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6 DIARIO DA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE

Triste do país onde, para se escolher o seu Presidente não houvesse onde o fazer senão entre os Ministros!

O país onde tal, por fatalidade, tivesse de acontecer, não tinha condições nem razão de existencia, porque não teria condições de vida, o país que só tivesse para presidir aos seus destinos sete ou oito homens! (Apoiados). - Não ha cousas pequenas nem cousas grandes, e ás vezes até as cousas pequenas são aquellas que mais importancia teem, e contra as quaes melhor devemos estar precavidos.

Ha apenas causas, motivos, cousas que sendo agora grandes, enormes, como a onda procellosa de um mar revolto, são logo, d'ahi a bocado, quasi no mesmo instante, brandas, suaves e mansas, como as aguas de um lago, onde o planeta dos poetas, a lua dos namorados, pode fazer reflectir sonhos de felicidade, ou sonhos da desventura, onde pode vogar um barquinho cheio de desenganos, mas onde pode sossobrar, sem remedio, um Dreadnought carregado de esperanças.

Não ha cousas pequenas nem cousas grandes! Grande, resistente, enorme é a fibra do trabalhador do campo, levando de manha á noite a trabalhar, resistindo a lavrar debaixo da influencia do enregelante frio do inverno.

Grande, enorme e rija é a tempera do camponês, trabalhando de sol a sol, e resistindo a ceifar, debaixo da influencia ardente e soffocante de um dia quente do verão.

Cousas grandes e cousas pequenas não as pode haver na vida de um povo, ou na vida da sociedade debaixo do ponto de vista das suas relações, da sua politica ou da sua moral, a entravar-lhe o caminhar ao seu destino.

Na nossa vida de familia, na nossa vida politica, ou na nossa vida moral, não ha cousas pequenas nem grandes cousas a perturbar a nossa finalidade.

Disse o Sr. Alexandre Braga que defender o additamento do Sr. Innocencio Camacho era nem mais nem menos do que defender uma heresia, porque ella viria tolher a nossa liberdade.

Eu bem sei que a liberdade é um principio absoluto e universal eterno, e que prender a liberdade, é prender a vida, é prender a natureza.

E diz tambem o Sr. Dr. Alexandre Braga que essa heresia é de tal ordem que vinha tolher absolutamente, o nosso pensamento.

Eu bem sei, Sr. Dr. Alexandre Braga que prender a liberdade é dizer á Primavera que não dê flores, é dizer á flor que não tenha aromas, é dizer á arvore que não cresça, á ave que não voe, ao sol que nos não dê luz e á vida que não viva; mas ao lado d'isso ha um principio de moral pelo qual temos batalhado em trinta annos de lutas contra a monarchia e contra os corruptores da consciencia.

Ponha-se a liberdade ao lado da moral e ver-se-ha como é difficil andar cantando hymnos á primeira sem guardar o devido respeito á segunda.

Sr. Presidente: disse, o Sr. Alexandre Braga que tolher a liberdade era duvidar do respeito que a Camara tem obrigação de ter pela opinião publica, pela opinião nacional que acclamou os membros do actual Governo Provisorio. Eu devo dizer a V. Exa. e á Camara uma cousa: é que, no momento em que foram acclamados o Ministros que occupam as cadeiras do poder era acclamado tudo quanto saísse da boca da pessoa que proferir aquelles nomes. Eram acclamados os que ahi estão, como outros, como todos quantos fossem proferidos, nesse dia e nessa hora, tal a força de enthusiasmo e a propria loucura de contentamento, do povo que os acclamou.

Protestos, interrupções.

E depois, Sr. Presidente, já que o Sr. Alexandre

Braga me chamou para o terreno da sinceridade e da lealdade, eu devo dizer a V. Exa., com a sinceridade com que digo tudo quanto sinto, que os Ministros, no poder, constituindo Governo, não teem a noção de homogeneidade, de harmonia, de cohesão que deveriam ter, de que o Governo que ahi está composto de sete Ministros, é um Governo de sete governos, fazendo cada qual o que lhe parece, puxando cada um para onde quer, sem duvida na louvavel intenção de construir, mas dando, possivelmente, numa resultante paradoxal, a impressão de destruir.

Se nós temos a liberdade de escolher, para que escolher entre os que ahi estão e cuja obra não está nem discutida nem sanccionada?

Dos Ministros que estão, não temos razão de preferencia; mas devemos pô-los de parte, deixá-los descansar e avaliarmos serenamente a sua obra. Só senão tivéssemos de escolher, necessariamente, á falta de outros homens, senão entre sete Ministros que teem uma ditadura de dez meses que ainda não foi discutida apesar da moção apresentada pelo Sr. Alexandre Braga, e lida hoje, porque succedeu á moção, exactamente o que succedeu, nos dias da acclamação da Republica, nos Paços do Concelho. Voou-se aqui essa moção, como se votaria outra qualquer. Fosse qual fosse a moção apresentada no Parlamento, seria votada e acclamada, sem discussão, apenas com o enthusiasmo que o dia permittiu, e o acto reclamava.

Apartes.

Protestos.

O Sr. Alexandre Braga dá explicações ao orador, que não são ouvidas.

A Assembleia protesta contra a interrupção.

O Sr. Alexandre Braga: - Eu usei no meu aparte da maxima correcção. O orador consentiu que eu o interrompesse e por conseguinte só V. Exa., Sr. Presidente, é que me pode fazer qualquer observação.

O Orador: - Eu dou licença a todos os Deputados para me interromperem; simplesmente declaro que não vou para o campo para onde me querem levar. Vou apenas para onde quero e desejo ir.

Quem tem o meu passado, Sr. Presidente, não tem receio, nem corre perigo de desvairar.

Eu não disse que esta Camara votara inconscientemente qualquer cousa. Se aqui estivesse nessa sessão, estou certo de que tambem applaudiria com enthusiasmo a deliberação tomada pela Assembleia.

Sr. Presidente: um dos oradores que me precederam quis ferir uma nota que eu entendo não deve ser ferida; eu julgo que nenhum de nós tem o direito de ferir a nota pessoal.

Eu, na minha proposta de additamento. respeito quem ali está. Considero verdadeiros homens de bem os que se sentam naquellas cadeiras. Todos elles querem o que eu quero: trabalham para o engrandecimento da nossa querida patria.

Mas, Sr. Presidente, afasto-me de todas estas questões quando me reporto ao assunto que estamos discutindo.

Eu não vejo, por conseguinte, quem ali está. Vejo os principios, e não estou resolvido a sacrificar os meus principios ao meu Presidente, que está sentado naquella cadeira; mas a este sacrifico-o com muita honra, como sacrificam tantos outros que aqui estão, que querem o que nós queremos, e sentem o que nós sentimos, porque o que todos queremos é a consolidação da Republica, custe o que custar, seja á custa da nossa saude, á custa do nosso sossego, á custa da nossa vida.

Tenho dito.

Leu-se na mesa a proposta do Sr. Aresta Branco, e foi admittida.