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38 Diário da Câmara dos Deputados

O Orador: - Desculpe V. Exa. Não quis visar V. Exa. Estou apenas respondendo à campanha que se fez em volta da extinção do Ministério das Subsistências, que deu, como resultado final, o estabelecer-se uma corrente de insinuações contra o Sr. Fernandes de Oliveira.

Creio ter demonstrado à Câmara o a V. Exa. que a classe honesta, a que me honro de pertencer, ainda até hoje não merecera dos poderes públicos a devida consideração.

O orador não reviu.

O Sr. Pequito Rebelo: - Começo por saudar em S. Exa., como é da praxe, visto que é a primeira vez que tomo a palavra, a personalidade eminente que nesta casa representa a dignidade do Parlamento.

Sem mais demora, visto o adiantado da hora, entrarei em brevíssimas considerações, a respeito do assunto que se discute.

Pedi a palavra, quando o Sr. Deputado Cunha Lial lançou às faces dos lavradores portugueses o labéu de açambarcadores e de anti-patriotas. Estão aqui representantes ilustres da lavoura e entre êles um, na alta situação de Ministro, a quem a economia nacional em especial muito deve; não deve permitir-se que alguém, para tirar um efeito político, insulte uma classe que é uma parte importante do todo económico nacional, ou que representa quási o país inteiro.

Uma classe assim insultada, à qual se chama açambarcadora e anti-patriótica, tem o direito de preguntar, a quem desta maneira a insulta, quais os benefícios de produção que a nacionalidade acaso deva ao insultador?

E a lavoura portuguesa, a lavoura do sul que produz a riqueza de Portugal, na sua grande parte, contribuindo para a sua autonomia, sendo por assim dizer o nosso último recurso no momento presente e por isso não devo ser acusada de açambarcadora, nem de anti-patriótica, e quando essa acusação parte de membros do Parlamento que devem aspirar à representação efectiva do país, isto tem um triste significado, se devemos atender a representação de interesses verdadeiros e não a representação de interesses políticos. Aqui representamos dominantemente a classe agrícola e à frente da classe agrícola caminha a lavoura do sul.

Se dispusesse de tempo, para me alargar em considerações, demonstraria a V. Exa. e à Câmara que não só na questão das subsistências, mas até na generalidade de todas as funções .económicas, a lavoura do sul tem patenteado o máximo patriotismo.

Se não fôsse a actividade da lavoura do sul, a questão económica teria atingido uma gravidade que não atingiu ainda.

No sul o problema das subsistências pode considerar-se resolvido pela expontaneidade e acção dos lavradores, exercida nos organismos municipais.

A idea dos celeiros municipais veio por assim dizer da espontânea demonstração de capacidades da lavoura, à qual se pretendeu dar uma forma sistemática, com a orientação excessiva de querer lançar mão de toda a produção agrícola.

Se os do sul assim procedem, não há direito de os classificar anti-patriotas o açambarcadores.

O meu colega Sr. Mexia acaba de ilibar a classe dos lavradores dessa agressão infamante. Portanto, só me resta ferir uma pequena nota.

O Sr. Cunha Lial, a propósito da maneira como considera açambarcadores os que compõem a lavoura do sul, formulou considerações para a aparência de demonstração que quis organizar. Todavia nessa pretensa demonstração há uma mera referência à questão do azeite.

A prova do açambarcamento estaria em que os delegados da Secretaria de Estado das Subsistências, tinham encontrado muito azeite pelas casas dos lavradores do sul.

Ora é preciso salientar, aqui, que a ocasião, em que êsses delegados foram ao sul procurar azeite, é exactamente aquela em que todos os armazéns têm ainda todo o azeite porque só mais tarde se faz a maior parte das vendas, por se esperar que êle descoalhe e clarifique.

Nada, pois, para admirar que houvesse muito azeite nos armazéns do Alentejo. Não pode de maneira nenhuma ser pôsto aqui êste caso sob o aspecto duma manifestação de açambarcamento.

Poderia alongar-me em considerações a respeito da maneira de ver do Sr. Cunha