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que convide o digno Par a declarar se se allude a mim nas expressões que acaba de proferir.

O orador — Eu vou dizer qual é o meu pensamento.

Corre entre muitas pessoas, que reputo bem informadas sobre os acontecimentos publicos de certa época, que o digno Par sustentára a necessidade da abdicação de Sua Magestade.

O Sr. J. M. Grande — É uma calumnia que se me lança do lado do Sr. Conde de Thomar.

O orador — Oh! Sr. Presidente, pois esta mesma allusão não foi já aqui apresentada pelo digno Par o Sr. Marquez de Vallada?... Foi de certo, e com tudo o digno Par ficou callado.

O Sr. J. M. Grande — Fiquei callado porque não fiz caso.

O orador — Não fez caso?...

O Sr. Marquez de Vallada — Peço a palavra.

O orador — Pois devia fazer caso, o negocio é demasiado serio para delle se não fazer caso.

(Susurro.)

O Sr. Presidente — Eu peço ordem.

O orador — Eu sei que V. Em.ª tem razão, mas ha de considerar que um homem atacado como eu tenho sido, tem todo o direito a defender-se e a redarguir.

(Muitos apoiados do lado direito).

Eu refiro factos, e digo o que por ahi muita gente diz e assevera.

O Sr. J. M. Grande — E eu digo que diz, pelo que me respeita, uma calumnia.

O orador — Pois ha quem diga que o nobre Presidente do Conselho, o Sr. Duque de Saldanha, tinha tido o pensamento de propôr o digno Par para Ministro do Reino, e não levara avante o seu pensamento, por isso que S. Ex.ª insistia no seu projecto da abdicação do Chefe do Estado.

O Sr. J M. Grande — Repito que é uma calumnia.

O orador — Não sei se é, porque eu aqui sou historiador e nada mais.

(Sussurro).

Sr. Presidente, eu fallei no Commando em Chefe do Exercito, porque intendi (e com isto respondo tambem ao digno Par o Sr. Ferrão), que se o Duque de Saldanha não devia continuar no Ministerio da Guerra, pelos mesmos motivos não devia continuar no Commando em Chefe do Exercito, que era uma commissão muito activa, e que demandava muito trabalho e incommodo, e porque considerando-a pelo lado da despeza, não sendo esse cargo uma cousa indispensavel em tempo de paz, intendia que o mais conveniente seria supprimir essa verba que tanto pesava sobre o nosso Thesouro; e tanto mais me parecia conveniente esta suppressão, quando eu estava convencido, que era muito prejudicial ao paiz achar-se á frente do Governo um homem, que por meio de uma revolução havia creado esta situação.

Mas, Sr. Presidente, eu não tinha outro meio de poder fallar no Duque de Saldanha a este respeito, se não chamando-lhe revolucionario, e a fallar a verdade, não sabia que isso fossei um titulo deshonroso e affrontoso para S. -Ex.ª, que em actos officiaes se dá esse titulo! Ahi estão as Notas diplomaticas, e as Ordens do Dia, em que o Duque de Saldanha diz, que para conservar o equilibrio dos poderes politicos appellou para o coração do soldado! É estes documentos, em que o Duque de Saldanha se declara revolucionario, estão assignados por S. Ex.ª mesmo! Pois envergonham-se de que eu refira um facto, que o Sr. Duque de Saldanha considera como o acto mais honroso da sua carreira militar, e como o maior serviço que tem feito á sua patria? Escandalisam-se de que eu leia a primeira pagina da historia da regeneração? Quereis que aquillo que foi deixe de ser, quero dizer, que não tenha existido, o que effectivamente existiu? Provai que o Duque de Saldanha, não se atrevendo a sustentar nesta Camara uma opposição legal, e constitucional, não abandonou a sua cadeira de Par, e não foi proclamar e promover uma revolução militar? Provai que percorrendo toda, ou uma boa parte do paiz, sómente conseguiu revoltar, e com promessas de promoções, dous batalhões! Provai que abandonando do resto do Exercito, e de toda a população, se vio na necessidade de ir estabelecer (fugitivo) o seu quartel-general em Lobios! Provai que não foi por um golpe de fortuna admiravel, não devido a elle, mas á traição daquelles em quem confiava a Administração transacta, que voltou triumphante do estrangeiro! Provai que engolphado nas glorias desse triumpho, não intimou ao Chefe do Estado o circulo dentro do qual havia de escolher os seus Ministros! Provai que não foi por este motivo, que o Duque da Terceira deixou de ser Ministro sem pasta! Provai que não foi então que o mesmo Duque da Terceira, e outras muitas pessoas, aliás respeitaveis, foram rejeitadas, porque tinham pertencido ás maiorias declaradas corrupio pelo Duque de Saldanha! Provai que não houve quem em Portarias vergonhosas considerou o Duque de Saldanha superior á Rainha, porque nellas se ordenava aos Governadores civis, que cumprissem as ordena de Sua Magestade, se o Duque de Saldanha não tivesse mandado o contrario! (Apoiados), Provai tudo isto, e outras muitas cousas, que poderia apontar, e vinde depois dizer que o Duque de Saldanha não é revolucionario, porque o Sr. Ministro do Reino, subindo ao pinaculo da montanha, descobriu nas profundidades da terra Camillos! Aljubarrota! (Riso.)

Foi na descri peão destes horrendos bichos, que o Sr. Ministro do Reino mereceu o riso dos ouvintes! S. Ex.ª intendeu que me havia sepultado nas profundidades da terra! Vamos com toda a singeleza á discripção do horribile monstrum.

Camillos = foi uma associação patriotica e politica, organisada em 1835 em opposição ao systema de administração, e de politica dos Ministerios da direita — os seus adversarios deram-lhe o nome dos = Camillos = porque celebrava as suas sessões no convento da extincta ordem dos Camillos, outros por irrisão chamavam-lhe = Camellos = mudando o em e, e assim o fez tambem com a sua costumada graça o Sr. Ministro do Reino E não ha duvida que S. Ex.ª conseguiu promover a hilaridade! Eu tambem me ri, e tudo isto prova que os homens muitas vezes se riem de frioleiras!... Aquelle epitheto era, como outros muitos da moda naquelle tempo! O partido politico, que era combatido por aquella associação denominava-se = Chamorro, ou devorista! Não creio que o titulo de Camillos, ou Camellos, chamorro ou devorista podessem servir para desconsiderar um, ou outro partido.

Mas quem eram esses Camillos, ou Camellos que mereceram ser objecto dos sarcasmos, e do rediculo do Sr. Ministro do Reino? Eram alguns homens despresiveis, e insignificantes? Peço licença á Camara para lêr alguns nomes desses insignificantes! Eu quero que o Sr. Ministro do Reino, depois desta leitura, venha ainda fallar em Camillos; e isto para provar que o Duque de Saldanha não é revolucionario! (Riso). Veremos com que razão o Sr. Ministro do Reino pertendeu lançar o ridiculo sobre pessoas respeitaveis, e até sobre alguns dos seus Íntimos amigos! (Apoiados). E veremos se depois de eu mostrar, que hoje se acham muitos desses caracteres respeitaveis apoiando o nobre Ministro, não tem S. Ex.ª direito, e não tenho eu razão, para o considerar o Chefe dos Camellos, ou Camello-mór (Riso prolongado).

Eis-aqui os nomes de alguns Camellos que pertenceram a essa sociedade politica: Abel Maria Jordão, Advogado.

Agostinho Albano da Silveira Pinto, Conselheiro.

Antonio César de Vasconcellos Corrêa, Brigadeiro.

Antonio Pereira dos Reis, Official da Secretaria da Justiça.

Antonio José de Lima Leitão, Medico e Lente.

Antonio do Nascimento Rosendo, Official-maior Contadoria de Marinha.

Antonio Ferreira Borralho, Deputado.

Anselmo José Braamcamp, proprietario e Senador.

Basilio Cabral Teixeira de Queiroz, membro do Supremo Conselho de Justiça.

Barão de Villa Nova de Foscôa, Ministro de Estado honorario.

Barão da Ribeira de Saborosa, Presidente do Conselho, e Deputado.

Conde do Tojal, Ministro de Estado. Barão de Noronha, Deputado.

Caetano Xavier Pereira Brandão, Desembargador, e Deputado.

Custodio José Teixeira Braga, negociante.

Conde das Antas, General, e Par do Reino.

Conde de Lumiares, idem.

David Cordeiro de Araujo Feyo, negociante.

Duarte Ferreira Pinto Basto, contractador do tabaco.

Francisco Antonio Gonçalves Cardozo, Official de Marinha.

Francisco de Borja Carvalho e Mello, Deputado.

Francisco Pedro Limpo, Official de Marinha.

Francisco Soares Caldeira, Governador civil, e Deputado.

Francisco de Assis de Carvalho, Medico.

Gualter Mendes Ribeiro, Coronel, e Deputado.

Guilherme Quintino de Avellar.

Ignacio Pisarro de Moraes Sarmento, Deputado.

João Pedro Soares Luna, Coronel.

João Gualberto de Pina Cabral, Desembargador, e Deputado.

J. B. de Almeida Garrett, Desembargador, e Par do Reino.

Joaquim Pedro Celestino Soares, Official de Marinha, e Deputado.

N. B. A este espero eu que o Sr. Ministro não continuará a chamar Camello (Riso).

Joaquim Dias Torres, Contador de Marinha.

José Liberato Freire de Carvalho, Deputado.

José Osorio de C. Cabral e Albuquerque, Tenente-general.

José Fortunato Ferreira de Castro, Deputado.

José Antonio Carlos Torres, Contador de fazenda.

José Pereira Pessoa, membro da Junta do credito publico.

José Alexandre de Campos, Lente e Deputado.

José Henrique Ferreira, Deputado.

José Maria Rojão, Deputado.

José Ferreira Pinto Basto Junior, negociante.

José Maria Esteves de Carvalho Ferreira, Deputado.

José da Costa Pinto Bastos, Deputado. José Caetano de Campos, Desembargador, e Deputado.

José Tavares da Macedo, Deputado.

Julio Gomes da Silva Sanches, Presidente do Conselho, e Deputado.

Lconel Tavares Cabral, Deputado.

Luiz Ribeiro de Sousa Saraiva, membro do Supremo Conselho de Justiça.

Manoel de Sousa Raivozo, General.

Manoel de Vasconcellos Pereira de Mello, Major-general.

Macario de Castro, Deputado.

Vicente Gonçalves Rio Tinto, capitalista, (Barão).

Visconde de Bruges.

Conde de Thomar.

Não quero deixar de mencionar o meu nome, porque me não envergonho de estar ao lado de caracteres tão distinctos. A Camara acaba de ouvir a leitura de parte dos nomes dos individuos que pertenceram aquella sociedade - entre elles se contam Titulares, Pares, Senadores, Deputados, Magistrados, Negociantes e Proprietarios de primeira ordem; pergunto se havia motivo para o Sr. Ministro do Reino se esforçar em ridicularisar aquella associação, e se havia motivo para ir ás profundidades da terra procurar os Camillos? Não viu S. Ex.ª que estava mettendo a ridiculo muitas personagens, que hoje estão ao lado de S. Ex.ª, e que são seguramente das mais distinctas, que apoiam a S. Ex.ª? Um Ministro da Corôa deve ter mais cautela, quando falla nestes assumptos; é sempre fora de proposito que um Ministro da Corôa empregue taes meios, porque perde o direito á consideração, que é mister ter com elle, ao menos pelo logar que occupa (apoiados).

O Sr. Ministro do Reino disse que eu havia entrado novamente pela porta dos Camillos, pela qual antes tinha saído. Fique S. Ex.ª na certeza de que me não envergonho desse passo, porque essa porta dos Camillos se não é formosa, não é deshonrosa, é uma porta por onde sempre entrou e saiu a honra e a lealdade, e nunca saiu nem entrou a traição e a aleivosia!... (Sensação.)

Repito: tenho muita honra de ter pertencido a uma sociedade, a que pertenceu tanta gente notavel; mas como intendeu S. Ex.ª que para provar que o Duque de Saldanha não era revolucionario, era necessario ir desenterrar ás profundidades da terra os Camillos? (Apoiados.)

Reduzidos os Camillos á sua verdadeira significação, descarnado este argumento do Sr. Ministro do Reino, passamos a Aljubarrota, que não só foi um dos favoritos argumentos de S. Ex.ª, mas que já o havia sido de um digno Par o Sr. J. M. Grande.

Vamos a Aljubarrota: esse logar notavel por dois? factos, um grandioso, porque nos traz á lembrança uma pagina brilhante da nossa historia, e dos nossos heroicos feitos, e valor: outro mesquinho, porque é esconderijo de affectos e sentimentos acanhados. Assim o disseram SS. Ex.ªs Sabeis como este facto prova que eu não tinha direito para chamar revolucionario ao Duque de Saldanha? Sabe-o o Sr. Ministro do Reino, mas guardou o segredo!...

No Chão da Feira encontraram-se desgraçadamente de um lado as forças que sustentavam a ordem de cousas proclamada em Setembro de 1836 (o Governo e o Congresso constituinte). Com as forças que se revoltaram para destruir a situação, restabelecendo a Carta, do outro lado.

De um lado commandavam os Marechaes Duque de Saldanha e Duque da Terceira: do outro lado commadava o Conde do Bomfim e Visconde de Sá da Bandeira. Eu exercia uma commissão politica e civil junto do nobre Conde do Bomfim. Houve combate, e sem que a victoria se decidisse clara por nenhum dos lados julgaram os respectivos Generaes, que devia haver um armisticio para vêr se podia combinar-se um accôrdo para evitar a effusão de sangue, e a continuação da guerra, e das despezas publicas.

Foram s nomeados os commissionados: sendo por parte das forças revoltadas os Srs. Viscondes d'Athoguia e Monto Pedral, e por parte das forças do Governo o Sr. Engenheiro Guerra, e o que tem a honra de fallar: os primeiros apresentando-se com poderes assignados pelo Sr. Duque de Saldanha — nós com poderes assignados pelo Sr. Conde do Bomfim.

Na melhor harmonia os commissionados conferiram, e reconheceram que os seus poderes impunham aos primeiros a obrigação de exigir o restabelecimento da Carta pura; aos segundos a obrigação de sustentar a situação, até que as Cartes resolvessem. Nada se accordou por este motivo, que encontrou o Sr. Ministro do Reino de deshonroso para mim neste negocio? (Apoiados.)

Cada um dos Generaes julgou que devia ser fiel á missão de que estava encarregado: os commissarios não podiam ultrapassar os seus poderes. Pergunto novamente o que ha aqui de deshonroso para mim, que de mais a mais tinha instrucções, a que necessariamente me havia de ligar? Como é que S. Ex.ª viu nas profundidades da terra Aljubarrota para me offender? Pergunto aos Srs. Conde do Bomfim e Visconde de Athoguia, será isto verdade? (Signaes afirmativos.) Mas os commissionados do Duque propunham o restabelecimento da Carta, ficando os seus contrarios com os empregos e com o poder, e até se compromettiam a sair do reino, e vós não acceitastes! Não! porque não podia acceitar em vista de minhas instrucções, nem devia acceitar, porque basta ouvir a proposta para que um Juiz, ainda não muito atilado, lhe conheça o alcance!...

Eis-aqui o que significa essa Aljubarrota historica que S. Ex.ª proferiu com signaes de profunda admiração! E agora pergunto, como prova tudo isto que o Duque de Saldanha não foi revolucionario, e que eu devo antes merecer esse titulo? Em Aljubarrota eu sustentava a situação apoiada não ha duvida então pelo Governo, Côrtes e nação, o Duque de Saldanha era revolucionario! É necessario convir que defensores desta ordem se não tem o fim de comprometter o seu cliente, mostram grande falta de tacto! Escolha o Sr. Ministro do Reino. Deixo a escolha a S. Ex.ª…

Quanto á restauração da Carta, não ha duvida que eu dirigi a revolução de 1842, tenho explicado este facto muitas vezes, e não devo cançar a Camara com repetição do que já disse. Admiro comtudo, que o Sr. José Maria Grande que defendeu alguns annos aquella restauração, e os seus homens, e por uma fórma que pode ser attestada por um seu visinho; que sustentou que ella se achava feita no coração de todos os portuguezes; viesse agora censurar essa mesma, e tirar dahi argumento para dizer que o Duque de Saldanha não foi revolucionario! E que este titulo me pertence de preferencia!

Quanto ao Sr. Ministro do Reino, direi sómente que inimigo, na vespera, da restauração da Carta, no dia seguinte era o primeiro a colher os fructos dessa restauração, obtendo o alto encargo de Conselheiro de Estado!

Percebo perfeitamente que o Sr. Ministro do Reino, trazendo para a discussão estes actos passados, teve em vista mostrar que eu modifiquei em parte as minhas opiniões politicas. Não comprehende o nobre Ministro, que não póde isso ser deshonroso? E se o fora, não vemos nós por ahi um grande numero de camalliões politicos, que mudam inteiramente de opiniões politicas todos os oito dias, todos os mezes, todos os annos, e sempre em proveito proprio? Quer S. Ex.ª que eu entre nesse campo? Se pertendeis dizer que no Chão da Feira eu estava no campo contrario á restauração da Carta, e que depois a restaurei, não vedes que vos accusais a vós mesmos, porque tendo estado no Chão da Feira, do lado da restauração da Carta, depois vos tendes revolucionado contra esta por mais de uma vez? Deixai essas miserias, que nos compromettem, e que em todo o caso não provam, que o Duque de Saldanha não é revolucionario (apoiados).

Não vedes hoje reunidos os homens da antiga direita, com os da antiga esquerda? Não vedes os de Campo de Ourique com os de Belem? Não vedes os. do Chão da Feira de braço dado? Não vedes os de 6 de Outubro com os da Junta do Porto? Para que vindes então lançar em rosto uma modificação feita uma vez, quando vós tendes mudado completamente muitas vezes? (Apoiados.) Tudo julgais ser-vos permittido, e nada quereis conceder aos outros! Julgais que os mesmos factos são virtudes em vós, e crimes nos outros (repetidos apoiados). Acabai com esta maneira de responder á opposição, e vede que tudo quanto tendes dito para me desconsiderar não prova que o Duque de Saldanha não é revolucionario (riso).

Devo francamente confessar que me admirei de que o Sr. Ministro do Reino, contra o seu costume, descesse a este campo, tanto mais que eu lhe não havia dado o menor pretexto para tal procedimento, a Camara se lembrará de que o Sr. Ministro reconheceu que nenhum aggravo pessoal tinha a reivindicar, porque eu pessoalmente o não havia offendido! É realmente para estranhar que o nobre Ministro com o unico fim de satisfazer aos que lhe passaram as notas das lembranças, com que me atacou, viesse trazer discussão factos de tão antiga data, respondidos tantas vezes, e que por certo não provam que o Duque de Saldanha não é revolucionario.

Continuarei dizendo ao Sr. Ministro do Reino, que tendo S. Ex.ª declarado que nunca tinha visto a Ordem do dia, reconhecida pelo titulo = do restabelecimento dos poderes politicos pelas bayonetas =

(O Sr. Ministro do Reino — Perdoe-me o digno Par, eu creio que disse que a vi uma vez, não disse que nunca a tinha visto, aqui ha de estar no meu discurso, que ainda não foi por mim corrigido.)

O Orador — Seja o que S. Ex.ª quizer, não é essa a questão principal. Parece-me que S. Ex.ª não tem rasão em a classificar como um daquelles boletins de Napoleão, em que este grande homem appellava para o coração dos seus soldados, a fim de obter os grandes triumphos, com que fez a admiração do mundo: S. Ex.ª quer que a ordem do dia seja muito louvavel, porque ninguem póde sustentar que se não deva appellar para o coração do soldado, quando é necessario combater os inimigos externos, defender a independencia nacional, e o decoro da patria. Eu passo a ler a S. Ex.ª a mesma ordem do dia (leu). Já S. Ex.ª vê que em quanto no primeiro periodo se sustentão os bons principios e as suas doutrinas, no segundo periodo se sustenta uma doutrina inteiramente revolucionaria, porque ahi se diz que logo que o Duque de Saldanha, ou outro qualquer General, um Sargento mesmo intender que tem desapparecido o equilibrio dos poderes politicos, se póde appellar para o coração do soldado, a fim de conseguir o restabelecimento desses mesmos poderes politicos (apoiados). É esta sem duvida a consequencia que se tira da excepção que se contém no segundo periodo. Quem ha de ser o juiz competente para julgar, e decidir que não existe o equilibrio dos poderes politicos? Applique S. Ex.ª a doutrina á revolução feita pelo Sr. Duque de Saldanha, e é para a justificar que vem tal doutrina na ordem do dia. Os poderes do Estado funccionavam com a maior regularidade. Existia um Governo que merecia a confiança do Chefe do Estado, que era apoiado por duas fortes maiorias, mas não mereceu depois de certa época a confiança do nobre Duque de Saldanha, ficaram por isso desequilibrados os poderes politicos? Podia o Duque de Saldanha julgar-se com direito a appellar para o coração dos soldados, a fim de destruir a situação constitucional que existia? Vede bem o que respondeis, porque se respondeis affirmativamente, daes direito a proceder pela mesma fórma. Não confessastes já que o Duque, reduzido por mim á miseria, se viu obrigado, para conquistar os cargos de que foi dimittido, a lançar mão da revolução? Approvaes tambem esta doutrina? Vede bem, ámanhã qualquer individuo, que por vós seja dimittido, terá o mesmo direito, e até para classificar de corrupto o Duque de Saldanha, como elle classificou o Ministerio de 18 de Junho (apoiados), Sr. Presidente, a historia contemporanea vai-se esclarecendo; foi para interesses particulares do Duque de Saldanha que elle fez promessas aos officiaes do exercito, que faltaram aos seus deveres. Eu tenho no meu poder um documenta assignado pelo Duque de Saldanha, no qual confessa que a primeira promoção feita no Porto se effeituou, porque foi necessario satisfazer promessas, e que a promoção monstro foi indispensavel para adoçar os officiaes que pelas intrigas dos Cabraes, e por que se achavam preteridos, se haviam tornado inimigos da regeneração. Não venham ainda alardear com as sympathias do exercito Documentos destes devem envergonhar a quem largou os debates legaes, para seduzir com promessas o exercito (apoiados).

É realmente espantoso observar como o nobre Ministro do Reino navegou desassombrado em apreciação da situação financeira durante a Administração de 18 de Junho! Eu sinto profundamente que o meu antigo collega da Fazenda, o Sr. Ávila, não esteja hoje occupando a sua cadeira de Deputado. Elle reconheceria como os