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Disse mais que o accusado se demorou ainda alguns minutos na sala, tres ou quatro minutos, e que b vira sair com o sr. deputado Fuschini da sala das sessões.
Acrescentou ser verdade que ás nove horas da noite o accusado se achava na praça de Camões com os individuos que elle menciona, e com os quaes se achava igualmente elle testemunha, apesar de não ser particularmente designado, e que ouviu o accusado dizer que o tinham ido prevenir de que ia ser preso, e que portanto era conveniente que fugisse immediatamente para Hespanha.
Logo depois do incidente da camara, e n’essa occasião, o accusado disse ás testemunhas que o sr. ministro proferira aquella phrase: «Ora vá beber da merda», perguntando a elle testemunha se a tinha ouvido, e respondendo este que lhe ouvíra uma phrase muito curta, mas proferida em tom mais baixo do que as anteriores, e que por isso, e por se ir voltando ao proferil-a, não podéra ouvir.
Sabe que antes dessa questão o deputado Ferreira de Almeida e o ministro estavam em excellentes relações, e que por isso só uma offensa grave poderia, na sua opinião, ter provocado aquelle conflicto.
E mais não disse, e sendo lhe lido o seu depoimento o achou, conforme, ratificou e assigna commigo e o official interrogante. = Carlos Maria Pereira Vianna, primeiro tenente, interrogante = Carlos Augusto de Magalhães e Silva, primeiro tenente, secretario = Alexandre Alberto da, Rocha Serpa Pinto.
2.ª testemunha
João Marcellino Arrojo, natural do Porto, de idade vinte e cinco annos, solteiro, lente, substituto da faculdade de direito da universidade de Coimbra, e actualmente deputado da nação, morador no Grand Hotel de Lisboa, testemunha jurada aos Santos Evangelhos; do costume disse nada. E sendo-lhe lido o interrogatorio do accusado, disse:
Que pedia ao conselho se exarasse como declaração previa, que o facto da sua comparencia perante este conselho de investigação de modo algum significava para elle o reconhecimento da competencia desse conselho, mas que unica e simplesmente por consideração pessoal para com os membros que o. constituem, e pela necessidade de esclarecer os acontecimentos, qualquer que seja o fôro onde tenham de ser avaliados, se apressara a vir fazer o seu depoimento.
Disse mais que na tarde do dia 7 de maio, estando já encerrada a sessão da camara dos senhores deputados, e achando-se muito perto da carteira occupada pelo sr. deputado José Bento Ferreira de Almeida, víra o sr. ministro da marinha de então dirigir-se ao mesmo deputado, e dizer-lhe: «Que não tinha medo d’elle, e que o sr. Ferreira de Almeida se poderia entender com elle, ou dentro da camara ou fóra d’ella». A estas palavras retorquiu o sr. Ferreira de Almeida, observando-lhe que ellas continham uma provocação, e que não comprehendia como o sr. ministro se levantára do seu logar para vir intencionalmente desafial-o. Em seguida o sr. Henrique de Macedo insistiu nas expressões que proferira, repetindo: que «dentro da camara e fóra d’ella não tinha medo do sr. Ferreira de Almeida, e se declarava prompto a responder-lhe». O sr. Ferreira de Almeida replicou «que em tal caso lhe enviasse o sr. Henrique de Macedo as suas testemunhas». Logo que o sr. Ferreira de Almeida proferiu estas expressões, o sr. Henrique de Macedo, elevando mais a voz em tom sacudido, pronunciou umas palavras que á testemunha parecem ter sido a repetição da phrase: «Não tenho medo de si, nem aqui, nem lá fóra», devendo todavia acrescentar que o seu empenho era vir dirimir uma contenda igualmente lamentavel para todos os que a presenciaram, explica o facto de não poder reproduzir precisamente as ultimas expressões de que se serviu o sr. Henrique de Macedo. Foi n’esta occasião que o sr. Ferreira de Almeida, vivamente impressionado pelas palavras do sr, ministro, e pela fórma da sua pronunciação, levantou mão sobre elle, sendo immediatamente separados pelos deputados que se achavam perto de s. exas.
Disse mais haver observado que o sr. Ferreira de Almeida se conservou, depois de terminada a contenda, dentro da sala das sessões da camara, durante um espaço de tempo apreciavel. Acrescentou ainda que, depois de terminado o incidente, se approximou do sr. presidente do conselho, pedindo-lhe que fizesse retirar os seus amigos, a fim de que o escandalo fosse apreciado madura e pacificamente fóra da sala das sessões, e se não produzisse mais alguma scena desagradavel perante o reato dos espectadores que se achava ainda nas galerias; podendo affirmar que alguns minutos depois de terminado o incidente, e pela resposta que recebeu do sr. Luciano de Castro, reconheceu que s. exa. se achava em um estado de agitação e perplexidade naturalmente explicavel para a anormalidade do acontecimento.
Disse por ultimo, relativamente ás expressões trocadas entre o sr. ministro da marinha e o sr. deputado Ferreira de Almeida, ser possivel que não tivesse reproduzido palavra a palavra as referidas expressões, mas que, no que deixa relatado ao conselho, inscreve o que de mais seguro e certo reteve na sua memoria, correspondendo no fundo e na intenção ás palavras proferidas e no animo que tinham, ao proferil-as, os dois cavalheiros, entre os quaes se travou a contenda.
E mais não disse; e sendo-lhe lido o seu depoimento, o achou conforme e assigna commigo e o official interrogante. = Carlos Maria Pereira Vianna, primeiro tenente, interrogante. = Carlos Augusto de Magalhães e Silva, primeiro tenente, secretario. = João Marcellino Arroyo.
3.ª testemunha
Miguel Dantas Gonçalves Pereira, natural de Coura, de idade cincoenta annos, casado, proprietario e deputado na actual legislatura, morador na rua de Santo Amaro, n.° 20, testemunha jurada aos Santos Evangelhos; do costume disse nada. E sendo-lhe lido o interrogatorio do accusado, disse:
Que assistindo á discussão acalorada que se travou durante a sessão da camara da senhores deputados, de 7 do corrente, entre o sr. ministro da marinha e o sr. deputado Ferreira de Almeida, aquelle, depois de encerrada a sessão, se levantara do seu logar, e, dirigindo-se á carteira junto da qual se achava o sr. Ferreira de Almeida, lhe dissera em termos pouco conciliadores «que não lhe tinho medo ali, nem lá fóra», observando-lhe em seguida o sr. Almeida «se elle o vinha provocar». Em resposta o sr. ministro repetiu as mesmas palavras, a que o sr. Almeida retorquiu «que nomeasse elle ministro os seus padrinhos», e em seguida este replicou com uma phrase que a testemunha não póde perceber, a .qual deu occasião a que o »r. Ferreira de Almeida levantasse a mão contra o sr. Henrique de Macedo, attingindo-o junto de uma orelha.
O sr. ministro tentou tirar então um desforço immediato e analogo, o que não póde conseguir pelo estorvarem diversos deputados que se achavam junto do sr. Ferreira de Almeida.
Viu que depois d’este incidente o accusado se demorou ainda na sala das sessões durante ires ou quatro minutos, arrumando papeis na sua carteira, muito tranquillamente.
Disse mais que o viu sair da saia em companhia do sr. deputado Fuschini, e que mais tarde, seriam nove e meia 051 dez da noite, o encontrara na praça de Camões, em frente da rua do Norte.
E mais não disse; e sendo-lhe lido o seu .depoimento o achou conforme e assigna commigo e o official interrogante. = Carlos Maria Pereira Vianna, primeiro tenente, interrogante. = Carlos Augusto de Magalhães e Silva, primeiro tenente, secretario = Miguel D. G. Pereira.