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Extracto da sessão de 28 de novembro de 1865

PRESIDENCIA DO EX.MO SR. CONDE DE LAVRADIO, PRESIDENTE

Secretarios os dignos pares

Marquez de Vallada

Visconde de Algés

(Assiste o sr. ministro dos negocios estrangeiros).

Pelas duas horas e um quarto da tarde, tendo-se verificado a presença de 27 dignos pares, declarou o ex.mo sr. presidente aberta a sessão.

Leu-se a acta da sessão antecedente, contra a qual não houve reclamação.

Não se mencionou correspondencia.

O sr. Rebello da Silva: — Sr. presidente, tinha pedido a palavra em uma das sessões passadas para ter a honra de mandar para a mesa a seguinte proposta:

«Proponho que a camara dos dignos pares declare, por voto consignado na acta, a sua profunda magua pela morte de lord Palmerston, primeiro ministro do gabinete inglez, em memoria dos valiosos serviços prestados pelo eminente estadista á dynastia constitucional e á liberdade, como orador, e como ministro desde 1830 até 1864.

«Proponho mais, que d'este voto se dê conhecimento official ao governo de Sua Magestade Britannica pela secretaria d’estado dos negocios estrangeiros, e á viscondessa de Palmerston, viuva de lord Palmerston.

«Sala da camara dos dignos pares, 28 de novembro de 1865. = L. A. Rebello da Silva.»

Agora peço licença a V. ex.ª e á camara para expor, em mui curtas e breves reflexões, os motivos que me decidiram a fazer esta moção.

O sr. Presidente: — Desculpe o digno par, mas vae primeiramente ler-se na mesa a sua proposta.

(O sr. secretario, marquez de Vallada, leu).

O Orador: — E costume, até por ser um dever de fraternidade entre as nações constitucionaes, por honrosa communhão de principios o commemorarmos, quasi como propria, a perda dos homens illustres. E com rasão. Não foram só da sua patria. Pertencem a toda a humanidade, a toda a civilisação, pelo esplendor do engenho, pela influencia das doutrinas, pela grandeza dos commettimentos. A sua missão rompeu as fronteiras naturaes e abraçou o mundo.

Respeitados e admirados, como fundadores e chefes de grandes escolas, como focos de luz, como oradores, como mestres e vulgarisadores dos principios mais fecundos, curvamo-nos reverentes em presença d'esses vultos que não carecem senão das primeiras sombras do tumulo e dos primeiros raios do sol da posteridade para entrarem nos dominios da historia, gloriosos e immortaes com os nomes que ella inscreve nas tábuas de bronze, fadadas a vencer os seculos.

- D'estes homens, que mesmo em vida, já assumem as proporções dos semi-deuses, uns realçam a sua carreira com os trabalhos do espirito, outros sobresáem pela fortaleza do animo e ousadia dos intentos, como reformadores; alguns finalmente inflammando os auditorios e subjugando os acontecimentos, cortam para si a palma invejada dos estadistas, prevalecendo na acção governativa como lord Palmerston.

Sua larga e activa existencia foi uma luta prolongada, luta pacifica, muitas vezes cortada de episodios notaveis, e sempre consagrada á glorificação dos brasões britannicos na paz e na guerra, na administração interna e na politica externa.

Nos estados, que a acção por vezes insoffrida e bellicosa de lord Palmerston agitou, as opiniões ácerca d'elle variaram com os successos. A França de 1840 detestou-o, a França imperial saudou-o no abraço cordial das legiões alliadas na Criméa. Portugal, no periodo que apontei na minha proposta, não lhe deveu senão provas de zêlo, de sympathia e de interesse.

Na tribuna contou-o como o primeiro entre os poucos defensores da causa liberal. No governo conheceu-o sempre sincero em coadjuvar os votos nacionaes para a restauração do throno legitimo. De 1830 a 1834 lord Palmerston foi sempre fiel nas palavras e nos actos aos principios, que a sua voz eloquente proclamara no seio do parlamento. Deputado, orou como Canning contra a cumplicidade tacita do gabinete do duque de Wellington na oppressão dos portuguezes. Ministro, não esqueceu os nobres sentimentos do deputado e foi digno das grandes idéas que representava no poder.

Não ignoro, que depois, na administração presidida por lord Melbourne, a impetuosidade natural do caracter o levou a promover conflictos diplomaticos, que melhor fôra para a sua fama não ter ateiado; algumas nações pequenas queixaram-se offendidas da sua intervenção imperiosa; e a Europa viu n'elle por momentos um perigo e uma ameaça á estabilidade da paz; mas até n'esses rasgos mesmos, que não desculpo, aos olhos da Inglaterra a justificação do ministro consistia na inspiração patriotica que o dominava.

Apaguemos, porém estes pequenos traços menos brilhantes, que são apenas lances momentâneos, logo esquecidos na historia das nações, contemplemos o passado com a imparcialidade serena da rasão, e a imagem do eminente estadista surgirá para nós affectuosa e venerada, corrido o véu sobre a offensa leve, e avivada sobre o sepulchro recente a gratidão dos serviços valiosos.

V. ex.ª e os homens da sua geração, tão insigne pelas robustez das crenças, como distincta pela abnegação das pessoas, V. ex.ª que é ao mesmo tempo ornamento e orgulho para ella sabe melhor do que eu, o muito que a causa constitucional deve não só em Portugal, mas em toda a Peninsula e na Europa a lord Palmerston. Para nós, que disfructâmos não disputada e tranquilla a liberdade são apenas estimulo os sacrificios, que a conquistaram; porém para V. ex.ª e para os que afrontaram o exilio, as proscripções, e a adversidade no que ella tem de mais severo, esses annos de cruel expiação hão de dispertar por força recordações, que coração guarda e estremece como thesouros preciosos. De um lado estava a força, o poder, o facto consumado; do outro resistiam apenas o direito, a rasão, e a verdade representadas no grupo resumido dos soldados,/que, do alto de uns rochedos negros de basalto erguidos no meio do Oceano, saudavam proscriptos a bandeira de uma rainha sem corôa e a essa hora errante por cima dos mares, e nos vagos e desamparados crentes, que sentados á beira das terras do estrangeiro estendiam de longe a vista e a saudade, buscando com a alma as praias da patria sem saber se um dia poderiam unir seus ossos aos ossos de seus paes.

Nesses dias attribulados no meio da cerração caliginosa, que escurecia a todos o destino, quando a bandeira bicolor fluctuava desamparada sobre as rochas da Terceira, a voz de lord Palmerston, levantando-se aspera para os oppressores, e consoladora para os opprimidos, e chamando sua á causa vencida, n'esses dias de tristeza e desalento, o apoio do homem, que um grande partido applaudia como chefe, era já quasi meia victoria para aquelles a quem pálida a esperança mal sorria de longe na incerteza. (Apoiados — Vozes: — Muito bem.)

Em 1829 lord Palmerston, saíndo do ministerio, assignalou com uma de suas mais eloquentes orações a sua entrada na opposição; e em 1830, crescendo em poderes e em ousadia, arremessando a luva direita ao rosto do gabinete tory, proferiu o famoso discurso dedicado á defeza da causa da Rainha de Portugal, cujos direitos sustentou em nome da liberdade dos povos, estranhando como um opprobrio o silencio do ministerio britannico em presença da usurpação triumphante e de um reino escravisado. Este discurso, admirado pelos rasgos oratorios, foi o programma da politica do partido whig. Elevado mezes depois ao poder, a diplomacia ingleza regida por lord Palmerston seguiu-o fielmente, e estreitada a amisade com a França e com a monarchia de julho, desabou a barreira que fechara aos proscriptos o caminho da patria, alegraram-se com o primeiro alvorecer da esperança os horisontes, e a obra dos tratados de Vienna, demolida em París e na Belgica, principiou a vacilar e a desmoronar-se.

Se a hostilidade implacavel da santa alliança aos principios constitucionaes perseverasse ainda, se o conde Aberdeen e o duque de Vellington se assentassem nas cadeiras de lord Palmerston e do conde Grey, e o principe de Polignac no logar de mr. Guizot ou de mr. Thiers, a volta do Imperador D. Pedro á Europa teria sido um episodio esteril, e a expedição de Belle-Isle nunca teria levantado ferro. Sem a boa sombra das duas côrtes de Londres e París a grande epopeia que immortalisa nos annaes d'este seculo a restauração da liberdade portugueza, nunca houvera apagado os lutos da proscripção, e o principe que tres annos de sacrificios e de heróicas emprezas tornaram o nome mais glorioso da nossa historia a par do nome querido de D. João I, não teria realisado os prodigios que ennobreceram a sua regencia, e gravavam para sempre na memoria a data gloriosa da nossa emancipação.

As armas dos sete mil e quinhentos assellaram a carta de nossas liberdades nos campos de batalha, mas se a Gran-Bretanha lhes cerrasse os mares, se a França estendesse a mão do absolutismo, nenhum d'elles, nem D. Pedro, nenhum tornaria a pisar a terra sagrada da patria. O que lord Palmerston então praticou fôra mais do que ingratidão deslembra-lo, e mais ainda contesta-lo. As dores e agonias do desterro suavisadas, a esperança reanimada, e o presente sem horisontes trocados pelo alvoroço de um futuro proximo e mais risonho, recobraram os animos abatidos e fizeram soldados e heroes dos que se teriam consumido annos depois desamparados e sós na apagada tristeza do desalento."

Appello para V. ex.ª, ninguem conhece melhor os incidentes desse drama doloroso. D'esses successos, em que foi actor, e actor principal, quem póde destramar melhor os dias e representar mais vivas e exactas as pessoas e os lances? Quando, de París, cujo solo tremia abalado da explosão dos tres dias de julho de 1830, acudia a Londres, aonde as ondas menos encapelladas de outra revolução pacifica acabavam de varrer das eminencias do poder o ministro tory, quando ministro fiel e proscripto de uma Rainha sem reino vinha aproveitar a occasião, que tão rapida foge sempre aos que não ousam colhe-la, acaso não encontrou no agrado, na boa vontade e na promptidão de lord Palmerston ministro todos os sentimentos do ardente e applaudido defensor da causa constitucional e dos portuguezes opprimidos? Os actos que dependiam só da sua decisão concedeu-os logo, os que haviam de derivar-se da acção complexa e efficaz da diplomacia anglo-franceza promoveu-os com um zêlo e uma sinceridade que lhe provocaram os apodos e affrontas dos inimigos do systema representativo em toda a Europa. O tratado da quadrupla alliança, firmado em 1834, affirmou' e consagrou a victoria definitiva da liberdade na peninsula, consolidando as instituições e o throno das duas Rainhas. Não sei se a iniciativa d'elle se deve a lord Palmerston, mas sei que nenhum estadista o precedeu no impulso decisivo que o determinou (apoiados).

Cito de proposito estes serviços á camara e limitei o periodo d'elles aos quatro annos decorridos desde 1830 até 1834, para que a expressão de respeito que peço para commemoração do nome de Palmerston não possa ser attenuada ou obscurecida pelas recordações de actos posteriores. Os povos que se lembram vivem para si e para a historia (apoiados). Ai daquelles que tudo esquecem, porque d'esses

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só ficará dentro em pouco a uma partida no immenso sarcophago das nações extinctas!

Disse, julgo, o que bastava para explicar o pensamento -da moção que apresento. Seja-me licito porém agora, em meu nome só, o acrescentar mais algumas palavras, transcendendo a raias a que me circunscrevi. Consinta a camara que em curtos e mal debuxados traços eu tente ainda um desenho rapido, imperfeito e incompleto da physionomia do homem grande, cuja perda pranteia a Inglaterra, mãe esclarecida e digna de taes filhos, com aquella dor viril e estremosa que honra os mortos e estimula os vivos.

Lord Palmerston contava oitenta e um annos, quando a morte o chamou. Porque se espantou a Inglaterra do golpe. comove elle ferisse precoce e injusto uma existencia juvenil? E que o inverno dos annos não invelhecera nem o espirito, nem o coração do primeiro ministro. Por condão singular aquella organisação privilegiada conservou até ás ultimas horas, vigiantes, firmes e robustas todas as faculdades. As neves da idade, coroando lhe a fronte, nunca seccaram as flores da imaginação, nem entorpeceram a viçosa e perenne mocidade do talento. Escutando-o os auditorios esqueciam o ancião para admiraram o orador, cuja palavra irónica, vehemnte ou sublime, espairecia e amenisava as questões mais intrincadas. A sua falta sobresaltou a patria quasi como um attentado da morte. Á força de amor e de orgulho a Gran-Bretanha chegára a persuadir se de que o ministro na cera fadado para contrastar até as leis da natureza!

O segredo da popularidade e da immensa influencia de lord Palmerston revela o caracter proeminente da sua politica, da sua eloquencia e de suas aspirações constantes. Ninguem foi nem será mais sincera e estrictamente inglez do que elle. O seu idolo, a sua soberba e a sua paixão eram o poder e a prosperidade da Gran-Bretanha. Este nobre e patriotico sentimento, dominando-o, dictou-lhe os actos de que as outras nações so magoaram, e inspirou-lhe as resoluções que o povo inglez applaude ainda hoje como rasgos energicos e de isivos proprios da sua indole e da sua grandeza.

Fortificado pelos severos estudos, de que a flor da aristocracia se arma em Inglaterra para arrostar a tribuna e se aventurar no meio dos precipicios da vida politica, lord Palmerston não soltou desde logo os vôos da aguia. Tenteou primeiro as forças, calou por algum tempo comsigo o segredo do seu genio, e antes de se elevar ás alturas, d'onde nunca mais baixou, receioso da queda, ou ainda indifferente ao triumpho, contentou-se com posições secundarias.

Educado no collegio de Harrow, onde teve por condiscipulos Byron, o conde de Aberdeen e Peei, e muitos homens notaveis cuja adolescencia estudiosa promettia já á patria uma geração distincta de estadistas, doutorando-se na universidade de Cambridge, entrou pela primeira vez na camara popular sob os auspícios do partido tory. A sua estreia, se não foi estrondosa como a de Chatam, foi fecunda como a de Pitt. Em 1807 merecia já á corôa o cargo de lord do almírantado, e em 1809 succedia no ministerio da guerra lord Oastlereagh, continuando sem voto no conselho a servir com os gabinetes Percival, Liverpool, Canning, Go-derich e Wellington. Zeloso na defeza dos seus actos, mas distrahido dos cuidados da politica geral pelas recreaçõts sociáveis, mais captivo dos sorrisos, formosura do que dos favores da ambição, as tempestades da tribuna e as lutas do poder preocupavam o menos do que os collegas desejariam. Canning, que viva só das commoções da arena politica, vendo-se um dia acossado dos tiros repetidos da opposição, e notando o desdém olympico de Palmerston, soltou uma exclamação que junta a sua impaciencia e o seu elevado conceito formado ácerca da capacidade do ministro da guerra: «Oh! (disse elle), se a nau de tres pontos o meio Palmerston carregasse, que victoria!».

Baldado estimulo! A nau passou silenciosa pelo meio da batalha ainda aquella vez, mas pouco depois, no bill para a emancipação dos catholicos, rompeu o fogo de todas as baterias, e pela eloquencia ganhou n'esse combate a todo o transe o primeiro triumpho assignalado. Dahi em diante o grande orador obedeceu á vocação. As maiores questões da sua epocha tiveram-o por contendor ou por auxiliar, e basta abrir ao acaso os annaes do parlamento para se formar idéa da variedade do seu talento e da actividade incansavel da sua palavra.

Dois factos, sobre todos, caracterisara com mais viveza a expressão da sua politica nas dissenções da diplomacia europeia. Cita-los-hei de preferencia.

Ministro dos negocios estrangeiros no gabinete presidido por lord Melbourrie, Palmerston viu surgir e aggravar-se entre o pachá do Egypto e Mohamoud II o famoso conflicto que veiu complicar no oriente as difficuldades da acção dos gabinetes europeus. Em tres semanas a Turquia perdera o seu exercito derrotado em Nesil por Ibrahim, a sua esquadra trairia e entregue por um almirante pérfido, e o sultão fallecido com a magoa de tantos revezes. A França protegia Mohamed Ali e a Russia aguardava o lance propicio de assoberbar a Porta sob pretexto de a proteger. Se o pachá triumphasse, ou a França firmava a sua influencia com elle no oriente, interceptando quasi as communicações da Gran-Bretanha com as índias inglezas, ou a Russia a titulo de obter compensações estendia sobre Constantinopla a tutela invasora, que é ha um seculo a sua ameaça constante. Lord Palmerston, por um lance arrojado, separa se do gabinete das Tulherias, aproveita o ciúme da Austria e a hesitação do Czar, e assigna o tratado de 15 de julho de 1840, da quadrupla alliança, com exclusão da França. Mohamed-Ali cedeu e Luiz Filippe resignou-se.

Outro facto! O golpe de estado de 2 de dezembro de 1851, revelando o homem notavel, que depois subiu ao throno com o nome de Napoleão III, assustou ou perturbou a muitos gabinetes. Palmerston sempre intrépido decidiu-se logo. A Inglaterra reconheceu o novo governo de França, e o ministro que não ouvira os collegas para arris car este passo, dado elle, caiu do poder festejado dentro em pouco pela sua previsão admiravel.

A questão do Oriente grangeou lhe a confiança popular da Inglaterra e a immensa influencia que nunca mais perdeu. A Gran Bretanha, satisfeita no orgulho e nos interesses, acclamou o seu primeiro estadista. O reconhecimento do golpe de estado de 2 de dezembro abriu lhe a vasta carreira de triumphos e de gloria, que percorreu até ao ultimo suspiro, estreitando a alliança das duas nações occidentaes, as victorias de Sebastopol, e a politica da paz e das nacionalidades, inaugurada e mantida pela amisade fecunda, estreitada entre o herdeiro de Napoleão e o ministro que assignára a ordem, que algemou em Santa Helena o primeiro capitão do mundo (apoiados).

Não digo mais. Não cabem na tela parlamentar as biographias minuciosas. Limito-me pois ás palavras que proferi, e que não teria pronunciado mesmo se não me exigisse a necessidade de explicar as intenções que dictaram a moção que offereço, mostrando quaes foram na realidade os serviços relevantes que Portugal deveu áquelle grande estadista. Se rendi aos dotes elevados do seu espirito e ás prendas do seu engenho o preito, que hoje lhe concede o culto europeu, não tive outra idéa mais do que satisfazer á natural inclinação do animo pelos homens e pelas cousas verdadeiramente grandes. A morte de lord Palmerston significa uma perda por ora irremediavel nos conselhos das nações. A sua memoria para nós, os portuguezes, lembrados de 1830 e 1834, deve e será sempre grata e respeitada, porque foi o defensor do exilio, do infortunio e dos opprimidos dias de provação que atravessaram nossos paes. Vozes: — Muito bem, muito bem.

O sr. Ministro dos Negocios Estrangeiros (Conde de Castro): — Sr. presidente, depois do verdadeiro e luminoso discurso do digno par, não tenho nada a acrescentar senão que, como membro d'esta camara, me associo ao voto que o digno par propõe; e como ministro dos negocios estrangeiros, que tambem sou, em meu nome e no de meus collegas, a elle me associo.

Não posso, nem devo, tomar mais tempo á camara, depois de ter fallado um tão primoroso orador.

O sr. Presidente: — Antes de pôr a proposta do digno par á votação, permitta-me a camara que diga mui poucas palavras d'este mesmo logar.

Tendo tido relações officiaes e de boa amisade com lord Palmerston por mui perto de trinta e cinco annos, cumpre-me agradecer o eloquente discurso do digno par, o sr. Rebello da Silva, e as palavras que no mesmo sentido proferiu o sr. ministro dos negocios estrangeiros.

Vou pôr á votação a proposta do digno par Rebello da Silva.

Foi approvada por 30 votos contra 1. O sr. Rebello da Silva (sobre a ordem): — A commissão de commercio e agricultura já aqui tem o relatorio elaborado sobre a questão dos vinhos; falta unicamente ser assignado. Peço a V. ex.ª que se digne demorar por alguns minutos, sendo possivel, a sessão, para haver tempo de se assignar o parecer, e de ser hoje mesmo mandado para a mesa, a fim de seguir seu destino (apoiados).

O sr. Presidente: — Fica suspensa a sessão até se apresentar o parecer...

O sr. Conde de Linhares: — Peço a palavra. O sr. Baldy: — Também peço a palavra. O sr. Conde de Linhares: — Pedi a palavra a V. ex.ª para mandar para a mesa uma nota de interpellação ao sr. ministro da marinha, que passo a ler:

«Desejo interpellar s. ex.ª o sr. ministro da marinha ácerca dos vapores de reboque do Tejo, e saber se s. ex.ª tenciona subsidiar a empreza actual d'estes vapores de reboque.

«Camara dos dignos pares, 28 de novembro de 1865. = Conde de Linhares.»

Isto é uma simples pergunta, que se s. ex.ª o sr. ministro da marinha estivesse presente me limitaria a fazer verbalmente.

O sr. Baldy: — E unicamente para dizer, que o sr. Mello j e Saldanha me encarregou de declarar a V. ex.ª e á camara que não comparece á sessão de hoje por justos motivos.

O sr. Secretario (Visconde de Algés): — Fui encarregado pelo digno par o sr. Vellez Caldeira, de participar a V, ex.ª e á camara, que não tem comparecido ás sessões anteriores, e que talvez falte a mais alguma por incommodo de saude.

O sr. Presidente: — Vae ler se na mesa a nota de interpellação do digno par o sr. conde de Linhares, dirigida ao sr. ministro da marinha. O sr. secretario leu. Mandou-se expedir.

O t>r. Silva Cabral: — Sr..presidente, o nosso regimento, fallando no artigo 9.° da resposta ao discurso da corôa diz o seguinte (leu). Eu dirijo-me a V. ex.ª para pedir-lhe a bondade de me dizer, se, estando como esta, já discutida e approvada, na camara dos senhores deputados, a resposta ao discurso da corôa; e tendo por consequencia chegado a hypothese prevista neste artigo, se V. ex.ª, como presidente dignissimo da illustre commissão, e os membros d'ella estão dispostos a offerecer á camara o projecto de resposta ao discurso da corôa, a fim de que se cumpra esse acto de homenagem á mesma corôa.

Estou certo que V. ex.ª, que é essencialmente monarchico-constitucional, assim como os membros da illustre commissão, não querem, não hão de faltar a esse dever: e eu, pedindo esta explicação não faço mais do que prestar homenagem a esse mesmo sentimento que lhes reconheço; pois tenho largas provas de quanto os membros da commissão se esmeram em cumprir os deveres (apoiados).

O sr. Presidente: — Toda a camara sabe que eu não me achava em exercicio, quando se nomeou essa commissão. Tomei conta da presidencia depois do adiamento que houve, e por isso ainda não consultei a commissão; mas á vista da observação que acaba de fazer o digno par, vou primeiramente examinar quem eram os membros da commissão, para depois reuni-la. Comtudo poderá haver duvida se essa resposta deve ser apresentada á camara, vistas as alterações que houve no governo depois da nomeação da commissão de resposta.

É sabido que por aquelle discurso do throno são responsaveis ministros que já hoje não existem no poder mas a commissão em todo o caso fará aquillo que a camara determinar.

O sr. Silva Cabral: — Estou satisfeitissimo com a resposta que V. ex.ª acaba de dar; mas sem querer estabelecer as regras que a commissão tem a seguir, é evidente que quando citei o precedente foi unicamente para trazer á reminiscência da illustre commissão o que se tinha feito na outra camara, não obstante darem-se as circumstancias a que V. ex.ª agora se referiu.

Em todo o caso é absolutamente preciso, no meu modo de entender, que a commissão decida se deve ou não dar a resposta, e isto não póde faze-lo senão depois de conferenciar entre si. O que é preciso é que a camara dos dignos pares do reino que occupa um logar muito elevado na sociedade, não deixe de exprimir a sua opinião sobre objecto de tão alta importancia, affirmativa ou negativamente;" e no caso de se decidir pela affirmativa, no sentido que julgar conveniente.

Sejam quaes forem as alterações ministeriaes, ha na especie um signal de consideração para com o throno, a que não devemos faltar. V. ex.ª tambem sabe, que seja quem for que tenha o poder, é a pessoa moral que predomina, e a ella é que alludo. Assim a respeito da presidencia" da camara, onde estava então outra pessoa, e esta hoje V. ex.ª; mas sejam quaes forem as alterações de pessoas, a entidade moral presidencia é aquella que reconhece o nosso regimento.

Repito que estou satisfeito com a explicação dada por V. ex.ª de que vae reunir a commissão para tomar uma deliberação sobre este objecto. E o que me propunha alcançar: não insisto mais.

O sr. Presidente: — Como o digno par esta satisfeito com a minha proposta, consultarei a commissão, e darei parte á camara do resultado.

O sr. Rebello da Silva (por parte da commissão de commercio e agricultura): — E para mandar para a mesa o parecer da commissão de commercio e agricultura, sobre o projecto da liberdade da barra do Douro, vindo da camara dos senhores deputados.

O sr. Presidente: — A camara dispensa talvez que se faça segunda leitura (apoiados). Como determina o artigo 35.° do nosso regimento vae ser impresso o parecer, o projecto e a proposta primitiva do governo para ser distribuido pelos dignos pares, a fim de poder entrar em discussão na proxima sexta feira (apoiados).

(Pausa.)

O sr. Presidente: — Não ha negocio importante a tratar, e por tanto a proxima sessão terá logar na sexta feira, sendo a ordem do dia o parecer ha pouco mandado para a mesa.

Está levantada a sessão.

Eram tres horas da tarde.

Relação dos dignos pares presentes á sessão de 23 de novembro de 1865

Ex.mos srs. Conde de Lavradio.

Conde de Castro.

Marquez de Fronteira.

Marquez de Sousa Holstein.

Marquez de Vallada.

Conde d’Alva.

Conde d’Avila.

Conde de Avillez.

Conde da Azinhaga.

Conde de Linhares.

Conde do Peniche.

Conde da Ponte Conde do Sobral.

Visconde de Algés.

Visconde de Benagazil.

Visconde de Condeixa.

Visconde de Ribamar.

Barão de Villa Nova de Foscôa.

Alberto Antonio de Moraes Carvalho.

Antonio de Azevedo Coutinho Mello e Carvalho.

Custodio Rebello de Carvalho.

Francisco Simões Margiochi.

Jayme Larcher.

José Bernardo da Silva Cabral.

José da Costa Sousa Pinto Basto.

José Joaquim dos Reis e Vasconcellos.

José Maria Baldy.

José Maria do Casal Ribeiro.

Julio Gomes da Silva Sanches.

Luiz Augusto Rebello da Silva.

Luiz de Castro Guimarães.

Entrou depois o Ex.mo sr. Marquez de Niza.

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