1950
ãos apoiaãos) que os factos históricos abonam a sua proposição; senão veja-se como ainda em 1840^ ao patentear-se uma desintelligencià de caracter hostil com o reino visinho logo desappareceram os partidos; o nobre visconde de Sá, que fazia forte opposição ao ministério em que se achava o sr. conde de Thomar, foi governar a provincia do Alemtejo (apoiaãos), muitos individuos pertencentes ao partido opposto á actual fdynastia foram assentar praça de soldados. (Vozes:—É verdade.) E que se os portuguezes desgraçadamente dão espectáculos mais ou menos desagradáveis nas desintelligencias continuas das suas questões domésticas, é certo que todas as vezes que a pátria correr perigo, principalmente na sua independência, apparece logo uma só nação unida, compacta (apoiaãos estrepitosos.) o acabaraín-se as desintelligencias (apoiaãos repetiãos.) A ausência do perigo fãz desfarçar esta convicção geral (apoiaãos.); se, desgraçadamente elle apparecesse, a demonstração geral, expontânea e como que á porfia, 'hão se faria esperar: viria immediatamente. Isto é que é a verdade, que todos reconhecem (apoiaãos geraes.) E comtudo também deve declarar, que alguns estranhos, que desconhecem a nossa situação e os sentimentos da universalidade dos habitantes d'esta terra, concorrem com as suas imprudências para uma certa excitação bem natural, quando se vêem dispor da nossa sorte, suppondo talvez que somos uma nação sem a primeira de todas as virtudes civicas, que é a convicção profunda do direito da nacionalidade. Se nós estivéssemos reduzidos a esse estado, se fossemos tão pouco briosos que o sentimento do, nacionalidade fosse mullo, não iriamos dar força a ninguém; pois é claro que a união de homens por tal forma abatidos não augmentava o poder de ninguém. Mas não; tanto pelas recordações históricas, como pela convicção da força dos nossos sentimentos, ha no coração dos portuguezes a certeza de poderem assegurar, conforme com todo o rigor da verdade, que entre nós não existe espécie nenhuma de iberismo (apoiaãos.) O que existe claro, distincto e decidido é o sentimento portuguez (muitos apoiados.)
O sr. ministro folga tanto mais de dizer isto agora, quando é certo que se acha n'uma camará, onde todos podem contemplar os descendentes de tantas illustrações os representantes de tantos serviços a favor da mesma nacionali--dade. (O sr. Marquez ãe Vallaãa: — Também já n'esse tempo houve excepções). Excepções, ha sempre, e o verso que o digno par citou do nosso insigne Camões, principe dos poetas, pôde ser applicado a todas as nações, porque todas se queixam do mesmo defeito; agora o que nem todas as nações têem tido é a fortuna de contar no .numero dos seus poetas um de tal ordem, que cante os defeitos a par dos grandes proezas e virtudes heróicas (apoiaãos). Isso foi um merecimento singular de Luiz de Camões; pois em quanto se queixava das faltas de alguns portuguezes, mostrou com a elevação do seu talento a força e poder das virtudes da nossa exemplar nacionalidade; e aqui pede licença ao digno par, que tanto recorreu a auctoridades litterarias, que elle sr. ministro Jhe diga, que da parte do nosso insigne poeta, o seu maior talento revelava-se no seu grande sentimento de nacionalidade... (apoiaãos). E a historiado tempo. (O sr. Marquez ãe Vallaãa: — Mas apesar d'isso...) Apesar d'isso houve um desastre... mas qual é a nação que os não conta? As que contam maior superfície de território e que blasonam de seus recursos, não tem sido poupadas pelos revezes mais atrozes da adversidade.. Não basta ser uma grande nação, rica de elementos de prosperidade, eminentemente militar, ainda assim muitas vezes um desastre zomba dos grandes esforços que se fazem para o evitar. (O sr. Marquez de Vallada: — Por exemplo, a Polónia com um tão forte espirito de nacionalidade). E verdade, e por isso, lhe custa tanto a perde-lo. (O sr. Marquez de Vallada: — E verdade).
O sr. ministro entende que o reconhecimento por parte do governo portuguez relativamente a um facto, quando esse facto já tiruha sido reconhecido por duas nações, como a Inglaterra e a França, não pôde ter outra significação que a de aceitação de um facto consummado; mas o que não pôde também deixar de dizer, e pondo de parte a questão a que o digno par se referiu sobre as annexações, o que, como membro do gabinete de um paiz constitucional, não pôde occultar é a satisfação pela dilatação das instituições constitucionaes. (Apoiados. — O sr. Marquez de Vallada:— Nessa parte sim, mas não era preciso...) Estima muito que este systema de governo ganhe cada vez mais o desenvolvimento de taes instituições liberaes (apoiados). E dado o caso significativo de terem as nações mais prin-cipaes da Europa prestado o seu reconhecimento, não pôde elle, sr. ministro, deixar de estar convencido de que o governo não foi imprudente nem impaciente na manifestação ,da sua acquiescencia, reconhecendo um facto que tinha tido logar. •<
Mas, diz o digno par que nós puzemos duvida em acquies-cer a um convite feito pela nação visinha para que colle-ctivãmente nos unirmos numa manifestação diplomática... Em resposta observa que todos os seus collegas têem a maior consideração pela nação visinha, d'onde todos têem recebido demonstrações e provas de que aquelle governo tem a respeito do nosso paiz as intenções mais amigáveis, e o desejo mais inalterável da conservação da paz entre as duas nações. Mas o convite para Portugal se associar a uma manifestação diplomática, com quanto estejamos perfeitamente de accordo na sinceridade das sympathias a favor do chefe visivel do catholicismo, entendemos que devia haver uma rasão de reserva, porque poderia essa manifestação não ser considerada como mera manifestação de respeito e sympa-. thia pelo chefe da igreja.
Todos sabem que a Áustria e a Hespanha são duas nações que têem tido na Itália um interesse differente, estando
ligadas immediatamente com alguma* das nações que-deixaram de existir, ou que perderam algumas provineiasnos últimos acontecimentos. Logo é evidente que nós-tínhamos alguma rasão mais para nos não associarmos a umamani-festação, que aliás'no fundo achámos-fundada, e muito merecida-para o chefe visivelcda" igreja; mas pareceu qucha-via o perigo dê se poder supporque-víamos--a ¦questão-ita-liana debaixo do mesmo ponto*de vista^que1 áquellas- duas nações, que''têem-'irrteresses disíinctos^renes «na península italiana, para collectivamettte tratarem' de"uma demonstra»-ção. De mais, Portugal'já'tinha dado provas do quanto desejava, como deseja, prestar todo o apoio-necessário para segurança do chefe visival da igreja; cassim parece que não lhe ficava mal o não tomar parte- n'uma -manifestação diplomática de duas nações em circurnstancias differentes; se, conforme o que tem, ehVsr: ministro, expendido, a pu-dencia aconselhava a que nos-não'associássemos, sem embargo, da pureza dos nossos sentimentos, que todavia não obstam a que se conheça que convém ter muito em vista o evitar que se confundam, ou tomem n'outro sentido. Assim, elle orador, apesar de não ser isto um negocio que corra pela sua repartição, toma a responsabilidade do acto.
Parece-lhe que a hora já deu. ( Vozes:—Continue amanhã.) Pede pois licença para acrescentar somente meia dúzia de palavras, porque lhe repugna bastanta dividir um discurso em duas partes, ficando a segunda para outro dia. Prefere contrahir as suas idéas, e mesmo assim limitar-se-ha agora tão somente ao ponto em que o digno par, o sr. marquez de Vallada, questionou com o digno par o sr. Aguiar, sobre a confirmação da nomeação de arcebispo para Goa. O sr. ministro lembra que já disse n'um d'estes dias, respondendo ao sr. Joaquim Antonio de Aguiar, que o governo actual não tinha o merecimento da solução de similhante negocio; que rião podia portanto aceitar censura nem elogio, visto que tinha seguido o negocio do único modo que era possivel segui-lo no estado em que o achara. Havia um officio do sr. Ferreri, n.o qual, fazendo-se menção das difficuldades que se encontravam, se dizia o seguinte (leu).
Parece pois ao orador que fica demonstrado, bem claro e evidente, que, depois d'isto, não ficou o governo em boa posição para poder seguir caminho differente d'aquelle que seguiu em relação á nota reservada que existia. São estas as explicações que pôde dar ao digno par na estreiteza do tempo que hoje teve para lhe responder; e assim mesmo tem que pedir perdão á camará de lhe ter tomado algum tempo, alem da hora estabelecida para o encerramento das suas sessões. •
O sr. Presidente: — Ainda se acham inscriptos alguns dignos pares, por isso continuará amanhã esta discussão. Está levantada a sessão.
Eram quasi cinco horas e meia da tarde.
Relação dos dignos pares que estiveram presentes na sessão do dia 19 de julho de 1861
Os srs. Visconde de Laborim*; Marquezes de Ficalho, de Loulé, de Niza, de Ponte de Lima, de Vallada; Condes do Bomfim, da Louzã/de Mello, de Peniche, da Ponte de Santa Maria, de Rio Maior, do Sobral, da Taipa; Bispo de Beja; Viscondes de Algés, de Benagazil, da Borralha, de Castellões, de Castro, de Fornos de Algodres, da Luz, de Sá da Bandeira; Barões das Laranjeiras, de Pernes, da Vargem da Ordem, de Foscoa; Mello e Carvalho, Avila, Mello e Saldanha, Sequeira Pinto, F. P. de Magalhães, Ferrão, Costa Lobo, Margiochi, Aguiar, Soure, Larcher, Braamcamp, Pinto Bastos, Reis e Vasconcellos, Izidoro Guedes, José Lourenço da Luz, Baldy, Vellez Caldeira, Franzini.