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810 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

um papel importantissimo no desenvolvimento material de um paiz. Isto não é uma theoria inventada agora. Mr. Gladstone, um dos homens que n’uma idade adiantada mais falia, e escreve com toda a discrição, dando constante testemunho da sua grande intelligencia, publicou ultimamente n’uma revista quinzenal, Furtnighi Revieiu, um artigo, no qual dizia que em Inglaterra os caminhos de ferro tinham produzido um melhoramento economico que se podia calcular na rasão de 30 por cento, e que as medidas economicas adoptadas n’aquelle paiz tinham produzido tambem um melhoramento, mas na rasão de 70 por cento.

Já se vê que é incontestavel que os melhoramentos materiaes trazem desenvolvimento; mas a proporção das medidas economicas adoptadas por aquella nação, segundo a opinião de um homem competentissimo, é muito superior a esses melhoramentos.

E digo isto n’esta occasião, porque me parece que agora mais do que nunca se desenvolveu a idéa da mais dispendiosa de todas as obras. A epocha actual é toda de exigencias.

Não as quero caracterisar; direi apenas — exigencias do movimento que se pretende desenvolver.

Eu que, até certo ponto, tinha collocado algumas esperanças nos receios do sr. ministro da fazenda, termo renunciado um pouco a ellas, por ver que uma das condições que parece mais propria para um governo improvisar e realisar todos os melhoramentos, é expressamente aquella em que as suas circumstancias financeiras offerecem alguma dificuldade!

Eu não sou d’esta opinião; sei que sustentar estas idéas é odioso; mas é necessario que alguem tome sobre si esse odioso.

Ha certas inteligencias, de certo com intenções muito recommendaveis, que exigem esse desenvolvimento; mas é necessario tornar o odioso de tal facto, que póde trazer um protesto, póde trazer uma falta de pagamento.

N’este ponto devo fazer justiça a um cavalheiro, que a camara ouviu, e a quem deu o testemunho de que aprecia a competencia com que costuma fallar dos assumptos de que se occupa.

Toda a gente sabe que a instrucção d’este cavalheiro é completa em todos os ramos que póde abranger a intelligencia do homem.

Esse cavalheiro pretendeu defender-se (e nada mais sagrado do que o direito da defeza); mas para que se não tome essa defeza como proclamação de idéas que me tenho em vista, preciso rectificar a impressão que poderá ter produzido, a quem não ouvisse com todo o discernimento, a oração d’aquelle digno par.

Devo declarar que, aparte a defeza que s. exa. brilhantemente sustentou, dentro d’esses limites, é justo demonstrar que n’este debate não faltam exemplos de nações mais ricas e poderosas, que têem desenvolvido em larga escala os melhoramentos das colonias que pertencem a essas nações.

Citarei, por exemplo, a colonia do Cabo, onde a divida é de 10 milhões de libras sterlinas, sobre uma receita de 2 milhões.

Os encargos da divida são de 500:000 libras, ou a quarta parte da receita; e ainda assim a proporção dos encargos da receita dá o uma differença muito vantajosa para essa colonia comparada com a proporção da nossa metropole.

O que é verdade é que essa colonia, que aliás tem prosperado muito, e desenvolvido os seus meios de communicação em larga escala, tem grandes vantagens. Por exemplo: só em um ramo tem nada menos do que 6.000:000 carneiros.

Já se vê que quem tem 40.000:000 carneiros, tem uma industria agricola que produz meios de communicação para uma importante exposição de lã. Nós apenas temos na metropole uns 4.000:000 carneiros.

Fallo da India Ingleza. Houve incontestavelmente uma epocha em que o desenvolvimento dos meios de communicação, apesar de para isso ter de se luctar com uma. grande pressão de opinião, foi alem dos limites dentro dos quaes até ali se tinha conservado; e ainda assim depois de se ter construido um grande numero de obras d’esta natureza, estradas ordinarias e vias ferreas, reconheceu-se que as obras d’esse genero ahi construidas não estavam em relação com a extensão d’aquelle estado; mesmo segundo a opinião de um governador da India, tanto o desenvolvimento devia ter sido ali maior para estar em proporção com a extensão da sua provincia que, tendo-se ali construi-lo alguns mil kilometros, nos Estados Unidos dizia-se que em um só anno se construiia um numero igual. Todavia na India ingleza determinou-se, que se reduzisse consideravelmente as construcções de meios communicações, por causa de difficuldades financeiras.

Acontece no nosso paiz uma cousa singular; depois de tomada uma deliberação, e muitas vezes depois das obras construidas, é que se manda estudar o assumpto. E assim que depois de construida grande parte das nossas linhas ferreas, se encarregou uma commissão de engenheiros de determinar a rede dos novos caminhos de ferro!

Ora, eu tenho uma mesquinha opinião que com muita humildade apresento diante de uma outra opinião mais geral de que se devem emprehender todos os melhoramentos ao mesmo tempo.

Pelo que respeita ás colonias, vejo com satisfação que está de accordo commigo o sr. visconde de S. Januario, assim como outros homens intelligentes que têem estado nas colonias; isto é que é conveniente assentar-se n’um systema de administração que habilite as colonias a terem ellas proprias a iniciativa dos seus proprios melhoramentos, e para isso é necessario que as suas instituições sejam aperfeiçoadas.

O sr. visconde de S. Januario alludiu a uma companhia, que infelizmente para alguns dos portos da nossa Africa occidental não podia encarregar-se nem de tomar, nem de levar carga.

Aqui tem a camara uma circumstancia economica infeliz.

O facto de estabelecer communicações regulares com a nossa Africa occidental é na verdade muito importante, mas julgo que a concessão feita a uma companhia que estabeleceu essas communicações fez com que só não podesse ir tão longe, como eu entendo que se devia ir, para se obterem verdadeiras vantagens.

A companhia que estabeleceu as referidas communicações é uma companhia estrangeira, mas os seus barcos navegam com bandeira nacional; essa companhia reduziu ultimamente a importancia do subsidio que recebia por aquella carreira.

Não creio que isto de nacionalisação seja sempre garantia de melhor serviço.

Houve uma companhia nacional, com a qual o estado perdeu uma somma grande, sendo obrigado a fazer-lhe um emprestimo de 600:000$000 réis. Em vista d’este facto, a dizer a verdade prefiro companhias bem organisadas, ainda que não sejam nacionaes, áquellas que tenham esta qualidade, mas não correspondem aos seus fins, pela sua má direcção, como succedeu com aquella a que alludo, da qual se não póde tirar vantagem alguma para os interesses do estado; pelo contrario, creio até que é preciso renunciar a toda a esperança do governo ser embolsado das quantias que emprestou á mesma companhia.

Não desejo tomar muito tempo á camara; não posso, porém, deixar de acrescentar ainda algumas palavras ao que deixo exposto.

Devo dizer que é uma verdade incontestavel que nó te-