O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

846 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

anterior projecto d’este caminho de ferro, louvo-me no parecer da junta consultiva das obras publicas, que votou contra a adopção do mesmo ante-projecto.

No tocante ás bases financeiras, nem acceito o custo kilometrico estipulado, nem a adjudicação a uma companhia, nem a construcção pelo systema das grandes empreitadas.

É necessario olhar para tudo isto. É preciso proceder aos estudos definitivos, tratando primeiro de fixar qual o ponto da Chella que deve ser escolhido para terminus da linha, determinando, em relação a esse ponto, a direcção geral do traçado, desde Mossamedes até á base da Chella, e começando em seguida pelo projecto definitivo da primeira secção, a fim de se dar principio aos trabalhos de construcção que em todo o caso devem ser feitos por conta do estado, seguindo o systema usado aqui no continente, isto é, por pequenas empreitadas ou tareias.

Quero d’esta fórma o caminho de ferro de Mossamedes, porque sei qual é a importancia capital deste caminho no actual momento em que tão a peito tomámos tudo que se refere ás nossas questões internacionaes, relativamente ás colonias, e sei que o fim principal que se deve ter em vista desde já é fazer desapparecer a demora e difficuldade que ha em vencer a distancia que separa a villa de Mossamedes do plan’alto da Chella, para facilitar as relações entre os dois pontos.

São taes as condições de fecundidade e salubridade do planalto da Chella, onde parece que ha uma região quasi paradisiaca, que tirada a distancia e guardadas as devidas proporções, ella póde considerar-se relativamente a Mossamedes, como o castello da Pena d’aquella Cintra Africana!

Portanto vê-se a urgencia e vantagem que ha em auxiliar a colonisação d’essa região, facilitando o transporte de mercadorias e reduzindo a onze horas os quatro dias que actualmente são necessarios para transpor a distancia que que separa o alto da Chella da villa de Mossamedes.

Entendo, pois, que se presta um grande serviço ao paiz, ás colonias e aos emigrantes, construindo este caminho de ferro, e procedendo a esse melhoramento da fórma que menos sacrificios acarrete ao thesouro.

Mas não é, infelizmente, nos termos deste projecto que tal caminho se deve construir, nem que eu lhe dou o meu voto.

A fórma por que o governo entendeu resolver este problema pelo lado financeiro, é de tal modo inadmissivel, principalmente no que respeita ao calculo do custo kilometrico dos 150 kilometros, no meio que o governo propõe de entregar esta construcção a uma companhia e a algumas das modificações feitas pelas commissões da camara dos senhores deputados á proposta do governo, que o sr. relator do parecer das commissões d’esta casa, cavalheiro por cuja honestidade de caracter eu professo a maxima consideração, quando chegou ao ponto de ter do alludir ao processo financeiro, só achou para justificar o projecto nesta parte a seguinte rasão: «Ha momentos na vida dos individuos como na vida das nações em que é necessario jogar tudo por tudo. Esse momento chegou, etc.»

Chegámos, pois, sr. presidente, segundo diz o sr. relator e approvaram as commissões d’esta casa, ao momento em que é necessario jogar tudo por tudo.

Isto é quasi que um reclame a dizer que está posta a banca, venham os pontos levar o monte á gloria.

Ora eu quero a construcçao do caminho de ferro de Mossamedes, mas voto contra o plano dos jogadores.

Tenho dito.

O sr. Luiz de Lencastre: — Sr. presidente, cabe-me a honra de relatar este projecto; cabe-mo esta honra por indicação do sr. presidente da commissão do ultramar. Acceitei.

Sinto-me bem aqui n’esta questão, e sinto-me bem aqui porque penso hoje como pensara era 1875 quando pela primeira vez eu tive a honra de levantar a voz no parlamento do meu paiz.

Eu disse então que as questões ultramarinas não eram questões politicas, questões de bandos, de partidos, mas sim que eram questões de administração, questões do paiz, que quer estivesse no poder o sr. Fontes Pereira de Mello, chefe do meu partido, quer o sr. duque de Loulé ou qualquer outro cavalheiro que ao soberano aprouvesse chamar aos seus conselhos, eu estaria sempre a seu lado nas questões; ultramarinas.

Penso ainda hoje, sr. presidente, como pensava em 1875 quando tive a honra de relatar na camara dos senhores deputados a proposta que acabou com a escravidão dos negros de Africa.

Essa medida foi da iniciativa do honrado e chorado marquez de Sá da Bandeira, d’esse homem, d’esse liberal convicto e pertinaz que durante quarenta annos, desde 1836 a 1875, propugnou por que a escravidão dos negros fosse banida, e a liberdade fosse uma realidade.

Teve a felicidade de secundal-o com a sua iniciativa intelligente, e por varias vezes audaz, um homem d’estado distincto, João de Andrade Corvo, que fez votar nas duas camaras e converter era lei o pensamento d’aquelle honrado velho, reliquia veneranda, e venerada do estado maior de D. Pedro IV.

E assim foi promulgada a lei de 29 de abril de 1875.

Teve esse consolo e essa gloria João de Andrade Corvo, orgulho do meu partido, honra e gloria deste paiz, tão assetiado em vida, mas tão chorado na morte por todos que sabiam o que elle valia, e na verdade valia muito..

Penso ainda hoje, como pensava quando relatei na camara dos senhores deputados em 1875 uma das mais importantes propostas que em beneficio das possessões ultramarinas têem sido apresentadas ao parlamento.

Esta proposta era da iniciativa de Corvo e tendia a fazer obras publicas em grande escala, e com o despendio de grossas sommas nas provincias de Angola, Moçambique, á. Thomé e Principe e Cabo Verde, proposta que foi acceite com applauso geral, e convertida em loi.

Penso ainda hoje, como pensava quando relatei e sustentei a proposta da iniciativa do meu velho amigo o sr. Thomás Ribeiro, em 1877, para a creação da provincia da Guiné, que foi votada nas duas camaras e convertida era lei.

Sr. presidente, sinto-me sempre bem n’estas questões, e hoje ainda mais porque vejo que nesta camara todos estão de accordo em que é de uma grande conveniencia o projecto que se discute. O digno par que primeiro tomou a palavra fallou de tal forma que não tenho senão a agradecer a s. exa. as expressões amaveis e delicadas que se serviu dirigir me, palavras proprias da sua fina educação e dignas do seu caracter elevado e nobre.

Sr. presidente, no parecer que se discute está manifestado o pensamento da commissão, e por isso tambem o meu.

Jogar tudo e por tudo, diz o parecer, e eu entendo que ha momentos em que tanto os individuos como as nações teem obrigação de assim procederem.

N’este momento mais que em nenhum é preciso usarmos de reserva, e esta reserva é tanto mais necessaria agora, porque olhos estranhos estão sobre nós. Não explico por tal motivo como desejava a phrase do meu relatorio, filha do meu pensar intimo e de portuguez.

Eu quizera que tanto o parlamento como a imprensa do meu paiz fossem reservadas em certas occasiões, porque a reserva muitas vezes é necessaria não só aos individuos, mas tambem ao parlamento e á imprensa.

Sr. presidente, todos se lembram de que n’aquella fatal guerra de 1870 em França, quando Mac-Mahon, seguindo O plano do ministro da guerra, se resolveu a soccorrer Bazaine, que um jornal francez publicou esse plano. D’aqui resultou que o conde de Moltke teve conhecimento dos mo-