O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

SESSÃO DE 1 DE AGOSTO DE 1887 781

tantos annos teve por chefe, Antonio Maria de Fontes Pereira de Mello, cuja perda por muito tempo choraremos, porque foi enorme para o partido e para a politica portugueza.

O partido não podia morrer, e para isso era necessario, não digo reconstituir-se, mas unir-se. Era pois indispensavel que um novo chefe fosse escolhido, porque, repito, nenhum partido póde viver sem chefe.

Para tomar essa resolução estavam naturalmente indicados aquelles que pelo seu antigo e chorado chefe tinham sido chamados a cooperar com elle no governo do estado. Parece que seriam esses os competentes, e assim o entendia elle tambem, pois ainda nos ultimos tempos da sua vida esse illustre estadista, nas questões mais difficeis, nos problemas mais importantes, se acercava dos que haviam sido seus collegas na governação publica para depois de ouvir as suas opiniões e o seu conselho traçar o caminho que tinha a seguir.

Ora, eu entendo que, faltando elle, era dever dos seus collegas caminharem para a resolução de uma questão tão difficil e tão importante para o partido, pois que ella interessava á sua existencia, pelo caminho que elle proprio em vida nos traçou.

Reuniram-se, pois, os antigos collegas do sr. Fontes e a ninguem foi estranha a conveniencia, mais que conveniencia, a necessidade de tomar uma resolução que affirmasse que o partido existia, que podia continuar no seu caminho de progresso e de civilisação. Desde que tudo isto se reconhecia, a consequencia lógica era combinar em paz sobre a escolha do chefe.

Foi então que vimos com mágua affastar-se o nosso collega e amigo o sr. Barjona de Freitas; mas esse acontecimento, por mais doloroso que fosse para todos nós e para o partido, não podia alterar a nossa opinião sobre a necessidade de tomar desde logo uma resolução definitiva.

Sr. presidente, posso asseverar a v. exa. e á camara que todos os que haviamos sido collegas do digno par, e que estavamos acostumados a admirar o seu talento, a firmeza do seu animo o grande valor do seu conselho e todos os distinctissimos predicados, finalmente, que o exaltavam aos nossos olhos, todos, repito, vimos com a mais profunda mágua e a mais sentida dor afastar-se aquelle nosso tão illustre collega.

Mas, sr. presidente, por mais sinceros, por mais profundos e por mais cordiaes que fossem os sentimentos de todos nós para com s. exa., a camara comprehende que, acima do dever e das considerações pessoaes, havia uma cousa que fallava mais alto, o interesse do partido e o interesse da nação.

Esse interesse exigia uma resolução prompta para que o partido podesse apresentar-se com a vitabilidade politica, e a força da sua união, nas condições regulares de poder alternar-se com o partido que está no poder.

Por isso nós, deplorando a perda de um dos nossos collegas mais illustres, entendemos que o nosso dever era não parar, não adiar, mas sim caminhar, custasse o que custasse.

É verdade que s. exa. instou para que houvesse uma reunião publica de todo o partido, a que s. exa. assistiria.

Mas pergunto, póde-se fazer uma reunião do partido que está espalhado por todo o paiz, em todas as localidades, e fazel-o convergir a um sitio qualquer, constituindo-o em plebiscito? Parece-me que não. Reunir aquelles que pela sua representação politica no partido, poderiam traduzir o voto, o sentimento e a maneira de pensar dos nossos correligionarios, foi o que se fez, e elles estão reunidos e tomaram a responsabilidade da resolução que se julgou mais conveniente, assignando este manifesto.

O seu voto foi a expressão do pensar de todos aquelles, que n'esta conjunctura mais legitimamente, podiam representar o partido.

Comtudo, sr. presidente, essa resolução que nós tomáramos, com o fim de congregar as nossas forças partidarias, foi, na opinião de s. exa., o que determinou a scisão, que aliás s. exa. abriu.

Eu poderia soccorrer-me das palavras do sr. Thomás Ribeiro, para responder ao sr. Barjona.

Aquelle digno par disse que quando o parlamento se abriu não sabia onde estava o partido regenerador. E eu não diria o mesmo, porque nunca perdi a esperança de que o partido affirmasse a sua existencia, a sua vitalidade, a sua influencia na politica portugueza; e mesmo na actual sessão legislativa elle não deixou nunca de sustentar no parlamento as suas doutrinas; doutrinas que se encontram gravadas e traduzidas em factos em todo o consideravel periodo da existencia do partido na moderna historia politica e administrativa de Portugal. Por consequencia, via-se aqui, aqui esteve nas discussões parlamentares da actual sessão, sempre no seu campo.

Com relação ás attribuições do chefe estranhou o digno par que ellas se reduzissem á faculdade de convocar os membros do partido que pertencessem ao parlamento.

Não é só para convocar os membros de ambas as casas do parlamento que se elege um chefe; é tambem para que elle vele, por interesses que são, não só do partido, mas da patria. É para presidir ás deliberações do partido com a auctoridade moral que lhe dão os seus longos serviços, a sua pratica dos negocios, e com esse prestigio tomar a iniciativa de propor e aconselhar o que mais conveniente for no interesse do paiz.

O futuro demonstrará se a resolução que nós tomámos era ou não de supremo alcance; o que ella de certo não era, era para maguar ninguem.

Onde está o partido regenerador? Pergunta o sr. Barjona. Se não está em nós, não me parece que, sem aliás possas. exa. querer agora fazer confrontos, affirmar que está em si.

O digno par entendia que se devia convocar uma reunião publica do partido, para deliberar sobre a escolha de chefe. Nós entendemos que esse processo não era praticavel, por isso que o partido se acha largamente espalhado por todos os pontos do paiz; e que nem mesmo estava isso nas tradições do partido. Tambem não era facil a reunião de delegados que legitimamente representassem as idéas de todos membros do partido porque a verdade é que nem em todas o as localidades do paiz está o partido regenerador agrupado em centro, partido, que todavia não tem impedido este de lhes prestar largos serviços, impellindo-as na senda do progresso e não lhes faltando com os melhoramentos de toda a ordem, com que deve ser dotada uma nação que se préza.

Mas a affirmação da existencia do partido está expressa nos nomes que subscrevem o manifesto; esses nomes por si só symbolisam a historia dos actos mais importantes do partido; estão ali em grande numero os homens que têem sustentado, e conseguido fazer vingar, as doutrinas professadas por todo o partido; estes nomes são portanto os dos seus mais legitimos representantes, porque são os d'aquelles que mais acercados se têem conservado da bandeira do partido regenerador.

Não será pois aqui que está o partido?

Feitas estas declarações concluirei dizendo aquelles, que assintam ao nosso modo de ver, que aqui os esperâmos; aos que desejem como nós, só a gloria do partido e apenas tenham divergido sobre uma questão de fórma, tambem os receberemos de braços abertos, considerando-os bem vindos e caminharemos ao seu encontro quando para nós caminharem; e digo isto, porque me parece que uma pequena divergencia de fórma, que em nada diz respeito a doutrinas e principios, não poderia cavar entre uns e outros um abysmo, ou erguer uma barreira insuperavel, quando é perfeita a communhão de principios, de convicções e de responsabilidades.

Seja, porém, como for, separados ou unidos, pela nossa parte continuaremos no campo, que foi sempre o nosso,