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só ficará dentro em pouco a uma partida no immenso sarcophago das nações extinctas!

Disse, julgo, o que bastava para explicar o pensamento -da moção que apresento. Seja-me licito porém agora, em meu nome só, o acrescentar mais algumas palavras, transcendendo a raias a que me circunscrevi. Consinta a camara que em curtos e mal debuxados traços eu tente ainda um desenho rapido, imperfeito e incompleto da physionomia do homem grande, cuja perda pranteia a Inglaterra, mãe esclarecida e digna de taes filhos, com aquella dor viril e estremosa que honra os mortos e estimula os vivos.

Lord Palmerston contava oitenta e um annos, quando a morte o chamou. Porque se espantou a Inglaterra do golpe. comove elle ferisse precoce e injusto uma existencia juvenil? E que o inverno dos annos não invelhecera nem o espirito, nem o coração do primeiro ministro. Por condão singular aquella organisação privilegiada conservou até ás ultimas horas, vigiantes, firmes e robustas todas as faculdades. As neves da idade, coroando lhe a fronte, nunca seccaram as flores da imaginação, nem entorpeceram a viçosa e perenne mocidade do talento. Escutando-o os auditorios esqueciam o ancião para admiraram o orador, cuja palavra irónica, vehemnte ou sublime, espairecia e amenisava as questões mais intrincadas. A sua falta sobresaltou a patria quasi como um attentado da morte. Á força de amor e de orgulho a Gran-Bretanha chegára a persuadir se de que o ministro na cera fadado para contrastar até as leis da natureza!

O segredo da popularidade e da immensa influencia de lord Palmerston revela o caracter proeminente da sua politica, da sua eloquencia e de suas aspirações constantes. Ninguem foi nem será mais sincera e estrictamente inglez do que elle. O seu idolo, a sua soberba e a sua paixão eram o poder e a prosperidade da Gran-Bretanha. Este nobre e patriotico sentimento, dominando-o, dictou-lhe os actos de que as outras nações so magoaram, e inspirou-lhe as resoluções que o povo inglez applaude ainda hoje como rasgos energicos e de isivos proprios da sua indole e da sua grandeza.

Fortificado pelos severos estudos, de que a flor da aristocracia se arma em Inglaterra para arrostar a tribuna e se aventurar no meio dos precipicios da vida politica, lord Palmerston não soltou desde logo os vôos da aguia. Tenteou primeiro as forças, calou por algum tempo comsigo o segredo do seu genio, e antes de se elevar ás alturas, d'onde nunca mais baixou, receioso da queda, ou ainda indifferente ao triumpho, contentou-se com posições secundarias.

Educado no collegio de Harrow, onde teve por condiscipulos Byron, o conde de Aberdeen e Peei, e muitos homens notaveis cuja adolescencia estudiosa promettia já á patria uma geração distincta de estadistas, doutorando-se na universidade de Cambridge, entrou pela primeira vez na camara popular sob os auspícios do partido tory. A sua estreia, se não foi estrondosa como a de Chatam, foi fecunda como a de Pitt. Em 1807 merecia já á corôa o cargo de lord do almírantado, e em 1809 succedia no ministerio da guerra lord Oastlereagh, continuando sem voto no conselho a servir com os gabinetes Percival, Liverpool, Canning, Go-derich e Wellington. Zeloso na defeza dos seus actos, mas distrahido dos cuidados da politica geral pelas recreaçõts sociáveis, mais captivo dos sorrisos, formosura do que dos favores da ambição, as tempestades da tribuna e as lutas do poder preocupavam o menos do que os collegas desejariam. Canning, que viva só das commoções da arena politica, vendo-se um dia acossado dos tiros repetidos da opposição, e notando o desdém olympico de Palmerston, soltou uma exclamação que junta a sua impaciencia e o seu elevado conceito formado ácerca da capacidade do ministro da guerra: «Oh! (disse elle), se a nau de tres pontos o meio Palmerston carregasse, que victoria!».

Baldado estimulo! A nau passou silenciosa pelo meio da batalha ainda aquella vez, mas pouco depois, no bill para a emancipação dos catholicos, rompeu o fogo de todas as baterias, e pela eloquencia ganhou n'esse combate a todo o transe o primeiro triumpho assignalado. Dahi em diante o grande orador obedeceu á vocação. As maiores questões da sua epocha tiveram-o por contendor ou por auxiliar, e basta abrir ao acaso os annaes do parlamento para se formar idéa da variedade do seu talento e da actividade incansavel da sua palavra.

Dois factos, sobre todos, caracterisara com mais viveza a expressão da sua politica nas dissenções da diplomacia europeia. Cita-los-hei de preferencia.

Ministro dos negocios estrangeiros no gabinete presidido por lord Melbourrie, Palmerston viu surgir e aggravar-se entre o pachá do Egypto e Mohamoud II o famoso conflicto que veiu complicar no oriente as difficuldades da acção dos gabinetes europeus. Em tres semanas a Turquia perdera o seu exercito derrotado em Nesil por Ibrahim, a sua esquadra trairia e entregue por um almirante pérfido, e o sultão fallecido com a magoa de tantos revezes. A França protegia Mohamed Ali e a Russia aguardava o lance propicio de assoberbar a Porta sob pretexto de a proteger. Se o pachá triumphasse, ou a França firmava a sua influencia com elle no oriente, interceptando quasi as communicações da Gran-Bretanha com as índias inglezas, ou a Russia a titulo de obter compensações estendia sobre Constantinopla a tutela invasora, que é ha um seculo a sua ameaça constante. Lord Palmerston, por um lance arrojado, separa se do gabinete das Tulherias, aproveita o ciúme da Austria e a hesitação do Czar, e assigna o tratado de 15 de julho de 1840, da quadrupla alliança, com exclusão da França. Mohamed-Ali cedeu e Luiz Filippe resignou-se.

Outro facto! O golpe de estado de 2 de dezembro de 1851, revelando o homem notavel, que depois subiu ao throno com o nome de Napoleão III, assustou ou perturbou a muitos gabinetes. Palmerston sempre intrépido decidiu-se logo. A Inglaterra reconheceu o novo governo de França, e o ministro que não ouvira os collegas para arris car este passo, dado elle, caiu do poder festejado dentro em pouco pela sua previsão admiravel.

A questão do Oriente grangeou lhe a confiança popular da Inglaterra e a immensa influencia que nunca mais perdeu. A Gran Bretanha, satisfeita no orgulho e nos interesses, acclamou o seu primeiro estadista. O reconhecimento do golpe de estado de 2 de dezembro abriu lhe a vasta carreira de triumphos e de gloria, que percorreu até ao ultimo suspiro, estreitando a alliança das duas nações occidentaes, as victorias de Sebastopol, e a politica da paz e das nacionalidades, inaugurada e mantida pela amisade fecunda, estreitada entre o herdeiro de Napoleão e o ministro que assignára a ordem, que algemou em Santa Helena o primeiro capitão do mundo (apoiados).

Não digo mais. Não cabem na tela parlamentar as biographias minuciosas. Limito-me pois ás palavras que proferi, e que não teria pronunciado mesmo se não me exigisse a necessidade de explicar as intenções que dictaram a moção que offereço, mostrando quaes foram na realidade os serviços relevantes que Portugal deveu áquelle grande estadista. Se rendi aos dotes elevados do seu espirito e ás prendas do seu engenho o preito, que hoje lhe concede o culto europeu, não tive outra idéa mais do que satisfazer á natural inclinação do animo pelos homens e pelas cousas verdadeiramente grandes. A morte de lord Palmerston significa uma perda por ora irremediavel nos conselhos das nações. A sua memoria para nós, os portuguezes, lembrados de 1830 e 1834, deve e será sempre grata e respeitada, porque foi o defensor do exilio, do infortunio e dos opprimidos dias de provação que atravessaram nossos paes. Vozes: — Muito bem, muito bem.

O sr. Ministro dos Negocios Estrangeiros (Conde de Castro): — Sr. presidente, depois do verdadeiro e luminoso discurso do digno par, não tenho nada a acrescentar senão que, como membro d'esta camara, me associo ao voto que o digno par propõe; e como ministro dos negocios estrangeiros, que tambem sou, em meu nome e no de meus collegas, a elle me associo.

Não posso, nem devo, tomar mais tempo á camara, depois de ter fallado um tão primoroso orador.

O sr. Presidente: — Antes de pôr a proposta do digno par á votação, permitta-me a camara que diga mui poucas palavras d'este mesmo logar.

Tendo tido relações officiaes e de boa amisade com lord Palmerston por mui perto de trinta e cinco annos, cumpre-me agradecer o eloquente discurso do digno par, o sr. Rebello da Silva, e as palavras que no mesmo sentido proferiu o sr. ministro dos negocios estrangeiros.

Vou pôr á votação a proposta do digno par Rebello da Silva.

Foi approvada por 30 votos contra 1. O sr. Rebello da Silva (sobre a ordem): — A commissão de commercio e agricultura já aqui tem o relatorio elaborado sobre a questão dos vinhos; falta unicamente ser assignado. Peço a V. ex.ª que se digne demorar por alguns minutos, sendo possivel, a sessão, para haver tempo de se assignar o parecer, e de ser hoje mesmo mandado para a mesa, a fim de seguir seu destino (apoiados).

O sr. Presidente: — Fica suspensa a sessão até se apresentar o parecer...

O sr. Conde de Linhares: — Peço a palavra. O sr. Baldy: — Também peço a palavra. O sr. Conde de Linhares: — Pedi a palavra a V. ex.ª para mandar para a mesa uma nota de interpellação ao sr. ministro da marinha, que passo a ler:

«Desejo interpellar s. ex.ª o sr. ministro da marinha ácerca dos vapores de reboque do Tejo, e saber se s. ex.ª tenciona subsidiar a empreza actual d'estes vapores de reboque.

«Camara dos dignos pares, 28 de novembro de 1865. = Conde de Linhares.»

Isto é uma simples pergunta, que se s. ex.ª o sr. ministro da marinha estivesse presente me limitaria a fazer verbalmente.

O sr. Baldy: — E unicamente para dizer, que o sr. Mello j e Saldanha me encarregou de declarar a V. ex.ª e á camara que não comparece á sessão de hoje por justos motivos.

O sr. Secretario (Visconde de Algés): — Fui encarregado pelo digno par o sr. Vellez Caldeira, de participar a V, ex.ª e á camara, que não tem comparecido ás sessões anteriores, e que talvez falte a mais alguma por incommodo de saude.

O sr. Presidente: — Vae ler se na mesa a nota de interpellação do digno par o sr. conde de Linhares, dirigida ao sr. ministro da marinha. O sr. secretario leu. Mandou-se expedir.

O t>r. Silva Cabral: — Sr..presidente, o nosso regimento, fallando no artigo 9.° da resposta ao discurso da corôa diz o seguinte (leu). Eu dirijo-me a V. ex.ª para pedir-lhe a bondade de me dizer, se, estando como esta, já discutida e approvada, na camara dos senhores deputados, a resposta ao discurso da corôa; e tendo por consequencia chegado a hypothese prevista neste artigo, se V. ex.ª, como presidente dignissimo da illustre commissão, e os membros d'ella estão dispostos a offerecer á camara o projecto de resposta ao discurso da corôa, a fim de que se cumpra esse acto de homenagem á mesma corôa.

Estou certo que V. ex.ª, que é essencialmente monarchico-constitucional, assim como os membros da illustre commissão, não querem, não hão de faltar a esse dever: e eu, pedindo esta explicação não faço mais do que prestar homenagem a esse mesmo sentimento que lhes reconheço; pois tenho largas provas de quanto os membros da commissão se esmeram em cumprir os deveres (apoiados).

O sr. Presidente: — Toda a camara sabe que eu não me achava em exercicio, quando se nomeou essa commissão. Tomei conta da presidencia depois do adiamento que houve, e por isso ainda não consultei a commissão; mas á vista da observação que acaba de fazer o digno par, vou primeiramente examinar quem eram os membros da commissão, para depois reuni-la. Comtudo poderá haver duvida se essa resposta deve ser apresentada á camara, vistas as alterações que houve no governo depois da nomeação da commissão de resposta.

É sabido que por aquelle discurso do throno são responsaveis ministros que já hoje não existem no poder mas a commissão em todo o caso fará aquillo que a camara determinar.

O sr. Silva Cabral: — Estou satisfeitissimo com a resposta que V. ex.ª acaba de dar; mas sem querer estabelecer as regras que a commissão tem a seguir, é evidente que quando citei o precedente foi unicamente para trazer á reminiscência da illustre commissão o que se tinha feito na outra camara, não obstante darem-se as circumstancias a que V. ex.ª agora se referiu.

Em todo o caso é absolutamente preciso, no meu modo de entender, que a commissão decida se deve ou não dar a resposta, e isto não póde faze-lo senão depois de conferenciar entre si. O que é preciso é que a camara dos dignos pares do reino que occupa um logar muito elevado na sociedade, não deixe de exprimir a sua opinião sobre objecto de tão alta importancia, affirmativa ou negativamente;" e no caso de se decidir pela affirmativa, no sentido que julgar conveniente.

Sejam quaes forem as alterações ministeriaes, ha na especie um signal de consideração para com o throno, a que não devemos faltar. V. ex.ª tambem sabe, que seja quem for que tenha o poder, é a pessoa moral que predomina, e a ella é que alludo. Assim a respeito da presidencia" da camara, onde estava então outra pessoa, e esta hoje V. ex.ª; mas sejam quaes forem as alterações de pessoas, a entidade moral presidencia é aquella que reconhece o nosso regimento.

Repito que estou satisfeito com a explicação dada por V. ex.ª de que vae reunir a commissão para tomar uma deliberação sobre este objecto. E o que me propunha alcançar: não insisto mais.

O sr. Presidente: — Como o digno par esta satisfeito com a minha proposta, consultarei a commissão, e darei parte á camara do resultado.

O sr. Rebello da Silva (por parte da commissão de commercio e agricultura): — E para mandar para a mesa o parecer da commissão de commercio e agricultura, sobre o projecto da liberdade da barra do Douro, vindo da camara dos senhores deputados.

O sr. Presidente: — A camara dispensa talvez que se faça segunda leitura (apoiados). Como determina o artigo 35.° do nosso regimento vae ser impresso o parecer, o projecto e a proposta primitiva do governo para ser distribuido pelos dignos pares, a fim de poder entrar em discussão na proxima sexta feira (apoiados).

(Pausa.)

O sr. Presidente: — Não ha negocio importante a tratar, e por tanto a proxima sessão terá logar na sexta feira, sendo a ordem do dia o parecer ha pouco mandado para a mesa.

Está levantada a sessão.

Eram tres horas da tarde.

Relação dos dignos pares presentes á sessão de 23 de novembro de 1865

Ex.mos srs. Conde de Lavradio.

Conde de Castro.

Marquez de Fronteira.

Marquez de Sousa Holstein.

Marquez de Vallada.

Conde d’Alva.

Conde d’Avila.

Conde de Avillez.

Conde da Azinhaga.

Conde de Linhares.

Conde do Peniche.

Conde da Ponte Conde do Sobral.

Visconde de Algés.

Visconde de Benagazil.

Visconde de Condeixa.

Visconde de Ribamar.

Barão de Villa Nova de Foscôa.

Alberto Antonio de Moraes Carvalho.

Antonio de Azevedo Coutinho Mello e Carvalho.

Custodio Rebello de Carvalho.

Francisco Simões Margiochi.

Jayme Larcher.

José Bernardo da Silva Cabral.

José da Costa Sousa Pinto Basto.

José Joaquim dos Reis e Vasconcellos.

José Maria Baldy.

José Maria do Casal Ribeiro.

Julio Gomes da Silva Sanches.

Luiz Augusto Rebello da Silva.

Luiz de Castro Guimarães.

Entrou depois o Ex.mo sr. Marquez de Niza.