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386 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

não têem ellas hoje nenhuma rasão de ser, devendo por isso considerarem-se como não ditas, pois que não fôra minha intenção referir-me de um modo tal a um individuo que não tinha a menor idéa de offender o meu paiz.

Portanto manifestarei á camara o meu immenso prazer em declarar que sendo condicionaes os termos em que me pronunciei contra o sr. Hillel, e que não existindo a causa que os determinou, elles desappareceram naturalmente.

Sr. presidente, comquanto tenha sempre a maior repugnancia em fallar de mim, devo comtudo confessar que a carta do sr. Hillel lisonjeou me sobremaneira. Lisonjeou-me tanto mais quanto eu sou um simples e obscuro soldado da opposição.

Não obstante, sr. presidente, é esse simples e obscuro soldado da opposição que protesta energicamente contra os aggravos feitos a Portugal e ao seu governo; é esse mesmo soldado que provoca e consegue uma reparação para o seu paiz, emquanto o governo com os braços cruzados verga sob o peso dos seus desvarios, e assiste quasi insensivel a estas scenas deploraveis, em que Portugal é insultado pela pousa prudencia e descaramento dos homens que estão á frente dos negocios publicos e que mais deviam zelar a dignidade e a honra d'este paiz, temido n'outros tempos e respeitado sempre.

Este assumpto era um assumpto grave, e que não podia nem devia envolver politica, porque era uma questão puramente portugueza, e como tal a considerei sempre.

N'este presupposto, sr. presidente, eu não podia proceder de outra fórma, e confesso que estou lisonjeado de a conduzir assim, e chegar áquelle resultado.

O sr. Conde d'Avila: - Pedi a palavra para occupar por alguns instantes a attenção da camara sobre este mesmo assumpto, de que acaba de occupar se o digno par, o sr. Vaz Preto.

Hontem tive a honra de receber tambem uma carta do sr. Hillel, na qual me pede que o defenda perante esta camara das expressões que tinham sido empregadas a seu respeito pelo digno par, o sr. Vaz Preto, expressões que, aliás, reputaria merecidas, se porventura tivesse commettido o crime de escrever as phrases descortezes, contra as quaes se pronunciou o nosso collega.

A carta do sr. Hillel é concebida em termos taes que merece que a camara me consinta que a leia e que seja inserta no Diario das nossas sessões (apoiados).

Esta carta é datada de Londres a 3 do corrente, e diz o seguinte:

"Só agora li o Jornal do commercio contendo a exposição do debate que teve logar nas côrtes, e solicito do alto sentimento de honra e de justiça de v. exa. a opportunidade de me justificar na camara dos pares das pesadas expressões empregadas a meu respeito pelo sr. Vaz Preto, expressões que teriam sido bem merecidas se eu tivesse commettido o crime de escrever as phrases descortezes que me foram attribuidas na carta impressa na Union des actionnaires. Esta carta, que era uma carta particular dirigida a um amigo residente em Paris, nunca foi destinada á publicidade, e não continha as expressões tão severamente, mas com tanta rasão, caracterisadas pelo sr. Vaz Preto; o que só proveiu da má traducção feita por uma pessoa incompetente, de uma carta escripta familiarmente em replica a muitas noticias escandalosas, espalhadas aqui pela agencia, carta que, como disse, não tive nunca a menor intenção de publicar. Peço a v. exa., que me tratou com tanta bondade, o favor de exprimir o meu mais profundo pesar, que taes expressões fossem impressas com o meu nome; porém eu me refiro ao jornal L'Union des actionnaires; que no seu numero, que vae apparecer, corrigirá a meu pedido este triste erro, e explicará plenamente como este infortunio teve logar.

"Quanto a s. exa., o ultimo ministro da fazenda, os numerosos documentos e cartas, que houve entre nós, com outros que têem a assignatura do conde de Samodães, serão apresentados aqui aos tribunaes, que terão a decidir sobre a minha reclamação; e por este motivo não abusarei do tempo de v. exa., procurando justificar o procedimento que tive depois de me aconselhar com homens de lei. O meu dever como cavalheiro obriga-me porém a não perder tempo para pedir a v. exa. que me defenda da imputação de ter feito á vossa nação um insulto descomedido.

" Tenho a honra de ser de v. exa. o mais obediente e humilde servo = J. Hillel."

Esta leitura, sr. presidente, dispensa me de mais commentarios. O sr. Hillel declara positivamente que a sua carta não era destinada á publicidade, e que n'ella se não encontravam as expressões, que deviam com rasão ferir a nossa susceptibilidade; encarrega-me alem d'isto de exprimir a esta camara o seu mais vivo pezar de que taes expressões fossem publicadas com a sua assignatura. A camara deve dar-se pois por plenamente satisfeita (apoiados).

Mando esta carta para a mesa e peço a v. exa. que de as ordens necessarias para que ella seja traduzida e impressa com as poucas palavras, com que acompanhei a sua apresentação.

O sr. Presidente: - A camara ouviu as explicações que acabam de dar os srs. Vaz Preto e conde d'Avila. É escusado haver votação sobre o requerimento do digno par, porque tudo o que se diz n'esta casa deve ser impresso no logar competente.

Vamos passar á ordem do dia. Antes d'isso, peço licença para fazer algumas observações muito breves, que julgo necessarias ou convenientes para o desempenho das funcções do logar que occupo n'esta camara.

Ninguem reconhece mais do que eu a necessidade de uma plena liberdade de discussão; mas, se reconheço essa necessidade, reconheço tambem a de procedermos nas nossas discussões com a maxima placidez. Assim convem aos interesses publicos e á dignidade d'esta camara.

Recommendo por isso muito, tanto aos dignos pares, como a s. exas. os srs. ministros, que não usem de phrases offensivas nem que o pareçam.

Os dignos pares têem, sem duvida, o direito de examinar os actos dos ministros da corôa; têem o direito de os censurar e de lhes negar o seu voto; mas têem tambem o dever de respeitar, como devem ser respeitados, os orgãos do poder executivo, que é um poder completamente independente.

Peço aos dignos pares que me revelem estas pequenas exhortações que fiz, movido pelo meu sincero amor á ordem, sem a qual não ha liberdade e zelo pela conservação da dignidade d'esta camara.

Continua com a palavra o sr. ministro da marinha.

O sr. Ministro da Marinha (Latino Coelho): - Continuando o seu discurso, principiado na anterior sessão, fez varias considerações em relação ao que os precedentes oradores haviam exposto, tanto em relação á sua individualidade, como á posição collectiva no ministerio.

(O discurso de s. exa. será publicado na integra quando devolver revista a traducção das notas tachygraphicas.)

O sr. Marquez de Vallada: - Proponho que se prorogue a sessão até se votar este incidente.

Consultada a camara sobre este requerimento, resolveu affirmativamente.

O sr. Presidente: - Tem a palavra o sr. ministro do reino.

O sr. Ministro do Reino (Bispo de Vizeu): - Desejava que algum digno par fizesse primeiro uso da palavra para se não seguirem a fallar dois ministros; mas visto que v. exa. me dá a palavra, alguma cousa direi.

Hei de restringir-me muito, porque a questão que se ventila está demasiadamente discutida, e porque o que tenho a dizer versa apenas sobre tres pontos.

Disse-se que eu tinha illudido a camara com a resposta que dei, quando em uma das sessões anteriores me foi perguntado se existia crise ministerial; o que não é exacto?