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1018 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

O conselheiro escrivão dó processo no o depoimento da testemunha Luiz Candido de Almeida.

Q sr. Presidente: - Vae proceder-se á inquirição das outras testemunhas.

Foram successivamente introduzidas na sala ás seguintes testemunhas:

2.ª João Pereira Mousinho de Albuquerque, prestou juramento aos Santos Evangelhos de dizer a verdade é só a verdade sobre o que lhe fosse perguntado e soubesse, e disse ter trinta e dois annos de idade, ser capitão do estado maior de artilheria, ajudante de campo do governador da praça de Monsanto casado e morador na rua do Santo Antonio dos Capuchos n.° 42, 2.° andar, respondendo em seguida ao interrogatorio que lhe foi feito pelo conselheiro procurador geral da corôa.

O defensor do accusado prescindiu de interrogal-a.

3.ª Antonio Augusto de Sousa prestou juramento aos Santos Evangelhos de dizer a verdade e só a verdade sobre o que lhe fosse perguntado e soubesse, e disse ter vinte e um annos de idade, ser primeiro sargento graduado a aspirante a official, n.° 44 da 5.ª companhia e n.°225 de matricula do regimento de cavallaria n.° 2, ser solteiro e morador na calçada da Ajuda n.º, 43, 2.º andar, respondendo em seguida ao interrogatorio que lhe foi feito pelo conselheiro procurador geral da corôa.

O defensor do accusado prescindiu de interrogai a 4.ª Pedro Antonio Borges Flores, prestou juramento aos Santos Evangelhos de dizer a verdade e só a verdade sobre o que lhe fosse perguntado e soubesse, e d'isso ter quarenta e cinco annos de idade, ser proprietario, solteiro e morador na estrada do Rego n.° 7, respondendo em seguida ao interrogatorio que lhe foi feito pelo conselheiro procurador geral da corôa.

O defensor do accusado prescindiu de interrogal a.

5.ª Francisco de Borja Torres de Macedo, prestou juramento aos Santos Evangelhos de dizer a verdade e só a verdade sobre o que lhe fosse perguntado e soubesse e disse ler cincoenta e oito annos de idade, sor proprietario, viuvo e morador na travessa da Espera n.° 31, 3.° andar, respondendo em seguida ao interrogatorio que lhe foi feito pelo conselheiro procurador geral da corôa.

O defensor do accusado prescindiu de interrogal a.

6.ª Antonio de Mello Coutinho Mercier de Almeida, prestou juramento aos Santos Evangelhos de dizer a verdade e só a verdade sobre o que lhe fosse perguntado e soubesse1, e disse ter quarenta e cinco annos de idade, ser chefe de secção addido á guarda fiscal, casado e morador na rua do Carmo n.° 22, 2.° andar, respondendo em seguida ao interrogatorio que lhe foi feito pelo conselheiro procurador geral da corôa.

O defensor do accusado prescindiu de interrogal-a.

7.ª Francisco Pedro da Conceição e Carmo, prestou juramento aos Santos Evangelhos de dizer a verdade e só a verdade sobre o que lhe fosse perguntado e soubesse, e disse ter quarenta e tres annos do idade, ser official de diligencias do tribunal da relação de Lisboa, casado, morador na travessa do Enviado do Inglaterra n.° 5, respondendo em seguida ao interrogatorio que lhe foi feito pelo conselheiro procurador geral da corôa.

O defensor do acendido prescindiu de interrogal-a.

O sr. Presidente: - Vae proceder-se ao interrogatorio do accusado.

O sr. Juiz Relator (dirigindo-se, ao accusado):-- Como se chama?

Accusado: - José de Azevedo Castello Branco.

O sr. Juiz Relator: - A sua idade?

Accusado: - Trinta e cinco annos.

O sr. Juiz Relator -- D'onde é natural?

Accusado: - De S. Martinho de Villarinho da Samardã, concelho e distrito de Villa Real.

O sr. Juiz Relator: - A sua filiação?,

Accusado: - Sou filho de Francisco José de Azevedo s de D. Carolina Botelho Castello Branco.

O sr. Juiz Relator: - É solteiro, casado ou viuvo?

Accusado: - Casado.

O sr. Juiz Relator:- Qual à sua occupação?

Accusado:- Cirurgião mor do exercito.

O sr. Juiz Relator: - A sua ultima morada?

Accusado:- Rua Anchieta, n.° 5.

O sr. Juiz Relator:- Sabe qual é o crime de que é accusado no processo de que se trata.

Tem alguma cousa que allegar em sua defeza, alem do, que já allegou o seu advogado?

Accusado: - Sr. presidente, incumbi a minha defeza ao meu advogado, a cujos talentos me confiei; no emtanto entendo em minha, consciencia que é do meu, dever explicar aos dignos pares, com a lealdade e a franqueza de que sou capaz, o facto de que sou accusado.

No dia 9 de maio do corrente anno, pelas tres horas, da tarde, approximadamente, estando na sala da camara dos senhores deputados, á qual tenho a honra de pertencer, fui avisado de que me procuravam pessoas da minha familia. Sai da sala, reconheci as pessoas que me procuravam, as quaes desejavam ir para a galeria, e dei o braço a uma d'ellas. Pela grande quantidade de povo que se encontrava nos corredores, que circumdam a sala, tive muita difficuldade em chegar á porta, que dá para a escada que conduz á galeria. Mas, chegando ali, quando disse ao continuo que abrisse a porta, gesticulei com o braço esquerdo, porque o direito estava occupado e no momento em que a porta foi aberta, um cavalheiro que estava quasi ao meu = lado disse-me, talvez pela difficuldade que tambem tinha encontrado para attingir aquele ponto, que eu não podia passar e que o não empurasse. Retorqui-lhe sem azedume que precisava de passar tambem com aquellas senhoras. Ai que me respondeu que precisava tambem passar. Retorqui lhe de novo que tinha necessidade de passar por causa das senhoras que me acompanhavam, e n'este sentido tentei romper a mó de povo que se agglomerava á saida. Seguiu-se um dialogo vivo, mas breve, do qual resultou um conflicto desagradabilissimo.

Antes de proseguir, devo protestar, perante o tribunal, contra a ai legação da primeira testemunha que depoz n'esta audiencia. Essa testemunha affirma que eu dissera: Retire-se porque sou deputado" Tenho a consciencia absoluta de que não pronunciei similhante phrase, nem isso é conforme ao meu caracter. Similhante depoimento offende menos a verdade pela sua inexactidão que a minha dignidade pessoal.

Proseguindo a minha narrativa, direi que as senhoras que eu acompanhava não furam para a galeria, e eu, pouco depois de verificar onde se tinham, refugiado depois, do incidente, entrei novamente na sala das sessões da camara, bastantemente impressionado com a scena violenta que tinha cccorrido.

Affirmo ainda, mantendo plenamente a exactidão das minhas palavras, que na occasião, em que teve logar aquelle incidente não reparei na graduação que tinha o cavalheiro com quem dialoguei, nem isso me era possivel, verificar, tão enorme e compacta, era a quantidade de gente que nos rodeava. Vi, sim, que era um official mas só depois pude verificar a sua patente.

Preoccupando-me intensamente a situação moral de cavalheiro a quem tenho alludido, mandei dizer-lhe que estava prompto a dar-lhe todas as explicações compativeis com a minha honra, de que precisasse para regular a sua situação militar e para a sua desaffronta.

Os factos posteriores são por demais conhecidos de todos os que me escutam, e eu creio que todos devem estar convencidos de que esses factos foram de rehabilitação completa para aquelle cavalheiro, porque no seu depoimento