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6 DIARIO DA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE

O Sr. Brandão de Vasconcellos: - Pedi a palavra exclusivamente porque resido na região cintrense e se trata de uma questão que interessa em toda a sua economia.

Entendi por isso que não podia deixar de me associar a todos os votos no sentido de obviar a esta crise extraordinaria e concorrer para que se tomassem desde já medidas proficuas e efficazes.

Já os Srs. Deputados Silva e Ladeira disseram que esta crise, embora seja local, é de caracter geral e não é com medidas transitorias que se pode debellar. Em todo o caso é muito violenta; é preciso fazê-la recuar, empregando quaesquer medidas, e foço votos por que ellas appareçam, porque a população do concelho de Cintra, que vem reclamando, tem qualidades importantes de trabalho e tem uma qualidade muitissimo para attender no nosso país, qual é o amor pelo seu torrão natal. Não procura sair de lá, não emigra, mesmo que ali viva nas mais difficeis condições.

E por consequencia bom que a auxiliemos, adoptando desde já quaesquer medidas que modifiquem a actual situação.

Eu sei que ha grandissimas difficuldades nos meios a adoptar para fazer face á crise; entretanto parece-me que o que era necessario desde já era procurar a forma de a debellar, tanto no que respeita á construcção como á exploração.

É necessario que o Sr. Ministro do Fomento adopte uma orientação geral, sobretudo encetando-se trabalhos que sejam de interesse publico, e que, abrindo-se esses trabalhos, se aproveite o material que vem de Cintra; mas que não aconteça o que aconteceu com a muralha do Carmo, em que primeiro se lavaram as pedras, depois se deitaram abaixo os reboucos das paredes para depois se lhes fazerem uns buracos, o que representa trabalho perdido e caro.

Deve haver boa orientação nestes serviços, para não estarem as obras do Estado á espera da solução das crises e depois então serem empregados os materiaes, como se está dando presentemente.

Era isto que tinha a dizer.

Não vim intrometter-me na questão, que foi muito bem tratada pelos Srs. Deputados Silva e Ladeira; vim, simplesmente, como regional de Cintra, associar-me a todos aquelles que possam concorrer para modificar a situação critica d'aquella região.

S. Exa. não reviu.

O Sr. Ladislau Piçarra: - Sr. Presidente e meus Senhores: a questão operaria é uma questão que por todos os titulos me interessa de ha muito.

Sobre este incidente vou expor muito rapidamente o meu modo de ver sobre as causas geraes da crise que atravessa a região cintrense.

Eu, Sr. Presidente, não tive a fortuna de ser vizinho do Sr. Oliveira Martins, para aprender as suas doutrinas, mas, pelo exercicio da minha profissão, tenho vivido constantemente em contacto com as classes operarias e, d'esse contacto, resultou a noção clara de que a grande crise que o operariado português atravessa, é a consequencia fatal da profunda ignorancia em que se encontram as camadas populares, e ainda dos habitos nocivos que as dominam ...

A classe operaria em Portugal entende que o Estado deve ser o Estado Previdencia. É um grave prejuizo que nos foi transmittido pela extincta monarchia.

Ora, é necessario que nós agora, em pleno regime republicano, mudemos de orientação e façamos com que as classes operarias, por si, procurem resolver o problema que as affecta, contando com o Governo apenas para as auxiliar nos seus justos esforços. Eu entendo que os Governos devem fomentar e proteger a iniciativa particular, mas nunca absorver essa iniciativa.

Tenho sido um apostolo das associações de classe, e, tenho-o sido, unicamente porque entendo que os operarios, associados e bem orientados, é que podem resolver as crises que os affectarem.

Uma das grandes crises, que affecta o operariado português, é a crise de chômage; isto é, falta de trabalho, e o que afflige agora os operarios das pedreiras, é apenas uma parcela d'essa gravissima crise de chômage, crise que fere quasi todas as classes proletarias do país.

Ora, Sr. Presidente e Srs. Deputados, lá fora, onde se estuda o problema economico a valer, onde o operariado tem a consciencia do papel que deve desempenhar na sociedade, esse problema está sendo atacado, e como?

Pelas cooperativas operarias, pelas caixas economicas, pelas bolsas de trabalho e pelo mutualismo.

Mas nós olhamos para o nosso operariado, e o que vemos?

Vemos que a maior parte, em vez de viver dentro da associação, para se educar e aprender a economizar, se lança nas casas de bebidas, a envenenar o cerebro e a gastar o magro salario que recebe, e depois vem para a praça publica queixar-se de que tem fome. (Apoiados).

Eu sou o primeiro a reconhecer que devemos attender ás necessidades dos operarios; mas devemos dizer-lhes que elles teem deveres sagrados a cumprir, e que é necessario serem economicos.

Em Portugal, entre os grandes defeitos que tem o caracter nacional - embora tambem possuamos grandes virtudes- figura o da imprevidencia, sobretudo, nas classes desprotegidas.

Ora não ha sociólogo algum que não accentue que a falta de previdencia é um symptoma de inferioridade mental.

Se nós proclamamos a Republica para rejuvenescer a sociedade portuguesa, temos de começar pela educação do caracter, que consiste no aperfeiçoamento das boas qualidades de espirito.

Resumindo, porque eu tinha muito a dizer, mas não quero cansar a Camará...

Uma voz: - Não é só nos operarios, é em todos.

O Orador: - Infelizmente; mas como eu estou dirigindo as minhas palavras á classe operaria, quero de proposito accentuar o caminho que tem a seguir essa classe para subir na escala social.

Sei que, infelizmente, essa doença afflige toda a sociedade portuguesa, mas é preciso que saiamos d'esta decadencia.

Vamos ao ponto fundamental: as crises da classe operaria, entendo eu, devem ser resolvidas principalmente por iniciativa da propria classe, dispensando-lhe apenas o Governo o auxilio que ella careça.

Para isso, é necessaria a associação, debaixo das variadas formas; mas o nosso operariado, infelizmente, não tem educação associativa porque, na sua grande maioria, é analfabeto, não tem comprehensão nenhuma do que é uma questão social; deixa-se arrastar por qualquer impulso de momento, e é incapaz de raciocinar sobre as condições que o podem levar á sua felicidade.

A primeira cousa a fazer é preparar ás gerações futuras um espirito completamente differente do espirito das gerações actuaes.

É por isso que eu dirijo um instante appello á Republica, lembrando-lhe que o seu primeiro passo, para que ella possa contribuir poderosamente para a regeneração da sociedade portuguesa, é organizar bem a escola primaria. (Apoiados). Mas para essa escola primaria produzir os frutos que d'ella devemos esperar, é necessario que, com a organização da escola primaria, se reorganize a