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SESSÃO DE 6 DE AGOSTO DE 1887 847

Obrigou os filhos a uma tal intensidade de trabalho que no fim de algum tempo comprometteu-lhes a saude. Caros lucros.

A historia de Bellos e Formigaes é muito parecida; tinham o mesmo conhecimento do genero com que lidavam o mesmo amor ao trabalho, e comtudo só se resolveram a montar a sua fabrica de moagem depois de verem o exemplo do seu vizinho.

Não eram por certo os agentes do governo que se fossem collocar á frente de uma empreza d'esta ordem, que haviam de alcançar lucros por esta fórma. Basta ver o que acontece com os talhos municipaes, em que a camara tem melhores condições do que ninguem para poder ganhar, se todavia ainda no anno passado em que as condições do mercado não podiam ser mais favoraveis, ao menos durante seis mezes, teve uma perda de 5:000$000 réis. E porque é isto? E porque a camara tem de recorrer, para este serviço, a agentes intermediarios que pouco se importam que ella perca ou não e que por conseguinte administram mal. Não quero dizer que não appareça um ou outro que emprega todo o zêlo e actividade para bem servir a camara; porém, esses consideram-se excepções.

E porque se ha de recorrer ao governo? Se os agricultores estão convencidos que se póde com vantagem montar uma fabrica para moer os trigos nacionaes, porque o não fazem? Não têem capitaes?

Quem tem terras tem sempre meio de obter os capitaes que precisar para explorar uma industria.

Eu bem sei que os pequenos não podem entrar n'este caminho; mas se ha tantos grandes que se choram, que se associem e reunam, e depois nos dirão os resultados que tiraram e as facilidades que encontraram.

Ninguem queira inferir das minhas palavras que eu julgo que nenhuma protecção merece e precisa a agricultura, que d'ella se deve despreoccupar completamente o governo. Não, o meu pensamento não é esse; deve dar-se-lhe protecção mas não é esta, não é a das pautas, não é a que faz com que se venda caro, é a que habilita a vender barato ganhando.

Quer o governo entrar n'esse caminho? Muito tem que fazer.

Comece por desenvolver a instrucção agricola, não só a que por ahi vejo dar em institutos, quintas modelos ou com agronomos officiaes, mas a instrucção pratica dada com o exemplo, indo por assim dizer, metter pelos olhos dentro ao agricultor o que é bem feito e o que é mal feito.

Assim como ha já uma instituição de escolas moveis que com excellentes resultados tem andado de terra em terra ensinando instrucção primaria, porque se não ha de seguir o mesmo processo para o ensino agricola, porque se não ha de mandar a casa do agricultor, e com a sua annuencia, a sitio onde todos possam ver e todos aproveitar, o pratico, não fazer experiencias duvidosas, mas ap-plicar processos já experimentados, podar bem onde se póda mal, alqueivar onde apenas se arranha a terra, adubar onde os adubos são desconhecidos.

O sr. Margiochi: - Punham-nos de lá para fóra a pau.

O Orador: - Não punham. É verdade que o agricultor é muito rotineiro; resiste á palavra, resiste ao livro, mas não resiste ao exemplo; em vendo o vizinho colher dez onde elle só colheu um, imita immediatamente o vizinho.

Já n'outra occasião contei á camara o que me succedeu quando quiz introduzir as charruas vinhateiras na região onde tinha vinhas. De principio chamavam-me parvo, diziam que eu destruíra em vez de cultivar, mas quando viram que a producção era melhor, que o serviço era mais bem feito e mais barato, deixaram de me correr á pedra, e todos imitaram o meu exemplo.

Na agricultura, como em todas as industrias, tudo depende de saber ou não saber tirar dos elementos da terra, das forças naturaes, intelligente e opportunamente, o proveito que podem dar.

Eu já aqui apresentei um exemplo que fui buscar á minha propria familia.

Meu avô abandonando o fôro para se dedicar á lavoura arruinou-se e deixou dividas de centenares de contos de réis; meu tio Antonio, nas mesmas terras, fez uma grande fortuna; o que prova é que um sabia cultivar e tirar da terra o que ella póde dar, outro, não menos intelligente, mas com outras aptidões, escravo da rotina e não sabendo d'ella emancipar-se, fez da terra o sorvedouro de tudo quanto tinha.

Um só facto torna o exemplo frisante.

Quando meu tio Antonio, farto de ter olivaes e de não ter azeite, mandou metter os machados ás oliveiras, o pae que n'isto via um attentado ás suas idéas sobre a cultura da oliveira deu-lhe uma tal descompostura que só um filho a podia ter ouvido.

Uma provincia inteira, o Alemtejo, está hoje mostrando que a terra só é ingrata para quem d'ella não cuida. Em vinte annos a propriedade tem ali, por assim dizer, passado completamente de mãos, e o resultado é que o que d'antes, nas mãos dos antigos donos e seus rendeiros, eram charnecas, são hoje herdades valiosissimas; o trabalho do homem tudo transformou.

Facilitem-se, pois, os conhecimentos agricolas, ensine-se o lavrador e veremos em breve a transformação ser geral.

A melhor protecção que se póde conceder ao agricultor depois da instrucção, é facilitar-lhe capital barato.

Trate o governo de envidar todos os seus esforços no intuito de concorrer para que o agricultor possa, quando queira melhorar as suas officinas, ir buscar o capital que precisa e que o obtenha em boas condições, e se o poder, conseguir, de certo que lhe presta um, serviço muito mais valioso do que a mesquinha protecção que agora lhe quer dar.

Mas esse credito não soube creal-o antes de ter espalhado a instrucção que o agricultor precisa.

Antes d'isso é inutil estar a confiar capitaes a quem não sabe tirar d'elles proveito.

Antes d'isso o esforço será improficuo, porque o Credito mais se baseia na confiança pessoal, que merece o devedor, do que no valor do penhor que póde offerecer; o banqueiro prefere sempre, e com rasão, confiar o seu dinheiro a quem sabe que o vae empregar intelligentemente, do que a quem lhe dá segura hypothese, mas ao mesmo tempo lhe não paga em dia.

Eu sinto que não haja um banco que faça transacções hypothecarias de modo que o proprietario de prompto podésse ter o dinheiro que precisasse, sem prender por longos annos a propriedade.

Uma remodelação do credito predial podia n'este sentido fazer um grande serviço, e já em tempos me occupei de achar a fórma por que se poderia, sem alterar a indole d'aquelle estabelecimento, realisar este fim; isto é, obter rapidamente e em boas condições dinheiro a curto praso em hypotheca.

Os outros bancos recusam-se a fazer emprestimos d'este genero, e com rasão, porque a natureza das suas transacções, a sua indole e o credito de que precisam não consentem que o seu capital esteja empregado de fórma que de prompto o não possam realisar.

A hypotheca tem esse defeito: se o devedor não paga é moroso o processo de realisar a divida.

Esse inconveniente desappareceria por esta fórma: o proprietario depois de ter feito avaliar pelo banco predial o seu predio, hypothecava-lh'o pelo maximo, segundo os estatutos do banco, e registava em seu favor a hypotheca; em troca o banco, mediante uma ligeira commissão, dava-lhe um titulo, pelo qual se obrigava dentro de um praso