758 DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO
alguma entre as christandades do nosso padroado, e as da propaganda, mas que aquellas insistem em ficar na dependencia espiritual do padroeiro portuguez por uma adhesão tão profunda, como sincera, comprovando se agora ainda mais evidentemente com a expansão da alegria da povos, que se viram restituidos á sua antiga igeeja, e restaurada a diocese, de que tinham quasi perdido a esperança.
Isto provém do sentimento profundo que tem atravessado as gerações e os seculos, e que reverdece puro e fervoroso.
É para causar admiração que em Madrasta, que é uma cidade opulenta da India ingleza, com a magnificencia de uma nação rica e poderosa, que a tem dotado com os beneficios da civilisação e do progresso, fosse mais estrondosa ainda a manifestação na entrada do novo prelado portuguez!
Sr. presidente, creio que não deixou de haver alguem que imaginasse que os votos do parlamento portuguez respeitosamente pronunciados quando se tratou da questão da concordata n’esta e na outra camara, podessem parecer a Sua Santidade uma especie de constrangimento ou coacção, moral para obrigar o Santo Padre a annuir aos desejos das christandades de Ceylão.
Sr. presidente, aproveito esta occasião para protestar contra similhante idéa, porque tendo sido eu que tive a honra de apresentar a proposta n’esta camara, e de a ver assignada pela maioria dos distinctos oradores d’aquella grande discussão, e a final approvada pela mesma camara, não enunciei n’ella, nem a camara dos pares exprimiu, senão um voto respeitoso a favor das christandades supplicantes de Ceylão, para ser levado ao conhecimento de Sua Santidade.
Essa proposta estava redigida de tal modo que não se lhe podia dar uma interpretação que alterava inteiramente o pensamento e as intenções da camara ou que podesse exercer outra influencia, que não fosse a da respectiva homenagem, no espirito de Sua Santidade, que é muito superior e muito illustrado para não acreditar era quaesquer outros intuitos; nem o seu digno representante n’esta côrte me daria um sentido menos conforme com o caracter de uma assembléa catholicar.
Sr. presidente, eu concluo esperando que o sr. ministro da marinha declare se o governo de Sua Magestade recebeu informações officiaes da India que confirmem as noticias que estão publicadas por informações particulares, que s. exa. declare tambem se é verdade que ao bispo de Meliapor foram prestadas effectivamente aquellas homenagens de respeito e consideração tanto dos prelados da propaganda, como das auctoridades inglezas, e dos povos indianos; se é verdade que por estás, manifestações se mostrou haver completa harmonia não só entre as duas nações quanto aos nossos direitos no oriente, mas tambem entre as christandades da propaganda fide e as do padroado; e emfim se depois da declaração ultimamente feita na camara por s. exa. em occasião, em que eu não estava presente por impedimento de serviço publico, para o qual fui auctorisado, recebeu o governo alguma noticia de Roma ácerca de Ceylão.
O sr. Ministro da Marinha (Barros Gomes): — Sr. presidente, eu confirmo, em face dos documentos officiaes, os factos a que acaba de alludir o digno par o sr. Miguel Osorio.
Effectivamente a recepção que teem tido os nossos bispos na India ingleza excede toda a expectativa. As manifestações que se verificaram no acto da posse do reverendo bispo de Meliapor, e consequente entrada na sua historica cathedral. realmente surprehendem pela grandeza da affeição e do respeito que se revela por parte d’aquellas christandades em favor dos prelados portuguezes e do nosso padroado.
As narrações que vieram na imprensa coincidem exactamente com os documentos officiaes, e, se a camara me permitte, eu leio alguns periodos, que são tão significativos, que conviria que ficassem consignados officialmente nos registos d’esta camara.
Diz o reverendo bispo:
(Leu.)
Um comboio expresso tinha sido posto á sua disposição.
(Continuando a leitura.)
Foi então que o bispo respondeu e em seguida deu entrada na sua cathedral no meio das manifestações realmente as mais extraordinarias.
O bispo acrescenta ainda o seguinte:
(Leu.)
Chamo mais particularmente a attenção da camara para estas considerações que faz o reverendo bispo.
(Continuando a leitura.)
Em um outro officio o reverendo bispo narra a sua primeira conferencia com o governador de Madrasta e ahi tambem se accentua de um modo extremamente agradavel a deferencia que houve da parte do representante do governo inglez para com o nosso prelado.
Diz o reverendo bispo:
(Leu.)
Vê-se pois d’aqui que são as melhores as relações entre, os poderes civil e ecclesiastico, isto é, entre a auctoridade superior de Madrasta e o nosso prelado, bispo de Meliapor.
Quanto ao bispo de Damão, tambem tudo presagia que será recebido da maneira mais lisonjeira, quando der entrada na sua diocese.
Em relação ás manifestações das camaras legislativas em favor das christandades reclamantes, a qual o governo se encarregou de fazer transmittir a Sua Santidade; e á maneira porque ella fosse recebida pelo Summo Pontifice; parece-me que nós não devemos precipitara nossa intervenção e que o que devemos fazer é aguardar as resoluções que o supremo pastor da Igreja Catholica entenda dever tomar ácerca d’essa manifestação. (Apoiados.)
O sr. Miguel Osorio Cabral: — Sr. presidente, eu folgo de que as palavras do illustre ministro dos negocios estrangeiros e interino do ultramar, e os documentos officiaes, que s. exa. leu, viessem confirmar as informações que eu tinha, pela publicação da imprensa, sobre os factos passados na india.
Quanto á manifestação do parlamento sobre as reclamações das christandades orientaes, eu limito-me a dizer que não quiz, nem quero insistir importunamente; mas tive por fim ao repellir, uma idéa menos fundada, que se poderia querer attribuir, e que não deixaria de desvirtuar, a votação do parlamento.
Termino repetindo que no voto do parlamento portuguez nada houve que possa maguar o Santo Padre, e eu continuo a ter confiança na benignidade paternal de Sua Santidade, para que haja de deferir a supplica dos reclamantes de Ceylão, sendo na minha opinião poderoso argumento, da grande força e prestigio do catholicismo nas Indias orientaes sob a auctoridade espiritual do padroeiro portuguez a explendida manifestação, em que tomaram, agora parte, com geral enthusiasmo, catholicos tanto do padroado, como da propaganda, como protestantes e gentios.
Por ultimo não dissimularei a minha esperança, fundada na benevolencia do Summo Pontifice, que tantas vezes se tem referido a Portugal em termos affectuosos e sympathicos, e ainda ultimamente em carta, de que a imprensa deu noticia, dirigida ao cardeal Rampola, sobre as relações religiosas com Hespanha, exprimindo outra vez benignas intenções para com Portugal.
O sr. Mexia Salema: — Sr. presidente, por parte da commissão de administração publica, de que tenho a honra de ser presidente, e para que os trabalhos que lhe forem submettidos não soffram demora, proponho que sejam aggregados á mesma commissão os dignos pares José Tiberio de Roboredo Sampaio e Mello e Pereira Dias.
A camara approvou esta proposta do digno par Mexia Salema.