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Sessão de .1.0 de Fevereiro de 1914

A sua cadeira de Ministro nesta hora seria antes uma cátedra de educador e de . mestre, pregando-nos a grande lei moral, que mais se impôs sempre aos homens do que a lei política.

Essa cátedra seria um vértice donde a sua voz se ouviria por todo o mundo.

Seria maior do que a que teve ern Coimbra, do que todas quantas improvisou nos tablados dos comícios, nas horas ardidas das lutas de outrora que nos uniu a todos.

E então, soberbo, magnífico, dominador, ele reclamaria, perante o país comovido que à sua frente viessem todos os rancores, todos os ódios, todas as aniinadvcr-sões.

E aos rancores diria, já que não podeis transíormar-vos em afectos, sede ao menos solidariedade; e aos ódios: já que não pó-, deis ser amizade, sôde ao menos tolerância ; e às animadvcrsocs : já que não podeis ser amor, sôde ao menos fraternidade.

E as paixões talvez se aplacassem.

E em seguida, erguendo mais a voz que seria enorme como a dos profetas, 'faxen-do-a galgar por cima das fronteiras d.esta pequena grande Pátria, diria á Espanha, que à nossa porta espreita como um felino a hora do ambicionado desastre ; à Inglaterra, que nos encara já com um sorriso sinistro ; à. Alemanha quo alia o trinchante para retalhar o nosso .cadáver; à própria França que parece olvidar-se de que nós somos a siuv filha mais directa reproduzindo talvez os seus defeitos, com certeza as suas qualidades; diria a todos os países, a todos os povos, a todas as raças que esta República tem praticado erros funestos, atentados maléficos, mas não por culpa da sua Constituição, nem do seu povo, nem das suas tradições, nem dos seus ideais, mas por mera culpa dalguns maus homens que dela se apossaram, prevertcn-do-a, tiranizando-a, ludibriando-a; masque tudo isso era removível e reparável porque o fundo da nossa gente e bom, porque o povo português é inlinitamente amorável e simples, admitindo só uma superioridade: a da justiça entrelaçada com a clemência; e um só padrão de glória: a virtude fecundada pelo labor honrado.

Ah ! M'as o Sr. Bernardino M'achado não procedeu assim.

S. Ex.a praticou uni verdadeiro hoinicí-

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dio, assassinando por suas mãos as esperanças de inúmeros portugueses.
S. Ex.a abandonou, fugiu do único terreno onde era lícito servir a República, neste momento, praticando uma defecçSo monstruosa. Pois quê !
Ele é o julgador e vai meter na sua lista de jurados três Ministros que pertencem ao partido dos delinquentes, que praticaram o grande crime que se devia julgar ?! ójEle é o conciliador e faz-se acompanhar, em três das pastas mais importan-.tes, por três homens que fazem parte da agremiação que fomentou a desordem, o tumulto, a guerra civil entre os portugueses^?!
Ele é o árbitro imparcial, e permite que a pasta da Justiça seja ocupada por um homem saído dum partido quo não pode escapar-se à responsabilidade de ter agasalhado e incitado espiões miseráveis que vitimaram inocentes e desgraçaram famílias inteiras?!
Inacreditável situação é esta que nos perturba e desconcerta.
O actual Ministério não pode deixa r ^de ser um instrumento do democratisi.no. Ele há-de fatalmente entoar a mesma ária do Governo transacto. Só com uma diferença: emquanto o Sr. Afonso Costa a soltava aos ares pela sua trompa retorcida de mon-teador dum povo, o Sr. Bernardino Ma-clui.do, por questões de temperamento, há--cle dedilhá-la no seu alaúde de enganador dos homens simples. Mais nada.