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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 763

tes termos teve de recorrer-se á nomeação de uma commissão mixta.

Mas, sr. presidente, se então declarei, e novamente o faço, que me associo a todas as provas de consideração, que forem dadas áquelle nosso illustre compatriota, não supponho, comtudo, e parece-me que ninguem poderá suppôr, que se deva dar a esta questão o caracter de questão politica, que ella não tem, e o governo consideral-a-ha sempre, pela sua parte, fóra de quaesquer considerações politicas. (Apoiados.)

A commissão mixta não chegou a um accordo, e não me compete averiguar o que se passou no seio da commissão, porque as suas sessões são secretas; mas sinto profundamente o resultado da sua reunião.

Entretanto, sei que os desejos dos senhores deputados, dos que desejam premiar dignamente os serviços do nosso corajoso explorador, não eram de certo menos vivos do que os da camara dos dignos pares; e estou persuadido, pois, de que, se o resultado da reunião da commissão mixta não foi satisfactorio, a causa de sé não chegar a um accordo foi unicamente porque os seus membros da commissão divergiram na fórma por que entendiam premiar esses serviços.

A opinião das duas camaras é igualmente favoravel ao illustre explorador. O governo ha de ser o fiel interprete desses sentimentos, e tanto na orbita das suas attribuições como recorrendo aos corpos legislativos, no que for dependente d'elles, julga do seu stricto dever proseguir no empenho de manifestar a esse nosso brioso concidadão todo o apreço que nos merece pelos grandes feitos que praticou. São estás as intenções do governo.

Sinto que o meu illustre amigo, o sr. Andrade Corvo, entendesse dever apresentar á camara ã carta que lhe escreveu o sr. Serpa Pinto. Espero, comtudo e appellarei mesmo n'este ponto para a coadjuvação do digno par, que poderemos conseguir do nosso intrepido compatriota que não insista n'uma resolução, que seria para nós summamente desagradavel.

Eram estas as declarações que eu tinha a fazer.

O sr. Andrade Corvo: - Sr. presidente, pelas palavras de v. exa. poder-se-ha concluir que o facto de eu apresentar n'esta camara a carta do sr. Serpa Pinto fóra consequencia das resoluções tomadas na commissão mixta. Se v. exa. se dignar mandar ler a data d'essa carta verá que o sr. Serpa Pinto, quando a escreveu, não podia saber o que resolvera a mesma commissão.

Não tive em vista apreciação de especie alguma relativamente á commissão mixta. Ella fez o que entendeu; nem a censuro, nem a louvo; mas, se não a censuro, nem a louvo, associo-me ao sr. presidente do conselho, e meu amigo, é sr. Anselmo Braamcamp, sentindo que o resultado do negocio fosse áquelle que magoou profundamente s. exa. E eu sei que se magoou.

Repito, a carta foi escripta quando se não sabia, nem podia saber, em Rezende a decisão da commissão mixta. Pela minha parte não fiz senão cumprir uma missão honrosa para mim e honrosissima para o sr. Serpa Pinto.

O que eu desejava, pedindo a palavra, era, como disse, associar-me ao sentimento do sr. presidente do conselho pelo desastrado incidente occorrido, render louvores mui sinceros á heroicidade do sr. Serpa Pinto e dos exploradores Capello e Ivens, embora n'isso desagrade aos que nunca fizeram nada dizer que não houve intuito de censurar a commissão mixta; finalmente, sentir que o governo não conseguisse o resultado dos seus bons desejos e da camara dos pares, à qual o sr. presidente do conselho estava convencido que se associaria a camara dos senhores deputados.

ORDEM DO DIA

O sr. Presidente: - Continua a discussão do orçamento do ministerio das obras publicas. Está inscripto o sr. Vaz Preto.

O sr. Vaz Preto: - Parece-me que o sr. visconde de Chancelleiros é que tem a palavra.

O sr. Presidente: - Eu creio que o sr. Mendonça Cortez não tinha acabado o seu discurso; mas póde dal-o por terminado, se assim o entender.

O sr. Mendonça Cortez: - Nas reflexões que fiz na sessão anterior, disse o que julguei sufficiente com relação á defeza do orçamento do ministerio das obras publicas; e creio que quem está inscripto depois de mim é o sr. visconde de Chancelleiros.

O sr. Visconde de Chancelleiros: - Eu peço a v. exa. que tenha a bondade de me dizer se ha mais alguem inscripto.

O sr. Presidente: - Não ha mais ninguem.

O sr. Visconde de Chancelleiros: - Não havendo mais ninguem inscripto, cabe-me agora a palavra, que pedi no fim da ultima sessão e no final do discurso do digno par o sr. Mendonça Cortez.

Como v. exa. vê, é esta a segunda vez que contra vontade minha, e apenas sob á influencia das suggestões do digno par, eu sou obrigado a tomar a palavra sobre o orçamento do ministerio das obras publicas.

Faço o com menos reluctancia do que a que seria natural em mini, nas condições em que me encontro, porque me parece que secundo assim o intuito claramente significado pelo digno par de protrahir a discussão, ao contrario do que até agora parecia convir aos interesses da maioria. São conhecidos estes planos, e estas evoluções rapidas na tactica parlamentar, e não censuro o digno par por as haver concebido, ou pôr se haver encarregado dá sua execução. Ganha até com isso perante o meu espirito uma circumstancia attenuante. S. exa. lança mão de todos os seus recursos, põe em acção todos os meios de que dispõe, e põe-se a si mesmo n'um relevo saliente, para chamar sobre si a attenção de quem combate b orçamento, desviando-a de sobre o governo. Faz mais do que Mucio Scaevola, não põe apenas á mão sobre as brazas, atira-se elle proprio ao fogo, como expiação das suas culpas, e como prova da sua abnegação. A sua dedicação partidaria leva-o a impulsos de tamanha generosidade. Não lhe bastava ser relator fatal de todos os projectos, é tambem o orador obrigado em todas as conjuncturas difficeis.

Repito, não lhe quero mal por isso. Tenho a alma bastante larga para comprehender todo o sentimento, por muito generoso que seja, e quando mesmo suspeite que o intuito politico o anima e inspira.

O que é verdade, porém, sr. presidente, é que até aqui não era permittido discutir o orçamento sem que se levantasse a apprehensão de que se pretendia com essa discussão embaraçar a acção do governo. Agora são os proprios membros da maioria que prolongam essa discussão, e que por todos os meios ao seu alcance provocam os membros da opposição a tomarem parte nella. Em vista d'isto chega a duvidar-se de que as côrtes apenas estejam prorogadas até 26 do corrente. Ora, se eu, usando agora da palavra, pedir ao sr. ministro que falle pelo sr. relator, ou ao sr. relator que falle pelo sr. ministro, para que um dos dois me responda; e para que eu depois haja de responder a qualquer d'elles, esta discussão chegará ao praso fatal de encerramento, sem que nella se comprehenda de certo nem a questão do imposto de rendimento; nem de outros projectos que a maioria está virtualmente obrigada a discutir e a votar. Qual é pois o intuito da maioria? Logo veremos se o podemos descortinar.

Insistiu ainda o digno par na sua réplica em me comparar a Erasmo. Mais, declarou que eu era o Erasmo do seculo XIX. Pois bem, fical-o-hei sendo perante o digno par, e oxalá que perante todos eu tivesse direito a tão lisonjeira comparação. Não terá, porém, o digno par mais titulos para ser considerado o Izidoro Mercador do seculo XIX?