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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 795

pois, arrependido de o haver inaugurado; mas outros se arrependerão de o haver distraindo. A cada um as suas responsabilidades. Eu acceito as minhas sem hesitação.

Sobre a construcção do caminho de ferro do Loanda no interior de Angola, consultei eu o nosso illustre collega, então governador geral de Angola, o sr. José Baptista de Andrade, e dizia-me s. exa. por essa occasião:

"Tenho demorado a resposta á regia portaria de 5 de agosto, sobre um projecto de viação publica para esta provincia, porque fui informado de que alguns negociantes da praça de Loanda se haviam quotisado para, á sua custa, mandarem pessoa competente fazer estudos e orçamentos para um caminho de ferro que, partindo do Donde no concelho de Cambambe, fosse por Carenzo para os concelhos mais de leste.

"Como, porém, até ao presente não tenham podido engajar pessoa habilitada para dar principio a taes estudos, que o governo da provincia havia de auxiliar para d'elles ter conhecimento e informar com exactidão o governo de Sua Magestade, vejo-me na necessidade de responder a tão importante assumpto, muito mais superficialmente do que desejava.

"A viação publica n'esta provincia não tem sido tão descurada como muita gente imagina. As portarias e relatorios existentes no archivo da secretaria do governo geral provam que bem raros foram os governadores que não attenderam a este tão efficaz meio de desenvolver a riqueza do paiz.

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"Para mim não é nova a idéa da applicação dos caminhos de ferro n'esta provincia, e já em 1862 mandei o engenheiro João Soares Caldeira fazer o nivelamento e traçado para um caminho de ferro entre Loanda e Calumbo, cujos trabalhos foram concluidos em setembro de 1863."

Já lá vão dezesete annos sem nada se fazer pelo processo de obras publicas no ultramar até hoje seguido.

Depois d'isto o sr. Andrade mostrava que esse caminho de ferro se podia e devia prolongar 348 kilometros, indo de Calumbo até Oeiras, no alto Zambeze, e d'ahi a Ambaca e mesmo até Malunge.

O custo de toda a linha calculava-a o sr. Andrade em 5.000:000$000 réis.

E provava com dados estatisticos, sobre a producção d'aquellas regiões e sobre o movimento da alfandega de Loanda, que este caminho de ferro pagaria logo os encargos da sua construcção.

Isto mesmo provou no seu estudo sobre este mesmo caminho de ferro o sr. Sarrea Prado, e confirma o estudo dos engenheiros actualmente occupados no serviço de obras publicas de Angola.

Sem alongar mais estas considerações, lendo á camara o resto do relatorio, citarei, comtudo, o que elle diz ácerca do custo de transporte das mercadorias, dos concelhos do interior para Loanda, por intermedio dos denominados carregadores.

Diz o sr.. Andrade:

"Só estes generos (os que vem do interior a Loanda para serem exportados) dão para 94:352 cargas de 45 kilos cada uma, e deixo de mencionar 1.199:832 kilos de azeite de palma, e 486:676 kilos de coconote e mais alguns generos das margens do Quanza que podem aproveitar a via fluvial.

"Para a compra de generos vindos do interior, vão de Loanda muitas cargas de aguardente, de fazendas de algodão, de contarias, de espingardas e de ferragens, avultando tudo pelo menos metade do que se recebe, eleva-se o total das cargas a 141:528. Actualmente bem poucos são os pontos em que se paga menos de 2$000 réis a cada carregador, pagando-se em muitos pontos a mais de 3$000 réis a carga; portanto, calculando a media; ternos 2$500 reis por carga, importando assim a totalidade d'ellas em 363:820$000 reis."

(Interrupção do sr. Costa Lobo.)

Offender-me, não. Eu não me offendo nem mesmo quando o digno par me mandou para o banco dos réus.

É pois evidente, sr. presidente, que o nosso collega, o sr. Andrade, governador de Angola em 1874, funccionario zelosissimo e muito conhecedor das condições economicas e das necessidades da provincia, tem, ácerca de obras publicas e da construcção do caminho de ferro de Angola, idéas analogas ás que tinha o sr. Rebello da Silva, e que eu procurei realisar.

Verdade é que o sr. Andrade acreditava, quando escreveu o officio a que me estou referindo, e que está publicado no relatorio do ministerio do ultramar de 1875, que se podia levar a effeito o projecto do caminho de ferro pela iniciativa particular. Como negocio lucrativo, já se vê, e não pela iniciativa provincial.

Mas os tempos e os factos têem vindo provar que, sem auxilio ou caução directa do governo, tal obra se não póde executar; e para tomar a tal respeito qualquer alvitre, a primeira cousa era o governo estudar, technica e economicamente, a questão. E foi isto que se fez já, em resultado dos ousados trabalhos dos engenheiros que esta na Africa.

Tenho, pois, como a camara vê, muitos cumplices n'este crime de querer fazer no ultramar obras publicas, a fim de ali desenvolver os elementos da riqueza.

E estes cumplices, os que estão vivos, de certo acceitam essa cumplicidade; os que estão mortos, não o duvidemos, acceitariam tambem o responsabilidade de um tal crime. Fiquemos certos que á sua memoria ficará vinculada uma grande gloria, qual é: para Rebello da Silva, o ter sido um distincto ministro da marinha, um representante condigno tias idéas progressivas e dos melhoramentos das nossas colonias; para o marquez de Sá, a de ter promovido um grande melhoramento nas nossas colonias, a abolição da escravatura, e com ella o desenvolvimento do commercio e da agricultura.

Assim, pois, criminoso não sou eu só. Não se trata porém de defender, que não precisam de defeza, esses grandes vultos, esses nobilissimos caracteres. Trata-se de principios, e é d'estes que vou occupar-me agora.

Tem-se dito, e repetido muitas vezes, que todas as despezas feitas com as nossas colonias são despezas perdidas. Os factos, porém, dizem exactamente o contrario. Basta ver os dados estatisticos para se avaliar a rapidez progressiva do desenvolvimento commercial que têem tido as nossas colonias africanas, e isto sem se haver estabelecido a plena liberdade dos indigenas, a qual começou ha pouco.

Assim a provincia de Cabo Verde que em 1844 tinha uma população de 71:500 pessoas, sendo a população da Guiné de 4:500, e incluindo uma população de cerca de 8:000 escravos; tinha em 1874, pelo natural desenvolvimento que resultou da acção fecunda da abolição da escravatura, uma população de cerca de 97:000 individuos, sendo a população da Guiné 6:000.

Quando em 1874 eu tive a honra de referendar um decreto que acabava com os ultimos vestigios da escravidão em Cabo Verde, havia ainda mais de 1:000 libertos.

Na população da Guiné ha a notar que de 6:154 individuos da metropole são unicamente 40, estrangeiros europeus 62, o resto são indigenas barbaros, ou individuos que, vindos das outras colonias, permanecem pouco tempo na Guiné.

É esta uma circumstancia pela qual sou levado a affirmar, não em relação a Cabo Verde, mas em relação ás outras colonias, que ali se não póde estabelecer um systema politico, comparavel com o das colonias inglezas, onde existem assembléas deliberantes, ministros responsaveis, e outras instituições de caracter liberal.

N'uma população, como a da Guiné, o caso é evidente. Mas ainda mesmo em Angola não são, infelizmente ainda, as condições propicias para uma tal organisação, como logo mostrarei.

Na Guiné, com uma população de 40 a 100 europeus, e