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excessos a degenerar era bufão ou chocarreiro, ha-de permittir que lhe observe ter tambem S. Ex.ª recorrido a esses meios que reprova, usando não só dos gracejos que são permittidos na boa sociedade, e assasonados com o que se chama sal atiço, mas daquelles em que se ha algum sal é o culinário!

O digno Par teve a bondade de me alcunhar de — Rei dos camellos, ou camello-môr (riso): ainda hoje a repetição desta agudeza excita riso. Essa feliz denominação, com que S. Ex.ª me favoreceu a alguma cousa me authorisaria. Não usarei da authorisação; mas espero que o digno Par não use mais de tão baixo estylo, que lhe não convém, e que pelo menos o accusa de máo gosto.

O digno Par começou hontem o seu discurso, por uma argumentação exquisita, até pela novidade; e disse: escutai-me; e intendei que, quando aqui vier a opposição accusar os vossos defeitos, e notar as vossas faltas, arguindo-vos, não só de que mal geris os negocios publicos, e mal administraes a fazenda, mas de que sois revolucionarios efeitos de principios, não vos será permittido referir-vos ao que eu fiz na qualidade de Ministro, ou n'outra: isso está feito: já confessei os meus erros; e essa confissão é um castello contra o qual vós não podeis dirigir nenhuns ataques: haveis de ouvir tudo o que nós quizermos dizer, e defender os vossos actos sem alludir aos nossos; as faltas que me aprouver notar-vos, sem que vos seja permittido mencionar as minhas.

Não admitto, nem posso, nem devo admittir esta tyrannia. Já disse uma verdade incontestavel: a maior authoridade da censura vem do comportamento do que a faz. Quem póde ser accusado de grandes defeitos, não deve mostrar severidade com os defeitos dos outros. Lamente, como todos temos que lamentar, as imperfeições da natureza humana, e cale-se.

Sr. Presidente, tive um lapso de lingua, que — penso eu, talvez não fosse tão culposo como o digno Par encareceu. Fallei na sociedade dos Camillos sem ter de maneira alguma a idéa de lançar a menor pecha no caracter das pessoas que formaram essa mesma sociedade, á qual me referi, porque o digno Par aqui tinha vindo dizer-nos que lhe havia pertencido; e então disse eu: que me importa que o digno Par lhe pertencesse ou não? Mas se confessaes que pertencestes, que tendes sido versátil em vossas opiniões, para que vindes aqui accusar-nos de revolucionarios, quando vos podem lançar em rosto que tambem vós o fostes? Depois por um acaso proferi em seguida á palavra Camillos, estas = ou camellos, como lhes chamavam. = Com isto não tive, repito, intenção alguma de offender nenhuma das pessoas que pertenceram áquella sociedade, ou que a ella concorreram. Estimei ouvir lêr a relação, que nunca tinha visto; admirei-me de ouvir alguns nomes della: de outros sei que nunca lá foram (vozes: — é verdade). Supponho que aquelle numero de cidadãos muito respeitaveis foi o primeiro nucleo da sociedade; mas se a frequentaram sempre; se as doutrinas alli proclamadas foram sempre as mesmas; se no enthusiasmo que nasce das discussões politicas, e na excitação das paixões do tempo, sempre se manteve a sensatez e a gravidade; se alli foram sempre lembradas taes providencias; e os verdadeiros principios politicos nunca lá foram esquecidos; se jamais naquelle recinto se propôz fazer mal a individuo algum; se nunca se discutiram pessoas ofensivamente; se algum excesso não fez arredar da sociedade caracteres mui dignos, disso não me occupo, nem outra vez me occuparei. Em todo o caso sei de certo que alguns nomes lidos pelo digno Par são de homens que Ou deixaram muito cedo de concorrer á sociedade, ou se cansaram della mais tarde, ou nunca lá foram. Do numero destes ultimos foi o Sr. Conde das Antas; e como elle muitos outros.

Não curo se o digno Par na leitura daquelle papel teve a intenção de malquistar-me com alguns amigos meus, ou não amigos: deixo-lhe a faculdade, o privilegio de alludir ás minhas intenções, e de as representar más e reprehensiveis; e o intento, se o teve, de inimizar-me com grandes e, pequenos, que podem, depois da declaração do digno Par, haver-se por offendidos. Seja o que fôr, contentar-me-hei de repellir as suas allusões por inexactas, deixando-lhe o prazer de continuar a insinuar-se no intimo dos meus pensamentos, e a analysar as intenções que lhe apraz attribuir-me. Isto póde S. Ex.ª fazer á sua vontade, embora todos os regimentos do mundo condemnem tal procedimento. Concedo-lhe, se quizer, ainda maior liberdade do que a que tem tomado; mas que eu não esperava, confesso, que chegasse aonde chegou!

Veio a menção de Aljubarrota, em que eu não fallei senão para lembrar ao digno Par que aquelles que, levados por diversos motivos, tem entrado em tanta diversidade de politica; e mostrado opiniões tão differentes e contradictorias, seguido e adoptado tão oppostos e repugnantes systemas politicos, hão-de achar difficuldade em justificar-se; e menos conseguirão esse fim se quizerem condemnar nos demais homens aquillo mesmo de que intendem ter direito de ser absolvidos.

Mas eu não podia fazer tal menção com o unico fim de ir revolver a vida passada do digno Par, que sempre tenho respeitado (ainda a de homem publico), e á qual nunca dirigi a minima censura, nem dirigiria, se tão repetidas e audazes provocações não saíssem da sua bocca. O que se passou naquelle logar não foi um facto desconhecido. À explicação que delle se deu nem aggrava nem diminue a sua real significação.

Não o trouxesse á arena: quem se offende de que o mencionem, e sobretudo se não quer que voltemos os olhos para acontecimentos que lhe são desfavoraveis, deixe se, digo isto não como censor, ou conselheiro, deixe-se de figurar aqui como infatigavel perseguidor.

Pois este Presidente do Conselho não póde nem sequer repousar um momento? Não vos cansareis de manifestar que lhe professaes um ódio implacavel? Que a sua sombra vos avexa e opprime sempre? Venha u não a proposito, fallaes delle achando-lhe mil defeitos, attribuindo-lhe crimes sem conto — crede que á força de repetir as vossas declamações ellas acabarão por não mover em ninguem se não o tedio e a canseira de vos escutar. Se não quereis ter compaixão delle, tende-a de nós! E vede que perdeis. Dai descanço aos ouvintes, e não seja diaria a vossa tarefa de accusar o revolucionario. Mas vejo que perco o tempo, e que não ha força de rasão que obrigue o digno Par a mudar de proposito: pois continue.

Quanto a mim, que palavras proferi eu que possam considerar-se pelo digno Par offensas pessoaes? Disse uma vez que S. Ex.ª era falto de tacto; e disse-o, porque é minha opinião que S. Ex.ª em quanto geriu os negocios não teve realmente bastante tacto para conhecer o que mais lhe convinha, e á situação dos negocios publicos. Mas S. Ex.ª ainda hontem me arguiu de ser homem sem critica: não direi qual das imputações é mais grave: pois S. Ex.ª póde urbanamente qualificar-me de falto de critica, e eu serei extranhavel por dizer que elle não possue o tacto necessario para bem avaliar a importancia dos negocios, e os meios de os conduzir?

Este conhecimento dos homens e das circumstancias, desta fluctuação de vontades, deste encontro de teimas e de paixões, que se não define, que mesmo se não, explica; que se sente, e que póde servir quando estudado, e concorrer para o bom regimen publico, para a sustentação da paz e da ordem, interessando nella essas proprias paixões, e até as fraquezas e os defeitos dos homens; e que chega a tirar delles resultados uteis para a causa publica; este pois que chamamos tacto politico, que é mais que prudencia, previne as difficuldades, e encaminha as tendencias e as propensões para o bem, ainda quando ellas pareçam encaminhar-se ao mal: com elle se evitam e se vencem grandes obstaculos, sem uso de força, ou coacção, ou mando; removem-se descontentamentos; abrandam-se inimizades, e adivinham-se máos resultados muito a tempo de os evitar; desfazendo-se antes que elles possam ser pressentidos de quem ás vezes os deseja. Com elle se diminuem as asperezas e repugnancias entre individuos e facções pequenas, que sempre ha; chamam-se, e aproximam-se os homens, que estavam desentendidos; apparece um interprete que os faz comprehender-se, e pacificar-se: e tudo isto, e ainda o que aqui não menciono, para que serve? Que fim tem, a não ser o bem estar, a harmonia, a satisfação e confiança de todos? Com a mira na conservação da paz, dizia eu ao digno Par, que S. Ex.ª não tinha tido esse tacto; e os factos o mostram, por isso que não póde nunca por muito tempo manter o paiz em tranquillidade, nem inspirar-lhe confiança.

Eu disse, sem o minimo sentimento de vaidade, que é doença de que não padeço, referindo-me ao Ministerio actual: attendei, que temos combatido com muitos inimigos— a fome e os seus horrores, effeito da excessiva Carestia dos generos alimentícios o descontentamento que resulta ás populações da impossibilidade de alcançar meios de subsistencia; — a molestia das vinhas, que se repete e rouba todas as esperanças, causando fatal desfallecimento;—o flagello das epidemias, e ainda outras molestias: e temos provido com o possivel remedio; temos acudido a muita parte das necessidades publicas, reconhecendo o povo os nossos esforços, e abençoando-os. Este povo pedia-nos trabalho, e parte delle sustento; nós demos-lhe trabalho na maior escala que nos foi possivel, favorecendo-o com utilidade publica, porque obstando aos effeitos da esterilidade, fizemos com que as sommas despendidas fossem dedicadas ao augmento da riqueza publica, e ao serviço do paiz; e nisto consiste a verdadeira caridade nacional. A fome levantou em algumas localidades vozes clamorosas, como que excitando os povos a desmandar-se; mas as diligencias do Governo, empregadas opportunamente, fizeram convencer os mais queixosos de que o mesmo Governo fazia quanto humanamente era possivel para remediar os males do povo; não podendo, é verdade, conseguir termina-los de todo, porque nas grandes calamidades sempre ha muita gente victima da sua violencia: não é dado aos homens remediar todos os seus funestos effeitos. Ha quatro annos que luctando com tantos obstaculos, e deixo de mencionar muitos, temos visto o Reino pacifico, e não descontente; e não falto de confiança na boa fé e patriotismo do Governo. Ora será ousadia, será fatuidade nossa suppôr que temos mais tacto do que vós? (apoiados) Mas não, o digno Par fez uma grande descoberta! O digno Pàr disse, que se a opposição quizesse, como outros antes tinham querido, faria tambem uma revolução; que a não faz para que se não gastasse dinheiro; pois que todas as revoluções tiveram esse grande inconveniente: fizeram consumir muitos meios, obrigando os governos que lhes succederam a deixar de prover a uma boa organisação de fazenda, a não satisfazer ás suas obrigações para com os credores do Estado, pondo tambem de lado a adopção de um systema conveniente de trabalhos publicos, e de outros melhoramentos.

Quanto ao que me toca, e por parte do Governo, agradeço ao digno Par a disposição pacifica em que está, e fico certo de que S. Ex.ª dará as ordens convenientes para que os seus amigos não façam revoluções (riso). Uma cousa direi com tudo ao digno Par: não é nova, e até me parece have-la já dito em outra occasião: creio que ainda não está bem desenvolvida a theoria das revoluções; mas parece-me que não faz revoluções quem quer; digo, não basta querer: persuado-me que a não ser no momento proprio, naquelle além do qual já se não póde sustentar a ordem que reina, malogram-se todas as tentativas. Mau é que o desgosto do presente, e a geral desconfiança do futuro abranja todo o paiz, sendo igualmente geral o desejo de nova ordem de cousas: neste caso não se resiste a essa doença geral dos espiritos, que o governo deverá ter curado antes de aggravar-se, prevenindo os seus funestos effeitos; e só os governos podem conseguir alguma cousa tomando medidas contra taes enfermidades, e acudindo-lhes a tempo com a remoção das causas dellas. (Vozes — Muito bem.)

Uma revolução, no rigor da palavra, com todos os seus resultados, creio que a não querem fazer os proprios que a começam. A opinião de todos é, geralmente fallando, de que bastará uma simples demonstração não contestada, nem muito extensa, para se conseguir o objecto desejado. Se acaso se suppozesse que a tentativa se alargaria a uma revolução geral, á guerra civil, haveria menos em prendedores de demonstrações! (riso) O que me parece que em geral crêem os que tractam familiarmente, e como materia ordinaria, de excitar abalos revolucionarios, é que ao primeiro grito que soar contra a ordem de cousas existente, desapparecerão os defensores della; e deixarão o campo livre aos que os quizeram expulsar: seguindo-se quasi convencionalmente a substituição daquelles por estes, sem resistencias, e sem pelejas. Este é que me parece ser o pensamento dos promotores em geral deste modo de substituir um systema de Governo a outro. Não se creia que por explicar-me assim me acho iniciado no segredo de fomentar revoluções, e sou grande sabedor da historia dellas: mui longe: este conhecimento que presumo ter do que ellas são quando tentadas, provem-me de algum estudo do coração humano, que todo o homem da minha idade e nas minhas circumstancias tem obrigação de fazer com relação ás alterações do estado social, e ás paixões que se oppõem á sua conservação!

Quanto a mim são muitos os que se arrependem de as haver promovido, porque a maior parte das tentativas se mallogram. Creio até que ninguem presume que ha-de achar resistencias em taes emprezas; porque desde que dellas se segue a revolução e a guerra civil, amontoam-se as incertezas do resultado para os proprios auctores, para quem por elles se interessa, para os que atacam, para os que defendem; e ás vezes a consequencia é contra todos, depois de incertezas, perigos e ruinas. Ás vezes acabam-se as questões por um protocollo, que exclue os que intendiam dever excluir os seus contrarios. Os que parece haverem estado no campo mais legal vêem pela força dos acontecimentos a ser tractados como aggressores. Se interveem nações estrangeiras, quantas vezes sujeitam ellas aos rigores do protocollo aquelle partido que os chamava, não menos do que o seu adversario? (O Sr. Conde de Thomar — Ora! o protocollo!) Muitas nações se teem sujeitado a elles em questões politicas, e em guerras civis. Eu não moraliso sobre estes factos, cito-os apenas, e sinto não poder usar de outros termos. O digno Par muitas vezes estranha a menção que eu faço de certos acontecimentos, como se eu os approvasse, ou reprovasse.

Não é assim: quando a elles me refiro exponho-os como verdadeiros que são: medite sobre elles quem quizer; ajuize da sua moralidade, valendo-se da critica propria, e segundo os seus principios, e as regras da philosophia da historia.

Estimo vêr que não é preciso cansar-me para persuadir a S. Ex.ª, que não faça revoluções, pois que S. Ex.ª mesmo declara que as não quer fazer, porque intende que essa determinação é boa, e talvez até a adopte por commodidade propria. (Riso). Eu não me atrevo a dar conselhos ao digno Par, mas é-me permittido fazer reflexões sobre o comportamento do homem publico, assim como S. Ex.ª as faz, e severas, sobre o meu, porque algumas vezes o tem tachado de atrocíssimo. Ainda hoje me lançou quantos doestos, quantas accusações podem enegrecer o caracter de qualquer homem. Porém seja-me licito observar que, se S. Ex.ª intende haver mui fortes razões para o aconselharem a si, e aos seus amigos, a que não tentem fazer revoluções, parece-me que razões não menos fortes se dão para que o digno Par seja um tanto mais moderado em suas invectivas. Pôde estar certo, e já por muitas vezes lho tenho assegurado, que lhe desejo tanto bem e tanta ventura como a mim proprio, e a meus filhos: creia-me ou não. Da minha parte seria agora uma pequenez fazer perguntas ao digno Par, ou pedir-lhe que declarasse se em occasiões difficeis me achou homem seu inimigo?... Seria baixeza chegar a tanto, e fazer votos por que as desgraças que eu para elle quizera, caíssem sobre mim e os meus até á terceira geração.

Emfim não posso ceder a uma certa vaidade! E porque não heide resistir? Porque sou homem!... Emfim, não resisto.

Creio que posso, sem faltar á modestia, declarar em voz alta, que não há individuo amigo, ou inimigo, indifferente ou parcial, que tenha comigo mantido quaesquer relações, por poucas que sejam, que possa accusar-me de falta de consideração, de grosseria, e de despreso por sua pessoa (muitos apoiados); nenhum que de mim recebesse damnos ou máo acolhimento: com esta consolação vivo socegado em minha consciencia, e espero viver os poucos dias que ainda Deos me conceder de existencia. Ninguem queira mais nem para si nem para os outros.

Não tenho a fatuidade de offerecer-me como modelo em cousa alguma; porém não creio justos esses altos queixumes das minhas iniquas provocações, porque uma ou outra fraze menos urbana a soltei no calor de uma discussão! Quantos as estudam em casa, e as trazem escriptas para me injuriarem mais profundamente?! E porque não ha de perdoar-se ao homem que nunca escreveu o que tinha para dizer, uma ou outra palavra menos agradavel? Usei de uma comparação mal ou bem, mas que soou pessimamente, segundo se arguo, a do carrapato na lama: se eu disse na lama escapou-me uma parvoíce, porque sei muito bem que deve ser na lã; é uma comparação proverbial. Ainda assim, apezar do pouco que valho, não sou inteiramente ignorante de algumas regras da rhetorica: sei que é licito comparar cousas grandes com cousas pequenas: nem me consta que seja grande peccado comparar os embaraços dos homens politicos, que não podem soltar-se delles, e nesse estado desfallecem, com o carrapato envolto na lã: valho-me do exemplo de Camões, que tambem comparou as bellas e possantes Nereidas, e a sua Vénus com as formigas

Quaes para a cova as próvidas formigas

Levando o peso grande....

Entre formigas e carrapatos não ha grande differença a proposito de comparar cousas grandes com pequenas. (Hilaridade).

Para que se não enfade o digno Par, peço aos meus collegas que estejam serios e silenciosos como frades (Riso).

Já se vê pois que nada inovei, que marchei sobre as pisadas do digno Par: mas caminhar sobre as suas pisadas não é persegui-lo, ou declarar que o perseguiria em sentido offensivo. Este verbo que o escandalisou, que eu duvidei ter empregado, e quando empregasse sei decerto que nunca podia intender-se para significar uma perseguição, vi depois que eu mesmo o explicara, expondo logo a accepção em que o tinha tomado, e foi como querendo exprimir que continuaria a seguir a S. Ex.ª no caminho que me abrira: é o que significa perseguir, isto é, continuar a seguir (apoiados).

O digno Par perguntou-me se eu o queria perseguir como homem ou como Ministro? Como homem que vontade teria de o offender? Como Ministro! Ministro perseguidor, Ministro atroz!? Ora, eu nunca podia ser intendido de modo diverso do que já declarei: S. Ex.ª intendeu o meu sentido no momento em que me expliquei; e percebeu que nestas perseguições eu não havia de sair do campo da discussão (apoiados). É sempre verdade que mais vemos o argueiro em olhos de outrem, do que o cavalleiro nos nossos.

Não se lembra o digno Par, quando dirigindo-se desta cadeira a um membro da opposição á sua politica, declarou em termos formaes a essa opposição, que sempre lhe havia de dar para baixo?

Que respondeu então o digno Par ao nobre Conde de Lavradio, que lhe pedia explicações, ou antes que censurou de menos civil, de menos urbana a sua frase? Compare a de que eu fiz uso com essa de dar para baixo: estou certo ninguem duvidará em declarar qual seja mais offensiva (apoiados). O Ministro de então explicou-se como póde; mas o que me parece admiravel é que seja elle proprio o que hoje se escandalisa da palavra que eu empreguei; e cujo sentido, junto ás que a precederam, não podia ser outro do que eu lhe dei. Então clamou o digno Par que usára de uma metaphora — seria; mas a escolha della é de gosto pouco invejavel.... dar para baixo!...

Eu não uso de metaphoras de dar nem para baixo nem para cima. (Riso).

A verdade é que o digno Par, na supposição mesmo de que a minha frase podia ter duas intelligencias, escolheu gratuitamente a mais repugnante, a que menos podia quadrar-lhe. Cabia-lhe ser generoso, e adoptar a que parece obvia. Assim tenho eu procedido sempre com muitos desabrimentos de S. Ex.ª, mas nem pertendo ser seu Mentor, nem elle me acceitaria as lições, pois que se reduziriam a aconselhar-lhe que não visse nos seus adversarios politicos um empenho de offende-lo, que na verdade nunca existiu.

Mas pois que toda a falta está da minha parte, e nada ha que arguir em S. Ex.ª, se este proposito é constantemente o seu — e por mais que eu demonstre o contrario, o digno Par insistirá sempre em que as injurias nasceram de mim; que hei-de fazer? Calar-me, appellar para o testimunho da Camara, e não argumentar com S. Ex.ª sobre este ponto.

Intendi que o digno Par por mera ironia ou escarneo me tinha qualificado de grande homem r S. Ex.ª affirma agora que tal não fora o sentido da sua expressão, e que podendo deixar-me na minha persuasão, intendia comtudo dever desenganar-me de que o tinha interpretado mal. O digno Par procura debalde desfazer a impressão causada em todos os que o ouviram, que é a mesma que eu recebi. E não será difficil mostrar-lhe que eu não podia deixar de intende-lo como declarei.

O digno Par que não vê em mim e nos meus collegas mais do que homens menos do medíocres — que nos declara destruidores da fazenda e lã administração do Estado — assassinos do credito publico — pigmeus em politica — desacreditados dentro e fora do paiz; — que matamos o povo á fome, e que a nossa historia se compõe de attentados, violencias, injustiças de toda a especie; que temos vivido não direi de tranquibernias, porque me parece impropria a palavra, mas de enganos e absurdos administrativos; quer S. Ex.ª que eu acredite na sua sinceridade, e dê a recta intelligencia ás suas palavras, quando a um de nós, depois de assim avaliado, se dirige chamando-lhe grande homem? E que esse um de nós seja eu, Ministro de uma das mais importantes repartições, e quasi o escolhido pelo digno Par para objecto dos seus ataques?

Nestas circumstancias não ha que hesitar: ninguem deixou de ver que o digno Par empregou um motejo demasiado claro para me tornar objecto do publico desprezo. Quem attender ao que acabo de ponderar não póde era consciencia hesitar sobre a justiça com que sou arguido.

Insurgir-me contra o estylo e pensamento do digno Par: declarei que nenhum dos Ministros tinha a fátua pretenção de passar por homem superior aos seus concidadãos, assim como tão pouco acreditará nenhum de nós ser tão pequeno