendo que a primeira das necessidades publicas d'este paiz era a paz, o socego e um governo que não fosse de transição. O digno par n'essa idéa citou o facto de ter acompanhado sempre com profunda e intima convicção, a situação que s. ex.ª julgava segura. Esta consideração do digno par faz com que elle, orador, na opposição do mesmo digno par ao actual gabinete, não veja senão o intimo convencimento que s. ex.ª tem de que este governo não póde durar senão até ás eleições; mas o orador fica ao mes-