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740 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

tante tempo a conduzir-me. Seria para mim de grande regosijo, e satisfação vel-o recompensado como merece.»

Ora, o digno par encontra já hoje no Diario do governo a lista d’estes valentes e não encontra só os que pertencem á força naval, mas tambem alguns pertencentes ao exercito da provincia.

Vejâmos, para apreciar, o serviço d’estes, o que diz ácerca da acção o capitão, mór das Terras Firmes.

«Permitta-me agora v. exa., que eu faça umas observações como fim d’este meu relatorio. No combate havido no dia 1 tornaram-se notaveis bastante os officiaes que me acompanharam. O capitão Cotoja e alferes Ferreira deram prova de valentia e coragem. Cordatos na lucta, obedientes sempre ás ordens de mim dimanadas, obraram como deviam sem medo e sem terror. O guarda marinha Ferreira merece especial menção. Corajoso como poucos, viu-se ferido, prostrado, sem forças, para se deter de pé, e incutiu continuamente coragem aos seus soldados. Se valentes ha, o guarda marinha Ferreira póde bem ser contado, no numero d’elles. Nada o desanimou, nem mesmo a esperança da morte que bem podia estar ali. Portou-se tão dignamente n’esta lucta que ouso recommendal-o á munificencia dos poderes superiores.»

Mais adiante diz tambem do commandante militar de Matibane o seguinte:

«O commandante militar de Matibane honra a classe dos officiaes da provincia. Sustentou um cerco de doze dias seguidos, sem nunca arredar um passo sequer da sua conducta que a sua situação marcou, e poucos, muito poucos, se mostrariam no seu logar tão corajosos, e animados. Sustentou-se com a dignidade que era precisa a um representante do governo; sustentou-se, como se devia sustentar um verdadeiro militar. Soffreu falta de agua durante dois dias é nada d’isso o desanimou.»

E aqui devo dizer que a esposa d’aquelle commandante, n’uma situação verdadeiramente critica, tendo, presenciado aquella resistencia, abandonou tudo, foi até Moçambique e dirigindo-se ao capitão mór das Terras Firmes disse-lhe:

«Rogo-lhe para salvação de meu marido e d’aquella pobre gente com elle cercada, que venha commigo, só, desacompanhado de toda a força e apparato militar, pois a sua presença tudo poderá e será a maneira unica de nos salvar».

O capitão mór dás Terras firmes, que a principio declarara que lhe parecia empreza arriscadissima, porque tinha vindo d’aquelle ponto ha poucos dias e presenciára a grandeza do combate, acompanhou, por fim, aquella senhora apesar de ver o perigo a que se sujeitava; cedeu ás suas insistencias, acompanhou-a embarcando, com pouca gente armada em um escaler a vapor e seguindo assim para Conducia. Ahi desembarcou só, com a senhora do commandante, e bem recebido pelos indigenas acceitou as pazes que estes lhe offereceram e salvou o commandante.

Teria sido muito para desejar que as cousas se tivessem passado por uma fórma diversa; seria realmente apreciavel que não tivessem occorrido as circumstancias que tolheram o applicar um severo, e exemplar castigo á desobediencia, ao motim, e ao insulto soffrido pelas nossas forças e já aqui apontado; mas não sendo possivel usar os meios, violentos para castigar, a rebeldia, é dever de todos prestar homenagem ainda assim aos actos brilhantes praticados por estes benemeritos militares.

Acrescenta, pois, e com rasão, o capitão mór:

«Se a s. exa., o sr. conselheiro, governador geral parecerem bastante magnanimos estes actos de coragem e valentia, de certo se não esquecerá de contemplal-os, visto, que poucas vezes se dão. Mais um Homem ouso recommendar a s. exa., é o segundo ajudante das Terras Babar. Ha tempo já no assalto a Calujelo se conduziu brilhantemente. No meu, relatorio de então fil-o lembrado. D’esta vez pude collocal-o à par dos que acima aponto. Foi ferido por uma bala n’uma perna e aquelle homem sem educação, sem principio algum que lhe fizesse comprehender que a coragem no homem serve para salvar muitas victimas, não desanimou, conservou-se sempre a meu lado, e no mais acceso da lucta era um dos melhores combatentes, e já ferido com um buraco enorme na perna a gotejar-lhe sangue não consentiu que ninguem o conduzisse e retirou sempre de baixo do fogo sem a menor prova de covardia ou medo.

E tudo isto será publicado nos Diarios da camara, registando-se assim o bom serviço feito á patria e á bandeira portugueza.

Vejo pois v. exa. a fórma por que procederam este official e as praças do exercito de Moçambique, e por este motivo encontrará no Diario do governo a demonstração official do agrado com que tão bons serviços foram recebidos por El-Rei.

Já estão, pois, condecorados todos os valentes marinheiros e os não menos valentes militares do exercito de Africa que entraram n’aquella acção, e os seus nomes lá se acham estampados por extenso no Diario do governo.

Nada mais direi, porque me parece que d’este modo respondi todas as observações feiras pelo digno par o sr. Vaz Preto, mostrando a justiça com que o governo procurou premiar aquelles que tanto honraram a bandeira nacional.

O sr. Conde, de Castro: — Pedia a v. exa. que consultasse a camara sobre se quer que se prorogue a sessão até, que se vote o projecto em discussão e se proceda á eleição de dois Vogae para a junta ao credito publico, eleição que estava dada para ordem do dia de hoje.

Consultada a cardara, resolveu affirmativamente.

O sr. Conde de Linhares: — Sr. presidente, depois do discurso que acaba de pronunciar o sr. ministro da marinha e da leitura dos documentos officiaes feita por s. exa., seria perfeitamente escusado, que eu tomasse a palavra n’esta questão, senão fosse o desejo que tenho de elucidar algumas duvidas do digno par o sr. Coelho de Carvalho.

O digno par disse que não tinha difficuldade em dispensar, o exame pratico ao guarda marinha agraciado, por isso que entendia que sendo em geral, approvados os guardas marinhas todos por occasião, do exame pratico, e tendo o agraciado já os estudos theoricos indispensaveis da escola naval, esse exame era na sua opinião uma inutilidade e que até mesmo deveria no futuro ser dispensado a todos como superfluo. Não acontecia assim em relação á dispensado tirocinio pratico, porque o digno par entendia que era impossivel dispensar aos guardas marinhas a experiencia e a pratica da vida do mar, e que por isso se lhes exigia um tirocinio de tres annos antes da promoção a segundos tenentes, e que n’este sentido, apesar de approvar o premio devido ao valor do guarda marinha, mandava o digno par para a mesa uma emenda riscando as palavras que se referem á dispensa do resto d’este tirocinio pratico, que devia cumprir o agraciado.

Tenho a maior consideração pelo digno par e sinto não poder concordar com a sua opinião.

Emquanto ao exame é elle um principio, uma excellente pratica que não deve ser alterada ou abandonada. Porque, se é verdade que em geral os guardas marinhas têem sido todos approvados n’este exame, é porque, conhecendo, elles que, não podem ser promovidos sem esta condição a segundos tenentes, têem naturalmente o cuidado de se prepararem para passar satisfactoriamente por essa prova, sendo este estudo a que se entregam muito proveitoso para o seu futuro como officiaes.

Acresce que é esta uma excellente occasião de mostrarem a sua já adquirida pericia em manobra e calculos nauticos, tornando-se conhecido dos seus camaradas e seus superiores; emfim, para encurtar palavras é esta uma habilitação da maior importancia que termina digna e satisfoctoriamente os estudos da escola naval e tirocinio pratico exigidos pela lei para o posto de segundo tenente em que têem já de commandar quarto a bordo, respondendo assim pelas vidas das tripulações o que não convem ser