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778 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

eu era apenas um simples operario, cheio de boa vontade sim, mas sem mais nada.

Assim, pois, não me espantei que a minha boa vontade de nada servisse. Espantou-me, sim, o espectaculo a que todos assistimos. Pullularam as ambições e todos se julgaram com jus a ser enthronisados chefes. O espectaculo, guardadas as proporções, foi a repetição d'aquelle a que deu logar a successão de Alexandre.

Não estavam, como os successores de Alexandre, da posse da Cappadocia, da Thracia, do Egypto ou da Macedonia, mas um dispunha de cinco deputados, outro do voto de tres pares, outro tinha mais linha, e se todos julgavam com direitos superiores aos dos contrarios.

Depois d'este combate de ambições o que succedeu?

Succedeu o que era de esperar, ninguem se entendia e o enfraquecimento do partido era fatal.

O resultado vemol-o hoje no documento que deu logar ás declarações do digno par o sr. Barjona de Freitas.

Os signatarios d'elle dizem-se regeneradores, sr. presidente, e com effeito são os seus nomes que habitualmente figuraram nas lides do partido, mas o que são é degenerados, porque quebraram a tradição que tinham herdado.

Poderão continuar a chamar-se assim, se ninguem lhes contestar o nome, mas não são os antigos regeneradores de Fontes Pereira de Mello, nem os continuadores da sua politica.

São um grupo importante d'esse antigo partido que escolheu para chefe o sr. Antonio de Serpa.

Sobre o caracter e intelligencia d'este respeitavel cavalheiro nada tenho a dizer, e sob este ponto de vista pois escolheram perfeitamente.

Prezo-me de ser amigo particular de s. exa., e d'elle nunca recebi se não provas de consideração e estima.

Mas isso não é rasão para que eu applauda a sua proclamação como chefe do antigo partido regenerador, e creio que não escolheram acertadamente.

O ultimo consulado do sr. Fontes luctou com duas opposições: uma franca, regular, natural, a do partido progressista; a outra acre, tenaz, persistente, a do sr. Antonio de Serpa, que durante mezes, como redactor do Jornal do commercio, proclamou quasi diariamente que o governo malbaratava a fazenda publica, que falsificava as suas contas, que eram inefficazes os alvitres que propunha, n'uma palavra que era incapaz de governar.

Comtudo, são aquelles que faziam parte d'essa situação que, precisando quem os aconselhasse, vão agora buscar para o fazer o sr. Antonio de Serpa, o mesmo que no Jornal do commercio tão acerbamente os criticava.

Logo, ou o sr. Antonio de Serpa foi a Canossa, e durante quatro dias e quatro noites esteve com os pés na neve, vestido com a camisa alva dos penitentes e a corda ao pescoço, implorando o perdão do conclave que o havia de eleger, ou foram os que o proclamaram que reconheceram agora que st exa. era justo nas suas criticas e que confessaram os seus erros.

Ora eu não posso admittir qualquer das duas hypotheses.

Nem tenho o sr. Antonio de Serpa em tão pouca conta que o julgue capaz de começar a sua chefia por um acto que o amesquinha e apouca, nem creio que homens como os srs. Hintze Ribeiro, Bocage e Aguiar, com um passado intacavel, com tradições muito superiores ás d'aquelle que proclamaram chefe, renunciem a ellas e venham hoje confessar como erros o que na realidade foram serviços.

Prefiro admittir uma terceira hypothese e suppor que tacitamente uns e outros combinaram esquecer o passado, passar sobre elle uma esponja e encetar vida nova.

Muito bem. É o novo partido regenerador, mas o que não é com certeza é o partido regenerador de Joaquim Antonio de Aguiar, de Rodrigues Sampaio e de Fontes Pereira de Mello.

É possivel que lhes esteja reservado um futuro glorioso; ninguem o deseja mais do que eu; e ninguem os applaudirá mais sinceramente, porque a gloria dos partidos compõe-se com os actos acertados da sua administração que redunda em favor da prosperidade publica.

Appellem, pois, para o futuro, mas cessem de appellar para o passado; cessem de o offerecer como garantia porque não lhes pertence; as tradições do partido regenerador não são suas, são de mais alguem, e se n'ellas tiveram qualquer parcella, embora importante, a tudo renunciaram com o documento que firmaram.

Sr. presidente, este resultado tinha-o previsto eu (e não era difficil prevel-o) é por isso que me abstive de entrar em qualquer manejo para a nova organisação do partido regenerador.

Não fui convidado para assignar o manifesto. Não me queixo, embora talvez a minha qualidade de, antigo par eleito regenerador me d'esse o direito de ser ao menos consultado.

Não o fizeram, nem lh'o levo a mal. O facto é que eu não sei occultar o meu pensamento, ou se lê na minha cara, ou as minhas palavras o não sabem esconder, e por isso não posso censurar ninguem por se não arriscar a uma recusa.

A minha resposta era sabida. Conservei a minha independencia e não me arrependo.

Alguem poderá perguntar-me, porque é que pensando eu como penso sobre os principios dos partidos constituidos não assentei arraiaes no partido progressista?

Não o fiz porque sempre me repugnara actos inuteis.

É certo que os principios apregoados pelo partido, progressista são os principios liberaes de todos os partidos monarchicos portuguezes e são os meus, é certo que entre os homens que o dirigem conto amigos dedicados e intimos e que me merecem confiança igual á que me inspirava o sr. Fontes Pereira de Mello ou o sr. Hintze Ribeiro, mas o partido progressista não precisava do meu pouco valioso auxilio; os partidos quando estão no poder não precisam de adhesões; a minha entrada n'estas circumstancias poderia ser considerada uma pretensão ao marechalato, poderia dar logar a julgarem que eu me considerava cardeal papavel, e quem sabe se amigos que hoje me estendem a mão sem reservas não começariam a olhar-me como concorrente.

Só uma unica cousa me poderia ter levado a dar esse passo.

Era, se o tivesse julgado necessario para obter para a camara municipal de Lisboa o auxilio do governo, auxilio de que não póde prescindir, emquanto a sua situação financeira não estiver definitivamente regulada.

Mas nem essa rasão tenho, porque a verdade, sr. presidente, é que a camara municipal de Lisboa não tem recebido senão favores do governo actual, que nunca se tem recusado a auxilial-a, prompta e proficuamente, todas as vezes que o tem precisado. Direi mesmo que no actual ministro do reino tenho encontrado mais facilidade em despachar as pretensões da camara do que achei no seu antecessor, que presidira á sua eleição, e não hesito em dizel-o na presença do digno par, o sr. Barjona, porque isto não envolve censura, pois s. exa., auctor da lei que fomos chamados a pôr em execução, nunca se recusou a prestar-me a força de que por vezes precisei, o que não impede que o seu successor o tenha feito com mais promptidão e facilidade, provavelmente por querer mostrar com o seu proceder a sua imparcialidade.

Ainda podia ter achado pretexto para me filiar no partido progressista, quando soube que o meu nome era indigitado pelo governo para candidato a uma cadeira n'esta casa do parlamento.

Quando isto succedeu, dirigi-me a um membro do governo, que está presente, e perguntei-lhe se o facto era verdadeiro, e, recebendo de s. exa. resposta affirmativa, disse-lhe immediatamente que teria muito gosto em voltar