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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 363

e da aguardente, o déficit seria apenas de 172:000$000 réis. Sr. presidente, por um instante não temos aquelle celebrado saldo positivo de 27:000$000 réis de 1872!

Na mesma occasião, quasi, em que o sr. presidente do conselho apresentava estas suas contas, fallava sobre ellas na camara dos senhores deputados o sr. José Luciano de Castro.

Essa resposta merece consignar-se aqui nos seus pontos principaes.

Segundo o sr. Luciano de Castro, o déficit da gerencia de 1882-1883 foi de 6.505:247$298 réis, sendo réis 3.123:159$439 o déficit ordinario e 3.382:087$859 réis a despeza extraordinaria. Quanto ao exercicio o déficit foi de 5.366:000$000 réis; mas eliminando destes cálculos os 2.550:000$000 réis, de conversão, teremos um déficit de 2.800:000$000 réis.

Porem, dizem as contas que só se gastaram 32.830:000$000 réis, e a despeza ordinaria e extraordinaria votada fui de 35.019:129$884 réis; devia haver, portanto, uma economia de 2.200:000$000 réis, na qual não se crê.

Logo, como a apreciação do déficit de 2.800:000$000 réis parte da base que se gastaram só 32.830:000$000 réis e esta base não é provavel, segue-se que o déficit é maior.

Não acredito na economia dos 2.200:000$000 réis, porque foi no orçamento rectificado que se pediram os réis 35.019:000$000 réis, e de duas uma, como disse o sr. Luciano de Castro, ou as despezas foram feitas, e não estão descriptas, ou ainda não foram feitas e hão de fazer-se.

Sr. presidente, quando ouvi os louvores do sr.- Fontes á sua gerencia de 1882-1883, quiz ver se as cousas caminhavam ainda hoje tão bem, como deviamos suppor pelas palavras do sr. Fontes, e foi, por isso que eu fiz os cálculos a respeito do déficit de 1883-1884, e observo com sentimento que elle se ha de approximar muito das contas feitas sobre a gerencia de 1882-1883.

Sr. presidente, o que eu disse, no meu primeiro discurso, e o que foi completado pelas declarações do sr. Luciano de Castro, é a condemnação cabal das gerencias financeiras do sr. presidente do conselho. (Apoiados.)

O sr. presidente do conselho veiu aqui dizer-nos tambem que a divida fluctuante havia diminuido, e eu provei, comparados os mezes dos annos de 1883-1884, que ella accusava extraordinario augmento.

Digo estas cousas todas com profundo sentimento; queria dizer o contrario. (Apoiados do sr. conde do Casal Ribeiro.)

O que é facto, e peço muito a attenção da camara sobre este ponto, é que dois terços da nossa receita, effectuado o emprestimo que se projecta, hão de ser absorvidos pelos encargos da divida publica.

E note-se que o digno par o sr. conde do Casal Ribeiro já declarou no seu relatorio, por vezes aqui citado, que acha grave a situação financeira, quando os juros da divida fundada absorvem quasi um terço da receita publica.

Peço aqui licença para fazer uma rectificação.

Os srs. Ornellas e conde do Casal Ribeiro disseram que, alem das receitas ordinarias, se tinham despendido réis 22.089:000$000.

Lembro a s. exas. que faltou addicionar os 2.500:000$000 réis, lucros da conversão, (Apoiados do sr, conde do Casal Ribeiro.) e isto dá-nos um total de 24.589:000$000 réis, que o governo gastou, e ha de gastar, alem das receitas ordinarias, pois 5.238:000$000 réis pertencem á despeza extraordinaria projectada para 1884-1885.

Estes 24.589:000$000 réis ao juro de 6 por cento, e ha emprestimos feitos muito mais caros, representam um encargo permanente de 1.475:000$000 réis.

(Pausa.)

Não me parece que eu seja exagerado ou faccioso calculando o juro a 6 por cento. (Apoiados.)

Ora, sr. presidente, o fiel da balança das nossas condições financeiras é a baixa dos fundos publicos.

Este negocio é gravissimo, e a camara sabe perfeitamente que os fundos portuguezes em Londres têem tido uma baixa.

Estavam elles ali ultimamente a 51, contando o juro do trimestre, e isto significa que os nossos fundos baixaram ultimamente naquella praça a 49 1/2!

Isto é importantissimo, porque a camara sabe muito bem que os negociadores do emprestimo de 4.089:000$000 réis teem o exclusivo das negociações para o emprestimo dos 18.000:000$000 réis, e não tendo podido até hoje fazer a, emissão do emprestimo de 27 de dezembro de 1883, são interessados em manter a alta dos nossos fundos.
Apesar disso os nossos fundos em Londres baixaram.

O sr. presidente do conselho, no relatorio financeiro que publicou o anno passado, veiu contar-nos delicias a respeito dos muitos capitães dos estabelecimentos bancarios em Portugal.

Nesta ordem de idéas, eu vou tambem referir o que se passa actualmente nalgumas desses institutos de credito.

Não é falta de patriotismo, ha vantagem pelo contrario em se dizer aqui a verdade nua e crua ao governo, para ver se é tempo ainda de pararmos nesta marcha fatal.

Durante a guerra d Criméa o parlamento inglez discutiu a péssima organisação do seu exercito; os erros emendaram-se, ninguem disse que os factos confessados não tivessem o cunho dos sentimentos mais patrioticos, e Sebastopol foi tomada!

Tenho aqui uma nota, tirada do relatorio que a direcção da associação dos empregados no commercio e industria apresentou na sua assembléa geral. Diz ella:

"O déficit tem sido saldado com os juros do nosso fundo consolidado; porem, achando-se este empregado todo em fundos publicos, não póde a direcção, sem faltar aos deveres que lhe impõe a sua consciencia, deixar de notar a vossa imprevidencia.

"Os encargos do estado augmentam todos os annos, o por consequencia o receio começa a preoccupar muita gente. Ha associados que entendem, e é tambem opinião da direcção, que não é prudente termos o nosso fundo todo em poder do estado.

"Temos mais de 200:000$000 réis em inscripções e obrigações do estado. No dia em que o thesouro suspender o pagamento dos juros da divida publica, o que não será para admirar, teremos a associação em bancarota.

"Cumpre nos zelar os interesses de muitos associados que, na sua cega confiança, deixam de fiscalisar como deviam, se a associação lhes tem garantido o seu futuro. Se a associação imprevidentemente empregar tão mal os seus fundos, que não possa contar com elles em occasião opportuna, deixa de corresponder a essa confiança.

"A direcção, chamando a vossa attenção para este assumpto, que interessa a todos nós, julga ter cumprido o seu dever, e espera principalmente que o tempo se encarregará de fazer justiça á pureza das suas intenções."

Sr. presidente, é facto que se empregaram todos os esforços para que este relatorio não fosse approvado; todavia, as suas conclusões tiveram a unanimidade dos votos!

Outras associações teem procedido pela mesma forma. O monte pio geral auctorisou, segundo me consta, a sua direcção a empregar os seus fundos disponiveis em titulos estrangeiros, e a associação de soccorros mutuos de S. José resolve pela mesma maneira que a associação dos empregados de commercio.

É bem triste tudo isto!

São factos desgraçadissimos. Peço á camara que os tomo em muita consideração.

Nós estamos representando o papel de uma assembléa conservadora, desejando evitar que este paiz se perca. Não hão de ser 900:000$000 réis empregados em armas que hão de salvai o. No dia, era que Portugal tivesse uma guerra, cada um de seus filhos imitaria o exemplo dos patrio-