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34 Diário da Câmara dos Deputados

que tendo azeite comprado em Torres Novas desde Novembro, êsse azeite acabava de lhe ser requisitado por uma forma violenta. Se até então ainda não o tinha retirado foi porque não tinha cascos, visto os ter emprestado, gratuitamente, em Dezembro, à Direcção das Subsistências.

Essa cedência tinha sido por quinze dias, que foram tam longos que só em Maio, ou sejam quatro meses depois, pode reaver os cascos e todos avariados!

Reclamava-me, portanto, S. Exa.; então eu cedo gratuitamente os meus cascos, demoram-mos quatro meses, recebo-os avariadíssimos; por êstes motivos, não posso retirar o azeite e por fim em paga, o meu azeite é requisitado!

Francamente, era justíssima a reclamação e tinha por isso que a atender.

Apenas ingressei na Secretaria de Estado das Subsistências, passei a não ter um momento de meu.

Quási que não tinha tempo para comer e dormir.

O meu tempo era todo absorvido para atender a reclamações.

Parecia que aquela Secretaria de Estado tinha só por função provocar constantes reclamações.

Para a condução de azeite que estava comprado na província foram requisitados 100 cascos a três casas comerciais de Lisboa: Companhia União Fabril, Levy & Ca. e Borges do Rêgo.

Essas empresas vieram tambêm protestar junto de mim contra o facto dessas requisições, porque não tinha sido fixado o preço do aluguer e porque, segundo o costume, os cascos ficariam na posse do Govêrno, e quando voltavam para os seus donos, depois de grandes demoras, vinham completamente avariados e alguns mesmo não voltavam, porque se extraviavam.

Perante estas reclamações envergonhava-me por estar à frente de serviços públicos, tam anárquicamente executados!

Chamei os representantes das referidas firmas e disse-lhes que tinham razão e que a culpa do acontecido era devido à má organização dos serviços da Secretaria de Estado.

No emtanto precisava conduzir o azeite para Lisboa e não tinha cascos.

Para não ter de efectivar a requisição, propus-lhes que se encarregassem de conduzir o azeite para Lisboa, por conta e risco do Govêrno.

Êles acederam, da melhor vontade, pois preferiam fazer êsse serviço gratuito, a que lhes fossem requisitados os cascos.

Ordenei ao chefe da repartição respectiva que mandasse às várias localidades onde havia azeite comprado, os empregados necessários para pagarem o azeite e comunicarem que qualquer das três casas iria buscar êsse azeite por conta e risco da Secretaria de Estado.

O empregado que foi a Tôrres Novas, deturpando a verdade dos factos, foi dizer aos produtores que o azeite já não era para a Secretaria de Estado das Subsistências, como o Sr. Machado Santos tinha determinado!

Que o novo Ministro resolvera entregar êsses azeites às casas Borges do Rêgo, Levy & Ca. e União Fabril.

Quer dizer, traindo a sua missão e o Ministro, foi mentir aos vendedores!

É o que êle próprio confessa, no relatório que o Sr. Cunha Lial leu à Câmara e com que julgava tirar o melhor efeito da sua interpelação.

Desde a primeira hora em que entrei para a Secretaria de Estado das Subsistências, encontrei uma resistência passiva, constante, a todos os meus actos, fazendo-se ali uma verdadeira conspiração.

Devo dizer a V. Exa. que na Secretaria de Estado das Subsistências havia funcionários muito dignos, muito honestos, mas havia tambêm alguns com cadastro, e todos mais ou menos com o espírito de revolta em que desde há muitos anos têm vivido o Sr. Machado Santos e a sua entourage.

Era preciso fazer crer cá fofa que os serviços da Secretaria de Estado não podiam caminhar, que não era possível resolver-se o problema das Subsistências.

Não era competente para estar à frente dessa Secretaria um comerciante, um lavrador, por mais honestos que fossem.

Para Ministro das Subsistências só podia servir um pensionista do Estado, um almirante!

Era esta a conspiração que se fazia em redor de mim, e de tal forma que eu nunca consegui obter uma informação das repartições!