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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 372

appareceram dezeseis votos contrarios. Seguiu-se, passados poucos dias, uma moção de censura ao ministerio; e qual a votação?. .. Quarenta e um votos a favor d'essa moção e cincoenta e tres contra! Quer dizer, o governo apenas teve uma maioria de doze votos!! ...

Compare v. exa., sr. presidente, a decadençia de votos da maioria governamental na votação da outra casa do parlamento, e induzirá do facto, certamente, a fraqueza do governo, assim como que elle governo perdeu a confiança que á mesma camara tinha merecido. Devo, porém, aqui fazer justiça á camara dos srs. deputados, pois me convenço de que, se ella tivesse ouvido as explicações do sr. conde de Samodães, o governo desde esse momento não contaria com um unico voto que o sustentasse.

Sr. presidente, quando o sr. ministro nos acaba de dizer que deseja moralidade, deve responder-se-lhe que justamente é isso o que o governo não tem. Pôde, porventura, chamar-se moralidade ao facto de concordar-se em conselho de ministros que s. exa. saíriam collectivamente dos conselhos da corôa; e depois, em menosprezo d'esse accordo, ficam alguns, obrigando a deixarem as respectivas pastas, dois collegas seus, os srs. Pequito e ponde de Samodães?! Que succede posteriormente?... Vão buscar para substituir esses cavalheiros demissionados, outros cavalheiros que não concordavam com as medidas do governo!... E chama se a isto moralidade?!... Ainda mais: afasta-se o nobre marquez de Sá para não assistir ao conselho, no qual sé tomava uma interessantissima resolução - a resolução da crise, não só latente, mas já publica!

Passo a fallar respectivamente á substituição na pasta da fazenda. Se o actual sr. ministro ahi foi guindado pela fortuna, s. exa. só devia aceitar este logar, quando bem compenetrado do poder da sua intelligencia e efficacia do seu systema financeiro, tendo seus trabalhos completamente elaborados para os apresentar immediatamente, e o paiz ficar sabendo como pretende resolver a crise financeira.

O sr. conde de Samodães, na minha opinião, teve muitos erros, mas o primeiro passo que deu na camara dos senhores deputados, depois de approvado o bill de indemnidade, foi apresentar o seu systema financeiro. Bom ou mau ahi está patente esse systema, porém devo notar n'esta occasião que o actual sr. ministro que substituiu o digno par, o sr. conde de Samodães, e que antes de entrar no gabinete era membro da commissão de fazenda da outra casa do parlamento, ainda não apresentou, apesar dos seus profundos estudos, cousa alguma que possamos apreciar.

S. exa. tambem foi corretor de ministros, e eu sei de um cavalheiro da opposição a quem s. exa. declarou que a sua entrada para o ministerio dependia da aceitação d'este cavalheiro, e por consequencia o sr. Cortez, actualmente ministro da justiça, tem pouco que lhe agradecer, porque só em ultimo caso estenderam a mão a s. exa. para o apresentarem n'aquellas cadeiras.

Sr. presidente, eu consideraria como uma leviandade, como uma precipitação o procedimento do joven ministro da fazenda, e esquece lo-ía completamente, se s. exa., occupando aquelle logar, tivesse apresentado o seu systema financeiro na altura de conjurar a crise que nos assoberba; mas até hoje nada sabemos das intenções de s. exa.; salvo se é verdade o que se diz, de s. exa. ter apresentado em uma reunião da maioria um systema de impostos, que não augmentava os direitos, impostos que recaíam sobre os tumulos^ sobre os cães e sobre não sei que mais!!! (Riso.)

Isto parecerá, para me servir de uma expressão vulgar, altamente ridicula; e o sr. marquez de Sá creio, sinceramente, ha de sentir remorsos de consentir se façam experiencias á custa do paiz.

Respeito muito, e com todas as veras, o nobre marquez de Sá. Não posso, não devo, todavia, deixar de dizer que s. exa. deve ter remorsos de consentir se façam experiencias n'aquellas cadeiras ministeriaes; experiencias que redundam em prejuizo do paiz (apoiados).

As sciencias politicas e moraes são tambem quaes as naturaes, sciencias de observação e de experiencia. Estas experiencias, porém, não se fazem quando ao leme da nau do estado, primeiramente se estudam na analyse dos predecessores, e se confirmam na historia do passado. O sr. presidente do conselho que é um vulto historico não devia, nem de certo quer transgredir estes principios, principalmente quando se trata da felicidade de uma nação que está lutando com uma tremenda crise. Pergunto a s. exa. se; estando p Tejo encapellado, e correndo o vento com violencia, iria metter-se n'um barco cacilheiro levando ao leme um arraes inexperiente?... Por s. exa. posso affirmar que não.

Venha, portanto, o simile para aqui. A nau do estado é cousa muito mais seria, especialmente quando a tempestade ruge, o céu se obscurece, e as nuvens carregadas de electricidade ameaçam submergir o baixel. Tal é o estado em que actualmente se encontra a nau do estado combatida incessantemente pela impetuosidade dos furacões, que sem tregua nem remanso a embatem. E é no maior grau da tormenta que o sr. presidente do conselho convida, para dirigirem o leme, pilotos sem experiencia alguma, que ainda não fizeram uma só viagem, nem mesmo em mar bonançoso e placido, quanto mais sobre as ondas revoltas da tempestade!

O sr. presidente do conselho tem grave responsabilidade pelo acto que praticou de convidar para ministros da coroa cavalheiros inexperientes dos negocios publicos. Se desculpa tem este acto de s. exa., recebe-la-ha unicamente pelo desconhecimento, segundo se affirma, que tem dos acontecimentos que diaria e successivamente têem logar. O sr. presidente do conselho anda, permitta-me a camara que lho diga em sinceridade, anda completamente illudido com os seus collegas.

(Interrupção do sr. Presidente do conselho que se não percebeu, alludindo aos apontamentos que o orador tinha na mão.)

Isto não são calhamaços, como vulgarmente se denominam, e a que s. exa. alludiu; isto, que tenho em mão, são apontamentos tirados das contradicções do governo, da sua falta de lealdade e dos actos menos regulares que tem praticado.

O sr. Presidente: - Não posso deixar de interromper o digno par para o convidar a que retire immediatamente as expressões falta de lealdade, que acaba de dirigir ao sr. presidente do conselho.

O Orador: - Eu não disse que o sr. presidente do conselho tinha falta de lealdade.

O sr. Presidente: - O digno par proferiu uma phrase anti-parlamentar, e eu convido-o a retira-la.

O Orador: - Não tenho duvida em substituir essa expressão, mas entendo que tenho o direito de exigir de v. exa. que ouça as minhas explicações.

Ninguem mais do que eu respeita a pessoa do sr. presidente do conselho, e por isso não era capaz de dizer que s. exa. era desleal. O que disse foi - que o nobre presidente do conselho estava illudido com os seus collegas, por ignorar completamente o que se passava, e que por este facto pesava sobre s. exa. grave responsabilidade. Quando fallei em deslealdade referi-me tambem ao modo como precederam os srs. ministros para com o sr. conde de Samodães.

Agora, se v. exa. entende que esta phrase não é parlamentar, declaro que não tenho duvida em a substituir, pois não desejo por fórma alguma proferir palavras que acamara não possa aceitar.

O sr. Presidente: - Eu ouvi perfeitamente a expressão falta de lealdade, que v. exa. exprimiu, e convido-o a que a retire, por a considerar anti-parlamentar.

Já hontem o digno par, dirigindo-se ao sr. ministro do reino, fez uso de uma phrase tambem anti-parlamentar, quando disse que o sr. ministro tinha vindo illudir a camara.