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SESSÃO DE 1 DE AGOSTO DE 1887 779

a occupar a cadeira que deixara, mas que não tomava compromissos. A resposta foi que assim o entendia o governo. Igual declaração fiz ao sr. ministro do reino quando, por signal nas escadas do ministerio da justiça, s. exa. me confirmou o que o seu collega já me dissera.

S. exa. respondeu-me gentilmente que eu julgaria os actos do governo, e que negaria a minha approvação aos que considerasse prejudiciaes ou inconvenientes.

Por consequencia, nem para com os antigos nem para com os modernos me prende compromisso algum. A minha liberdade de acção tenho-a completa e absoluta.

Ninguem me póde accusar de desertor. A bandeira que jurei esfarraparam-n'a os proprios a quem incumbia defendel-a, e os que lograram apoderar-se da maior parcella foram entregal-a a quem tentára apoucal-a. Não fui eu que desertei da bandeira, foi ella que se afastou de mim.

Se me perguntam se tenciono conservar-me isolado, direi que não.

Eu sei perfeitamente que, na politica como na arithmetica, o zero, e n'este caso o zero sou eu, desacompanhado nada vale, e visto que me acho na vida politica, não me resigno a ficar para sempre annullado.

Não é que eu desconheça o papel que na politica podem representar os homens independentes, desligados de compromissos partidarios, quando reunem as qualidades e a auctoridade que a posição exige, qualidades e auctoridade que não tenho e que provavelmente nunca terei.

E com isto respondo ainda a uma observação do digno par, o sr. Senna, quando disse aqui que não percebia uma nova classificação, hoje tão usada, a de amigos do governo, ou de todos os governos.

Eu não pertenço ao numero d'esses homens que são amigos de todos os governos, direi mesmo como p poeta: - L'ami du genre humain n'est pas monfait - mas estimaria muito ter auctoridade sufficiente para, com utilidade para a politica do meu paiz, conservar-me sempre independente.

Eu tenho muita sympathia por esse papel independente. Quem o representa póde prestar grandes serviços no parlamento, e a sua attitude é sempre como que um guia para as maiorias. Se um homem independente presta o seu apoio a uma medida qualquer, d'essas que excitam os odios e provocam as calumnias, é certo que a maioria, quando esteja incerta, não póde deixar de cobrar animo quando vê que quem não é levado por interesses ou por disciplina partidaria não hesita em votar; se a combate, obriga as maiorias a estudar a questão com maior cuidado, e ás vezes a fazer recuar os governos em medidas menos bem pensadas ou inopportunas.

Eu gosto muito d'este papel, sr. presidente, repito; mas como não tenho, nem terei nunca a pretensão de possuir a auctoridade necessaria para o representar, é provavel que mais cedo ou mais tarde eu vá novamente enfileirar-me num dos partidos constituidos. As circumstancias determinarão o meu proceder.

No entanto, o que eu posso desde já affiançar a v. exa. e á camara é que, quando me resolver a dar esse passo, não será nunca o partido que estiver no poder aquelle que eu hei de escolher.

Por ora, conservo-me na mesma posição.

Dou ao governo o meu fraco apoio, a minha adhesão, não porque seja seu partidario, não ainda porque applauda todos os seus actos, porque alguns ha que lhe não teria aconselhado, como por exemplo o ter decretado em dictadura tanta medida que não carecia de o ser por aquella fórma, mas porque lhe vejo proposito de regularisar as nossas finanças e a nossa administração, e por isso não duvidarei, repito, dar-lhe o meu apoio franco e leal em tudo que a meu ver mereça approvação.

Tenho concluido.

O sr. Thomás Ribeiro: - Sr. presidente, é natural que eu diga n'esta occasião algumas palavras, já que outros meus collegas na politica acharam conveniente e opportuno explicar a sua respectiva posição partidaria.

Bem se vê agora quão certa vae saíndo a prophecia de Fontes Pereira de Mello, momentos antes de morrer,

«Parece-me que ainda faço falta», disse elle, e bem se faz sentir agora essa falta enorme.

Lamento profundamente os factos que se têem dado no seio do partido regenerador, e, qualquer que seja a posição que eu tome, em relação ás diversas correntes que se manifestem n'esse partido, eu digo a v. exa. e ao paiz que não vou licenciar-me. Seria um crime nas circumstancias actuaes. Não me licenceio, mas não assigno matricula.

Faço votos para que á agremiação politica novamente organisada, e ás mais que do meu partido surgirem, nunca falte o apoio de homens serios e cordatos. Eu, pela minha parte, continuarei a pôr a minha palavra e as minhas faculdades, taes quaes são, ao serviço d'aquelles que trabalharem, na realisação de tudo que for util, grande e patriotico. Foram estes sempre os ideaes do meu partido.

Não admira que haja nos diversos grupos politicos, que da regeneração vão formar-se, quem mereça a minha amisade.

Não é debalde que se passaram tantos, annos em convivio partidario.

Depois talvez eu tenha apressado este desenlace, que aliás era fatal, segundo agora se vê.

Quando morreu o sr. Fontes Pereira de Mello, eu não estava em Lisboa. Vindo expressamente para manifestar o meu sentimento á sua enlutada familia, assisti a uma sessão da commissão eleitoral executiva, unico poder então constituido do partido regenerador.

N'essa sessão votou-se que o sr. Antonio de Serpa fosse aggregado aquella commissão.

Tomei parte na discussão e associei-me aos que votaram (e foram todos os presentes), que se lhe désse parte n'aquelles trabalhos.

Já v. exa. vê que eu tinha toda a deferencia para com o sr. Antonio de Serpa. Mais do que deferencia, amisade e gratidão.

Quando, pouco tempo depois da morte do sr. Fontes, foram convocadas as camarás, eu perguntei a amigos meus politicos, onde estava o partido regenerador, para minha orientação; e vi que todos aquelles que tinham obrigação de estar unidos, se haviam distanciado. Aqui, n'esta mesma casa, no fim d'uma sessão, empreguei todos os esforços para os juntar, o que consegui, até certo ponto.

Reunidos os antigos ministros da regeneração tentou-se organisar a unidade da acção no combate parlamentar. O meu fim, unico, era que houvesse onde nos reunissemos e combinassemos o plano de combate, pares e deputados. Pareceu-me ver desde logo, que a scisão era inevitavel, e que era importante.

Entre os dois methodos, eleger-se desde logo um chefe de partido ou um directorio.; votei pelo segundo; e muito explicitamente, e muito fundadamente.

Queria ver se adiava, e se, adiando, evitava isto que se está vendo.

Pedi que se não fizesse definitivamente a eleição de chefe, que organisassemos um centro onde alguem nos podesse reunir para tratarmos d'este assumpto, que era urgente e grave; não fui attendido, o que não admira, porque vou acreditando na transmigração das almas e parece-me que a minha é a da velha Cassandra.

Agora pergunto eu, se os homens que formam o grupo que hontem publicou o seu manifesto, são o partido regenerador?

Se são, eu desejo encorporar-me nas suas fileiras; mas, francamente o digo, não me parece que o sejam.

Nós eramos hontem um grande exercito, tinhamos á nossa frente um grande general; tinhamos o prestigio que dão victorias successivas, tinhamos uma grande fé no chefe que