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360 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

Discurso do digno par o sr. condo do Rio Maior, proferido na sessão de 16 de abril corrente, e que devia ler-se a pag. 339, col. 1.ª

O sr. Conde de Rio Maior: - Sr; presidente, sinto-me embaraçado ao ter de começar as considerações, que vou submetter a attenção da assembléa.

Disse hontem, ao terminar a primeira parte do" meu discurso, que desejava referir-me a diversos oradores, que teem tomado parte no debate.

Lembrei os discursos do sr. Miguel Osorio e do sr. Macedo, e tirei as consequencias necessarias das palavras pronunciadas por s. exas., notei depois as declarações importantes do episcopado portuguez, e tributei a estes nossos venerandos collegas o meu testemunho de respeito é acatamento. Agora preciso dirigir-me ao digno par, o sr. visconde do Arriaga.

S. exa. não está presente; mas no que vou dizer, creio, não offenderei o digno par.

As palavras de s. exa. não podem ficar sem replica, não tendo eu outra occasião para as notar, e mesmo podendo eu mais tarde esquecer no calor da discussão as graves declarações feitas pelo sr. visconde, e que, muito sentiria, não recebessem resposta.

Tirem-nos, embora, os nossos direitos, mas não alterem a verdade dos factos! S. exa. pronunciou uma phrase que é completamente inexacta.

O sr. visconde de Arriaga affirmou que a hereditariedade não tinha .foros para reclamar justiça ou favor, porque a hereditariedade tinha fugido para o Brazil com El-Rei no momento em que Portugal era invadido pelos francezes!

Devo levantar esta phrase injustissima perante a camara, embora s. exa. não esteja presente; e as minhas palavras ficarão no meu discurso como um protesto solemne contra tão extraordinaria observação.

Primeiro que tudo, nesse tempo, não havia ainda o pariato hereditário, sendo portanto evidente que s. exa. se referia á velha aristocracia.

Sr. presidente, o soberano retirando-se para o Brazil evitou a sorte de Carlos IV de Hespanha, e é ponto muito discutível, se tal resolução foi ou não um erro; mas quem o acompanhou? Os seus camaristas, ministros e alguns velhos, fidalgos; porem os moços e quasi todos os nobres cá permaneceram, cumprindo os seus deveres, quando chegou o momento de levantar o paiz contra a invasão franceza.

Não foram só os filhos da padeira de Aljubarrota que cá ficaram, tambem ficou a- ala dos namorados, levantem-se os manes dos condes de Amarante e de Villa Flor, de João Carlos de Saldanha, José Luiz de Sousa Botelho, depois conde de Villa Real, meu avô, Bernardo de Sá, condes de Alva e de Ficalho, morto peia patria, Mousinho de Albuquerque, Bernardim Freire e tantos outros, que honraram o nome portuguez! (Apoiados.)

Sr. presidente, nessa resistencia homérica contra o estrangeiro não só os homens combateram a bandeira franceza, mas tambem as senhoras; e o sr. visconde pode ler no livro do sr. Pinheiro Chagas o nome- das damas illustres, que, fizeram uma subscripção para se fardarem tres regimentos de cavallaria da côrte. Outros deram cavallos, como os marquezes de Niza e Castello Melhor, a duqueza de Lafões, o marquez de Marialva, os condes da Ribeira Grande e de Alva, etc. O amor da patria era unanime em todos! (Apoiados.)

Não venham, portanto, dizer-se aqui palavras, que são desmentidas pela historia e uma imperdoável injustiça.

Sr. presidente, esta manhã, antes de. vir para aqui, fui aos archivos da minha casa, indagar aonde estavam os filhos do conde de Rio Maior na occasião da invasão franceza.

Trouxe de lá um documento, entre muitos que encontrei, e vou mostrar á camara, onde estes fidalgos se achavam.

É indispensavel que isto fique registado nos annaes dá camara dos pares.

Tenho aqui uma carta, notabilissima e cuja leitura de certo os meus collegas ouvirão com prazer.

Peço attenção para o que vou ler:

"No dia 14 de julho marchamos a tomar parte no sitio, onde temos tido immenso trabalho por não folgarmos mais de seis horas, eu chego neste momento das trincheiras, é meio dia, e ás seis para aã sete já lá hei de estar; é quasi um1 milagre termos tido só dois homens feridos, attendendo ás bombas e balas que andam sempre girando, ha duas horas que rompemos o fogo em tres differentes baterias ao mesmo tempo. São trinta e duas bocas de fogo entre peças de 24 e 68 e morteiros de 10 e 8 pollegadas, achava-me defronte dellas, quando no mesmo instante todas principiaram o fogo, e com verdade lhe posso assegurar que a terra tremia como eu nunca a senti tremer; póde imaginar como estarão os nossos ouvidos. O convento que os francezes tinham em frente da cidade foi antes de hontem tomado, assim como um reducto, que estava junto a elle, pelos caçadores n.° 4 da minha brigada, pelos caçadores n.° 5, e por uma brigada ingleza da terceira divisão; perdemos pouca gente, e fizemos alguns prisioneiros. Dizemos artilheiros que para os dias 26 ou 27 já teremos brecha praticável, e então ao assalto, com o favor de Deus não duvidamos do resultado."

Sr. presidente, este grito de guerra do nobre João Carlos do Saldanha, filho dos condes de Rio Maior, em frente de S. Sebastião, lembra os antigos cruzados, combatendo os infiéis o clamando "Deus o quer!"

Creio que a camara dos dignos pares estimou ouvir ler esta carta daquelle, que mais tarde foi conhecido dos portuguezes pelo nome illustre do marechal duque de Saldanha. (Apoiados.)

E se não receiasse abusar da paciencia da camara, leria aqui alguns outros documentos notaveis, que attestam o patriotismo dos meus maiores.

Tenho, e orgulho-me com taes pergaminhos, as ordens dadas aos meus ascendentes no celebre dia l.° de dezembro de 1640 e nos dias immediatos para a revolução contra os hespanhoes, e tenho tambem a carta do duque de Bragança a Antonio de Saldanha para ir a Almada combinar com elle os projectos da restauração.

Nós tivemos sempre tres principios: a fé catholica, o amor á independencia, e o amor á liberdade! (Apoiados.)

E ainda existe minha mãe, que emigrou com o partido liberal, como outros dos meus foram presos, feridos e combateram contra a usurpação! (Apoiados repetidos.)

Vozes: - Muito bem.

O Orador: - Não venham, portanto, aqui dizer-se essas cousas, e eu sinto não estar presente o digno par a quem me tenho referido, porque desejava que s. exa. ouvisse a justa defeza da aristocracia portugueza.

Palmella, Saldanha e Villa Flor foram os heroes. da liberdade,!

Sr. presidente, continuemos na analyse dos discursos dos defensores do projecto; desejava referir-me ao sr. ministro da marinha, mas calo as minhas observações, visto B. exa. não estar presente. Cito com preferencia outros dois oradores, o meu prezado amigo e collega o sr. Thomás Ribeiro, digníssimo relator da commissão, e o sr. Antonio de Serpa. Os discursos d'estes dois cavalheiros, embora pessoas muito illustradas -, não significara haver maior numero de combatentes a favor do governo, pois s. exas. estão assignados no relatorio ministerial das reformas como ministros, que então eram, quando o projecto foi apresentado.

Não são, portanto, s. exas. generaes novos, que vem juntar-se ao exercito, que defende a praça; s. exas. já lá estavam.

Mas o digno par e meu amigo o sr. Antonio de Serpa, que defendeu o projecto, ha de permittir que lhe diga mais