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SESSÃO DE 25 DE JULHO DE 1887 745

plena confiança, não consentiu, e encarregou-o do commando de todas as forças, dando lhe a direcção plena.

Foi, pois, encarregado da missão de tomar Tungue e Meningane, e, para bem avaliar a importancia do encargo, é necessario notar as circumstancias em que se encontravam estes dois pontos.

Meningane estava defendida, por um numero importante de arabes e indigenas fornecidos pelo walli de Tungue, e sabia-se, por communicação do governador do forte de Mocimboa, que o regulo de Massucá estava combinado com o walli de Tungue para fazer a guerra aos portuguezes em toda a costa, desde Mocimboa até Tungue.

N'estas circumstancias, era preciso operar rapidamente, porque tanto arabes como indigenas queriam atacar e era mister desnorteal-os com uma medida prompta e arrojada.

No desempenho da commissão que lhe estava commettida, começou pois o governaor de Cabo Delgado por fazer bombardear Meningane a fim de preparar o desembarque, o qual effectuou com agua até ao peito; e, á frente de 35 soldados de caçadores 1 de Moçambique e de 30 marinheiros da guarnição da canhoneira Douro atacou e tomou a povoação, que estava defendida por tres peças e muita gente, que fazia una fogo vivo pelas seteiras das casas.

Effectuado este primeiro feito de armas, cujo exito se deve em grande parte á intelligente direcção que ao ataque deu o ex-governador de Cabo Delgado, posta em chammas a povoação, e reembarcadas as tropas foi elle, proprio levar a noticia ao governador de Moçambique, que ficou muito surprehendido e admirado, pois não contava que com tanta presteza, e rapidez aquelle territorio passasse outra vez ao dominio de Portugal. Felicitou e elogiou o valenfe official de cujos feitos eu me tenho occupado, e reuniu immediatamente conselho de officiaes, que decidiram o ataque a Tungue.

Comtudo entendiam que as forças eram em pequeno numero para empreza tão arrojada, e julgaram necessario mandar vir de Moçambique o batalhão de caçadores n.° 1. O commandante da expedição, que tem o instincto da guerra e dos officiaes bravos, e que comprehendia bem que na guerra a arte principal é saber tirar todas as vantagens do desanimo que as derrotas causam, entendeu que era necessario atacar immediatamente Tungue com quaesquer forças que tivessem disponiveis. Assim o fez, pondo-se á frente dos 35 caçadores. Com este punhado de homens mandou remar para Tuogue, e para que os barcos não ficassem em secco, o que é perigosissimo em qualquer retirada, saltou, a 200 metros de distancia da praia ao mar com agua pelo peito sob um fogo vivo e bem entretido, e avançou a marcha em Tungue, onde entrou e arriou a bandeira do sultão, substituindo-a pela portugneza. Foi então soccorrido por um destacamento de 30 soldados da Affonso de Albuquerque, que acabou o resto, pondo Tungue completamente em poder de Portugal. Aqui tem v. exa. e a camara como foi tomada Meningane e Tungue, e como do norte ao sul, do nascente ao poente tremula hoje em todo o territorio de Cabo Delgado desde Tungue até Mocimboa a bandeira das quinas.

O sr. Palma Velho n'esta empreza deu utna grande prova do seu tino militar, pois escolheu a occasião mais proficua para o ataque, e dispoz tudo para que o desembarque e reembarque se fizesse com marés favoraveis para evitar qualquer desastre ou revez. Tudo foi o melhor combinado.

Sr. presidente, estes feitos gloriosos foram devidamente apreciados pelo governador de Moçambique, que reconheceu e elogiou o valor, a pericia, o arrojo, e ao mesmo tempo a prudencia e o tino militar d'este official.

Eu pergunto ao sr. ministro, todos estes acontecimentos que acabei de narrar são ou não verdadeiros?

Constam ou não de documentos officiaes, enviados ao governo da metropole pelas estações competentes?

É ou não verdade que estavamos desapossados d'aquelle territorio ha perto de meio seculo, e que as quinas de Portugal durante todo este tempo nunca mais tremularam ali?

É ou não verdade que não podemos chegar a uma resolução pacifica com o sultão por causa de outras potencias, que lançavam já olhos cobiçosos para aquellas nossas possessões?

É ou não verdade que o governo portuguez estava n'uma critica situação, de que o salvou o arrojo do sr. Palma Velho tomando immediatamente Meningane e Tungue?

Eu appello para a consciencia e lealdade do sr. ministro e espero que com toda a franqueza declare se a exposição que eu fiz e que se resume n'estas perguntas é ou não verdadeira?

Sendo estes acontecimentos verdadeiros e reaes, taes quaes eu os narrei, e representando elles valiosos e relevantes serviços, pergunto eu ao sr. ministro qual a rasão por que não foram até hoje devida e condignamente remunerados?

Sr. presidente, eu sei que o sr. ministro da marinha me vae dizer que na folha official já veiu publicada a graça com que o sr. Palma Velho foi galardoado.

É verdade que na folha oificial veiu publicada a noticia, do sr. Palma Velho ter sido agraciado com a commenda da Torre e Espada, sem se referir aquella folha aos gloriosos feitos sobre que recaíu aquella graça. Mas eu entendo que não é recompensa bastante; entende-o commigo o governador de Moçambique, que julgou que essa graça lhe devia ter sido concedida em 1886 quando elle arvorou a bandeira portugueza na margem sul do rio Meningane. Eu entendo que esta graça não é bastante porque ella vae impedir aquelle valente militar de requerer a medalha de oiro, que elle conquistou em campo de batalha. Eu entendo que aquella graça não podia ser dada ao sr. Palma Velho premiando serviços, quando ainda ha bem pouco tempo foi dada a quem os não tem prestado.

Sr. presidente, se se désse um posto de accesso sem prejuizo dos mais antigos ao sr. Palma Velho e conjunctamente a commenda da Torre e Espada, que já em tempo tinha sido proposta pelo governador geral de Moçambique, eu nada teria a dizer; mas assim não posso deixar de clamar bem alto que o governo, não sabe premiar feitos gloriosos, ou porque os não comprehende, ou porque é incapaz de os praticar. Estou certo que, se o governo comprehendesse bem o valor e importancia d'aquella empreza, não seria tão mesquinho em premiar.

Eu pergunto ao sr. ministro da marinha ainda, se é ou não verdade o que dizem os relatorios do governador geral de Moçambique, e se são ou não merecidas as palavras com que este governador elogia o procedimento do sr. Palma Velho? Se são verdadeiros os relatorios, e merecidas as palavras de elogio do governador, é por elles que s. exa. tem de fazer obra. Tudo o mais é incorrecto e pouco regular.

Pergunto ainda ao sr. ministro da marinha se o territorio de que tenho fallado, e que ha mais de quarenta annos era reclamado pelo governo portuguez, estão ou não hoje no dominio de Portugal, e se isto é ou não de grande importancia e vantagem para nós?

Desejava que o sr. ministro da marinha, respondendo a estas perguntas, me dissesse se são ou não para ter em muita consideração os actos praticados em Meningane e Tungue, e se pelo facto d'este distincto official não ter sido ferido não merece um posto de accesso?

Veja s. exa. o absurdo a que nos leva a sua doutrina, de entender que os premios e os postos de accesso são só para os que foram feridos.

Supponhâmos que o sr. Palma Velho, em logar de vencer, em logar de se apossar do territorio que reclamavamos, que era no desembarque immediatamente ferido. En-