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DOS PARES. 269

Micheloli, Major Engenheiro, para o canal que devia unir o Tejo com Sado: por conseguinte, terá um milhão e duas mil braças cubicas de terra a deslocar, e depois assentar, e bater, para formar as bermas, cuja obra deve importar em 1.000:000$000; nem me digam, que o canal projectado pôr Micheloti rompia uma consideravel elevação de terreno; por que este novo canal tambem tem de romper outra bem consideravel, como e a que vai da Ponte da Asseca até ás Onias, para desembocar no Tejo; e além disto ba de afundar abaixo do nivel das agoas claras do verão vinte e dous palmos, para vir a ter vinte e cinco ditos de altura, pois o Tejo só tem apenas tres, ahi nesse sitio, de Agosto por diante; e em menos desta altura de agua não podem navegar os barcos de vapôr, nem os barcos grandes de véla, como são as moletas. Quanto á largura, é preciso que tenha trinta palmos no fundo, e noventa na parte superior, para deixar passar dous barcos de vapor, um pelo outro. Além da escavação do canal, tambem, é preciso fazer dous contra-fossos, a saber. - Um pelo norte, junto da berma, para dar escoante ás aguas dos campos depois das chêas; e outro pelo sul, para desviar as aguas do monte na occasião das chuvas; para dar sabida ás escoantes dos pantanos; e tambem ás aguas das enchentes: este contra-fosso por si só, é tão dispendioso: como a Valla actual da Azambuja.

Passarei agora a outras considerações. Este canal, necessariamente será de escalão, e para isso deverá ter uma adufa de cofre (écluse à sas) um pouco abaixo da Ponte dos Reguengos, onde as marés da preamar poderem levan os barcos grandes: esta adufa quer ella seja de queda, quer de seifão, ou ainda pelo systema de Betteneourt:, com outro cofre ao lado, e um flictuador; gastará tantas madeiras de construcção como levaria uma grande não de linha no casco; preciza mais de adufos de maré, quer tenha por fóra barramentos para as defender na occasião das chêas; e outra adufa com barramenros no embocadouro das Onias; preciza de muitas comportas pelo lado do Norte, em correspondencia dos esteiros de navegação, e dos muitos regatos, que descem dos montes, afim de as fechar por occasião de trovoadas, e no tempo das chêas: ahi temos tambem o gasto de tantas outras madeiras, como seriam precisas para duas, ou tres fragatas: por conseguinte, provado tenho a grande despeza, que fará o Estado; e os particulares com este canal, e por isso não basta dizer-se - é util: e necessario ver, até que ponto e util, e para quem; por que depois do canal feito, e derivadas para elle as aguas do Tejo, não e possivel que possam navegar os barcos de Vallada para cima, por que todos os barcos do Alto Tejo são forçados a entrar no canal, e a pagar direitos: por conseguinte, se este canal tiver as dimensões necessarias, que já expuz, podendo admittir barcos grandes de Santarem para baixo; então é util ao maior numero de passageiros, e barcos de transporte; é util á Capital, e ao commercio em geral; mas uma obra desta natureza não é a Valla de Azambuja, é o encanamento do Tejo, certamente, pelo melhor methodo, que se póde fazer. - Mas um canal destes, é muito arriscado; por que fica submerso, durante as chêas: e co,o então esta parte do Tejo é muito larga, e um verdadeiro braço de mar; segue-se o haver ás vezes ondas muito impoladas com os ventos do Sul, que batem as bermas com muita força, e que as pódem arruinar em poucas horas, destruindo o canal. Se isto accontecer, ahi ficam perdidas as madeiras do Estado, que são de muito valor, e o povo a pagar as despezas por 40 annos. Então não seria muito conveniente, que se ponderasse tudo isto; que se consultassem os homens sabios da Nação, e as corporações scientificas, para que exposessem ao Governo, com clareza e preciza demonstração, o maximo effeito, que as ondas agitadas pelo vento, podem fazer sobre as bermas do canal, e quaes as resistencias que se lhe deviam oppôr, e os meios seguros de as conservar? Ah! Sr. Presidente, esta questão era importantissima; por que se o canal se destruir durante uma forte chêa, como a deste anno, póde o Tejo precipitar-se na escavação do mesmo canal; abrir um leito irregular á sua vontade e converter em mouchões, e quebrados os Campos de Vallada.

Eu faço muito bom conceito desses estrangeiros, a quem esta obra está confiada; póde ser que previnam isto tudo; mas não seria mais patriotico, e mais decente, que fosse tudo previsto pelos nosssos Portuguezes? Nós tambem somos gente; tambem temos quem saiba muito bem, o que e um canal; quem estude, e quem se dedique á Engenharia Civil, não obstante o continuo desprezo, e mau tratamento, que dos seus compratiotas recebem os homeas, que se dedicam ás artes e ás sciencias. Não tem pratica (dizem); mas como a podem ter, se para tudo quanto ha se mandam vir estrangeiros? Quer-se fazer um caminho, venha um estrangeiro, e traga carros, e até carrinhos de mão para este Paiz de Hotenlotes;, faz-se a guerra, venha um estrangeiro commandar; venham estranhos para tudo quanto ha: e diz-se depois que os Portuguezes não tem pratica!... A força de tudo se entregar aos estrangeiros, e todo quanto dinheiro temos, receio que ainda venha tempo, em que Portugal fique riscado da lista das Nações. Não temos pratica: esta é boa! Tambem se fazem muitas obras excellentes sem ter pratica; e pelo que respeita a canaes, fizeram-se os maiores, que tem visto o Mundo, por homens que não tinha pratica; e até nesses tempos remotos hão tinham nascido as sciencias proprias para os construir; nem havia a sciencia da Hydraulica, nem dos ramos a ella respectivos, a Hydrodinamica, a Physica, a Chimica, a Mechanica, e a Geometria. - Méus, Rei do Egypto, quiz fazer um canal para communicar o mar rôxo com o mediterranio, obra assombrosa, e não chamou estrangeiros: meteu mãos á obra, e o canal abriu-se; mas não lhe foi possivel acabalo em sua vida; veio depois Dario, continuou os trabalhos, e seguiu-se a este Ptqlomeu Philadelphus, que teve a gloria de concluilo, e fez a junccão dos dous mares. Já não existe este canal, por que Omar o mandou entulhar junto do mar roxô. O filho de Gentehis-Kan, na China, empreheddeu fazer um canal, de nada menos de trezentas leguas; e não mandou buscar homens de pratica, Belgas, nem Francezes; pois essa pratica ainda não era conhecida: mandou tapar as vasantes naturaes de um grande lago, que havia ao sul do seu Imperio n'um sitio elevado; fez romper uma, montanha, e levar as aguas ao ponto culminante do canal; alli as repartiu para dous lados, norte, e sul; e fez abrir o grande canal, que ainda existe, por onde navegam embarcações tão grandes, como as nossas fragatas de

1843 - ABRIL 68