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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 780

se nos tornava mais caro em cada dia, pelo conselho, pela palavra e pelo exemplo.

Tinhamos o numero o a força; tinhamos à palavra de tribunos e o conselho de estadistas; a confiança no futuro abonada pelas tradições, tinhamos as mais propicias condições de que um partido politico póde uffanar-se.

Isto não quer dizer, que faltem meritos, que faltem muitos d'estes elementos aos homens que hoje compõem o primeiro grupo dissidente, constituido com elementos tão valiosos do partido regenerador;

Mas a verdade é que esta fracção, não passa de uma fracção; a verdade é que não encontrâmos aqui o partido regenerador que o sr. Fontes nos deixou em testamento; a verdade é que, diminuido nas suas forças numericas e diminuido tambem no seu prestigio, eu olho e não1 vejo ali o partido regenerador. Vejo homens, sim, de grande valia, formarem uma agremiação politica e darem-lhe o nome que pertenceu á nossa collectividade mas a agremiação é diversa e é nova, embora de elementos antigos do partido.

O que vejo ahi é a representação de uma dissidencia que já se havia manifestado, mas cautelosamente, no seio da regeneração.

O sr. Hintze Ribeiro sabe que eu tenho pelo seu talento a consideração que lhe é devida, pois bem, vendo-o com o sr. Antonio de Serpa, quizera que me dissesse qual dos dois se submetteu.

Hontem o sr. Antonio de Serpa, cujo saber, cuja probidade, cujos dotes eu sou o primeiro a respeitar, representava um scisma no partido regenerador.

Não sei agora o que prevalece: a doutrina de s. exa. ou os methodos de administração financeira do sr. conselheiro Hintze, manifestados nas suas propostas?

Disse-o ha pouco o digno par o sr. Fernando Palha, e eu reedito a sua pergunta. Está aqui, no partido que se proclama n'este manifesto, a igreja ortodoxa ou a igreja reformada? Não sei. Não podendo comparecer na ultima reunião dos antigos ministros escrevi uma carta declarando que no caso de se manifestar uma scisão no partido regenerador, reservava o meu procedimento politico e a minha, liberdade de acção. N'esta situação neutra fiquei e me mantenho.

É minha opinião que já não póde salvar-se o meu partido, e esta proclamação inopportuna parece-me um erro gravissimo e fatal.

É apenas um aggravamento da molestia que de muito padecia o partido, e que determinou esta crise.

Sabemos, sabe toda a gente que o nosso saudoso chefe por vezes teve amarguras grandes, que até nem ousava manifestar em familia, com a sisania que se lhe semeava furtivamente nos prados.

Não pergunto se permanecem no grupo que se proclama partido, os germens da antiga doença; fôra obrigar os associados a uma reserva suspeita ou a uma confissão dolorosa; faço votos para que os agremiados logrem extirpal-os, para não encontrarem os estorvos que nós encontrámos, nós os que estamos a fazer estas declarações, nos ultimos tempos da nossa governação.

Chamei inopportuna esta proclamação e insisto no que affirmei.

Comprehendia que no principio da sessão legislativa, quando era urgente dar organisação e disciplina ás nossas forças, pois que uma campanha parlamentar se offerecia e tantos aggravos tinhamos a documentar e a articular, se precipitasse a organisação definitiva do partido, mesmo que fosse revolucionariamente; mesmo com risco de sermos chamados imprudentes, pois que força maior nos impellia; mas agora, no fim da sessão parlamentar e certo de uma dissidencia que o tempo podia desfazer, póde julgar-se que para a desunião se caminhou.

Pois não viram os pressurosos proclamadores que estamos n'um periodo manifesto não direi de desorganisação do partido regenerador, mas n'um periodo de desorganisação geral politica ou partidaria? Estâmos assistindo á evolução natural que lentamente, mas visivelmente opera uma transformação partidaria e politica em Portugal. (Apoiados.)

N'estas circumstancias, pergunto eu: que motivo levou os manifestantes a esta precipitação? Algum pensamento reservado de que o novo agrupamento póde ser victima.

Vão nas horas de Deus, certos de que levam comsigo, com os meus receios os meus votos de ventura. Ficarei para ajudar os que trabalhem em proveito e honra d'este paiz aos que promovam o augmento da sua riqueza, o aperfeiçoamento da sua illustração e a manutenção das suas liberdades.

Se me não alisto como soldado ou emquanto me não alisto bater-me-hei como voluntario.

Commigo estão e commigo esperam antigos camaradas parlamentares que ousaram como eu ouzei affirmar, n'outros tempos, e em questões gravissimas, as suas convicções liberaes; juntos aguardamos a organisação do partido que logicamente ha de provir d'esta desaggregação, providencial que se observa nos diversos agrupamentos politicos de Portugal. Pois que o partido regenerador é morto, iremos com quem devamos ir.

O sr. Hintze Ribeiro (s. exa. não reviu o seu discurso): - Sr. presidente, começarei por onde acabou o digno par o meu amigo o sr. Barjona de Freitas; s. exa. entende que melhor fôra que todos fossemos á campa do nosso illustre chefe o sr. Fontes, levar-lhe, como extrema homenagem ás suas cinzas, a certidão de obito do seu partido. Triste homenagem, sr. presidente, para aquelle que tão largos annos da sua vida consagrou a assegurar a existencia, o futuro e a prosperidade d'esse partido.

Mais grata homenagem, entendo eu, mais grata e mais digna d'elle e de nós, é guardar religiosamente o legado que das suas mãos recebemos, não deixando morrer com elle o seu partido, assegurando-lhe que elle vive e continua sustentado por aquelles que era sua vida lhe ouviram os conselhos e consideram por isso dever seu, o velar por elle, sustentar-lhe as suas gloriosas tradições, amparal-o nas difficuldades do presente, e encaminhal-o nas aspirações do futuro, fortalecer-lhe o prestigio por novos actos de administração, e levantar-lhe o brilho por novos serviços prestados ao paiz, fazendo que a sua força, a sua significação e o seu valimento se mantenham na altura em que nol-o deixou.

É este o dever de todos que o acompanharam, que ouviram a sua palavra, que escutaram o seu conselho e que receberam o seu exemplo.

Deixar morrer o partido? Nunca.

Não o permitte o nosso dever nem como partidarios nem mesmo como cidadãos.

É preciso que na monarchia constitucional haja dois partidos regularmente constituidos, para se poder operar a rotação constitucional; suspender, inutilisar uma roda d'essa engrenagem seria um erro fatal. É necessario que haja, pelo menos, dois partidos para se alternarem no poder, e assegurar a força e vitalidade das instituições e promover a prosperidade nacional; um d'elles está no poder, o outro era e é o partido regenerador, que está vivo, que não deixaremos morrer, e que resolutamente sustentaremos sempre, quer nas responsabilidades do seu passado, quer nas aspirações do seu futuro.

Mas para que elle não morresse, para que elle podesse defender as suas responsabilidades, combater os principios e os actos dos seus adversarios e levantar firme, intemerata essa bandeira que dizem esfarrapada, era indispensavel e era urgente collocar o partido nas condições regulares de um partido organisado, e nenhum partido póde existir n'essas condições sem um chefe. Emquanto n'esse partido houver homens de boa fé, sãos de consciencia e verdadeiramente dispostos a cumprirem o seu dever através de todas as difficuldades, nunca essa bandeira deixará de erguer bem alto no nosso campo o lemma do partido que