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CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO
Discurso do digno par marquez de Niza, que devia ter logar na sessão de 6 de setembro, e na sua integra, a pag. 2075, col. lin. 7.º
O sr. Marquez de Niza: — Sr. presidente, serei muito breve, porque vejo que a camara já esta cansada, e conheço a pouca amenidade da minha palavra; mas entendi que devia definir a posição politica em que me quero collocar na presença da situação actual. Eu deixaria para outra occasião a explicação dos meus actos se não estivessemos na possibilidade, como o governo declarou na outra casa do parlamento, de sermos adiados, e então entendi que não devia deixar passar a sessão de hoje sem fazer esta declaração, mesmo para explicar alguns actos meus anteriores, e não os deixar expostos a malevolas interpretações. Eu separei-me da opposição em que militei por alguns annos, quando se fez a fusão, que se me afigurou de uma maneira muito differente daquella por que o sr. ministro da fazenda acabou de fazer a sua apologia. Não daria o meu apoio ao governo transacto se não fosse esse o unico meio que tinha para fazer opposição á fusão, porque não a podia fazer só, e o unico meio que tinha para me oppor áquelle passo dado pelo partido a que até ali pertencia. Separei-me d'este governo desde que reconheci que a sua marcha pouco segura, pouco prudente, nos levava á situação em que nos achâmos actualmente.
Portanto é claro que não posso dar o meu apoio a este governo.
Appareceu depois um grupo que se separou de um e de outro lado da camara electiva, mostrando pelo seu procedimento, e pelo seu voto, que suppunha que nem uma, nem outra das duas grandes fracções que dividiam a camara, poderiam governar o paiz pela quasi igualdade das suas forças.
Não quero entrar agora na questão, nem ser o interprete das opiniões alheias; mas refiro qual foi a interpretação do publico, e mesmo de alguns jornaes. Eu confesso que partilhei essa opinião, porque entendi que, nem um, nem outro lado da camara tinham a força necessaria • para governar.
Declaro francamente que teria sido convenientissimo, pelos meios legaes e constitucionaes, se fizesse conhecer á corôa que seria mais bem aconselhada, procurando formar uma situação fóra de ambos esses grupos. A corôa porém, pela sua liberdade plena, entendeu de differente modo. Estimarei muito ter-me enganado, mas não o espero.
Já declarei que não posso apoiar o governo, entretanto é possivel que algumas medidas elle apresente que tenham a minha approvação. Já assim pratiquei durante o ministerio presidido pelo sr. duque de Loulé, ao qual fiz constantemente opposição, menos em duas medidas que entendi que eram essencialmente convenientes ao paiz, e que com muito sentimento meu vi que foram combatidas pela opposição em que eu militava; uma foi a da abolição dos vinculos, e a outra a do codigo hypothecario, e eu uni-me ao partido do governo, para sustentar aquellas medidas. Repito que é possivel que o mesmo caso se dê com a actual administração, mas continuando, como estou, na opposição politica a este ministerio. -