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O sr. Marquez de Vallada:—Exactamente, foram essas as minhas palavras e são as minhas idéas.

O Orador:—Eu confesso a verdade, parece-me que o digno par está fora da Europa e que não attende bem ao estado das cousas e espirito da epocha em que vivemos! Pois s. ex.a não vê que a Europa toda está em revolução e em revolução permanente?! S. ex.a não contempla a agitação que ha; povos desde a meia idade procurando sempre um progresso que não pôde deixar de estar afastado de outras idéas e de outros tempos. Se s. ex.a declarasse guerra eterna aos reaccionários, isso entenderia eu; mas proclamar essa guerra aos revolucionários quando nós estamos forcejando por nos subtrahir ao dominio dos padres, que queriam sempre dominar a sociedade civil por aquelles meios que nós todos vemos sob o pretexto de caridade e de religião, perturbando o socego das familias, é uma incoherencia por certo para admirar. Pois então o digno par emquanto se queixa d'este jornal, esquece o que todos nós por tantas vezes temos visto estampado nas columnas de um jornal legitimista! Não tem n'elle visto escriptas as cousas mais inconvenientes contra a dynastia reinante e contra as instituições. (O sr. Marquez ãe Vallada:—Também não approvo, mas hei de responder a isso fazendo um paralello.) Mas eu ainda não vi que se fizesse a menor increpação a esse jornal que está por assim dizer quasi todos os dias atacando a pessoa do rei directamente! Pois então merece mais cuidados a honra e credito do sr. patriarcha de Lisboa, do que merece a familia real! Do que merecem as instituições? Pois então acaso não se vê, sr. presidente, que estão minando solapada-mente procurando corromper a sociedade! Pois é isso o que eu queria ver combater com todas as forças, e não occupar-mo-nos em accusar este jornal que tem um redactor a quem se não deu mais do que um emprego de mesquinha e ridícula retribuição, que não recebe subsidio algum do governo, é que se bateu pela pátria defendendo sempre a liberdade. (O sr. Marquez de Vallaãa:—E atacando também a Senhora D. Maria II infamemente.) Eu não sei que nunca taes ataques se fizessem. (O sr. Presiãente:—Peço que não interrompam o orador.) Eu leio habitualmente o Portuguez e nunca li esses ataques, antes estou persuadido que tem mostrado respeito pela familia real, e eu, pela minha parte, muito deveras o professo, porque não quero de forma alguma o dominio dos que combatem as actuaes instituições, querendo que se levantem novamente as forcas e se accen-dam também de novo as fogueiras da inquisição, substituindo á lei o arbítrio, e ao governo liberal um poder ty ranno.

O sr. Conãe ãa Taipa (sobre a orãem):—E para dizer em primeiro logar o que entende sobre revolucionários reaccionários. O orador assevera ao sr. barão de Villa Nova de Foscoa, que o progresso não é revolucionário nem reaccionário. Os revolucionários querem, proclamando o progresso, estabelecer uma ordem de cousas análoga á sua in-tellectualidade, ao que chamam espirito da epocha; e os reaccionários querem levar o progresso para uma ordem de cousas análoga ao que já passou, porque entendem que o progresso dos revolucionários o que quer é acabar com o direito, substituindo-lhe o poder da força. Ambos elles têem diante de si a acção e poder das idéas, e é essa que elle quer ver livre, o que comtudo não se pôde fazer em quanto' se perturbar a sociedade seja de que modo for.

Não ha nada mais prejudicial do que esses ataques a pessoas respeitáveis, ou que devem ser respeitadas; obra de caprichos particulares de gente que só pela sua maneira de proceder se vê que não ha para elle3 nada respeitável. Se não diga-se-lhe qual é o caracter publico que o jornal de que se falia não tenha atacado impunemente? Se qui-zesse apresentar exemplos não acabaria nunca.

Pelo que lhe diz respeito não faz caso d'elle; todos sabem que tem servido o paiz conforme pôde, e nunca pediu cousa alguma: quasi toda a gente aqui tem servido de ministro, menos elle; pergunta a todos os ministros se já viram alguma pretenção sua; se já tiveram algum requerimento seu a despachar? Nunca. Ha muita gente nestas circumstancias; não se está apresentando como excepção única, mas declara, porque pôde faze-lo, que nunca ha de accusar os jornaes; deixa-os dizer tudo o que quizerem porque está muito alto para que lhe possam chegar os seus tiros; o que faz é dizer de vez em quando alguma cousa para mostrar que não tem delles medo nenhum.

E conclue, porque era só isto o que desejava dizer ao sr. barão de Villa Nova de Foscoa sobre a sua distineção de revolucionários e reaccionários.

O sr. Presiãente:—Eu não posso deixar de dizer á camará, que depois do sr. ministro do reino responder que ha de tomar as providencias que se julgarem necessárias, parece-me que devia terminar esta questão.

O sr. Marquez ãe Vallaãa:—Mas eu pedi a palavra para dar uma explicação ao sr. barão de Villa Nova de Foscoa. S. ex.a aggrediu-me fortemente, e eu não posso deixar de lhe responder.

O sr. Vellez Calãeira:—Peço a palavra sobre a ordem.

O sr. Marquez ãe Vallaãa:—O sr. barão de Villa Nova de Foscoa dirigiu-se a mim na sua resposta, começando-a por um elogio que bem depressa desappareceu; que á si-milhança do luzeiro que apparece e se esconde no horisonte presagiando a tempestade imminente veiu apenas luzir para bem depressa deixar tudo nas trevas.

Sr. presidente, s. ex.a disse-—que embora fizesse justiça a algumas qualidades minhas, que passou em rápida resenha, não podia estar de accordo comigo em certas excentricidades que s. ex.a me notou.

Que eu não estava de accordo com o sr. barão de Villa Nova de Foscoa dizia-o a minha vida politica; que s. ex.a pensava de uma maneira diversa da minha, diziam-n'o os seus precedentes. Está ahi a historia contemporânea que o

attesta e proclama. Não havia portanto n'isso espécie alguma de offensa. Era a constatação de um facto, era a apreciação de uma doutrina por outra contraria. Mas s. ex.a foi mais avante, e apresentou certas proposições, que tratou também de defender; mas que eu, sem ter tomado nota delias sobre o papel, mas, parecendo-me que a minha memoria será fiel, passarei em rápida revista, acompanhan-do-as de commentarios ou combatendo;as com todo o ardor que a minha convicção me inspira. E esse o meu dever como homem conservador, como membro desta camará e respeitador das bases sociaes, e amador sincero dos princípios liberaes.

É a primeira vez que na camará dos pares se proclamam francamente estas doutrinas. Eu gosto de ver um inimigo descoberto e de lança em riste contra mim; gosto mais de o ver assim, do que achar-me accommettido por um adversário que se esconde. O sr. barão de Villa Nova de Foscoa, ha muitos annos retirado das lides da tribuna, ha muitos annos retirado do ministério em que esteve, ao que me parece só uma vez, de modo que passou apenas por elle. (Vozes: — Esteve duas vezes.) Duas vezes?! Bem;.mas então esteve de ambas tão pouco tempo, que realmente não aqueceu muito as cadeiras ministeriaes. O sr. barão de Villa Nova de Foscoa, digo, pelas apreciações que fez, e idéas que apresentou, está esquecido de alguns factos que se têem passado neste paiz, se é que talvez lhe não passaram desapercebidos. (O sr. Barão ãe Villa Nova ãe Foscoa:— Esquecido.) Como v. ex.a quizer. Dou-lhe a escolher: quem não vê é como quem não sabe; e quem não sabe é como quem não vê.

O sr. barão de Villa Nova do Foscoa tachou de imprudência o pedido que fiz ao ministério, de dar ao paiz satisfação de certos crimes que estão classificados como taes pela nossa legislação. Eu creio que s. ex.a é também jurisconsulto; e posto que já tenha combatido com alguns jurisconsultos, foi de uma maneira diversa, e por isso creio que elles me acompanharão agora com apreciações favoráveis ás minhas idéas.

Disse s. ex.a: «Eu não vejo que haja n'isto offensa, que o ministério deva punir». Pois s. ex.aesqueceu-se de que ha um código penal, e que já anteriormente tinhamos leis que puniam abusos, como este que praticou o Portuguez? Pois o sr. barão de Villa Nova de Foscoa não sabe que ha uma palavra que se chama dever? S. ex.a esqueceu a resposta dada por Sua Magestade ás felicitações que em nome da camará ha pouco lhe dirigiu o sr. visconde de Laborim? «Cada vez necessitámos mais de conhecer a necessidade do dever».

Muito bem disse o chefe do estado, e mais fortemente o diria, se tivessem chegado ao seu conhecimento antes de responder a esta camará as proposições que acaba agora de proferir um digno par apenas entrado n'esta camará por effeito da ultima nomeação. Creio deveras que os outros dignos pares que acompanharam então a s. ex.a nunca tiveram as suas idéas.

Se ha quem entenda que devemos governar com a revolução, e pela revolução, para a revolução, não era melhor, em vez de entrar para a camará conservadora, em vez de vestir os arminhos, que pozesse na cabeça o bonet rouge, que pela sua côr, nos recorda todos os horrores e orgias da revolução franceza? d'essa revolução que invocava a liberdade, mas á sombra delia arvorava a guilhotina, que captava a benevolência do povo e de alguns fidalgos ignorantes, ou pouco conhecedores do mundo, a quem dizia «deveis despojar-vos dos vossos privilégios, porque a pátria reclama esse sacrifício;» e depois despojou-os também da vida? Esses fidalgos faziam a corte á revolução, mas depois | vinham expiar o seu crime ou o seu erro na praça da revolução: as suas cabeças rolavam sobre o cadafalso. Madame Rolland, caminhando para a guilhotina, e encarando a estatua da liberdade, dizia-lhe: «Cobre o teu rosto, ó liberdade; quantos milhares de crimes á tua sombra se têem commettido!»

Sr. presidente, é assim que procedem sempre todos os revolucionários. Todos elles invocam os principios da liberdade, igualdade e fraternidade mas é para eiles o para os seus irmãos; essa liberdade, fraternidade e igualdade é só d'elles e para elles; para os outros é o punhal, quando não podem erguer a guilhotina (O sr. Barão ãe Villa Nova ãa Foscoa:—Isso não são revolucionários). O que são elles então? Não é assim que procedem sempre em toda a parte em que chegam a estabelecer o seu dominio ? E com a historia na mão que apresento as minhas proposições, para tirar d'ellas os corollarios. São estes os principios revolucionários em toda a parte. Pobre rei, que por um momento julgou que fazia a felicidade do paiz e a sua própria entre-gando-se aquelles que lhe diziam: «se quereis ver-vos livre dos vossos falsos amigos, que são antes vossos adversários, entregae-vos a nós!» Oh como pagou caro a sua fraqueza! Sr. presidente, os reis que se entregam aos revolucionários, não tarda que vejam acontecer-lhes o que aconteceu a Carlos I, o que aconteceu a Luiz XVI.

Sr. presidente, que n'uma camará de pares se viesse dizer— combatamos os reaccionários; seguramente que se podia admittir, se esses reaccionários quizessem desthronar o senhor D. Pedro V, ou destruir a carta, procurando illu-dir os seus adversários com o falso pretexto de algum principio justo; porque aqui, sr. presidente, como em toda a parte, muda-se de vestuário mas a idéa fica a mesma, e então, sr. presidente, só Deus sabe o que acontece! Mas fazer-se a apotheose da revolução quando nós sabemos o que ella quer, sempre e em toda a parte!...

Sr. presidente, que subversão de todos os principios! Que idéas tão novas saíram de uma boca tão anciã! Se fosse um joven que proclamasse estes principios, desculpa-lo-ía, e dir- j lhe-ía talvez o que dizia o nosso grande estadista e collega j

o sr. Rodrigo da Fonseca Magalhães, que disse aqui um dia: «Deus nos livre de encontrar um homem que em moço não tivesse sido republicano, por que depois de ter amadurecido elle reformaria os principios da sua mocidade...» E a mim que me parecia que o sr. barão de Villa Nova de Foscoa devia ter amadurecido já! S. ex.a ha de ter lido, e seguido passo a passo a carreira politica de mr. Gruizot; ha de ter lido as suas memorias e os seus differentes artigos dispersos por diversas revistas, por meio dessa leitura ha de ter notado que por uma gradação constante vem entrando nos verdadeiros principios da ordem, e chega por fim a ser um consumado politico, um homem diante de quem todos se curvam e a quem respeitam.

Ficar sempre, sr. presidente, nas mesmas idéas, querer sempre o que queriam uns poucos de homens em 1820 que diziam: «queremos uma constituição mais liberal do que a de Cadiz», éimpossivel e impróprio do homem pensador, não é de progressista, é ser estacionário como um marco.

Sr. presidente, o cortejo das revoluções é sempre o mesmo. Em geral pedem se reformas e economias, mas as reformas e as economias encerram-se em destruir o que está feito, substituindo-o por cousas impraticáveis e peioros. As economias consistem em demittir os homens que exercem certos logares, para metter n'elles outras pessoas que se desejam collocar; c depois de esgotada esta parte do pro-gramma, chega a vez das reformas, o que se chama a destruição dos abusos; aqui attacam-se os negociantes, que são tachados de homens obnoxios, para se considerarem os honestos, e quem são estes? os que ajudam a consummação da obra, mais logo atiram-so aos proprietários, chega a vez de acabar com os fidalgos... Mas os homens que dizem isto são os primeiros que fazem transacções em que especulam com o descrédito do paiz, que destroem a propriedade para serem proprietários, c fazem montaria aos fidalgos emquanto não chegam a ser fidalgos. Até o digno par quiz ser fidalgo, e par do reino apesar das suas idéas...

O sr. Barão ãe Villa Nova ãe Foscoa: — Não pedi nem uma cousa nem outra.

O Oraãor: — Mas aceitou-as, e agora é fidalgo. Ora, quem é fidalgo e membro de uma camará de pares, não sobe á tribuna para proclamar a revolução!

Disse s. ex.a que não via que fosse necessário accusar o artigo, porque nada continha de offensivo, mas ha de per-mittir-me o observar-lhe que apenas viu a primeira parte, ou então esqueceu-se da segunda parte, do que mais importante se lê nesse artigo. Nelle não se tratava só das exéquias do conde de Cavour, mas de injuriar o prelado, e de o ameaçar com outras caíumnias em perspectiva, que já de si constitue uma nova injuria. Mas tratava-se das exéquias do conde de Cavour que s. ex.a também deseja. E por esta occasião direi de passagem que, nas cousas da igreja, quem governa são os prelados, e não todos os individuos. Essa era a doutrina de Marco Antonio Dominis; de quem já tive occasião de dizer que ensinava que a igreja é governada por todos os fieis, o que equivale a dizer que são os leigos que governam. Nos assumptos da igreja o sr. patriarcha é o juiz competente, ao qual devem todos obediência.

Pois o digno par, que é um dos chefe3 do partido que tem proclamado que ó necessário que as irmãs de caridade se sujeitem ao prelado, que se tem apparentado cheios de indignação por uma supposta desobediência, não percebe a triste contradicção em que caiu vindo revoltar-se agora contra a jurisdicção do prelado?! Eis aqui o que são as parcialidades politicas!

Disse também s. ex.a que se devia ter consideração com um desgraçado, com um homem pobre e que tem combatido pela liberdade; mas onde é que essas circumstancias dêem a ninguém direito para conculcar as leis e affrontar a moral publica? e mais avançou s. ex.a, que nunca esse jornal insultou a senhora D. Maria II! Isto não esperava eu que s. ex.a dissesse! Apesar das minhas excentricidades, apesar de não estar ligado aos centros revolucionários e maçónicos, de que nos tem informado iususpeitas publicações, posso informar a s. ex.a de que tenho um livro aonde escrevo os differentes acontecimentos, e sei perfeitamente que, numa occasião solemne o Portuguez declarou em phrase bem intelligivel que tomava sobre si a responsabilidade de todos os artigos que tinham sido publicados no Patriota. E que jornal era este? Aquelle que insultou mais infamemente a vida privada da rainha. Mas s. ex.a não sabe d'isto! Deixou passar desapercebidos esses artigos, apesar de tão repetidos e de sua extrema impudência.

Eu não leio regularmente esses jornaes immundos; mas quando publicam algum artigo contra mim ou mais notável contra algum homem superior, ou contra as idéas sociaes, mando comprar, porque não quero perder esses documentos que mostram qual é o estado da sociedade, ou da administração publica; o que seria fácil se não os mandasse comprar, porque não assigno para nenhum jornal.

Ao Patriota andava annexa uma outra publicação O Supplemento Burlesco; pois também o comprei, e custou-me bastante, porque existem poucas collecções, se s. ex.a quizer pôde vê-lo, tanto porque alguns dos seus amigos o hão de ter como eu mesmo lh'o poBso emprestar. Neste jornal e no supplemento estão estampadas todas as affrontas que certos homens dirigiram á senhora D. Maria II; poderá o digno par contestar a verdade do que deixo dito, que ninguém ignora, e de que existem os documentos comprobativos?

Disse também o digno par que era melhor que eu guardasse o meu ardor para combater um jornal que todos os dias combate a dynastia e as instituições. Julgo que s. ex.a se refere á Nação e talvez também ao Povo, jornal que nunca vi. Mas pois que s. ex.a allude a elles, é notável, sr. presidente, que a Nação tem sido chamada aos tribu-